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1 O PROTECIONISMO DO ORDEAMENTO JURÍDICO

3.2 O efeito punitivo que a indenização possui dos filhos sobre os pais

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Existem diversas divergências doutrinarias sobre qual é a função da indenização para o abandono afetivo. Certos doutrinadores julgam a indenização pecuniária como um meio de incentivar outros pais a não abandonarem seus filhos afetivamente, já outros autores defendem que a reparação teria o caráter de reparar o dano sofrido pelo filho, não podendo ter função punitiva. Também há um terceiro grupo asseguram que a indenização servira como forma custear o tratamento psicológico daquele que sofreu o dano até a sua recuperação, e por fim perpetua em um quarto argumento expõe-se que a indenização teria o caráter de compensação e punição.

É de extrema importância ressaltar, que o propósito da indenização oriunda da responsabilidade civil não é obrigar o pai a amar seu filho, porém sim de resguardar os interesses da criança e de compensação ao intenso sofrimento causado pela omissão e o abandono, dano que ultrapassa a esfera patrimonial.

A indenização ainda possui caráter punitivo pela conduta dos pais ausentes, com a finalidade de desestimular a prática dela na sociedade.

Como se faz impossível a indenização poder reparar o dano psíquico e moral, a indenização garante como função primordial a punição do pai ou da mãe que negou ou não agiu com o afeto necessário à formação do filho. Sendo uma forma de impor um castigo, assemelhando-se a vingança do filho que durante todo seu desenvolvimento esperou carinho de seu pai ou mãe e não obteve. Sobre o assunto, leciona SCHUH (2006, p. 78):

O abandono material não gera nenhuma dúvida acerca das previsões legais que exigem o seu cumprimento. O abandono moral, por sua vez, demonstra, no mínimo, um desrespeito aos direitos de personalidade, o que impõe aos lesados, em obediência ao princípio da dignidade da pessoa humana, o direito de busca da reparação pelos danos sofridos.

As relações de afeto, que, em tese, devem se estabelecer entre pais e filhos, possuem força moral. (SCHUH, 2006, p. 78).

Vale pleitear que, a função de punir o agente danoso por sua conduta, provém da ideia de que o ato praticado não pode ficar impune, desse modo, o foco não se concentra apenas à vítima ou o dano, mas também ao agente e sua conduta danosa.

Consequentemente, Clayton Reis (2002.p. 90) assume que o aspecto punitivo da indenização oriunda do abandono afetivo, está presente na função social que a reparação dos danos morais deve exercer. O valor monetário da

indenização, nas suas palavras, “representa uma resposta adequada à sociedade que reclama a punição do ofensor, em virtude da sua contribuição ao desequilíbrio social”.

O caráter punitivo da indenização, por mais que seja de extrema importância na função de compensação e de satisfação moral, ela possui uma função secundária ou subsidiária. Pois, correrá o risco de se desvirtuar a responsabilidade civil, que detém a natureza privada, reparatória e compensatória sobre a lesão individual, psíquica e moral, o critério punitivo não pode ser utilizado como principal objetivo da indenização.

Por conseguinte, nota-se que mesmo aqueles doutrinadores que não estão de acordo com à utilização da função punitiva na indenização por danos psíquico-morais, o fazem com ressalvas. Independente das ponderações doutrinárias realizadas, é uníssono a compreensão que, em certas situações, o uso dessa função se torna essencial para que a reparação do dano seja satisfativa.

CONCUSÃO

Em face do exposto, conclui-se este trabalho visa analisar e defender a aplicabilidade do dano psíquico-moral no âmbito do direito de família, oriundo do abandono afetivo. O foco do artigo, fora acompanhar a evolução do núcleo familiar, com os efeitos da valorização do afeto sobre ele. Não deixando de ressaltar, os principais fatores deste avanço patriarcalismo, autoritário e ilimitado, que fora substituído pela afetividade e a intrínseca influência da Constituição Federal de 1988 sobre à Família.

Esta evolução social segue como principal fator de influência para as transformações progressivas no sistema legal nacional para com a família e a filiação.

É aborda a influência do art. 227 da Constituição Federal, que assegura ao infanto-juvenil o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Demonstrando toda a ilegalidade do descumprimento deste dispositivo legal.

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A responsabilidade civil não possui nenhuma limitação patrimonial, em relação sistema jurídico nacional que concorre para aplicação do dano psíquico-moral sobre o agente danoso. Dano este, que é gerado quando se configura qualquer violação à dignidade. As consequências deste dano infringem os direitos da personalidade como a honra, a vida privada, a imagem todos extrapatrimoniais.

Sendo justificado por toda a influência do princípio da dignidade da pessoa humana, previsto pela Constituição Federal. Assim, para ser aferida a intensidade do dano moral, necessita-se da avaliação da dor sofrida pela vítima no seu sentimento de dignidade.

Vale ressaltar, toda a importância do estudo e debate sobre as influências do abandono afetivo sobre a família e a sociedade, para que se possa ter uma noção da gravidade dos danos causados pelo abando possam influir sobre a moralidade-psíquica da sociedade futuramente.

A responsabilidade civil exerce uma importante função sobre a aplicabilidade da indenização sobre o agente danoso, com a função reparatória e compensatória moral e material perante dano do abandono; o pedagógico, que visa educar e desestimular atentados contra a dignidade humana, através da diminuição do patrimônio do agressor, e o punitivo, que tem como objetivo impor uma sanção ao agente da conduta lesiva, satisfazendo moralmente o menor.

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