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2.7 Potencial funcional do suco de uva

2.7.2 Efeitos benéficos associados ao consumo de suco de uva

Grande parte dos benefícios associados à ingestão regular de suco de uva é explicada pela ação antioxidante própria dos compostos fenólicos. Em inúmeros trabalhos, a atividade antioxidante do suco de uva, mensurada por diferentes metodologias in vitro (sequestro do radical livre DPPH e ABTS, sistema β caroteno-ácido linoleico, capacidade de absorção do radical de oxigênio – ORAC), relacionou-se positivamente com a concentração de

compostos fenólicos (DANI et al., 2007; FRANKEL et al., 1998; GANIC et al., 2006; NATIVIDADE, 2010; VARGAS; HOELZEL; ROSA, 2008).

Não só estudos in vitro, como também estudos in vivo e ensaios clínicos confirmam o potencial antioxidante do suco de uva. Os trabalhos descrevem outros efeitos fisiológicos e/ou metabólicos associados ao consumo de suco de uva, como: redução da agregação plaquetária (atividade antitrombótica), redução da pressão arterial sistêmica, diminuição do risco de desenvolvimento tumoral, ação antigenotóxica, prevenção de danos oxidativos hepáticos e melhorias no sistema imunológico e neurológico.

Um dos possíveis mecanismos antioxidantes desempenhados pelos compostos fenólicos do suco de uva foi descrito no trabalho de Dávalos et al. (2009), no qual foi demonstrado que ocorre uma redução da produção de radicais superóxido (O2

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) pela enzima NADPH oxidase, reação que atenua o estresse oxidativo. Outra importante via antioxidante empregada pelos fenólicos é o aumento da atividade de enzimas antioxidantes, como foi evidenciado no ensaio biológico conduzido por Andrade et al. (2011), no qual ratos submetidos à irradiação e suplementados com suco de uva apresentaram maior atividade do sistema antioxidante endógeno, em relação ao grupo controle.

Alguns estudos in vivo evidenciam que o suco de uva integral também é capaz de minimizar a ocorrência de danos no DNA celular, através de mecanismos antigenotóxicos e antioxidantes. Exemplo disso foi o ensaio in vitro realizado por Aguiar Júnior et al. (2011), o ensaio biológico conduzido por Rho e Kim (2006) e o estudo clínico realizado por Park et al. (2003) com adultos saudáveis que receberam durante 8 semanas 480 mL de suco de uva diariamente. Após o período de experimentação, todos os autores inferiram que o consumo de suco de uva promoveu uma redução dos danos ao DNA.

Nesta mesma perspectiva, Dani et al. (2009b) mensuraram a atividade antioxidante e antigenotóxica de sucos de uva Bordô brasileiros em ensaio

biológico. Ratos Wistar adultos receberam 14 μL g-1 de suco de uva convencional ou orgânico durante 30 dias e depois foram injuriados com tetracloreto de carbono (CCl4). Os autores observaram que os ratos que foram

tratados com suco de uva apresentaram menores índices de peroxidação lipídica no plasma, fígado e cérebro, em relação ao grupo controle.

Outro efeito fisiológico promovido pelo suco de uva refere-se à redução dos níveis de agregação plaquetária, uma condição que contribui para a prevenção do desenvolvimento e da progressão de doenças cardiovasculares. Neste âmbito, pode-se citar o estudo conduzido por Folts (1998), que avaliou a agregação plaquetária em homens e mulheres saudáveis após o consumo de vinho tinto, vinho branco e suco de uva tinto integral (5 mL, 5 mL e 12 mL kg-1 de peso corpóreo, respectivamente). Foi observado um decréscimo significativo do nível de agregação plaquetária quando os indivíduos consumiam vinho tinto (redução de 39%) ou suco de uva (redução de 34%), comprovando assim o potencial antitrombótico destas bebidas, uma condição que pode desacelerar a aterogênese.

Resultados semelhantes foram obtidos no ensaio clínico realizado por Keevil et al. (2000), que avaliaram o efeito do consumo de 5 – 7,5 mL kg-1 de suco de uva, suco de laranja ou suco de grapefruit por adultos durante um período de 7 dias. Os autores identificaram uma redução de 77% da agregação plaquetária no grupo que consumiu suco de uva, efeito que não foi observado nos indivíduos que ingeriram os demais sucos.

A inibição da oxidação do LDL-colesterol é um dos efeitos metabólicos inerentes ao consumo de suco de uva mais largamente estudado, uma vez favorece a prevenção de doenças cardiovasculares. Dávalos et al. (2006b) observaram em estudo in vitro que a suplementação com suco de uva é capaz de alterar a homeostase do colesterol, por meio do aumento da atividade dos receptores de LDL-c de células humanas.

Entre os trabalhos realizados, pode-se citar o estudo de Frankel et al. (1998), em que o suco de uva Concord reduziu a oxidação da LDL colesterol em 67%, efeito similar ao observado para o vinho tinto. Nas pesquisas realizadas por Stein et al. (1999), Vinson et al. (2000), Landbo e Meyer (2001), O´Byrne et al. (2002), Castilla et al. (2006) e Shanmuganayagam et al. (2007), o suco de uva também demonstrou habilidade em inibir a oxidação de lipoproteínas plasmáticas.

A influência do consumo de suco de uva sobre a pressão arterial sistêmica é alvo de alguns trabalhos, como o ensaio clínico feito por Park, Kim e Kang (2004) com hipertensos coreanos e o estudo conduzido por Chou et al. (2001) com pacientes cardíacos. Em ambos os estudos o consumo de suco de uva promoveu uma melhora na função endotelial. Anselm et al. (2007) explicam que o suco de uva é capaz de induzir o relaxamento do endotélio arterial coronariano por meio da liberação de óxido nítrico, uma alteração metabólica que conduz à vasodilatação e consequentemente, melhora a função endotelial.

Recentemente, foi comprovado no estudo de Rowe et al. (2011) outro efeito benéfico associado ao consumo de suco de uva: melhoria do sistema imunológico. No estudo clínico conduzido por estes autores o consumo diário de 360 mL de suco de uva Concord durante nove semanas foi capaz de beneficiar a imunidade de adultos saudáveis.

As doenças neurológicas típicas do envelhecimento podem ser desencadeadas pelo estresse oxidativo, sendo comum verificar em pessoas mais idosas o aparecimento de declínio cognitivo e motor (SHUKITT-HALE et al., 2006). Sabendo-se que os radicais livres podem acentuar este processo e que os polifenóis atuam minimizando-os, alguns trabalhos têm avaliado o efeito do consumo de suco de uva sobre parâmetros neurológicos.

No ensaio biológico realizado por Shukitt-Hale et al. (2006), investigou- se em ratos idosos a eficiência do suco de uva Concord em reverter déficits

cognitivos e motores relacionados ao envelhecimento. Os resultados mostraram que os ratos alimentados com suco de uva exibiram melhora no desempenho cognitivo e motor. Resultados semelhantes foram obtidos por Joseph, Shukitt- Hale e Willis (2009) em estudo comparativo empregando diferentes sucos de uva (Concord, Niágara e Branco), no qual os animais que consumiram suco Concord e Niágara obtiveram um incremento cognitivo em relação ao grupo controle.

Embora ainda não estejam esclarecidos os mecanismos exatos desempenhados pelos compostos fenólicos na melhora da cognição, Krikorian et al. (2010) relatam algumas pesquisas que descrevem que os fenólicos, em especial as antocianinas, são capazes de atravessar a barreira hematoencefálica e em alguns trabalhos já foram encontradas em regiões cerebrais ligadas à cognição.

Portanto, os achados dos estudos apresentados sugerem que, além dos conhecidos efeitos benéficos que os polifenóis exercem sobre doenças já descritas na literatura (por exemplo: patologias cardiovasculares, inibição da carcinogênese, ação antigenotóxica), o consumo de suco de uva pode também ser útil em retardar o envelhecimento neuronal.

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