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1. INTRODUÇÃO

1.2. Probióticos

1.2.6. O gênero Bifidobacterium

1.2.6.2. Efeitos benéficos

O uso de probióticos tem como objetivo compensar falhas ou reforçar a atividade do ecossistema microbiano gastrintestinal já existente, porém em desequilíbrio ou com previsão de desequilíbrio (tratamento com antibióticos). A terapia com probióticos tem atraído grande interesse na pesquisa de doenças infecciosas, inflamatórias e alérgicas.

A maioria dos ensaios clínicos envolvendo probióticos tem como finalidade a prevenção e tratamento de doenças intestinais, em adultos e crianças. BALs e bifidobactérias têm mostrado um efeito protetor contra as doenças diarréicas, como a infecção por rotavírus. SAAVEDRA e colaboradores (1994) demonstraram que a combinação de B. bifidum e Streptococcus

thermophilus reduz o risco de infecção por rotavírus em crianças. Outros estudos relatam a

eficácia dos probióticos no tratamento e prevenção da diarréia associada a antibiótico. Assim,

incidência e duração de diarréia associada a antibiótico (CORRÊA et al., 2005). Um dos principais problemas no tratamento com antibióticos é o desbalanço da microbiota intestinal, permitindo a manifestação de patógenos intestinais, como C. difficile. Um ensaio clínico conduzido por PLUMMER e colaboradores (2004) mostra que a terapia com L. acidophilus e B.

bifidum pode reduzir a incidência de diarréia associada a antibiótico, pela neutralização das

toxinas de Clostridium. A “diarréia do viajante” atinge metade dos visitantes de áreas de risco com condições precárias de higiene. Embora seja, na maioria das vezes, autolimitada, causa desconforto para as pessoas acometidas. Um estudo mostrou que a combinação de linhagens probióticas, contendo B. bifidum, L. acidophilus, L. bulgaricus e S. thermophilus, reduziu significativamente, em 28%, a frequência da diarréia do viajante (LEAHY et al., 2005). Alguns estudos in vitro e in vivo em camundongos mostram uma proteção conferida pelos probióticos frente a outras infecções intestinais. SILVA e colaboradores (1999) e (2004) obtiveram sucesso na proteção da infecção por Salmonella Typhimurium, em camundongos, pelo tratamento com B.

longum. Trabalhos similares foram feitos pelo mesmo grupo de pesquisa, utilizando o mesmo

modelo de infecção, obtendo resultados promissores para B. animalis subsp. lactis (MARTINS et

al., 2010). Um recente estudo desenvolvido por FUKUDA e colaboradores (2011) mostrou

também um efeito protetor de bifidobactérias na infecção por E. coli O157:H7. Estes autores atribuem a esta proteção observada, à produção de acetato, a qual acentuou mecanismos de defesa mediados pelas células epiteliais, inibindo desta maneira, a translocação da toxina do enteropatógeno do lúmen intestinal para a corrente sanguínea.

Talvez o maior sucesso obtido, no tratamento de doenças inflamatórias intestinais (doença de Crohn, bolsite e colite ulcerativa), com bactérias probióticas, seja com o probiótico VSL#3, que consiste numa combinação de quatro espécies de lactobacilos, três espécies de bifidobactérias e S. thermophilus. Para avaliar o efeito do probiótico na manutenção do período de remissão de bolsite, GIONCHETTI e colaboradores (2000) realizaram um ensaio clínico com pacientes com bolsite crônica e foi observada uma redução no número de recidivas nos pacientes tratados com probiótico, quando comparados com pacientes que receberam placebo. Além disso, depois que a terapia com o probiótico foi encerrada, todos os pacientes desenvolveram bolsite recorrente dentro de três meses. Em 2003, o mesmo grupo de pesquisadores, demonstrou que o probiótico também pode prevenir a doença se a terapia oral for iniciada imediatamente após a cirurgia de colocação de bolsa ileo-anal anastomótica (GIONCHETTI et al., 2003). Recentemente,

GUGLIELMETTI e colaboradores (2011), em um estudo clínico randomizado, duplo-mascarado, controlado com placebo, avaliaram a eficácia de B. bifidum MIMBb75 no tratamento da síndrome do intestino irritável. A administração da bifidobactéria trouxe melhoria nos sintomas; dor/desconforto, distensão/inchaço e desordens digestivas, melhorando também a qualidade de vida.

Para uma diminuição da exposição do hospedeiro a agentes carcinógenos, o mecanismo de ação de probióticos ocorre, possivelmente, por: detoxificação de carcinógenos ingeridos; alteração do ambiente intestinal, diminuindo a população e/ou atividade metabólica de bactérias que podem gerar componentes carcinogênicos; produção de compostos (ácido butírico) que podem modular a apoptose das células tumorais; produção de compostos que inibem o crescimento de células tumorais e estimulação do sistema imune que age contra a proliferação de células tumorais (PARVEZ et al., 2006). Alguns trabalhos mostram que algumas linhagens de L.

acidophilus e Bifidobacterium spp. são capazes de reduzir os níveis de enzimas como -

gluconidase, azoredutase e nitroredutase, as quais convertem procarcinógenos em carcinógenos. Alguns autores atribuem a diminuição da atividade enzimática, à produção de ácidos graxos de cadeia curta pelos probióticos. Entretanto, são necessários mais estudos mostrando a atividade antimutagênica e anticarcinogênica dos probióticos, para uma possível aplicação na prevenção ou tratamento do câncer de cólon (VASILJEVIC & SHAH, 2008).

Popularmente, pacientes têm creditado a melhora da constipação intestinal ao uso de alimentos contendo probióticos. Entretanto, até o momento, não há evidências suficientes comprovando a eficácia dos probióticos na constipação intestinal. Um trabalho desenvolvido por GUERRA e colaboradores (2011), em parceria com nosso laboratório, avaliou a eficácia de B.

longum 51A na constipação intestinal crônica em crianças e adolescentes. Foi observado um efeito

positivo em relação à consistência das fezes, frequência evacuatória, dor para evacuar e dor abdominal com a suplementação da bifidobactéria. Entretanto, um aumento da frequência evacuatória e diminuição da dor abdominal e dor para evacuar também foi observado para o grupo placebo que recebeu iogurte sem adição de bifidobactérias, mesmo em intensidade inferior. Uma hipótese para explicar este resultado é uma possível influência benéfica das bactérias fermentadoras do iogurte (S. thermophilus e L. bulgaricus) na constipação. Existe até mesmo uma discussão sobre a inclusão dessas bactérias no grupo dos probióticos. Como o efeito do

iogurte sozinho foi aumentado pela adição do probiótico, este resultado encoraja a realização de novos ensaios clínicos nesta área.

A administração de bifidobactérias pode ser benéfica também para a prevenção ou tratamento de várias outras doenças como: doenças atópicas, imunossupressão, hiperlipidemia, e infecções por Helicobacter pylori (GOTTELAND et al., 2006; VASILJEVIC & SHAH, 2008; HASAN AL-SHERAJI et al., 2012).

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