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CAPÍTULO 2 REPERCUSSÃO GERAL – DEFINIÇÃO, CARACTERÍSTICAS E

2.6 EFEITOS DA DECISÃO QUE RECONHECE OU REJEITA A REPERCUSSÃO

Analisaremos agora quais são os efeitos gerados da decisão que rejeita e da que reconhece a existência de repercussão geral.

O Regimento Interno do STF prevê que, quando o recurso versar sobre questão cuja repercussão já houver sido reconhecida pelo Tribunal, não precisará haver novo julgamento de repercussão geral (artigo 323, parágrafo 2º, RISTF), caso em que o relator pode declarar a existência de repercussão por decisão monocrática e dar seguimento ao processamento do recurso extraordinário89.

Da mesma forma, caso seja negada a existência da repercussão geral, a decisão valerá para todos os recursos sobre matéria idêntica, que serão indeferidos liminarmente, salvo revisão da tese, tudo nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal90 (artigo 543-A, parágrafo 5º, CPC)91.

89 RISTF. Art. 323. Quando não for caso de inadmissibilidade do recurso por outra razão, o(a)

Relator(a) ou o Presidente submeterá, por meio eletrônico, aos demais ministros, cópia de sua manifestação sobre a existência, ou não, de repercussão geral.

§ 1º Nos processos em que o Presidente atuar como relator, sendo reconhecida a existência de repercussão geral, seguir-se-á livre distribuição para o julgamento de mérito.

§ 2º Tal procedimento não terá lugar, quando o recurso versar questão cuja repercussão já houver sido reconhecida pelo Tribunal, ou quando impugnar decisão contrária a súmula ou a jurisprudência dominante, casos em que se presume a existência de repercussão geral.

90 RISTF. Art. 103. Qualquer dos Ministros pode propor a revisão da jurisprudência assentada em

matéria constitucional e da compendiada na Súmula, procedendo-se ao sobrestamento do feito, se necessário.

[...]

Art. 354-E.A proposta de edição, revisão ou cancelamento de súmula vinculante poderá versar sobre questão com repercussão geral reconhecida, caso em que poderá ser apresentada por qualquer Ministro logo após o julgamento de mérito do processo, para deliberação imediata do Tribunal Pleno na mesma sessão.

91 CPC. Art. 543-A [...]

§ 5º Negada a existência da repercussão geral, a decisão valerá para todos os recursos sobre matéria idêntica, que serão indeferidos liminarmente, salvo revisão da tese, tudo nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal. (Incluído pela Lei nº 11.418, de 2006)

Sobre a análise das questões constitucionais similares para fins de reconhecimento ou não reconhecimento liminar da repercussão geral, assevera Bruno Dantas:

De todo modo, o cuidado que se deve ter ao aplicar esse dispositivo deve ser absoluto. Não basta que os casos sejam assemelhados, sendo exigível e indispensável a identidade da tese jurídica em discussão, sob pena de violação do texto constitucional.

Em caso de aplicação equivocada dessa regra, seja pelo Presidente do STF, seja pelo relator, não se pode afastar a incidência do agravo interno. Aplica-se, portanto, o § 1.º do art. 557 do CPC, corroborado pelo RISTF, art. 327, § 2º. Nesse caso, o fundamento único do agravo interno é a distinção

entre o precedente firmado pelo Plenário e o caso em apreciação (DANTAS,

2012, p. 330).

Esse indeferimento liminar, como visto, é realizado pelo Presidente do STF, segundo artigo 327 do RISTF, e dessa decisão cabe agravo92. O recurso de agravo

da decisão que negar a repercussão geral das questões constitucionais liminarmente só poderá alegar o distinguishing93, devendo demonstrar a aplicação errônea do precedente de repercussão geral ao seu recurso. Para ter o recurso julgado procedente, deverá fazer o cotejo analítico das questões constitucionais que discute no seu processo com as do recurso paradigma, a fim de demonstrar para a Corte que se trata de caso distinto.

Esse dispositivo tem um papel importante, pois permite que o STF otimize seus trabalhos, não sendo necessário que em cada recurso extraordinário haja análise de repercussão geral, podendo esta ser dispensada quando o Tribunal já houver se pronunciado em matéria semelhante.

Interessante salientar que, conforme ensina o Ministro Gilmar Mendes, “o alcance do efeito vinculante das decisões não pode estar limitado à sua parte

92 Sobre as hipóteses de julgamento pelo relator da repercussão geral quando já decisão recorrida

contrariar súmula ou jurisprudência dominante ou quando já houver precedente em que o Tribunal analisou questão semelhante, interessante o magistério de Bruno Dantas: “A primeira hipótese, ope

legis, se verifica quando a decisão recorrida se encontra em desarmonia com súmula ou

jurisprudência dominante do STF, e só pode ocorrer em prol da admissibilidade do RE.

A segunda, ope iudicis, se dá quando houver precedente no qual o Plenário do STF examina a questão. Neste último, o pronunciamento pode ser tanto pela existência quanto pela inexistência de repercussão geral, de modo que a presunção varia conforme o entendimento firmado” (2012, p. 335).

93 Para Eros Grau, distinguishing é a “distinção entre normas jurídicas e a norma de decisão” (2006,

dispositiva, devendo, também, considerar os chamados ‘fundamentos determinantes’"94.

A decisão que não reconhece a repercussão geral não substitui a decisão recorrida, mas gera precedente capaz de obstaculizar os recursos extraordinários pelo relator, gerando vinculação horizontal na espécie (MARINONI; MITIDIERO, 2007, p. 52).

Sobre a caracterização da “matéria idêntica”, salientam Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero:

Refere o Código de Processo Civil que “negada a existência da repercussão geral, a decisão valerá para todos os recursos sobre matéria idêntica” (art. 543-A, § 5.º, do CPC). Na realidade, o que autoriza a expansão da apreciação a respeito da inexistência de repercussão geral não é o fato de outros recursos extraordinários versarem sobre “matéria idêntica”, tal como está em nossa legislação. De modo nenhum. Temos de ler a expressão como se aludisse à “controvérsia idêntica”. A matéria pode ser a mesma, embora a controvérsia exposta no recurso extraordinário assuma contornos diferentes a partir desse ou daquele caso. O termo “matéria” é evidentemente mais largo que “controvérsia” (MARINONI; MITIDIERO, 2007, p. 52).

Assim, o importante é analisar se a matéria, independentemente da fundamentação apresentada pela parte, apresenta similitude com o tema de repercussão geral julgado pelo STF. Se for reconhecida a existência de repercussão geral em matéria semelhante, o recurso terá seu mérito julgado. Caso seja verificada a inexistência de repercussão geral em matéria similar, o recurso não será admitido, salvo hipótese de revisão de tese pelo Supremo Tribunal Federal.