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8. Formas descentralizadas de produção

8.3. Efeitos da descentralização

As consequências199 da descentralização são muito vantajosas para empresa:

1. Permite sobreviver às convulsões econômicas e enfrentar a competitividade internacional;

2. Ajusta-se às demandas atuais;

3. Possibilita a adequação da planilha de trabalhadores em função da curva de atividade da empresa;

4. Desliga-se dos custos e responsabilidades laborais de parte de seu pessoal;

199 RODRÍGUEZ, Américo Plá. La descentralización empresarial y el Derecho del Trabajo.In: Cuarenta y dos estúdios sobre la descentralización empresarial y el Derecho del Trabajo.Grupo de Los Miercoles.

89 5. Pode concentrar sua atenção e investimentos no foco principal da

empresa.

Por outro lado, para os trabalhadores as sequelas são em geral negativas:

1. Houve um aumento no nível de desemprego, da informalidade e um aumento de empresas unipessoais, nas quais o trabalhador é quem assume todas as responsabilidades empresariais;

2. Formação de grupos com alta concentração de renda; A subcontratação permite às grandes empresas se beneficiarem dos menores custos das unidades informais pela supressão de Direitos, isentando-se de qualquer responsabilidade, protegidos por trás de um contrato civil entre empresas, supostamente autônomas.

3. Como terceirizados, passaram a receber menores salários, são excluídos da proteção individual e coletiva, com perda da identidade e a consequente falta de comprometimento e de qualificação profissional;

4. No âmbito coletivo, os sindicatos perderam o poder de negociação pela dispersão física e fragmentação da produção. Crise sindical: a forma descentralizada transfere a concorrência para a relação entre os trabalhadores, onde cada qual deve arcar com sua formação e disputa de mercado, destruindo o paradigma da solidariedade que foi base para a formação dos sindicatos. O grande contingente de desemprego, as disparidades na remuneração são elementos que configuram esta fratura. Os interesses dos trabalhadores se tornam contrapostos A redução do poder dos Sindicatos, em escala mundial, se manifesta por sua pulverização200. O trabalho em domicílio, os autônomos, enfim a dispersão na distribuição de trabalho não é propícia para a convergência dos interesses. Essa dispersão trouxe a formação de sindicatos atomizados e cooptados.

5. Por conseguinte, pela diminuição da adesão e dos salários o sistema de seguridade social também se compromete. Crise na seguridade social: o desemprego, o trabalho informal e precarizado traz a descapitalização do sistema. Para tornar palatável a insegurança trazida, o discurso do Estado

90 Mínimo é tido como forma de desenvolvimento econômico. A seguridade social é transformada em vilã do progresso econômico.

Sem a contraposição, o capital se desenvolve livremente na busca de seu único objetivo que é o lucro. Disto resulta a flexibilização do Direito do Trabalho no sentido da desregulamentação, sempre suprimindo os direitos, outrora tidos como básicos, mínimos. A descentralização, pelos seus efeitos, passa a ser um dos objetivos da empresa.

A desigualdade entre capital e trabalho aprofunda-se com a desintegração da coletividade dos trabalhadores e a formação de novos coletivos no âmbito das empresas, traduzida pelas novas formas de grupos econômicos com grande poder de fogo.

Conclusão

As grandes empresas se desmaterializaram, tornando-se meras coordenadoras, descaracterizando a própria produção como objeto social de suas atividades, de forma que as relações jurídicas que compõem o funcionamento de sua atividade são exclusivamente de caráter civil ou comercial com as empresas interpostas.

Como observa Márcio Túlio Viana:

Desse modo, apenas em termos formais é que a fábrica se horizontaliza. Em termos reais, continua vertical, na medida em que detém sobre os parceiros invisíveis relações de domínio. Esse fenômeno é ainda mais presente quando se trata de um trabalhador isolado, ou uma empresa familiar, ou ainda uma cooperativa de produção201.

A descentralização produtiva permitiu a existência de empresas formalmente sem empregados. No entanto, permanece a exploração e o Direito do Trabalho é o instrumento de vinculação jurídica do capital ao trabalho de forma que aquele retribua à sociedade parte do benefício que tal exploração lhe oferece202.

Por outro lado, criticando as privatizações, o prêmio Nobel de economia de 2002203, observa que o impacto do desemprego, assim como a precarização das relações trabalhistas são custos sociais que interferem diretamente na eficiência do sistema como um todo, manifestando-se em forma de violência urbana, pelo aumento da

201

VIANA, Márcio Túlio. AS RELAÇÕES DE TRABALHO SEM VÍNCULO DE EMPREGO E AS NOVAS REGRAS DE COMPETÊNCIA www.trt3.jus.br. Consulta em 10.01.2011.

202 SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. Curso de Direito do Trabalho: A relação de emprego. Vol. II. São Paulo:

LTr, 2008, p. 125.

203 STIGLITZ, Joseph E. A globalização e seus malefícios: a promessa não cumprida de benefícios globais.

91 criminalidade e um desassossego social e político.

O que se conclui é que as vicissitudes econômicas determinam novas formas de produção e a legislação deve ser flexível para atender suas demandas, mas nunca em detrimento do ser humano. O patamar mínimo, traçado pelos Princípios Constitucionais e Princípios do Direito do Trabalho deve ser respeitado, sob pena de justificar o que já se fez outrora, o trabalho escravo.

Como há laços indissociáveis entre a Dignidade da Pessoa Humana e o direito ao trabalho justamente remunerado, qualquer atividade econômica deve ser compatibilizada àquele fundamento.204

Neste sentido, Alejandro Castello205 entende que para enfrentar a flexibilização da organização do capital, é necessário que o Direito do Trabalho utilize seus instrumentos no sentido de flexibilizar e ampliar a responsabilidade dos agentes que participam do processo de terceirização.

204LEDUR, op. cit., p. 102 e 103.

205 Responsabilidad Solidária em el derecho del trabajo. Montevideo: Fundación de Cultura Universitária,

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