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A música representa um poder que já era conhecido das sociedades mais antigas. Este poder estaria acima de noções de gosto pessoais, ou tendências culturais. Mesmo nesse

período, não se tratava de um conceito novo, uma vez que imperadores chineses, há mais de mil anos antes de Cristo, faziam anualmente um festival de música, para o qual vinham artistas e conjuntos de todas as províncias do país. O imperador, ao ouvir músicas das diversas regiões, tomava decisões estratégicas sobre o aumento no efetivo militar em uma região, a melhoria do sistema de distribuição de alimentos em outra região, dentre outras decisões. (GELARDI, 2006).

Por volta de 1899, o antropólogo inglês Flandres Petrie encontra, em papiros médicos egípcios, os primeiros relatos escritos sobre a influência da música no ser humano. Tais relatos referiam-se à influência do encantamento da música na fertilidade feminina (LEINIG, 1977).

Contudo, a discussão acerca dos efeitos da música sobre o ser humano tem sido pautada, em grande parte, em preocupações políticas, sociais, religiosas, culturais e estéticas, em detrimento de estudos científicos sobre seus efeitos mentais e físicos nos seres humanos. O caráter subjetivo com que a música é avaliada pode suscitar controvérsias, já que tal avaliação tem-se baseado no gosto pessoal ou em considerações culturais (BACCHIOCCHI, 2000).

O fato de admitir-se que o ser humano é influenciado por um som, que é algo abstrato e efêmero, pode parecer estranho, já que a noção de gostar ou não de uma música levaria a pensar que tal escolha, baseada no gosto pessoal, seria a única influência exercida pela música sobre os seres humanos. Porém, esta influência pode representar mais do que a simples opção musical, culminando com uma influência física e mental, que ultrapassa tudo o que se pode imaginar sem que seja feito um estudo aprofundado a esse respeito (BACCHIOCCHI, 2000).

Os efeitos da música sobre o comportamento humano têm sido pautados em estudos

que categorizam, principalmente, dois estilos de música: música “sedativa” e música “estimulante”, dentre outros. A de estilo “sedativa” compreende os andamentos lentos, com

harmonias simples e leves variações da dinâmica musical. É caracterizada por suavizar a atividade física e aumentar a capacidade contemplativa do ser humano. Na música de estilo

“estimulante”, caracterizada por andamentos mais rápidos, encontram-se harmonias

complexas e dissonantes e mudanças repentinas na dinâmica, que produzem maior ativação mental, em função da sensação de aumento do estado de alerta e da pré-disposição à atividade motora. A música pode provocar, ainda, condutas orientadas pelo afeto (GASTON, 1982).

Para verificar o efeito “estimulante” e “sedativo” da música, Zimny e Weidenfeller

em mi menor, de A. Dvorák – Do Novo Mundo, como música estimulante, e a Ária da 4ª Corda – de J.S. Bach, como sedativa.

Outro estudo, desenvolvido por Pantev et al. (2001), propõe contato “orientado” de crianças com a música, especialmente envolvendo tarefas motoras, como forma de favorecer e promover maior eficiência no planejamento e na execução de tarefas. A música, como instrumento facilitador da aprendizagem e da autoestima, bem como no processo de socialização da criança, foi utilizada, ainda, por educadores como Vila-Lobos (1937), Andrade (1937), Ribas (1957), advogando ser a música, enquanto linguagem nãoverbal, capaz de facilitar o desenvolvimento das áreas afetivas, cognitivas e sociais.

Outros estudos foram além desses dois estilos, utilizando outras variáveis relacionadas à música, como gênero musical, tempo de exposição, preferências musicais, dentre outros. Alguns desses estudos são apresentados mais adiante, evidenciando-se a influência da música sobre o comportamento humano, nas mais diversas atividades. Antes, porém, convém discorrer sobre os efeitos da música, no intuito de compreender melhor esse fenômeno.

É ponto pacífico entre filósofos, psicólogos e músicos o fato de a música provocar mudanças de cunho emocional e fisiológico nos ouvintes. A música possui valor terapêutico, ao produzir efeitos espiritual, intelectual, social, psicológico, fisiológico e biológico no ser humano (BLASCO, 1996).

Para melhor compreensão de tais efeitos, recorre-se à explicação desenvolvida por Blasco (1999), com base em estudos realizados por vários autores, sobre a influência da música no ser humano.

 Efeitos biológicos e fisiológicos da música

Ao se ouvir música, estímulos sonoros são transformados em fenômenos elétricos e químicos, que são os únicos a circular no interior do cérebro. O som é captado pelo ouvido. Fenômenos fisiológicos, que passam pelas vias nervosas acústicas, são iniciados. Tais vias modificam as qualidades físicas e químicas desses fenômenos, em função da intervenção de vários agentes intercerebrais, chegando às estruturas centrais, que percebem consciente ou inconscientemente os sons musicais (DELGADO, 2000).

Conforme afirma McClellan (1994, p.143), a música afeta fisicamente os seres humanos “[...] porque se desloca pelo ar mediante ondas de pressão molecular que podem ser

negativa, sobre a bioquímica do organismo, a depender do tipo de música selecionado (BLASCO, 1999).

Para a referida autora, a música pode afetar a frequência no ritmo cardíaco e pulso, e, ainda, a respiração. Entretanto, os resultados são diferentes e, por vezes, contraditórios, a depender da experiência realizada: a música estimulante aumenta a FC (frequência cardíaca) e a FP (frequência de pulso) e a música sedante os faz diminuir; quaisquer dos dois estilos de música tende a aumentar essas frequências; as mudanças provocadas pela música estimulante e sedante em tais freqüências não são percebidas; a FC acelera quando o andamento da música é rápido, e diminui, quando o ritmo é lento.

Essas oscilações nas pulsações, encontradas em pesquisas, são atribuídas à emoção despertada no ouvinte, em função do estímulo musical ao qual esteve submetido. Ao despertar emoções, a música pode provocar a liberação de adrenalina e de outros hormônios (LEINIG, 1977).

Outra explicação para tais oscilações é que a mudança da pressão sanguínea estaria associada a fatores pessoais e não aos estilos de música estimulante e sedante. O interesse despertado pela música no ouvinte teria mais importância do que o estilo de música ao qual estaria submetido (BLASCO, 1999).

Quanto às alterações na respiração, os argumentos existentes são: a música estimulante aumenta a respiração e a sedante a diminui; a respiração tende a aumentar em função da música alegre; qualquer música tende a aumentar a respiração (BLASCO, 1999). Contudo, os estudos sobre os efeitos da música na respiração concluíram que o aumento na velocidade da respiração está associado diretamente à mudança no ritmo (McCLELLAN, 1994).

Há, ainda, o fenômeno da restituição, relacionado às respostas musculares e motoras. Nesse caso, a pupila ocular, quando dilatada por exposição à luz, pode voltar ao seu tamanho natural, em função do estímulo musical. Tal fenômeno ocorre por um estímulo psicológico, que diz respeito a estímulos sonoros que tenham significação para o indivíduo. A dilatação pupilar seria causada por música estimulante (BLASCO, 1999).

Analisando os discursos até aqui, percebe-se que há uma linha de pensamento segundo a qual a música teria propriedade em si mesma, provocando reações por seus próprios elementos. Numa outra concepção, tem-se que a música em si não seria estimulante ou sedante, visto que seus efeitos dependeriam das preferências do ouvinte, de seu humor, de sua memória e de suas emoções.

Em terapias musicais, no entanto, mais especificamente na musicoterapia, a música é utilizada com finalidades terapêuticas. Nesse caso, cada indivíduo poderá ter reações diferentes, conforme o gênero musical, o andamento, o volume, os gostos ou as preferências musicais, dentre outros aspectos da música aos quais estaria sendo submetido. Certamente, os significados da música seriam diferentes para cada indivíduo, a depender, inclusive, de seu estado de saúde ou de sua patologia.

 Efeitos psicológicos da música

Até chegar ao tálamo, que é a estação central das emoções, sensações e sentimentos, os sons musicais são captados pelos ouvidos e convertidos em impulsos, percorrendo os nervos auditivos. Ao criar ambientes de humor aos quais se reage em um nível subconsciente e não verbal, a música afeta emocionalmente o indivíduo (McCLELLAN, 1994).

Por atuar no sistema nervoso central, a música pode provocar efeitos sedantes ou estimulantes, dependendo da preferência musical do ouvinte e, ainda, se ele se encontra em ambiente pessoal e adequado (BLASCO, 1999).

Uma visão inovadora sobre os sentimentos e as emoções é trazida pelo neurologista Damásio, na obra O erro de Descartes. Para ele, ambos constituem uma percepção direta de estados corporais, formando-se, assim, uma associação entre o corpo e a consciência. A música, cujo poder não se deve subestimar, pode desencadear a emoção humana, em seu refinamento (DAMÁSIO, 2000).

Duas características psicológicas da música são apresentadas por Sekeff (2007), são elas: a aconceitualidade, que entende a música como linguagem com sentido e sem significado; e a indução, que corresponde à força da música em razão de seus elementos constitutivos. A referida autora explica cada uma dessas características.

A primeira diz respeito à falta de referente da música, indicando que ela não se refere a nada a não ser a si mesma. Embora seja dotada de sentido, ela nada diz, pois sentido não é significação, que tem a ver com a natureza essencialmente simbólica. A aconceitualidade favorece, então, a diversas leituras da música, estabelecendo na escuta uma lacunosidade, que acaba por facultar associação, integração e evocação de experiências. Daí a riqueza da natureza psicológica da música.

Antes de discorrer sobre a segunda característica, convém mencionar o estudo bibliográfico realizado por Wazlawik, Camargo e Maheirie (2007), que discute a construção dos significados e sentidos da música à luz da Psicologia Histórico-Cultural. As autoras

concluem que, ao se vivenciar a música, são estabelecidas relações com toda uma rede de significados construídos no mundo social, em contextos coletivos e singulares, e não somente com a matéria musical em si (resultado da relação dos elementos constitutivos da música). A construção dos significados e sentidos da música se dá a partir do contexto social, político,

econômico, de vivências concretas e da “utilização viva” da música por sujeitos em relação,

quando articulam entre si a dimensão afetiva, motivações e desejos.

Ao relacionar significado e sentido, Maheirie (2003), baseada nas concepções de Vygotski (1992) e de Luria (1986) em relação à palavra, traça um paralelo entre esses dois termos. Para a referida autora, enquanto o significado corresponde à dimensão coletiva, que engloba as significações vividas coletivamente, o sentido, por seu turno, diz respeito ao vivido de forma singular. Contudo, ambos são produzidos no contexto social, dada a impossibilidade em se descolar o sujeito de seus contextos. Esse paralelo é, então, estendido, por analogia, à música.

Em contraponto ao que assevera Sekeff (2007), concepções advindas da Musicologia e Estética apontam para o fato de que a música possui significado, que comunica algo, tanto para quem a faz quanto para quem a ouve (WAZLAWIK; CAMARGO; MAHEIRIE, 2007). Nessa perspectiva, ideias estéticas sobre a posição absolutista e referencialista do significado musical são retomadas por Meyer (1956) e compartilhadas por Reimer (1970), que ressalta a indicação dessas duas posições para se encontrar o significado e o valor da obra de arte.

Para a posição absolutista, o significado da música encontra-se exclusivamente na própria atividade artística, nas relações intrínsecas estabelecidas durante a composição musical. Trata-se de uma significação intramusical, abstrata, intelectual (MEYER, 1956), cujo significado da obra somente pode ser encontrado nela mesmo (REIMER, 1970).

Em contrapartida a essa ideia, a posição referencialista advoga que os significados comunicados pela música dizem respeito ao mundo extramusical dos conceitos, emoções, eventos e ideias. Tais significados seriam encontrados fora da composição, extrapolando as qualidades puramente artísticas da obra (WAZLAWIK; CAMARGO; MAHEIRIE, 2007).

Não obstante às tentativas de explicação do significado musical, observa-se que não há significados naturais ou universais da música, até porque esses estudos acerca da significação musical levam em consideração o mundo sonoro ocidental. Percebe-se, assim, dificuldade de generalização para explicar a comunicação e a significação musical, por tratar-se de processo dialético que ocorre dentro da dimensão cultural, mediada pela ação dos sujeitos. Desse

pessoas nas diversas épocas e lugares, mas seriam produtos do experienciar humano”.

(WAZLAWIK; CAMARGO; MAHEIRIE, 2007, p. 110).

Essa concepção pode ser verificada em Martin (1995), quando assevera que os significados da música não são inerentes a ela mesma e nem reconhecidos intuitivamente. Advém e são estabelecidos (ou transformados, ou esquecidos) em função de contextos culturais particulares e das atividades de grupos de pessoas. As coisas, incluindo-se, neste caso, os sons e a música, são dotadas de significado pelos seres humanos, criadores e sociais, através de um processo cuja construção da realidade ocorre nos níveis individual e coletivo.

Compartilhando dessa ideia, Maheirie (2003) afirma que o que nos emociona na música não emocionará necessariamente outras pessoas. Somente as ações ou reações que nos remetam a estados emocionais intensos poderão dar significado à música. O significado atribuído à música está vinculado à experiência vivida, quando articulada junto às emoções e aos sentimentos despertados pela própria música.

Retomando as características da música propostas por Sekeff (2007), a segunda característica constitui uma força indutora da música, que, bem orientada, contribui para direcionar o indivíduo e a coletividade. Em função de seus elementos constitutivos – ritmo, melodia, harmonia e timbre, e de seus parâmetros formadores – duração, altura, densidade, intensidade e textura, a música induz atividades motora, afetiva e intelectual.

O ritmo provoca efeitos fisiológicos e psicológicos no indivíduo, induzindo movimentos e mobilizando formas de comportamento. Tais efeitos relacionam-se à ordem no

movimento, envolvendo a duração, que provoca efeitos fisiológicos na vida do indivíduo, e a intensidade do ritmo, que penetra na sua vida psicológica.

A definição tradicionalmente aceita de que o ritmo é o aspecto mais natural da música, tendo como base as pulsações do corpo humano, é questionada por Jourdain (1998), que recorre à psicologia evolucionária para comprovar que o ritmo vem da mente e não exatamente do corpo. E que a função rítmica é disseminada por todo cérebro e não somente no hemisfério esquerdo, implicando na capacidade de recuperação de lesões cerebrais. Alega, ainda, que o cérebro humano, sob certos aspectos, é rítmico.

A melodia, através da sequência de “alturas”, induz respostas afetivas,

comprometendo as emoções do receptor e estimulando a liberação do substrato de sua psique, a exemplo do que se observa na experiência da música de massa e da música de guerras.

A harmonia incorpora o aspecto sensorial, a partir da simultaneidade de sons que são percebidos através do ouvido interno; o aspecto afetivo, cujas relações sonoras de consonância e dissonância, tensão e relaxamento, induzem à sensibilidade afetiva; e o aspecto

mental, que remete à consciência, envolvendo análise e síntese, no intuito de estabelecer

relações entre os sons, induzindo a uma experiência humana e psicológica únicas.

O timbre favorece respostas talâmicas, que são aquelas sensações relacionadas ao inconsciente, que não necessitam de interpretações pelas funções superiores do cérebro. Tais respostas podem ser observadas tanto no ser humano como em animais. O tálamo situa-se na região central do cérebro, participando da recepção e integração de informações nervosas, cujas sensações e emoções que ali chegam permanecem num plano não consciente.

Um estudo realizado com graduandos ou não em música objetivou obter respostas a questões relacionadas à audição musical. Uma das questões buscava identificar reações de ânimo dos sujeitos, verificando se haviam respostas similares na audição de música vocal e na audição de música instrumental. Nas músicas vocais foram selecionados os gêneros musicais rock, folk, country, balada e hino; e nas instrumentais, os gêneros jazz, marchas e música clássica. A conclusão do estudo evidenciou que as respostas não são similares para a música instrumental e vocal (EAGLE et al., 1973).

Desse modo, percebe-se que há diferentes sentidos associados pelo indivíduo ou grupo à audição de música instrumental e vocal. A música com letra, certamente chamaria a atenção do ouvinte, podendo interferir na concentração para realizar determinada atividade. Por outro lado, a música instrumental poderia contribuir para a realização de alguma tarefa, por se apresentar como complemento do ambiente onde ela estaria sendo desenvolvida. Obviamente, tal reflexão irá depender da forma como estariam sendo empregadas, do contexto onde seriam inseridas e dos objetivos pretendidos.

 Efeitos intelectuais da música

Mesmo sem receber educação musical específica, o indivíduo, ouvindo música habitualmente, desenvolve capacidades para compreender e reconhecer sons musicais. A

sensibilidade musical é processada através de três níveis: “intuitivo”, que se relaciona à

percepção empírica do ser humano, através da fonação, motricidade, memória e audição;

“afetivo”, caracterizado pelo estado emocional, tanto pela resposta condicionada ao feito musical, como pelo impulso originário daquele feito; e “intelectual”, caracterizando-se pelo

registro, retenção, comparação e conceitualização de sons musicais (SEKEFF, 2007).

Ainda que cada um desses níveis possa ser desenvolvido ou afetado mais do que outro, convém ressaltar que o indivíduo é um todo e que, assim, tais níveis estariam interrelacionados entre si. Conforme afirma McClellan (1994), para qualquer atividade

musical, relacionada à composição, à execução em um instrumento musical, ou à audição de música, os dois hemisférios cerebrais estariam envolvidos, equilibrando-se, desse modo, os dois aspectos dos processos mentais.

Outros argumentos sobre os efeitos intelectuais da música são apresentados por Sekeff (2007), ao ressaltar que a música estimula a memória, a criatividade e a inteligência. E o

estímulo da inteligência se dá no domínio do “cérebro racional” (neocórtex), do “cérebro sentimental” (sistema límbico) e do “cérebro emocional”, todos constitutivos do córtex, ainda

que tenham funções diferentes.

Complementando tais argumentos, destaque-se o que assevera Gardner (1994), ao afirmar que a inteligência musical constitui um dos tipos de inteligência, juntamente com a inteligência espacial; interpessoal; lógico-matemática; linguística; cinestésico-corporal; e naturalista.

Em relação à vivência musical na educação, Sekeff (2007) sugere que se vá além da lógica e de pensamentos prefixados, no sentido de dominar procedimentos libertadores e de aperfeiçoar funções cognitivas e criativas, contribuindo, desse modo, para o desenvolvimento e para o equilíbrio da vida afetiva, intelectual e social do indivíduo, bem como para a sua condição de ser pensante.

 Efeitos sociais da música

A música, mesmo sem uso de palavras, pode sugerir ideias e sentimentos, o que a torna acessível a todos. Como agente socializante, a música pode ainda promover a união entre pessoas na expressão de sentimentos comuns, seja através da dança, do canto, ou da execução de instrumentos musicais (BLASCO, 1999).

­ As funções sociais da música foram categorizadas por Merriam (1964). Este

antropólogo elegeu dez categorias para a música na vida cotidiana das pessoas. São elas;

­ Função de expressão emocional, em que a música é tomada como um meio de

expressar ideias, sentimentos e emoções não reveladas no discurso comum, que se manifestam inclusive por alterações corporais, tais como arrepios e alterações nos batimentos cardíacos;

­ Função de prazer estético, que se refere ao gosto e ao prazer dos participantes de

­ Função de divertimento, que diz respeito à capacidade de alegrar e de divertir a

sociedade. Esta função, juntamente com a de prazer estético estariam interligadas, ocorrendo tanto em nível do criador como do contemplador, caracterizando-se por unir as pessoas a seus contextos, como concertos, festas e a outros objetos de contemplação;

­ Função de comunicação, em que a música, ainda que não transmita significado

universal, comunica algo a alguém ou àquela cultura que reconhece o código;

­ Função de representação simbólica, quando a música se apresenta como símbolo

de ideias e de comportamentos, correspondendo à construção social de significado em contextos culturais particulares;

­ Função de reação física, que estaria relacionada aos efeitos fisiológicos da música,

alguns dos quais relatados no presente estudo, a partir de seu poder em excitar comportamentos de grupos, a exemplo de guerreiros e de caçadores que têm a música como incentivo para enfrentar seus objetivos;

­ Função de impor conformidade a normas sociais refere-se às letras de músicas que

chamam a atenção para comportamentos convenientes ou não, a exemplo das canções de protestos;

­ Função da validação das instituições sociais e dos rituais religiosos, em que a

utilização da música tem por objetivo preservar a ordem do sistema religioso;

­ Função de contribuição para a continuidade e estabilidade da cultura, que é

expressa através do uso da música na educação, bem como da preservação da história, dos mitos e das lendas, visto que a música encerra as funções anteriores, como comunicação, validação da cultura e prazer estético, contribuindo para a manutenção da cultura;

­ Função de contribuição para a integração da sociedade, em que a música é

utilizada com a finalidade de minimizar conflitos e promover a reunião de grupos sociais.

Desse modo, a função social da música é evidente, tanto por relacionar-se ao contexto social, quanto pela construção de múltiplos sentidos singulares e coletivos, através de relações