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Efeitos da temperatura nas respostas reflexas cardiorrespiratórias

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARL (páginas 78-81)

4 DISCUSSÃO

4.2 Efeitos da temperatura nas respostas reflexas cardiorrespiratórias

O aumento da temperatura em 10°C (de 25 para 35°C) promoveu ajustes cardiorrespiratórios, dentre eles aumentos nos valores basais de FC e . A ventilação foi afetada pela temperatura (127% de aumento, Q10 = 2,27) principalmente em decorrência do

aumento no VC (Q10 = 1,57). Assim, elevada em altas temperaturas é coerente com o

aumento da taxa metabólica de até 105% para o mesmo intervalo térmico relatado no sapo R. marina, espécie próxima filogeneticamente (OVERGAARD, et al., 2012). A exposição a elevada temperatura (35°C) no sapo R. schneideri também aumentou a FC, acompanhando assim a elevada demanda metabólica do animal, e que ocorreu por meio de um aumento de 100% relativo aos valores da temperatura mais baixa enquanto a PA manteve-se constante. A sustentação da PA em valores relativamente constantes para o intervalo térmico entre 25 e 35°C, ao passo que os valores basais de FC são ajustados em conformidade com a alta temperatura, provavelmente reflete a ocorrência de uma vasodilatação generalizada (ZENA, et al., 2015), visto que o volume sistólico não apresenta alterações significativas para o intervalo térmico de 10 a 30°C no sapo R. marina (HEDRICK, et al., 1999).

As alterações de PA induzidas farmacologicamente não apenas desencadearam respostas barorreflexas de FC, mas também afetaram a no sapo R. schneideri, similar ao que já foi visto para mamíferos (BRUNNER, et al., 1982; MCMULLAN e PILOWSKY, 2010; STEWART, et al., 2011; WALKER e JENNINGS, 1998). Primariamente alterando a FR e em menor extensão o VC, aumentos na PA nos sapos foram seguidos por reduções na

enquanto, reciprocamente, a foi significativamente elevada após a hipotensão. Contrastando com a redução no VC durante a hipertensão a 25°C (doses mais altas de FE), a

hipertensão na temperatura elevada de 35°C não foi capaz de reduzir o VC, apesar de diminuir

a FR. Adicionalmente, a relação entre a PA e as respostas ventilatórias (dados binados de PA; Figura 6) revelaram que em altas temperaturas, os sapos exibiram aumentada ventilação ao longo de todos os intervalos de PA (<2 a >6 kPa), principalmente em função do aumento no VC. Isto permitiu aos sapos manter um fluxo ventilatório suficientemente alto em seus

pulmões garantindo adequada trocas gasosas através do órgão durante elevada demanda metabólica enquanto sua habilidade em alterar a ventilação em resposta a hipertensão e hipotensão foi mantida (tabela 2 e figura 5). De acordo com a habilidade dos anfíbios anuros

em responder primariamente a hipotensão aumentando a FC (ver capítulo I; HEDRICK, et al., 2015; ZENA, et al., 2015), o sapo cururu também exibiu uma resposta ventilatória mais proeminente a reduções do que aumentos de PA. Assim, nossos dados parecem ser correlativos à habilidade dos anfíbios anuros em utilizar seus pulmões para a regulação da homeostase do volume sanguíneo (HEDRICK, et al., 2013), além de contribuir com a hipótese prevalente de regulação da PA primariamente contra eventos de hipotensão (HEDRICK, et al., 2015; ZENA, et al., 2015).

Além das respostas reflexas ventilatórias, que foram independentes da temperatura, o barorreflexo da FC nos nossos sapos na realidade apresentou-se reduzido a 35°C, como pode ser observado pelo ganho normalizado na Tabela 1. Isto sugere que o ramo cardíaco da resposta barostática possivelmente aproximou-se do limite térmico para esta espécie. Como visto no capítulo I desta tese, é possível observar que a sensibilidade barorreflexa é acentuada pela temperatura para o intervalo térmico entre 15 e 30°C. Entretanto, nossos dados parecem indicar que aumentos adicionais da temperatura (> 30°C) ao invés de aumentar a sensibilidade barorreflexa da FC no sapo cururu R. schneideri, na realidade foi responsável por reduzi-la. Uma possível explicação para este fenômeno pode envolver um prejuízo térmico da resposta taquicárdica durante a hipotensão. Isto é indicado por um baixo Q10 (1,5) para a resposta

máxima de FC alcançada para a dose mais alta de NPS para o intervalo térmico de 25 a 35°C. A FC basal foi consideravelmente afetada pela temperatura, alterando o ponto operante do barorreflexo para valores mais altos de FC (100% de aumento) com um Q10 de

aproximadamente 2,0. Por isso, em um cenário ideal em que a sensibilidade barorreflexa da FC de 25 para 35°C fosse sustentada, era esperado que a temperatura influenciasse a resposta de FC máxima e mínima por meio de um mesmo Q10 como aconteceu para a FC basal do

sapo; entretanto, esta não foi a real resposta observada para a FC máxima.

A capacidade dos anfíbios anuros em aumentar a FC frente à hipotensão conta com a maior contribuição de alteração de FC durantes alterações da PA (HEDRICK, et al., 2015; ZENA, et al., 2015) e que pode ser fortemente afetada pela inabilidade de aumentar adicionalmente a FC quando o animal já apresenta valores elevados de FC basal. Tal condição pode ser vista quando o animal é exposto a altas temperaturas (>35°C; OVERGAARD et al., 2012) ou durante atividade física forçada (WAHLQVIST e CAMPBELL, 1988); esta última já conhecida por causar um ajuste do barorreflexo em humanos, onde a FC e a PA do ponto operante durante o repouso são deslocadas para valores mais elevados (NORTON, et al., 1999).

Em geral, parece que os anfíbios anuros dependem de uma combinação de mecanismos para manter a homeostase cardiovascular. O barorreflexo nos anuros é claramente relacionado ao seu eficiente sistema linfático, visto que os corações linfáticos nesses animais estão sob controle dos barorreceptores arteriais (CROSSLEY e HILLMAN, 1999) e a ventilação pulmonar funciona como um eficiente efetor para a mobilização linfática (HEDRICK, et al., 2007). Baseado nos nossos dados, oscilações de curto prazo da PA são defendidas por mecanismos que envolvem ajustes reflexos de FC juntamente com alterações de ventilação pulmonar (principalmente FR) que podem essencialmente surgir da integração das aferências barorreceptoras no SNC, modulando áreas de controle da respiração, como previamente proposto para os mamíferos. Adicionalmente, temperaturas ambientais elevadas podem reduzir o barorreflexo por prejudicar a resposta máxima de FC (baixo Q10) quando os

valores de FC basais já são elevados, enquanto o componente ventilatório desta resposta é preservado. Embora a conexão entre a ventilação e o fluxo linfático baseada na regulação barorreflexa merece investigação adicional, nossos dados no sapo R. schneideri claramente proporcionam uma ligação correlativa entre o barorreflexo, a ventilação pulmonar e o sistema linfático nos anuros, além de fornecer uma compreensão evolutiva para melhor entendimento da interação entre PA e ventilação nos mamíferos. Entre os anfíbios, ainda é desconhecido se a função da ventilação pulmonar é uma característica conservada contribuindo com a homeostase da PA, visto que anfíbios desprovidos de pulmão, como algumas salamandras (HUTCHISON, 2008) e a rã-de-Bornéu, Barbourula kalmantanensis (BICKFORD, et al., 2008) poderiam depender de outros efetores para o movimento vertical de linfa (e.g. contração da musculatura esquelética) e que poderiam estar sob controle dos barorreceptores. Sendo assim, a suposta regulação da PA/volume dependente da ventilação certamente não existiria nesses animais.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARL (páginas 78-81)

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