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Efeitos da venda do Bear Sterns e a crise de liquidez

5 ESTUDO DE CASO

5.1 LEHMAN BROTHERS

5.1.3 Efeitos da venda do Bear Sterns e a crise de liquidez

A redução do nível de alavancagem e a maneira que ela ocorria era a principal pauta de discussão nas reuniões do banco com investidores. As reduções sem fundamentos levaram o mercado a desconfiar das práticas contábeis do Lehman Brothers, inclusive do valor dos ativos da empresa. Com a quase-quebra do Bear Sterns em Março de 2008 devido a indisponibilidade de empresas dispostas a financiar o banco no curto prazo, o Lehman Brothers passou a ser visto pelo mercado como a próxima vítima da desconfiança do mercado (BOGOSLAW, 2008).

Para dirimir a preocupação do mercado, o banco buscou novas formas de liquidez, como a emissão de novas ações no valor de 1,59 bilhões em Fevereiro de 2008, 4 bilhões em debentures conversíveis em ações em Março e mais 6 bilhões em Junho. Além disso, o banco estava em discussões com um banco coreano para fazer um investimento estratégico na empresa. Mesmo assim, a opinião de algumas pessoas do Federal Reserve era de que o banco iria quebrar (VALUKAS, 2010, p. 614-615).

Com a piora do mercado financeiro americano e o aumento dos prejuízos com títulos de dívida estruturada, o governo americano foi obrigado a estatizar as agências de hipoteca

Fannie Mae e Freddie Mac no dia 8 de Setembro de 2008. Essa ação levou a uma enorme desconfiança no mercado em relação as outras empresas relacionadas com o mercado de hipotecas, inclusive o Lehman. Com isso, o banco coreano desistiu do investimento, informando a sua desistência ao mercado no dia 10 de Setembro. Com a desistência do banco coreano e a expectativa de que o Lehman declarasse um prejuízo elevado no 3º trimestre de 2008, as agências de risco colocaram a nota de risco da empresa em revisão negativa.

Como resultado da ação das agências de risco e aumento da percepção de risco do mercado, os bancos responsáveis por garantir as operações de recompra do Lehman cobraram aumentos no colateral depositado. Consequentemente, a disponibilidade de liquidez do banco que era de 42 bilhões de dólares a apenas um dia, diminuiu para 12 bilhões de dólares no dia 11 de Setembro (VALUKAS, 2010, p. 621).

A drástica redução na liquidez da empresa praticamente decretou a sua falência, já que os próximos passos do mercado seriam a redução da nota de risco do banco e consequentemente uma redução ainda maior da sua liquidez. O FED assim como o conselho do Lehman acreditavam que o banco não teria condições de abrir na segunda-feira dia 15 de Setembro sem que houvesse uma fusão ou ajuda governamental para dirimir o pessimismo do mercado. Por uma questão política, o FED não ofereceu ajuda governamental a nenhuma das empresas interessadas em adquirir o Lehman como ele havia feito com o Bear Sterns e praticamente forçou a empresa a entrar com um pedido de falência na madrugada de domingo para segunda (VALUKAS, 2010, p. 726).

5.1.4 Conclusões

Podemos concluir portanto que a falência do Lehman Brothers foi causada por uma crise de liquidez, resultado de uma dependência extrema da empresa em financiamentos de curtíssimo-prazo através do mercado de recompra, também conhecido como shadow banking, que ao perder a confiança nas informações divulgadas pela empresa desistiu de financia-la.

As causas para crise de confiança são tanto singulares ao banco, como sistêmicas.

A falta de regulação do modelo de negócios dos bancos de investimento levou a níveis de alavancagem exacerbados, fundamentado em uma disponibilidade de financiamento através

de instituições não-bancárias como fundos de hedge, MMFs e outras instituições detentoras de grandes reservas de dinheiro e principais agentes do mercado de recompra.

Esses agentes são extremamente avessos ao risco e, portanto, a deterioração do colateral composto de ABS e CDOs de hipotecas com a crise imobiliária americana diminuiu a liquidez do shadow banking, aumentando o custo de financiamento através do aumento do haircut. A quase-quebra do Bear Sterns também levantou a preocupação dos agentes com a saúde financeira dos bancos de investimentos que estavam sofrendo com a diminuição dos lucros provenientes da securitização de empréstimos e hipotecas devido à falta de compradores deste produto, assim como prejuízos ao precisarem valorar os títulos de dívidas estruturadas que eles mantinha em “estoque”.

O Lehman se tornou o próximo banco da lista a ser avaliado pelo mercado como altamente alavancado. A política da empresa de expandir seus investimentos na área imobiliária, mais especificamente em imóveis comerciais, assim como empréstimos alavancados para outras empresas no ano de 2007 foi considerada pelos agentes como muito arriscada. As manobras contábeis para reduzir a alavancagem da empresa também causaram danos a sua reputação e na confiança dos mercados. Esses danos se traduziram em uma redução constante no número dos agentes dispostos a financiarem a empresa bem como no valor destes financiamentos e na sua duração.

Muito embora, os contratos de recompra sejam teoricamente livres de risco no caso da falência de uma das partes. O custo de tempo e trabalho para vender os ativos usados como colateral, bem como a possível falta de liquidez destes ativos em um cenário financeiro ruim, se tornou em um risco maior que o benefício garantido pelos juros dessas operações. Para piorar o problema, havia dúvidas dos agentes quanto ao real valor dos ativos quando estes eram títulos de dívida estruturada.

5.2 AIG

A origem da AIG é um pequeno escritório de seguros fundado por Cornelius Vander Starr na China em 1919. O seu primeiro escritório nos Estados Unidos só foi fundado em 1926, e em 1939, com o início da Segunda Guerra Mundial, o escritório central da empresa foi relocado de Xangai para Nova Iorque. A empresa teve um crescimento exponencial desde o seu início, sustentado por sua presença internacional que lhe garantia uma diversificação do risco

político e econômico dos diferentes países, além de poder garantir uma abrangência maior aos seus produtos.

Em 1968 com a morte de Cornelius, Maurice R. Greenberg se tornou CEO da empresa, posto no qual se manteve até 2005 quando foi forçado a renunciar devido a escândalos contábeis. A empresa se tornou pública em 1969 e em 1992 foi a primeira empresa de seguros a receber a licença para operar na China. A expansão da empresa sempre foi baseada na compra de concorrentes e no desenvolvimento de produtos diferenciados que normalmente fugiam do escopo de uma empresa de seguros, como assessoria em assuntos financeiros, serviços de leasing, e por fim o produto que a levou a falência, seguros sobre produtos financeiros (BBC NEWS, 2009).