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CAPÍTULO 3: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.2 Efeitos das condições de temperatura e umidade

O trabalho em espaços confinados exige uma série de procedimentos para garantir a condições mínimas de segurança e saúde. A exposição prolongada do homem a condições térmicas desfavoráveis produz efeitos fisiológicos que reduzem o rendimento e podem até provocar a morte (Torres; Gama, 2005).

Os efeitos das condições de temperatura e umidade inadequadas tornam os operários menos conscientes dos sinais visuais ao seu redor e essas reduções levam eventualmente a um ponto em que o déficit de atenção compromete a segurança e a saúde dos trabalhadores com o aumento do potencial para acidentes graves.

A má qualidade do ar é uma das razões-chave porque ambientes subterrâneos podem ser perigosos para as pessoas que trabalham na mineração. Gases tóxicos como CO e CO2, outros

gases inflamáveis e combustíveis e poeira estão, muitas vezes, naturalmente presentes.

Karoly (2009) alerta que o projeto pelo “cenário de pior caso” pode acarretar, nos estágios iniciais, um fluxo de ar em excesso. O autor defende que o monitoramento das atividades e equipamentos nas frentes de trabalho seja a base do projeto. Vários trabalhos apontam o redimensionamento do sistema de ventilação, em função da variação da escala de produção, do aprofundamento das minas e de outros fatores.

Kocsis, Hardcastle e Keen (2009) relatam três desafios que afetam as operações em minas subterrâneas metalíferas e que são particularmente aplicáveis em sua totalidade às minas brasileiras. As minas estão se tornando cada vez mais profundas; elas estão cada vez mais mecanizadas e os requisitos legais estão se tornando cada vez mais exigentes. Do ponto de vista

de ventilação os efeitos principais da profundidade são o aumento do calor e da umidade, e aumento das condições de tensão prévia, obrigando ao aumento da sustentação das escavações. Esses fatores levam as empresas a concentrar sua atenção, esforços, tecnologias e recursos no controle da estabilidade das escavações e em eficientes sistemas de ventilação.

Com relação à produtividade, dados obtidos para as minas sul-africanas de ouro, indicam uma sensível queda de produção mantidas as mesmas condições operacionais, exceto as condições de ventilação. Sabe-se que, a partir de uma determinada faixa de temperatura, o rendimento do trabalhador é reduzido de forma drástica, chegando a doenças ou acidentes.

Machado (2011) relata que quando o organismo é exposto a uma variação de temperatura muito grande ocorrem várias reações de adaptação tais como vasodilatação periférica, que aumenta circulação sanguínea na superfície do corpo e com isso a troca de calor com o ambiente é mais intensa. Os sintomas se manifestam como tontura ou desmaio. Na tabela 6 mostra-se, conforme a norma NR 15 (Brasil, 2002), a relação entre o regime de trabalho e a temperatura.

Tabela 6 - Regime de trabalho e temperatura em função da temperatura de globo

Regime de trabalho intermitente com descanso no próprio local de trabalho

Tipo de atividade Leve Moderada Pesada

Trabalho contínuo Até 30°C Até 26,7 °C Até 25,0 °C

45 minutos trabalho x 15 minutos de descanso 30,1 a 30,6°C 26,8 a 28,0 °C 25,1 a 25,9°C 30 minutos trabalho x 30 minutos de descanso 30,7 a 31,4°C 28,1 a 29,4°C 26,0 a 27,9°C 15 minutos trabalho x 45 minutos de descanso 31,5 a 32,2°C 29,5 a 31,1°C 28,0 a 30,0°C Não é permito o trabalho sem a adoção de medidas

adequadas de controle

>32,2 °C > 31,1°C > 30°C

Fonte: NR 15 – (BRASIL, 2002)

O desenvolvimento e extração em corpos de minérios mais complexos e mais profundos exigem uma infraestrutura mais eficiente de ventilação. O método de lavra utilizado, o aumento da profundidade e frota são parâmetros importantes para o controle do calor. Minas na África do Sul, segundo Brake (2001), vêm produzindo em profundidades maiores que 3 km, se aprofundando a 5 km. As minas australianas também se aprofundaram nas últimas três décadas. Um dos desafios tecnológicos significantes em minas profundas é o problema do calor.

Ambientes frios e quentes podem criar problemas quando o corpo não consegue regular sua temperatura, acarretando problemas para o trabalho mental e manual. Além disso, a taxa de produtividade diminui e os níveis de segurança são reduzidos. Se a situação for prolongada, os riscos tais como desmaios, exaustão ou cãibras podem surgir. Esse risco pode ser reduzido por meio de um processo de aclimatação em ambientes quentes.

As condições subterrâneas, às quais os funcionários são submetidos podem produzir um metabolismo desequilibrado e, por esta razão, têm que ser controladas. Um dos principais parâmetros é o índice IBUTG (índice de bulbo úmido – termômetro de globo - obtida pela equação (3), de acordo com a Norma Regulamentadora 15 da Portaria 3.214/78, que estabelece que a exposição ao calor dever ser avaliada através do “Índice de bulbo úmido – termômetro de globo" (Brasil, 2002).

IBUTG = 0.7TBU + 0.3TE (°C) (3)

Em que:

TBU - Temperatura de bulbo úmido natural (em ºC);

TE - Temperatura de globo (em ºC);

De acordo com a NR 17 (Brasil, 2015) a temperatura efetiva deve estar entre 20°C e 23°C, com a velocidade do ar não superior a 0,75m/s e umidade relativa do ar não inferior a 40% para que o trabalho seja executado na melhor forma possível. Sabe-se que, a partir de uma determinada faixa de temperatura, o rendimento do trabalhador é reduzido de forma drástica, chegando a doenças ou acidentes como mostrado na figura 9.

Figura 9 - Rendimento do trabalhador x temperatura (Poulton, 1970, citado por Massanés, 2015).

Segundo Eston (2005), as menores taxas de acidentes estão relacionadas a temperaturas inferiores a 21°C e às maiores taxas, para valores superiores a 27°C. Entre esses valores, tem-se uma faixa onde a correlação não é bem definida. O Departamento de Minas e

Temperatura efetiva (°C) Re n d ime n to do tr ab alh ad or ( % )

Energia da África do sul (DME), relaciona a temperatura de bulbo úmido (TBU), a temperatura

de bulbo seco (TBS) e a temperatura globo (TG) com o grau de risco de intermação, em tais

ambientes operacionais conforme a tabela 7.

Tabela 7- Relação entre regime de trabalho e temperatura em função da temperatura de bulbo seco, úmido e temperatura de de globo.

Carga de calor ambiental Grau de risco Ação geral

Tbu> 32,5 °C ou Tbs > 37,0 °C ou Tg> 37,0 °C

Risco inaceitável de distúrbio pelo calor

Trabalhos rotineiros ou emergências só poderão ser feitos após análise de riscos por especialistas e sob supervisão especializada. Tbu > 27,5°C; 32,3 °C e, Tbs >

32,5°C, mas ≤ 37,0 °C e Tg > 32,5 °C, mas ≤ 37,0°C

Alto potencial para

distúrbio pelo calor

Necessita de plano de trabalho; Gerenciar a carga térmica.

Tbu > 25,0 °C, mas ≤ 27,5 °C Tbs ≤ 32,5 °C Tg ≤ 32,5° C

Potencialmente

predisposição para

distúrbio pelo calor

Medidas de higiene ocupacional e ergonomia em locais quentes devem ser tomadas

Tbu ≤ 25,0 °C e, Tbs ≤ 32,0 °C e Tg ≤ 32,0 ° C

Baixo risco Verificações rotineiras

Fonte: DME, ano 2010

A temperatura virgem da rocha (VRT) aumenta ao mesmo tempo que a profundidade devido ao calor do núcleo da Terra. A presença de água subterrânea ou radioatividade pode modificar seu valor. O método mais preciso para determiná-la são as sondagens e as análises laboratoriais (Sundberg; Back; Hellström, 2005). Apesar disso, existe um método alternativo, quando não há tal informação, usando a rocha fragmentada de frentes lavradas como valor equivalente (Mcpherson, 2009).

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