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condensado de Bose-Einstein

4.4 Efeitos de temperatura finita

Toda a teoria de condensação baseada na equação de Gross-Pitaevskii supõe uma amostra à temperatura nula, ou seja, onde não há presença de átomos térmicos. No entanto os átomos térmicos existem e seu efeito não pode, em princípio, ser descartado. Alguns estudos a partir de aproximações semi-clássicas e numéricas foram feitos especialmente em relação ao amorte- cimento de oscilações coletivas do condensado devido à nuvem térmica [55, 56]. No entanto, nenhum desses trabalhos menciona o efeito dos átomos térmicos no tamanho da nuvem conden- sada. Das nossas observações no experimento, cremos que a interação entre os átomos, que tem papel tão importante na dinâmica do próprio condensado, pode atuar entre os átomos térmicos e condensados, alterando sensivelmente o tamanho do BEC.

4 Caracterização do condensado de Bose-Einstein 91

Figura 35: Expansão de uma nuvem quântica como função do tempo mostrando a queda devido à

gravidade e a inversão do aspect ratio da nuvem, assinatura típica de nuvens condensadas.

Figura 36: Aspect ratio das nuvens clássica e quântica mostrando a evolução para a isotropia no primeiro

Figura 37: Medida de R5/N

0 como função da fração condensada, mostrando que correções devido

à existência da nuvem térmica são necessárias. A linha cheia é um guia de indicação da tendência observada.

A Fig.37 mostra a grandeza R5/N

0, onde R é o raio de Thomas-Fermi do BEC e N0 o

número de átomos condensados, como função da fração condensada. Cada ponto representa a média de todos os pontos medidos com fração condensada N0/N ± 0.05. Assim, o ponto da

fração condensada 0.5, por exemplo, engloba todos os pontos entre 0.45 e 0.55. A linha cheia é apenas um guia de indicação da tendência observada. Veja que o tamanho do condensado (normalizado pelo número de átomos condensados) cai com a fração condensada. Ao contrário, essa quantidade deveria ser fixa, como pode ser inferido a partir da eq.2.29 e da relação deμ com R, dada porμ = mω2

iR2i/2. Dessas relações obtemos, R5 N0 = 15a  mω 2 , (4.11)

fixo para cada direção, ao contrário do observado.

Correções baseadas na influência da nuvem térmica sobre a nuvem condensada estão sendo calculadas, mas ainda não há um modelo conclusivo para este fenômeno.

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Modos topológicos coerentes

Discutimos brevemente na introdução a este trabalho a idéia geral do que são modos coe- rentes topológicos. Dissemos ainda que este era o objetivo principal dessa tese e, na verdade, os resultados apresentados no capítulo 6 foram obtidos em experimentos que visavam a observação dos modos. Neste capítulo fazemos uma pequena revisão dos aspectos teóricos relacionados aos modos topológicos coerentes. Aplicamos as previsões ao nosso sistema experimental e ainda discutimos a escolha da forma espacial do campo de excitação.

Apesar de complicado no aspecto teórico e técnico, o processo de excitação é muito sim- ples em sua essência e em sua possível observação. Como discutido, a idéia é levar os átomos condensados coerentemente do estado fundamental do potencial confinante para um dos estados excitados. Uma vez feita a transferência, sua observação se dá da mesma forma que a do con- densado original: via imagem de absorção. Isso é possível porque a distribuição de densidade dos átomos condensados é essencialmente a imagem da função de onda do estado condensado. Assim, estados com funções de onda diferentes devem se mostrar com distribuições espaciais diferentes. É exatamente por isso que esses modos são chamados topológicos, pois a forma espacial da nuvem condensada é diferente para cada modo.

Apesar do cálculo exato das distribuições espaciais ser feito apenas numericamente e as interações terem um papel fundamental na excitação dos modos, ainda assim, em um modelo unidimensional não-interagente, é possível ver, em linhas gerais, em que se baseia a proposta da excitação dos modos. Na Fig.38 mostramos como a função de onda do oscilador harmônico se altera, do estado fundamental para o primeiro estado excitado, para diferentes misturas entre os dois estados. A alteração da forma é evidente, dando nome aos modos e tornando direta a sua observação.

Figura 38: Mistura das funções de onda do estado fundamental e primeiro excitado do oscilador harmô-

nico unidimensional não-interagente.

5.1 Aspectos teóricos

Iniciamos com a equação de Gross-Pitaevskii dependente do tempo 2.22, dada por

i∂Ψ

∂t = ˆHΨ. (5.1)

O Hamiltoniano ˆH(Ψ) será dado por ˆ

H = H0(Ψ) + Vp, (5.2)

onde H0(Ψ) é o Hamiltoniano original da equação de Gross-Pitaevskii, dado por

H0(Ψ) = − 2

2m∇2+ Vext( r) + 4π2a

m |Ψ|2 (5.3)

e Vpuma perturbação da forma

Vp = V( r) cos(ωt). (5.4)

Há diversas maneiras de inserir esse termo da perturbação no Hamiltoniano não-perturbado original. As mais simples são modulando o campo da própria armadilha ou inserindo efetiva- mente um campo externo [57]. No entanto, esse termo pode ser inserido de outras formas menos convencionais. Uma das mais factíveis consiste em modular o comprimento de espalhamento dos átomos aprisionados próximo a uma ressonância de Feshbach [58]. A perturbação gerada

5 Modos topológicos coerentes 95

faz efeito semelhante a um campo externo e também acopla níveis excitados da armadilha. No entanto, num primeiro momento, vamos tratá-la sem especificar sua origem.

Para que o sistema possa ser tratado como contendo apenas dois níveis, o potencial de bombeamento deve obedecer algumas condições fundamentais: i) deve fornecer energia aos átomos equivalente à separação entre os níveis que se quer acoplar e ii) sua dessintonia em relação à freqüência exata de transição entre os níveis deve ser pequena de forma a conectar apenas os dois níveis em questão. Se esse não for o caso, o efeito observado pode ser apenas o de espalhar os átomos nos diversos níveis energéticos do potencial.

Se as condições são satisfeitas é possível aplicar teoria de perturbação otimizada, que é uma técnica que une teoria de perturbação usual e princípio variacional para encontrar a variação temporal das populações do estado fundamental e excitado. Essa técnica é bem descrita em [59] e por isso não nos deteremos à sua descrição.

As populações do estado fundamental n0 e de um estado excitado “p” escolhido np como função do tempo são dadas por

n0 = 1 −|β|2 Ω2sen 2 Ωt 2  (5.5) np = |β| 2 Ω2sen 2 Ωt 2  , onde β = 1  φ∗ 0V( r)φpd r (5.6)

é a amplitude de transição devida ao potencial externo,

Ω = 4α2n2

0+ |β|2 (5.7)

é uma freqüência de Rabi típica do sistema, similar à definida para sistemas atômicos e

α = AN  |φp|22 0|2− |φp|2  d r (5.8)

Figura 39: Fração da população no estado fundamental (preto) e excitado (vermelho) para excitação

ressoante e para (a)β/α = 0.4 , (b) β/α = 0.5, (c) β/α = 0.5001 e (d) β/α = 0.6. O tempo adimensional (t’) relaciona-se com o tempo real (t) como t= tα.

onda do estado base e excitado como φ0 e φp, tal que n0(p) = φ0(p)2 e o termo da interação

atômica dado por A= 4π2a

m .

Veja queΩ depende das populações dos estados da armadilha, explicitando o caráter não- linear do sistema. Dessa forma, a evolução das populações dos estados base e excitado não obedecerá oscilações senoidais simples. Na Fig. 39 mostramos essa evolução para algumas condições específicas do potencial de excitação. Além da mudança na distribuição espacial dos átomos na nuvem condensada, essas oscilações sob as mais diversas condições são outra assinatura da excitação dos modos.