• Nenhum resultado encontrado

Efeitos da demissão desproporcional

VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE OCORRÊNCIA SEGURANÇA CONCEDIDA.

3.6 Efeitos da demissão desproporcional

Neste tópico abordaremos os prejuízos materiais e imateriais causados pela aplicação de uma pena de demissão que se revele desproporcional diante do caso concreto e que tenha sofrido o controle do Poder Judiciário.

A prática da atividade correcional tem demonstrado que todos os servidores punidos com pena expulsiva buscam o Poder Judiciário na tentativa de reverter tal ato administrativo, independentemente do direito perseguido ser bom ou não. Ou seja, mesmo aqueles em que o conjunto probatório trazido aos autos demonstra de maneira irrefutável a materialidade e autoria da infração disciplinar, tentam a via judicial como forma de salvar o cargo público. Muitas vezes a estratégia da defesa se direciona para a tentativa de anulação do processo disciplinar fundado em vícios de natureza formal.

Não poderia ser diferente, haja vista o valor que a nossa sociedade atribui a um cargo público. Vivemos em um país em desenvolvimento em que a massa salarial paga pelo setor público tem grande relevância na economia. Associem-se, ainda, questões como a estabilidade no cargo e a aposentadoria com vencimentos integrais, em alguns casos. Dessa forma, diante da pena expulsiva, o servidor galgará todas as instâncias judicias na tentativa de preservar o seu emprego.

Dessa maneira, verifica-se o primeiro grande custo a ser suportado pela sociedade, qual seja, o início de um processo judicial que poderia ter sido evitado se fosse observada a proporcionalidade da sanção disciplinar. Cabe destacar que este processo tenderá a se postergar por anos, considerando que a própria procuradoria jurídica da União tem por praxe estender a lide até as últimas instâncias do Poder Judiciário e, como demonstrado, o servidor também se valerá de todos os recursos possíveis. Assim, apenas para citar o ônus percebido à primeira vista, tem-se o custo da defesa da União, o custo do uso indevido do Judiciário e o custo da sucumbência.

Outro grande ônus é o pagamento de danos materiais e danos morais. Em geral, o servidor, ao ter a sua reintegração conquistada, receberá a título de danos materiais todos os salários não percebidos, desde a data do seu desligamento, com a devida correção monetária e acrescido de juros, sem prejuízo de outros danos que venha a comprovar, por exemplo, gastos com tratamento de saúde, realizados para tratar doenças que decorreram da situação causada pelo ato de demissão. Deve-se, ainda, serem acrescidos os danos morais. Neste ponto, já se verificam situações em que o judiciário tem reconhecido danos morais não apenas para o

servidor, mas, também, para esposa e filhos, dependentes financeiros do servidor, sob o fundamento de que passaram por sofrimento decorrente da demissão do responsável pelo sustento da família.

Quanto aos danos imateriais, que são de difícil medição, podemos destacar a ausência da força de trabalho do servidor. A Administração Pública é notadamente reconhecida pela má prestação de serviços, em todos os poderes que a constituem, portanto, a ausência do servidor contribuirá negativamente na execução dos serviços destinados a sociedade.

Outro dano imaterial é aquele causado pelo mau uso do poder correcional pelo administrador público. Considerando que o poder disciplinar pode atingir o bem maior para o servidor público, que é o seu cargo, a experiência de ter um de seus pares punido de maneira desproporcional, desarrazoada, pode causar sérios danos ao ambiente de trabalho, ao ponto de provocar nos demais servidores uma busca excessiva pela legalidade, burocratizando o serviço de forma tal a obstar a execução das tarefas.

Também merece destaque o custo social que o ato administrativo equivocado e ilegal pode causar no servidor, nos seus familiares e amigos. Tal custo muitas vezes é irreparável, considerando a dificuldade que o servidor terá para se reinserir no mercado de trabalho após anos de labor dentro da sistemática do serviço público.

Por fim, é importante se ressaltar que, no caso de uma demissão desproporcional, mesmo que o servidor não obtenha sucesso na via judicial, com exceção dos danos materiais e morais, todos os outros ônus serão suportados pela Administração Pública. Ou seja, o Poder Judiciário será acionado desnecessariamente, o serviço público será prejudicado, o ambiente de trabalho no qual ele exercia suas atividades sofrerá com a medida e os custos sociais serão mantidos.

CONCLUSÃO

No presente trabalho estudamos a adequação dos julgamentos em processos administrativos disciplinares diante do princípio da proporcionalidade, em particular quando o enquadramento culmina com a aplicação de pena de demissão e esta se apresenta desproporcional diante da situação fática posta.

Conforme exposto, a interpretação manifestada pela Advocacia-Geral da União sobre o uso da proporcionalidade na aplicação de penas disciplinares proíbe o abrandamento da pena com fundamento neste princípio. Registre-se que este entendimento tem caráter vinculante para os órgãos do Poder Executivo Federal. O seu descumprimento, em tese, expõe a autoridade julgadora à responsabilização.

Dessa forma, não estando a pena contrária às provas dos autos, mesmo que ela se mostre desproporcional diante da situação fática investigada, ela será aplicada. Em se tratando de demissão, a experiência nos mostra que a totalidade dos servidores procura socorro no Poder Judiciário.

A jurisprudência tem se consolidado na direção do controle judicial atacar o ato desproporcional e, nestes casos, determinar o retorno do servidor ao serviço público, tendo a Administração que arcar com todo o ônus decorrente da ilegalidade do ato.

Com a devida vênia, posicionamo-nos contrários ao entendimento manifestado pelo importante órgão de assessoria jurídica do Executivo Federal. Entendemos que uma interpretação do regime disciplinar segundo a Constituição indica que a autoridade julgadora de processo administrativo disciplinar deve efetuar os julgamentos de acordo com o princípio da proporcionalidade, sendo possível, inclusive, o abrandamento da pena.

Na parte inicial deste trabalho, trouxemos à baila a problemática a ser estudada. Seguimos apresentando o regime disciplinar, dando destaque à sanção disciplinar e a presença do princípio da proporcionalidade no Direito Administrativo Disciplinar.

Posteriormente, apresentamos a conceituação de princípios constitucionais. Nesse ponto, demonstramos, com fundamento na doutrina, a normatividade cogente dos princípios constitucionais. Estudamos detalhadamente o princípio da proporcionalidade.

Diante dos fundamentos apresentados, quais sejam, a força normativa dos princípios, a disposição expressa do legislador quanto ao princípio da proporcionalidade em toda a legislação que dá suporte à seara disciplinar federal (Lei 8.112/90, Lei 9.784/1999, normas de Direito Administrativo) e do controle judicial da pena desproporcional, concluiu-se inadequados os pareceres AGU que manifestam o entendimento exposto acima.

Conforme demonstrado, a aplicação de pena desproporcional, principalmente da pena de demissão traz um ônus muito grande para a Administração. Este ônus não se resume apenas ao efeito financeiro, mas, também, aos efeitos sociais que o ato ilegal produz no servidor e no serviço público, e que são suportados pela sociedade.

REFERÊNCIAS

ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos princípios

jurídicos. 12ª ed. São Paulo: Malheiros, 2011.

BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 20. ed. São Paulo: Malheiros, 2007. CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional. 7ª.ed. Coimbra: Almedina, 2003.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 20ª ed. Rio De Janeiro: Lúmen Júris, 2008.

COSTA, José Armando da. Teoria e prática do processo administrativo disciplinar. 3ª ed. Brasília: Brasília Jurídica, 1999.

LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 14ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010. MAGALHÃES FILHO, Glauco Barreira. Hermenêutica e unidade axiológica da

Constituição. 4ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2011.

___________. Hermenêutica jurídica clássica. 2ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003.

MEIRELES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 23ª ed. São Paulo: Malheiros, 1998.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 21ª ed. São Paulo: Malheiros, 2006.

OSÓRIO, Fábio Medina. Direito administrativo sancionador. 1ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.

SITES

TEIXEIRA, Marcos Sales. Treinamento em processo administrativo disciplinar (PAD) –

formação de membros de comissões. Controladoria-Geral da União, 2011. Disponível em:

<http://www.cgu.gov.br/Publicacoes/GuiaPAD/Arquivos/ApostiladeTextoCGU.pdf> Acesso em: 15/05/2012

LEGISLAÇÃO

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil:

promulgada em 5 de outubro de 1988, atualizada até a Emenda Constitucional nº 70, de 29 de março de 2012. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em: 15/05/2012

BRASIL. Lei 8.112/1990. Disponível em:

< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8112compilado.htm> Acesso em: 15/05/2012

BRASIL. Lei 8.429/1992. Disponível em:

< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8429.htm> Acesso em: 15/05/2012

BRASIL. Lei 9.784/1999. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9784.htm> Acesso em: 15/05/2012

BRASIL. Decreto no. 5.480, de 30 de junho de 2005. Publicado no D.O.U de 01/07/2005. Disponível em:

< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5480.htm> Acesso em: 15/05/2012

BRASIL. Decreto no. 5.483, de 30 de junho de 2005. Publicado no D.O.U de 01/07/2005. Disponível em:

< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5483.htm> Acesso em: 15/05/2012

JURISPRUDÊNCIA

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI nº 2135-4. Disponível em:

<http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADIN&s1=2135&pro cesso=2135 >

Acesso em: 15/05/2012

BRASIL. Advocacia-Geral da União: Parecer AGU nº GQ-127. Brasília: 27 de Maio 1997. Disponível em:

<http://www.agu.gov.br/SISTEMAS/SITE/PaginasInternas/NormasInternas/AtoDetalhado.as px?idAto=8306&ID_SITE= >

Acesso em: 15/05/2012

BRASIL. Advocacia-Geral da União: Parecer AGU nº GQ-177. Brasília: 30 de Outubro 1998. Disponível em:

<http://www.agu.gov.br/sistemas/site/PaginasInternas/NormasInternas/AtoDetalhado.aspx?id Ato=8356&ID_SITE=>

Acesso em: 15/05/2012

BRASIL. Advocacia-Geral Da União :Parecer AGU nº GQ-183. Brasília: 17 de Dezembro de 1998. Disponível em:

<http://www.agu.gov.br/sistemas/site/PaginasInternas/NormasInternas/AtoDetalhado.aspx?id Ato=8362&ID_SITE=>

Acesso em: 15/05/2012

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. RMS 25.152 RS. Relator: Ministra Laurita Vaz. Recorrente : Rodrigo Cézar Silva, Advogado : Jorge Luiz Garcez De Souza E Outro(S), Recorrido : Estado do Rio Grande do Sul, Procurador : Suzana Fortes de Castro Rauter e Outro(S). Brasília, DJe, 01/09/2011.

Disponível em:

<https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200702184080&dt_publicacao=01/0 9/2011>

Acessado em: 15/05/2012

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. MS 17.490 – DF. Relator: Ministro Mauro Campbell Marques. Impetrante: Sérvio Tulio Freitas de Andrade, Advogado : Eth Cordeiro De Aguiar, Impetrado: Ministro de Estado da Justiça. Brasília, DJe de 01/02/2012.

Disponível em:

<https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=201102010980&dt_publicacao=01/0 2/2012>

Acessado em: 15/05/2012

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. RECURSO ESPECIAL Nº 1.147.380 - PR (2009/0127170-9). Relator: Ministro Herman Benjamin. Recorrente: União. Recorrido: Lourdes Maria Grimm. Brasília, DJe de 04/02/2011.

Disponível em:

<https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200901271709&dt_publicacao=04/0 2/2011>

Acessado em: 15/05/2012

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA Nº

16.536 - PE (2003/0102707-3). Relator: Ministro Celso Limongi (Desembargador convocado

do TJ/SP). Recorrente: Alexandre Caminha de Oliveira. Advogado: Célio Avelino de Andrade e Outro. T. Origem : Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco. Impetrado:

Governador do Estado de Pernambuco. Recorrido: Estado de Pernambuco. Brasília, DJe: 22/02/2010. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200301027073&dt_publicacao=22/0 2/2010> Acessado em: 13/05/2012

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. MANDADO DE SEGURANÇA Nº 13.091 - DF

(2007/0221525-0). Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho. Impetrante: Laurício Festa.

Advogado: Roger Honório Meregalli da Silva. Impetrado: Ministro de Estado da Justiça. Brasília, DJ 07/03/2008.

Disponível em:

<https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200702215250&dt_publicacao=07/0 3/2008 >

Acessado em: 13/05/2012

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. MANDADO DE SEGURANÇA Nº 12.429 - DF

(2006/0263361-7). Rel. Min. Felix Fischer. Impetrante: Almir Pinheiro da Silva. Advogado:

José Caminha de Oliveira e Outro. Impetrado: Ministro de Estado da Justiça. Brasília, DJU 29/06/2007.

Disponível em:

<https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200602633617&dt_publicacao=29/0 6/2007>

Acessado em: 13/05/2012

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. MANDADO DE SEGURANÇA Nº8106 / DF(). Rel. Min. Vicente Leal. Impetrante: Geraldo Jacyntho de Almeida Junior. Advogado: Sebastião José Lessa. Impetrado: Ministro de Estado da Justiça. Brasília, DJ 28/10/2002. P. 216.

Disponível em:

<https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200101944618&dt_publicacao=28/1 0/2002>

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RMS 24.901-7 /DF. Rel. Min. Carlos Ayres Britto. Impetrante: Ministério Público Federal. Impetrado: União. Brasília, DJ 11/02/2005.

Disponível em:

< http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=370256 > Acessado em: 13/05/2012

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. AG.REG. NO AGRAVO DE INSTRUMENTO

780.950 CE. Rel. Min Joaquim Barbosa. Agte.(S): Estado do Ceará. Proc.(A/S)(Es):

Procurador-Geral do Estado do Ceará. Agdo.(A/S): Fabiano Carvalho Mendonça. ADV.(A/S): Moisés Castelo de Mendonça. Brasília, DJe: 20/03/2012.

Disponível em:

< http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=1830719 > Acessado em: 13/05/2012

Documentos relacionados