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2.3 Disposição de efluentes da indústria de celulose no solo

2.3.1. Efeitos do efluente de indústria de celulose no solo e na planta

2.3.1.1. Efeitos na cobertura vegetativa

A literatura sobre aproveitamento agrícola de efluentes tratados de indústria de celulose, em geral, não revela efeitos negativos no desenvolvimento de culturas, tais como: o atraso na maturidade, a deterioração na qualidade dos produtos finais e a diminuição da resistência a doenças, tal como tem sido reportado em relação à aplicação de esgoto doméstico no solo (Feigin et al., 1991). Reduções significativas no crescimento de arroz, grão preto (Vigna mungo) e tomates foram observados em fertirrigação com 100% de efluente (Rajannan & Oblismani, 1979). Entretanto, com a diluição do efluente (mistura de efluente e água de fontes naturais) verificou-se aumento no crescimento de plantas fertirrigadas. Os autores sugeriram que a melhoria no desempenho agronômico da cultura seja devida ao decréscimo na

concentração típica de vários constituintes químicos no efluente diluído. Em geral, plantas fertirrigadas com efluente sem diluição apresentaram mais altas concentrações de N, P, K no tecido vegetal do que os controles ou aquelas fertirrigadas com efluente diluído.

Dentre as variáveis chaves utilizadas para determinar o comportamento de espécies fertirrigadas com efluentes industriais estão a sobrevivência e o crescimento das plantas. A tolerância ao sal constitui um importante parâmetro, tendo em vista que um dos maiores problemas relacionados com o efluente seja a presença de sais inorgânicos. Algumas espécies têm habilidade em acumular Na+ e Cl-, podendo, dessa forma, ser usadas para remover esses

íons da água residuária.

A fertirrigação pode proporcionar aumento significativo em todos os parâmetros de crescimento das plantas; tendo sido verificado aumento da concentração de nitrogênio e fósforo (Johnson & Ryder, 1988), além de ferro e manganês, dentre outros micronutrientes nas plantas. Aumentos da concentração de cloreto e alumínio nas plantas também foram documentados. O aumento de cloreto é, provavelmente, devido à alta concentração deste elemento no efluente industrial, entretanto, no caso do nitrogênio e fósforo, o resultado são surpreendentes, considerando-se a baixa concentração em que se encontram no efluente.

Culturas como arroz, grama-batatais, trigo, cebola, cana-de-açúcar, aveia, alfafa e pastagens podem crescer com sucesso quando o efluente industrial de celulose e papel é utilizado, mesmo quando altas taxas de aplicação (200 mm/semana) são utilizadas (Johnson & Ryder, 1988; Juwarkar & Subrahmanyam, 1986; Kulkamii, 1988; Narun, 1979). Espécies florestais como Kenaf (Hibiscus cannabinus), sesbenia (Sesbenia grandiflora), pinus Monterey (Pinus radiata) cresceram com sucesso, não apresentando diferença significativa em relação às plantas controle (Juwarkar & Subrahmanyam, 1986; Cromer et al., 1982).

Tem sido verificado acúmulo de Na+ e Cl- em plantas fertirrigadas com efluente da produção da celulose por períodos muito longos (Cromer et al., 1984; Aw et al.,1983). Algumas espécies arbóreas apresentaram crescimento elevado e altas taxas de sobrevivência quando submetidas a elevadas taxas de aplicação do efluente, por longos períodos. Acredita-se que esses resultados

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sejam devido ao fato dessas espécies requererem grandes quantidades de água e serem bioacumuladoras de Na e Cl-, além de estarem sendo cultivadas em solos de alta permeabilidade (Hansen, 1980; Aw, 1994).

2.3.1.2. Efeitos no solo

A aplicação de efluente no solo pode ocasionar efeitos indesejáveis nas suas características químicas (Fuller & Warrick, 1985). Uma grande preocupação refere-se ao acúmulo de sais, como resultado de aplicação por longos períodos.

Adisesha et al. (1997) não encontraram mudanças significativas nas características do solo submetido, por período de tempo inferior a 3 anos, à fertirrigação com efluente da indústria de celulose e papel. Por outro lado, vários estudos (Cromer et al., 1984; Hansen et al.,1980; Aw, 1994; Hayman & Smith, 1979) abordando efeitos químicos da aplicação de efluente de indústrias de celulose e papel no solo, indicaram altas concentrações de Na+, Cl-, K2O,

Ca2+, e K+, além de valores elevados de condutividade elétrica e de razão de

adsorção de sódio (RAS), bem como baixa concentração de Mg+2 e outros nutrientes essenciais (Aw et al., 1993; Aw, 1994). A irrigação com efluente não diluído de indústria de celulose e papel pode, também, ocasionar aumento nos valores de pH do solo, no conteúdo de carbono orgânico, matéria orgânica, e nutrientes disponíveis (Johnson & Ryder, 1988; Kannan & Oblisami, 1990a, 1990b; Juwarkar & Subrahmanyam, 1986).

Conforme reportado por Johnson e Ryder (1988), surpreendentemente o aumento na concentração de sódio no solo, parece ser independente das taxas de aplicação do efluente. Este aumento no conteúdo de Na pode causar a dispersão da argila do solo, conduzindo a uma pobre infiltração e aeração desse meio. Isto, também, sugere que a fertirrigação com efluentes da indústria de celulose pode constituir perigo potencial para as culturas.

Para se prevenir o risco de predominância de sódio no solo, deve-se compensar a aplicação do efluente com outras fontes de Ca+2 e Mg+2 que,

aliada a altos índices pluviométricos, podem promover a lixiviação do Na+, e o restabelecimento do balanço de cátions. Com isso, nenhuma redução na

permeabilidade do solo deve ser observada (Johnson & Ryder, 1988). Geralmente, efluentes com RAS igual ou menor que 8 não proporcionam nenhuma redução na permeabilidade do solo. Exceções a estas têm sido observadas para solos com alto teor de argila que foram previamente fertirrigados com efluentes com nível médio de sais (Cromer et al., 1984). Solos de textura grosseira não apresentaram efeitos de deterioração severos e nenhuma perda na permeabilidade foi observada em decorrência da aplicação de efluentes detentores de alta porcentagem de sódio trocável (Johnson & Ryder, 1988; Cromer et al., 1984).

A incorporação de corretivos orgânicos, incluindo lodo de indústrias de celulose e esterco bovino, no solo das áreas de aplicação de efluentes, proporcionou a manutenção da produtividade durante a fertirrigação com efluente, devido ao fornecimento de nutrientes não disponibilizados para as culturas e por contribuir para a melhoria da estrutura do solo, aumentando taxas de infiltração e o potencial de lixiviação do sódio (Vasconcelos e Cabral, 1993; U.S.EPA, 1981).

A disposição de efluentes da indústria de celulose e papel no solo tem proporcionado rápida estabilização do material orgânico presente em suspensão, aumentando a razão entre ácidos húmicos e fúlvicos (Abasheyeva et al., 1993).

Os microrganismos do solo têm participação vital na degradação de material orgânico incorporado, constituindo importante fonte de enzimas para o meio. Entretanto, são estes organismos os primeiros a deparar com as mudanças ambientais causadas pela disposição dos efluentes. Enquanto que a pesquisa em química do solo exposto ao efluente de celulose e papel é, de certa forma extensa, pouco se conhece sobre os efeitos nas reações bioquímicas no solo, em particular na variação populacional nos diversos grupos de microrganismos no meio. Investigações revelaram um aumento nas populações de bactérias, actinomicetes, fungos, rhizobia e fermentos, cuja presença foi mais alta após 15 anos de aplicação do efluente. A população microbiana esteve diretamente proporcional à quantidade de carbono orgânico presente e às condições da disposição de nutrientes no solo, tendo sua dinâmica afetada por uma multiplicidade de fatores (Kannan & Oblisami, 1990a). Os autores também verificaram que a aplicação de efluentes de

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indústria de celulose e papel não inibe as atividades enzimáticas, mas sim tende a aumentá-las.

2.4. Riscos ambientais associados à disposição de efluentes da indústria

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