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3. SEGURANÇA ELÉTRICA NO USO DE ELETRICIDADE EM AMBIENTE

3.2. EFEITOS FISIOLÓGICOS DA ELETRICIDADE

A compreensão de alguns dos parâmetros fisiológicos relacionados com a ação da eletricidade no corpo humano deve dar aos profissionais envolvidos no projeto ou operação de instituições de cuidados hospitalares, uma melhor compreensão dos fatores envolvidos no ambiente seguro.

Devido aos parâmetros físicos, o corpo humano pode apresentar alguns efeitos fisiológicos devido à passagem de corrente elétrica no corpo, ou parte dele. Os principais fatores para a ocorrência dos efeitos fisiológicos causados pela passagem da corrente elétrica através do corpo humano são a intensidade da corrente; impedância do corpo; frequência da corrente elétrica; duração do choque elétrico; e densidade de corrente elétrica através do corpo (ANVISA, 2017).

Ao passar através do corpo humano, a corrente elétrica causará um efeito fisiológico diretamente proporcional a sua intensidade. Variando entre casos em que a corrente é imperceptível, para correntes menores que 1 mA, até casos de queima de tecidos, com correntes maiores que 5 A.

A impedância do corpo humano é resistiva e bastante variável. Em condições normais (pele seca), a resistência da pele varia de 100.000 Ω a 300.000 Ω, chegando a 1% deste valor se a pele estiver molhada. Além disto, quanto maior for a superfície e a pressão de contato, menor será a impedância do corpo, mesmo fato que ocorre quando se eleva a temperatura da pele (BRASIL b, 2002).

Geralmente, os valores das correntes de percepção (menor valor que o indivíduo pode detectar) e de “Let Go” ou corrente de libertação (corrente máxima que faz com que os músculos do braço se contraiam, mas que ainda permite que a mão solte a fonte da corrente, recebe o apropriado nome de corrente de libertação) aumentam, proporcionalmente, com o aumento da frequência, e os danos provocados pela corrente elétrica são proporcionais à duração do choque elétrico. Sabe-se que a densidade de corrente elétrica é inversamente proporcional à área da seção transversal do condutor, devido a maior dispersão da corrente elétrica num maior volume condutor, por isto, quanto maior for o volume corporal do indivíduo, menor será a densidade de corrente elétrica numa dada região do corpo (ANVISA, 1996; BRASIL, 2002).

Ao circular pelo organismo humano, a corrente elétrica provoca diversos efeitos e consequências, desde um susto até o óbito. Desta forma, são apresentadas a descrição de algumas das possíveis consequências:

• Contrações Musculares: Ao ser percorrido por uma corrente elétrica, são desenvolvidos no músculo, potenciais eletroquímicos que podem ocasionar a contração muscular. A contração e dor muscular podem se desenvolver com 1 a 5 mA, e em casos de correntes superiores a 6 mA podem acontecer reações de contrações não controladas (no-let-go). Acima de 30 mA essas reações aumentam de intensidade e o indivíduo

perde o controle muscular, e não pode mais se afastar voluntariamente. Se esta contração for forte e prolongada, ela pode resultar em dores intensas e no estado de fadiga muscular, podendo ocasionar a tetanização das fibras musculares, onde, mesmo cessando o estímulo, o músculo permanece contraído (IEEE, 2007; MACIEL; RODRIGUES, 1998);

• Fibrilação e Parada Cardíaca: Quando o coração é percorrido por uma corrente elétrica de intensidade elevada, ocorre parada cardíaca, que tem como principal característica a total inibição do coração como bomba. Porém, quando esta corrente elétrica é de intensidade menor do que a capaz de produzir a parada cardíaca, ela pode provocar a despolarização de partes do músculo cardíaco, ocasionando o fenômeno conhecido como fibrilação cardíaca. A fibrilação ventricular é um caso extremamente grave, por ter consequências idênticas à da parada cardíaca, com o agravante de que mesmo quando cessa o estímulo elétrico, ao contrário do que acontece na parada cardíaca, o ritmo normal do coração comandado pelo nodo sinoatrial não é retomado, fazendo-se necessário o uso do equipamento eletromédico conhecido por desfibrilador (LOURENÇO et al, 2007; MACIEL; RODRIGUES, 1998);

• Queimaduras: Os efeitos térmicos provocados pelo choque elétrico no organismo humano se devem à passagem da corrente elétrica pelo tecido biológico, que funciona como uma resistência, fazendo com que haja liberação de energia calorífica, fenômeno conhecido por efeito Joule, produzindo queimaduras na parte atingida do corpo (MACIEL; RODRIGUES, 1998).

A evolução dos efeitos da queimadura leva aos estágios do choque circulatório e se modifica segundo os diferentes graus de gravidade, dividindo-se em estágio não progressivo, no qual os mecanismos compensatórios da circulação normal poderão causar a recuperação completa, sem a terapia de ajuda; estágio progressivo, no qual, sem terapia, o choque torna-se progressiva e continuamente pior, levando até a morte; estágio irreversível, no qual o choque progrediu a tal grau que qualquer forma de terapia conhecida é inadequada para salvar a pessoa, mesmo que ainda esteja viva.

Em procedimentos cirúrgicos, este o efeito térmico é aplicado, de forma controlada, através do uso do bisturi elétrico para a coagulação de locais de sangramento devido a cortes realizados durante a execução do procedimento (LOURENÇO et al, 2007; MACIEL; RODRIGUES, 1998);

• Eletrólise no Sangue: Ao ser submetido a um choque elétrico em corrente contínua, os sais minerais presentes no sangue se aglutinam, podendo provocar a mudança de concentração de alguns sais, como o íon potássio (K +) responsável pelo funcionamento do nodo sinoatrial, ou formar coágulos, resultando na redução da circulação sanguínea (MACIEL; RODRIGUES, 1998);

• Danos a Outros Órgãos - Durante a ocorrência de um choque elétrico pode haver a liberação de toxinas, como a mioglobina, responsável pela insuficiência renal, ou então podem ocorrer o deslocamento de estruturas ou órgãos, fenômeno este conhecido por prolapso, que pode comprometer, parcial ou totalmente, o funcionamento de alguns órgãos (LOURENÇO et al, 2007; MACIEL; RODRIGUES, 1998).