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SAMARCO

No dia 05 de novembro de 2015, no município de Mariana, Minas Gerais, ocorreu o trágico episódio de rompimento da barragem de rejeitos de nome Fundão, estrutura de propriedade da empresa Samarco Mineração S.A., cujo capital é controlado paritariamente pelas corporações Vale S.A e BHP Billiton Brasil Ltda. Com o rompimento da barragem foram liberados cerca de 50 milhões de metros cúbicos de resíduos de minério de ferro. O desastre causou diretamente a morte de 19 pessoas e um nascituro; a destruição de centenas de moradias; o comprometimento das atividades produtivas de diversas comunidades ribeirinhas; extensa mortandade de peixes com suspensão da pesca até a foz do rio Doce; além de significativos danos à qualidade da água em toda bacia hidrográfica, fonte de abastecimento de milhares de habitantes. Desse modo, além dos prejuízos à vida e à saúde dessas populações e das perdas materiais imediatas, destacam-se a destruição de seus territórios enquanto base de sua reprodução social, cultural e econômica, assentada em condições socioecológicas específicas, bem como incertezas quanto a possibilidade de contaminação futura através do contato com os metais pesados liberados com o rompimento.

Figura 32: Trajeto dos rejeitos da Barragem de Fundão e os municípios atingidos ao longo do rio Doce. Elaborado por Max Vasconcelos. Fonte: ZHOURI et al, 2018, p.32.

3.1 - O PRIMEIRO ENCONTRO COM O CENÁRIO DEVASTADOR

No dia 10 de janeiro de 2016, pouco mais de dois meses após a ruptura da barragem de Fundão, da empresa Samarco, ocorrida no dia 05 de novembro de 2015, fomos pela primeira vez a Bento Rodrigues, o primeiro subdistrito de Mariana arrasado pela onda de rejeitos da extração do

minério de ferro.45 Não ir a campo naqueles primeiros momentos pós-ruptura da barragem foi

uma decisão da coordenadora do GESTA, pautada em uma avaliação ético-metodológica. Estávamos cientes do congestionamento provocado por curiosos, repórteres, entidades diversas que causavam mais estresse entre as vítimas em Mariana. Acompanhávamos a certa distância, lendo as matérias e documentos produzidos, avaliando cuidadosamente o caso. Um certo volume de trabalho foi demandado ao GESTA/UFMG por jornalistas, pesquisadores (nacionais e internacionais), atingidos, movimentos sociais, assim como operadores do direito. Havia trabalho a ser feito desde Belo Horizonte. Foram inúmeras as entrevistas concedidas pelos pesquisadores do GESTA naquelas primeiras semanas que se sucederam ao rompimento, bem como a participação em eventos públicos que debatiam o ocorrido. A comunicação para a sociedade mais ampla sobre aquilo que conhecíamos foi uma prioridade, enquanto acompanhávamos de perto as medidas institucionais anunciadas para o caso. Esse acompanhamento motivou a célere elaboração de uma representação junto ao Ministério Público Federal e Ministério Público Estadual, protocolada ainda em fins de novembro, que teve por objetivo apontar o que entendíamos ser equívocos dos encaminhamentos institucionais que estavam sendo adotados. Sugerimos medidas que avaliamos ser mais condizentes com a

situação de desastre vivenciado pelas vítimas.46 Enquanto aprofundávamos na literatura

pertinente aos desastres, buscávamos responder e contribuir para a análise e interpretação do caso. Muitas outras instituições, entidades e particulares também estavam, à sua maneira, na cidade de Mariana de forma voluntária, o que às vezes, por mais paradoxal que possa parecer,

45 Estavam presentes neste dia: Andréa Zhouri, Klemens Laschefski, Raquel Oliveira, professores e pesquisadores do GESTA/UFMG e Marisa Singulano, professora da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

46 A representação pública teve a valiosa contribuição da Profª. Norma Valencio. Para acessá-la, ver: http://conflitosambientaismg.lcc.ufmg.br/wp-content/uploads/2017/03/Representac%CC%A7ao-MP-final-min.pdf. Dentre as entrevistas concedidas, algumas estão disponíveis em: http://redeminas.tv/opiniao-minas-discute-se-e-possivel-unir-mineracao-e-protecao-do-meio-ambiente/;

http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/11/13/interna_gerais,707435/especialistas-criticam-empresa.shtml; https://www.ufmg.br/boletim/bol1964/3.shtml;

https://www.ecodebate.com.br/2016/05/05/rompimento-da-barragem-da-samarco-participantes-de-seminario-falam-sobre-as-vitimas-apos-seis-meses-da-tragedia/; Todos os links foram acessados em 16 nov. 2017.

pode trazer uma série de outras complicações e agravamento do sofrimento das vítimas (VALENCIO, 2009b).

Quando fomos a campo pela primeira vez, havia uma demanda, ainda um tanto vaga, do MPF para que o GESTA elaborasse uma proposta de diagnóstico dos danos causados pelo desastre aos povos e comunidades tradicionais da bacia do rio Doce. Esse levantamento acabou por não se concretizar por vários motivos, mas o principal deles foi a decisão de manter a autonomia de pesquisa e extensão do GESTA/UFMG frente às instituições do Estado e às empresas.

Em nossa primeira parada na cidade de Mariana, conversamos com professores e representantes de algumas entidades que estavam acompanhando o caso no território. Logo em seguida nos deslocamos para Bento Rodrigues. Pegamos a estrada de terra de acesso mais curto, que faz

parte do circuito turístico da Estrada Real.47 Percebemos certo abandono da via, com muitos

galhos de árvores quebrados atravessados na estrada. Depois de descer alguns quilômetros por curvas estreitas e rodeadas por uma mata exuberante, avistamos a lama... ficamos perplexos! Só depois descobrimos que não era ali o leito do córrego Santarém que desce da barragem do Fundão, mas sim, que se tratava da grota de um pequeno córrego, afluente do Santarém, que recebeu uma impressionante avalanche de lama por causa do remanso criado pela força do impacto quando essa encontrava grandes obstáculos rochosos ao longo do caminho percorrido. Seguindo bem mais à frente na estrada, avistamos o subdistrito. O rejeito do minério de ferro tinha encoberto quase tudo, com pequenas exceções de casas na parte mais alta, localizadas ao lado esquerdo do que antes era o leito do Santarém. Quase dois meses depois do rompimento, o mau cheiro, análogo ao odor de amônia, ainda provocava irritação no nariz, na garganta e nos olhos.

47 “A Estrada Real é a maior rota turística do país. São mais de 1.630 quilômetros de extensão, passando por Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. A sua história surge em meados do século 17, quando a Coroa Portuguesa decidiu oficializar os caminhos para o trânsito de ouro e diamantes de Minas Gerais até os portos do Rio de Janeiro. As trilhas que foram delegadas pela realeza ganharam o nome de Estrada Real” (Site Instituto Estrada Real. Disponível em: http://www.institutoestradareal.com.br/estradareal. Acesso em 13 dez. 2017).

Figura 33: Bento Rodrigues destruído pela lama de rejeitos do minério de ferro da barragem da Samarco. Foto: Marcos Zucarelli, 10 de janeiro de 2016.

Figura 34: Vista do alto do morro de Bento Rodrigues destruído pela lama de rejeitos do minério de ferro da barragem da Samarco. Foto: Marcos Zucarelli, 10 de janeiro de 2016.

Após descermos do carro para avistarmos a destruição, encontramos um morador que quase todos os dias, segundo ele nos relatou, costumava ir até aquele ponto para olhar o que sobrou de Bento Rodrigues. Parado ali, na estrada em que chegamos, com olhar longínquo, este senhor foi o primeiro sobrevivente do desastre com quem tivemos contato. Ele nos contou que não havia nascido no município, mas tinha construído mais da metade de sua vida ali, e que: “em

três minutos perdemos tudo o que fizemos em 43 anos”. Ele chegou ao local no início da década

de 1970 através de uma companhia para plantar eucalipto. Viu o primeiro corte destes e, logo em seguida, quando a empresa de mineração chegou e iniciou a construção da barragem de

rejeitos [provavelmente o complexo Germano-Alegria]. “Não fomos nós que chegamos e

escolhemos ficar embaixo da barragem, eles chegaram depois”. Ele nos descreveu os

momentos de angústia, sofrimento, horror, pavor, luta, solidariedade e união para saírem vivos do desastre. Nos relatou como a lama se debatia nas rochas e afunilamentos do vale e como isso produziu redemoinhos, remansos, correntes que levavam árvores, objetos e pessoas para todas as direções ao longo do vale e de suas grotas. Nos detalhou muitas coisas que viu naquele momento, inclusive o caso de uma senhora de 75 anos e de uma criança de 3 anos que percorreram praticamente todo o subdistrito, sendo arrastadas de um lado para o outro pela lama, até serem, por uma sorte em meio àquela catástrofe, jogadas para uma parte mais alta onde conseguiram escapar com vida. Nos contou que passou a noite na mata escura e fria, no alto de um morro onde o rejeito não alcançou, e que só no dia seguinte conseguiram acessar uma estrada que estava sendo aberta por máquinas para resgatar outras pessoas, que também passaram a noite por ali. Só assim, conseguiram ir à cidade de Mariana. O relato da chegada ao ginásio esportivo municipal, espaço destinado para receber os desabrigados, também foi comovente. Um certo bloqueio de memória o fez esquecer o nome “Arena Mariana”, lugar este para onde foram levados todos aqueles que perderam as suas casas, não só de Bento Rodrigues, mas de Paracatu de Baixo e de outras localidades à jusante. “Eu estava com minha esposa em um lugar cheio de colchão. Tudo tumultuado, sem privacidade, ao lado de pessoas que eu nem

conhecia. Era como se fosse aquelas pedras” [apontando para um monte de seixos

desordenados e amontoados na beira da Estrada Real, de onde avistávamos o subdistrito

Figura 35: Arena Mariana preparada para receber os atingidos no dia 5 de novembro de 2015. Da esquerda para

direita: Revista Veja. Foto: Cristiane Mattos/Futura Press. Disponível em:

http://veja.abril.com.br/brasil/bombeiros-retomam-buscas-em-local-das-barragens-uma-segunda-pessoa-teria-morrido/. Jornal o Globo. Foto: Daniel Marenco. Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/tragedia-em-minas-gerais-17979800. Ambas acessadas em 15 nov. 2017.

3.2 - AS MEDIDAS EMERGENCIAIS E A FORMAÇÃO DAS DINÂMICAS DAS

REUNIÕES

Para um pouco de alívio deste e de outros moradores das comunidades que foram devastadas pela lama, no dia posterior ao rompimento da barragem, por ordem da promotoria de Mariana, a empresa Samarco teve que realocar os desabrigados que estavam no ginásio municipal em hotéis da cidade.

Figura 36: Alojamento em um dos hotéis de Mariana. Fonte: Uol Notícias, 7 nov. 2015. Disponível em: https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/e0/2015/11/07/7nov2015---mae-e-filhos-se-acomodam-em-um-abrigo- instalado-no-hotel-providente-em-mariana-mg-apos-o-rompimento-de-barragens-em-bento-rodrigues-na-zona-rural-de-mariana-mg-pelo-menos-128-1446922964140_956x500.jpg. Acessada em: 17 nov. 2017.

A medida emergencial trouxe um pouco de conforto, especialmente porque em muitos casos já estudados, a situação provisória costuma ser permanente (MARCHEZINI, 2009; VALENCIO, 2009; SIENA, 2010). Até a véspera do Natal de 2015, com muita luta dos moradores e empenho

do Ministério Público Estadual, todas as famílias, com exceção de duas,48 saíram dos hotéis e

foram novamente realocadas em casas alugadas. Passar o Natal em “casa”, ainda que provisória, seria um alento simbólico para as famílias.

Como se pode verificar nas bolinhas marcadas no mapa da Figura 37, muitas famílias ficaram em casas alugadas distantes umas das outras. Assim, além de as vítimas perderem seus lares e seus modos de vida, também foram alijadas do convívio das relações sociais que a proximidade com seus vizinhos, parentes e amigos lhes permitia em seus locais de origem.

Figura 37: Localização das casas alugadas na cidade de Mariana. Fonte: Jornal “A Sirene - Para não esquecer”, Edição número zero, 2015.

O distanciamento, de maneira geral, também proporcionou certa desarticulação dos atingidos. Conforme relembra um morador de Bento Rodrigues, em reunião que acompanhei na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG):

Vemos ali uma foto onde era a praça de Bento Rodrigues. Era o nosso lazer.

Onde está o cartaz ‘Queremos a nossa vida de volta’, naquele bar, passávamos

os finais de semana [referência ao bar da Sandra que estava na foto colada em um cartaz que foi afixado no vidro da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, durante uma audiência pública]. Hoje não temos mais isso. Infelizmente não temos mais um lugar para nos encontrar novamente, onde

éramos uma família dentro da nossa comunidade (Notas taquigráficas da 14ª Reunião da Comissão Extraordinária das Barragens na ALMG, Belo Horizonte, 28/01/2016, p.103. Em colchetes uma observação anotada no caderno de campo).

A falta de um ponto de referência para os encontros, de um lugar comum que fosse entendido e compartilhado por todos enquanto local de conversas, trocas de experiências, debates e decisões, repercute ainda em uma quase acomodação da situação em que vivem atualmente. Em uma das reuniões que acompanhei, entre a Samarco e os atingidos, uma agente de fiscalização da saúde municipal disse que, ao entrar nos quartos dos hotéis para conversar com as pessoas, percebeu que estas já apresentavam um quadro de certa “conformação”. Este aparente conformismo, para a agente da saúde, constitui uma das fases iniciais da depressão (Reunião no Centro de Convenções de Mariana, 19/01/2016). Com o passar do tempo, conforme anotei em caderno de campo (16/03/2016): “A cada dia a situação se agrava e já são dezenas de casos relatados não só de adoecimentos, de pessoas que estão tomando antidepressivos, mas há registros de suicídios e/ou de tentativas cometidas por vítimas do desastre nos municípios de Mariana e Barra Longa”.49

Soma-se a esta dificuldade o tempo extremamente curto que tiveram para assimilar a tragédia, mobilizar e organizar uma pauta de providências, mesmo que fossem as demandas mais emergenciais. Além da necessidade de lidar com o trauma do desastre, com a perda de familiares e amigos, os atingidos foram obrigados a aprender novas dinâmicas de participação em reuniões, a formarem comissões representativas, a disciplinarem seus corpos, pensamentos

49 Quase três anos depois só acresce o número de atingidos com problemas de saúde em virtude do trauma. Algumas reportagens com relatos de moradores dos subdistritos destruídos, bem como de ribeirinhos, de pescadores e de indígenas que agora fazem usos de medicamentos antidepressivos, álcool e outras drogas, estão disponíveis em: http://brasiliaagora.com.br/2017/11/03/mariana-moradores-sofrem-com-problemas-de-saude/; https://www.cartacapital.com.br/sociedade/dois-anos-depois-moradores-sofrem-com-depressao-e-outros-problemas-de-saude; http://www.otempo.com.br/cidades/do-banho-no-rio-restou-aos-índios-a-caixa-d-água-1.1539054; https://www.terra.com.br/noticias/brasil/dois-anos-apos-tragedia-de-mariana-atingidos-esperam-por-indenizacao,526f5a117cc1b17b3fe08e301d2338ceo708gyjk.html; https://www.gazetaonline.com.br/noticias/cidades/2017/11/tragedia-no-rio-doce-dois-anos-depois-da-lama-o-drama-do-alcoolismo-1014106003.html; http://hojeemdia.com.br/horizontes/dois-anos-ap%C3%B3s-rompimento-de-fund%C3%A3o-v%C3%ADtimas-da-trag%C3%A9dia-tentam-refazer-a-vida-1.571281; http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Blog/da-lama-ao-p-o-impacto-da-tragdia-do-rio-doce/blog/59083/; http://www.jb.com.br/pais/noticias/2017/11/16/dois-anos-da-tragedia-de-mariana-quem-paga-o-preco-do-maior-desastre-ambiental-brasileiro/. Todas as reportagens foram acessadas em 21 nov. 2017. No dia 13 de abril de 2018, foi publicada uma pesquisa realizada pelo Núcleo de Pesquisa Vulnerabilidades e Saúde da Escola de Medicina da UFMG em parceria com a Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais e a Comissão dos Atingidos de Mariana, em que foram observados transtornos mentais ligados ao estresse, como: a depressão, a ansiedade e o comportamento suicida em índices elevados, inclusive em adolescentes (PRISMMA, 2018).

e comportamentos, a objetivarem demandas, a estabelecerem estratégias de diálogo e de negociação, dentre outras novidades da situação (ZHOURI et al, 2016).

No contexto caótico do desastre, iniciativas institucionais distintas foram projetadas ao seu tratamento, a exemplo da instauração de um fórum coordenado pelo governo do Estado de Minas Gerais no formato de encontros periódicos de negociação. Para isso, a “Mesa de Diálogo e Negociação Permanente com Ocupações Urbanas e Rurais e outros grupos envolvidos em Conflitos Socioambientais e Fundiários”, criada anteriormente pelo Decreto 203/2015, foi convocada para tratar a catástrofe no município de Mariana. Todavia, depois de duas reuniões, a iniciativa da Mesa, que tinha como propósito fundador abordar questões distintas, sucumbiu ao fracasso juntamente com a sua não legitimação pelas próprias vítimas (Anotações do caderno de campo, 12/01/2016).

A iniciativa que perdura em Mariana são as reuniões de negociação e conciliação com a intervenção do Ministério Público Estadual de Minas Gerais (MPMG), representado pelos promotores da 2ª Promotoria de Justiça da Comarca de Mariana, da Coordenadoria de Inclusão e Mobilização Sociais (CIMOS) e do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos e Apoio Comunitário (CAO-DH). A articulação, o empenho e a tempestividade das ações dos representantes do MPMG para que a empresa assumisse uma série de medidas emergenciais, recebeu imediatamente a confiança das vítimas do desastre. No relatório institucional, o promotor da Comarca local enfatiza os processos coletivos ajuizados e a confiança adquirida pelo trabalho do MPMG:

Na Comarca de Mariana todos os direitos dos atingidos foram assegurados por ações civis públicas e outras demandas de caráter coletivo, ajuizadas pelo Ministério Público de Minas Gerais. Foram ajuizadas 12 ações pelo Ministério Público, relacionadas, direta ou indiretamente, ao rompimento da barragem, mas é importante realçar que há somente 09 ações, em Mariana, tendo como ré a Samarco. Foi o suficiente para defesa dos direitos de aproximadamente 1.500 atingidos residentes em Mariana. Não há ações individuais na Comarca de Mariana, ressalvadas as demandas propostas por parentes dos falecidos no desastre. Essa constatação é importante porque, em outras comarcas, noticiam-se milhares de ações individuais contra a Samarco, emperrando a prestação jurisdicional. A união dos atingidos, a confiança no trabalho conjunto com o Ministério Público e a concomitante recusa em contratarem advogados para ações individuais, foi um fator importante para o êxito das demandas coletivas. Além disso, nas ações civis públicas, os atingidos não precisam pagar taxas judiciárias, custas processuais e honorários advocatícios, o que facilita ainda mais o acesso à Justiça (MPMG, 2016, p.3).

Nos dois dias posteriores ao rompimento da barragem de Fundão, o MPMG instaurou os primeiros Inquéritos Civis Públicos e expediu Recomendação à Samarco para que fossem efetivadas providências concretas para devida assistência aos atingidos. A inação da empresa e o risco de não cumprir com suas obrigações incitou a Promotoria de Mariana a ingressar, em 10 de novembro de 2015, com Ação Cautelar de Indisponibilidade de Bens, que resultou no bloqueio de trezentos milhões de reais nas contas da empresa. Ao longo do primeiro ano, após o rompimento da barragem de Fundão, foram doze processos ajuizados pelo MPMG para garantia dos direitos humanos em Mariana, nove tendo como réu a Samarco, dois a Prefeitura Municipal de Mariana e um de pessoa física, que designou os atingidos, em matéria publicada no jornal local, como “aproveitadores”.

PROCESSOS AJUIZADOS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS EM MARIANA

Ação Judicial e Órgão Jurisdicional

Competente

Réu(s) Finalidade do Processo Efetividade

(1º)

Ação Cautelar nº. 0039891-33.2015

2ª Vara de Mariana Samarco

Ação cautelar para bloquear bens da Samarco, no valor de 300 milhões de reais, para assegurar indenizações e a reconstrução das comunidades

O bloqueio está mantido. Foram liberados 6,5 milhões para pagamento de indenizações. Permanece sendo o maior volume de recursos financeiros da empresa bloqueados judicialmente (2º)

0400.15.0043356

2ª Vara de Mariana Samarco.

Vale. BHP

Ação Civil Pública Principal, que visa assegurar medidas

emergenciais e reparação

integral aos atingidos

[indenizações e reconstrução das comunidades]

O processo garantiu vários direitos aos atingidos, como moradia em casas alugadas, auxílio financeiro mensal e antecipações de indenização

(3º)

0400.16.0019511

2ª Vara de Mariana Município Samarco. de Mariana

Ação Civil Pública para ressarcir os professores e

servidores da Escola

Municipal de Bento, pois após o rompimento da barragem ficaram sem transporte escolar

A Samarco aceitou o pedido e se comprometeu a fornecer o transporte ou

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