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O comportamento e a acção do ser humano emanam da dinâmica de suas interacções cérebro- meio-cultura-saberes. A ausência da homeostasia gera não só disfunções cognitivas mas também perturbações emocionais e distúrbios comportamentais

Segundo Fernandes (2002, p. 326) “As recíprocas e interdependentes reacções entre o bio- cerebral e o sócio-cultural constituem o paradigma essencial de todo o desenvolvimento cognitivo.” Este interdepende da funcional conjugação ou harmonia efectuada entre os esquemas bio-cerebrais inatos e os esquemas culturais do meio, pois tudo o que é pensamento, espírito, linguagem, consciência ou lógica emerge das recíprocas interacções do bio-neuro- cerebral com o antropo-sócio-cultural.

A ausência da homeostasia gera não só disfunções cognitivas mas também perturbações emocionais e distúrbios comportamentais. Algo idêntico encontra-se nas disfunções cognitivas e nas dificuldades de aprendizagem das crianças e adolescentes nomeadamente quando a

escola e seus respectivos processos de ensino aprendizagem não se centralizam sobre a unicidade do aluno, sua integrabilidade e totalidade, quando não valoriza o seu todo, o seu relacionamento, afectividade, sociabilidade, cognição, aptidões, características, centros de interesse cognitivos ou intelectuais sociais ou profissionais, em consonância com o princípio da realidade e do prazer, da harmonia e do bem-estar. Já Wallon afirmava ser necessário cultivar as raízes da criança provenientes da sua experiência do quotidiano, o qual a une ao seu eu e ao seu tempo.

Todas as análises efectuadas anteriormente evidenciam a criação de perturbações psico- comportamentais e de disfunções cognitivas. Estas, se por um lado geram processos de desequilíbrios psico-somáticos e mentais, por outro lado, transformam-se em subdesenvolvimentos cognitivos de representações e imagens negativas, de asfixias e de atitudes e comportamentos próprios de pessoas imaturas e irresponsáveis, bem como de personalidades obsessivas e depressivas.

Atitudes cognitivo-emocionais negativas, asfixiadas, inibidas ou proibidas originam não só subdesenvolvimentos cognitivos mas também asfixias e bloqueamentos a nível de personalidade, desencadeando conflitos interiores entre o ser e o dever ser. Torna-se óbvio que alguns indivíduos possuem auto-consciência de suas próprias disfunções cognitivas e psico- comportamentais, desencadeando depressão, inadaptação, stress, apatia e indiferença face a si mesmo, aos outros, às circunstâncias e aos meios, privações de centros de interesse emocionais, afectivos, sociais e cognitivos, percepcionando tudo de uma forma negativa, absurda e sem sentido.

Tal estrutura cognitivo-emocional gera comportamentos disfuncionais, bloqueadores e desintegradores, sendo estes a nível comportamental. As disfunções podem gerar desunificações no sistema bio-neuro-psíquico e acentuados défices a nível das suas funções superiores, exemplo (indivíduo com reduzido nível de compreensão, mas elevada memória, etc.). Isto significa que, embora o ser humano seja uma unidade sistémica, as suas funções podem manifestar-se assistematicamente.

As acentuadas ambivalências e confusões entre o subjectivo e o objectivo, entre o psíquico e o corporal, entre o social e o individual geram manifestações que se vão integrando no quadro

da personalidade múltipla, ou seja, duas ou mais sub-personalidades separadas e distintas, cuja funcionalidade é de conflito, oposição, recalcamento, bloqueamento e inibição das faculdades e dos comportamentos, das percepções, das cognições, das aprendizagens e dos desenvolvimentos harmoniosos e integrados.

Este desunitário comportamento do indivíduo pode ser desencadeado não só por causas ou razões neurocerebrais mas também por factores de natureza psicológica, mental, emocional, afectiva e social o que pode gerar não só inibições, bloqueamentos, recalcamentos ou distorções mas também lesões com acentuados e negativos efeitos não só a nível do sistema nervoso central mas também periférico, autónomo ou simpático o que leva a acentuados desvios a nível sócio-comportamental e psico-emocional, bem como acentuadas dificuldades a nível de cognição, retenção, memória, inserção, integração, flexibilidade e modificabilidade. Surge, então, uma distinção entre deficiência mental, insuficiência psíquica e doença

mental resultante de doença do espírito e de atitudes ou comportamentos que escapam ao

controlo da mente e da razão. As suas causas (lesões, alterações, disfunções nas células neuronais, tensões ou traumas afectivo-emocionais ou situações de stress) evidenciam o facto que nenhuma doença é totalmente psíquica, e nenhuma é completamente orgânico-fisiológica. Assim, “a causa essencial da doença mental é, na sua maioria, ausência das inter-relações e correlações funcionais entre as faculdades sensoriais e mentais, corporais e psíquicas, interiores e exteriores, entre percepções e emoções, sentimentos e acções, afectos e desejos, imagens e pensamentos, privações e disfunções ou desequilíbrios geradores de destruturações ou desorganizações do todo funcional do indivíduo e da ausência de alicerces estruturais, dinâmicos e envolventes da própria individualidade …)” Fernandes (2002, p. 231).

A ausência das inter-relações funcionais entre tais dimensões gera anómalos processos psico- emocionais cujos efeitos resultam em neuroses e psicoses advindas de conflitos intrapsíquicos. As neuroses manifestam-se a nível da personalidade (manifestações obsessivas, perturbações ansiosas, fobias comportamentais, doenças psicossomáticas, comportamentos depressivos ou histéricos) e as psicoses por atitudes reveladoras de “doença do espírito” ou (ausência de consciência de sua morbidez, dificuldades de comunicação e sensações de profunda estranheza face a si mesmo, aos outros e aos meios circundantes). A nível afectivo, emocional e cognitivo o indivíduo apresenta-se instável, acentuadamente apático e indiferente.

As características de um comportamento instável são as rápidas mudanças de estados emocionais, comportamentos impulsivos, fraca tolerância à frustração, comportamentos que não permitem que o indivíduo se concentre mais que alguns instantes em tarefas e funções, desempenhos ou execuções. Os instáveis são irrequietos activos, apresentam oscilações de humor que podem ir desde a alegria eufórica mais intensa até um comportamento de acentuada náusea, aborrecimento e depressão. Têm ainda dificuldade em permanecer sentados, mexem com tudo e com todos, não se interessam pelos trabalhos escolares, têm dificuldade em fixar a atenção, são muito dispersos, incapazes de continuar a mesma acção, de um ritmo regular de trabalho e de o levar até ao fim.

Em suma, os instáveis, hiperagitados e irrequietos apresentam défices ou transtornos psico- cognitivos. No entanto, tanto estes como os indivíduos que apresentam alterados e distorcidos comportamentos afectivo-emocionais e psico-sociais possuem capacidades para a aprendizagem. Todavia, “assentando as funções mentais em bases neuronais, a activação, orientação e encaminhamento destas obedece aos princípios de orientação das próprias motivações, as quais por sua vez orientam a funcionalidade da mente, de seus fluxos e de suas energias, de suas captações e estímulos, de suas interconexões cérebro-mente e de suas unificações e orientações psico-comportamentais”. (Fernandes, p. 335).

No entanto, não há dúvida que as emoções, os sentimentos e os afectos, as pulsões e as energias constituem, em geral, os agentes mais estimulantes e motivadores da actividade psicológica e mental do cérebro normal. A ausência de emoção vital, ou a existência de emoção negativa (recalcamentos ou presença de sentimentos de ódio, raiva, rancor ou inveja generalizados) bloqueiam ou impedem a transposição ou transparência de dados mnésicos de longo prazo para o curto prazo e vice-versa e a morbidez de tais processos desencadeia

fenómenos de esquecimento. Estas causas de perturbações da memória efectuam, em

simultâneo ou à posterior, perturbações do curso do pensamento e da linguagem.

Não raras vezes, o indivíduo naquelas circunstâncias fala de “cabeça vazia ou de brancas no cérebro”, atitude idêntica à fuga da realidade ou falta de adaptação e envolvência nos respectivos contextos sócio-pessoais. Segundo (Fernandes, p. 337) “O seu discurso é

incoerente, ilógico, com paragens, despropósitos, com expressões herméticas, neologismos, comportamentos de semi-mutismo ou palavras deslocadas de sentido corrente”.

Por isso, um tal conjunto de bloqueamentos, perturbações ou rupturas origina estados de atraso intelectual ou mental, pois, as aprendizagens são muito mais lentas, efectuadas com mais dificuldade, com desprazer, com falta de participação e ausência de envolvimento.

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