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Com a decretação da separação judicial, qualquer que seja sua modalidade, extingue-se a sociedade conjugal, porém permanece intacto o vínculo. Assim, permanece incólume a relação jurídica instaurada entre os cônjuges pelo casamento. Isto implica o fato de estes estarem impedidos de contrair novas núpcias até que se dê o divórcio. Interessante notar que há possibilidade de instauração de união estável. É o que se infere da leitura do § 1º do art. 1.723: ―A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente‖ (BRASIL, 2002, online).

Na realidade, com a separação, há o término dos deveres de fidelidade recíproca. Assim, juridicamente falando os separados estão livres para iniciarem novos relacionamentos, apenas não podem oficializá-los por meio do casamento.

Outra consequência da separação é o fim do dever de coabitação. O que não impede que ex-cônjuges continuem habitando a mesma residência, apenas não há obrigatoriedade quanto a isso.

Por outro lado, subsiste o dever de mútua assistência, limitado à prestação de alimentos ao cônjuge necessitado. Reza o art. 1.702 do CC que o cônjuge declarado inocente na ação de separação judicial faz jus a alimentos, os quais serão os necessários à manutenção de seu padrão de vida (art. 1694, CC/02).

A doutrina faz distinção quanto aos alimentos denominados como ―civis‖ e aqueles ditos ―naturais‖. Naturais seriam os indispensáveis à sobrevivência. Civis seriam os que objetivam manter, na medida do possível, o padrão de vida do alimentando, levando em consideração as possibilidades financeiras do alimentante para a sua fixação. Assim, quanto ao cônjuge considerado culpado somente fará jus aos alimentos naturais. O Código Civil impõe ainda que o alimentado não possua parentes em condições de prestar os alimentos nem aptidão para o trabalho.

Ainda com relação à separação judicial em que há a decretação de culpa, outra sanção ao culpado é perda do direito ao nome. Na realidade, o Novo Código Civil limitou bastante a aplicabilidade desta sanção, uma vez que o art. 1.578 estabelece um rol de situações em que não poderá haver perda do nome:

Art. 1.578 O cônjuge declarado culpado na ação de separação judicial perde o direito de usar o sobrenome do outro, desde que expressamente requerido pelo cônjuge inocente e se a alteração não acarretar:

I – evidente prejuízo para a sua identificação;

II – manifesta distinção entre o seu nome de família e os do filhos havidos da união dissolvida;

III – dano grave reconhecido na decisão judicial (BRASIL, 2002, online).

Sob outra perspectiva, a separação judicial põe termo ao regime de bens. Assim, os bens havidos após sua decretação integram o respectivamente o patrimônio particular dos separados.

Quanto à partilha dos bens, o art. 1.575 do CC diz ser esta consequência da separação judicial. Entretanto, como antes já discutido neste trabalho, a separação pode se dar sem necessariamente haver a partilha dos bens, inclusive, o divórcio segue o mesmo procedimento. Portanto, apesar do que leciona o mencionado dispositivo legal, a separação

não implica necessariamente a partilha de bens. Esta pode perfeitamente ocorrer em um momento posterior.

Com relação aos filhos, permanecem os mesmos deveres e obrigações dos pais. Quanto a sua guarda admite-se a preferência pela modalidade compartilhada, segundo foi resolvido pela Lei nº 11.698/2008 e conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. GUARDA COMPARTILHADA. CONSENSO. NECESSIDADE. ALTERNÂNCIA DE RESIDÊNCIA DO MENOR. POSSIBILIDADE.

1. Ausente qualquer um dos vícios assinalados no art. 535 do CPC, inviável a alegada violação de dispositivo de lei.

2. A guarda compartilhada busca a plena proteção do melhor interesse dos filhos, pois reflete, com muito mais acuidade, a realidade da organização social atual que caminha para o fim das rígidas divisões de papéis sociais definidas pelo gênero dos pais.

3. A guarda compartilhada é o ideal a ser buscado no exercício do Poder Familiar entre pais separados, mesmo que demandem deles reestruturações, concessões e adequações diversas, para que seus filhos possam usufruir, durante sua formação, do ideal psicológico de duplo referencial.

4. Apesar de a separação ou do divórcio usualmente coincidirem com o ápice do distanciamento do antigo casal e com a maior evidenciação das diferenças existentes, o melhor interesse do menor, ainda assim, dita a aplicação da guarda compartilhada como regra, mesmo na hipótese de ausência de consenso.

5. A inviabilidade da guarda compartilhada, por ausência de consenso, faria prevalecer o exercício de uma potestade inexistente por um dos pais. E diz-se inexistente, porque contrária ao escopo do Poder Familiar que existe para a proteção da prole.

6. A imposição judicial das atribuições de cada um dos pais, e o período de convivência da criança sob guarda compartilhada, quando não houver consenso, é medida extrema, porém necessária à implementação dessa nova visão, para que não se faça do texto legal, letra morta.

7. A custódia física conjunta é o ideal a ser buscado na fixação da guarda compartilhada, porque sua implementação quebra a monoparentalidade na criação dos filhos, fato corriqueiro na guarda unilateral, que é substituída pela implementação de condições propícias à continuidade da existência de fontes bifrontais de exercício do Poder Familiar.

8. A fixação de um lapso temporal qualquer, em que a custódia física ficará com um dos pais, permite que a mesma rotina do filho seja vivenciada à luz do contato materno e paterno, além de habilitar a criança a ter uma visão tridimensional da realidade, apurada a partir da síntese dessas isoladas experiências interativas. 9. O estabelecimento da custódia física conjunta, sujeita-se, contudo, à possibilidade prática de sua implementação, devendo ser observada as peculiaridades fáticas que envolvem pais e filho, como a localização das residências, capacidade financeira das partes, disponibilidade de tempo e rotinas do menor, além de outras circunstâncias que devem ser observadas.

10. A guarda compartilhada deve ser tida como regra, e a custódia física conjunta - sempre que possível - como sua efetiva expressão.

11. Recurso especial não provido.

(STJ - Recurso Especial 1251000/MG, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, J: 23/08/2011, DJ: 31/08/2011).

Ressalte-se que a decretação da culpa nenhuma influência possui na determinação da guarda dos filhos, tendo em vista que o Código Civil revogou o art. 10 da Lei do Divórcio,

o qual previa que os filhos ficariam necessariamente aos cuidados do cônjuge inocente. Atualmente, caso não seja possível a hipótese de guarda compartilhada, os filhos devem permanecer com quem possua melhores condições de educá-los.

Por fim, conforme o art. 1.577 do CC, é lícito aos cônjuges optar pelo restabelecimento da sociedade conjugal a qualquer tempo.

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