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Embora seja um assunto que ainda desperte muitos questionamentos todos os pais são herdeiros do filho, e o filho é herdeiro de todos os pais, as relações de parentesco serão mantidas com ambas as famílias e com isso os efeitos serão os

mesmos tanto para os filhos biológicos como socioafetivos. As sucessões dos pais não se comunicam entre si, salvo àqueles que são cônjuges ou companheiros.

Suceder é substituir o titular de um direito, com relação a coisas, bens, direitos ou encargos. Pode-se conceituar a sucessão como um conjunto de normas que buscam regular a transmissão de bens em consequência da morte (DIAS, 2013, p. 32).

A sucessão pode ser testamentária ou legítima. Os herdeiros legítimos são aqueles indicados pela vocação hereditária, onde a principal justificativa é dar continuidade a vida humana. O artigo 1.833 do Código Civil afirma que os descendentes de grau mais próximo excluem os mais distantes, com exceção ao direito de representação. Dividem-se em herdeiros necessários (descendentes, ascendentes e cônjuge/companheiro) e os facultativos (colaterais até o 4º grau), e seguem a ordem estabelecida no artigo 1.829 do Código Civil. Já os herdeiros testamentários, são aqueles indicados pelo testador no testamento e sucedem por disposição do testamento.

O artigo 1.835 do Código Civil determina que “Na linha descendente, os filhos sucedem por cabeça, e os outros descendentes, por cabeça ou por estirpe, conforme se achem ou não no mesmo grau’’. Primeiro a herança deve ser dividida de maneira igual entre os filhos do morto, mas, se um dos herdeiros vier a falecer deixando mais de um filho (netos do de cujus), a parte deste será dividida entre seus filhos (sucessão por estirpe).

A herança é um direito fundamental garantido pelo artigo 5º da CF/88, que é conceituado como o conjunto de direitos e obrigações que são transmitidos após a morte do indivíduo. Sendo atribuído a herança pelo patrimônio composto de ativo e passivo deixado pelo falecido para uma pessoa ou um conjunto delas que sobreviveram ao falecido, denominadas de herdeiros.

Seriam estabelecidas tantas linhas sucessórias quantos fossem os genitores. Se morresse o pai/mãe afetivo, o menor seria herdeiro em concorrência com os irmãos, mesmo que unilaterais. Se morresse o pai/mãe biológico também o menor seria sucessor. Se morresse o menor, seus genitores seriam herdeiros. (PÓVOAS, 2012, p. 98).

O reconhecimento da multiparentalidade não tem como objetivos escolher entre a sucessão biológica ou socioafetiva, pois visa amplias os direitos e não competir entre eles. Em casos de múltipla filiação, o entendimento atual é de que a divisão deverá

ser igualitária. Em casos específicos, poderá haver exceções, onde a lei deve se flexibilizar para melhor solucionar.

Atualmente por meio da aplicação do princípio da igualdade no direito sucessório, e buscando constituir um tratamento igualitário entre os filhos consanguíneos e socioafetivos, que o instituto da multiparentalidade vem sendo aplicado às famílias atuais. Se filho for, independentemente de sua origem seus direitos e deveres serão resguardados pelo direito de família Brasileiro.

Quando tratar-se de filho menor, incumbirá o poder familiar para ambos os pais, ou seja, deverão trabalhar em conjunto com as obrigações. Deverão garantir sua criação e educação; tê-lo em sua companhia e guarda; conceder-lhe ou negar-lhe consentimento para casar; designar tutor por testamento ou documento autêntico, representá-lo, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-lo, após essa idade, nos atos em que for parte, suprindo-lhe o consentimento; reclamá-lo de quem ilegalmente o detenha e exigir que lhe preste obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição, conforme previsto no artigo 1.634 e incisos do Código Civil.

É obrigação dos pais zelarem e educarem seus filhos quando menores forem, dando todo suporte e amparo necessário, assim como se faz por obrigação os filhos maiores ajudarem os pais quando os mesmo precisarem, conforme dispõe o artigo 229 da Constituição Federal “os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”. Com isso podemos afirmar que assim como os pais socioafetivos terão as mesmas obrigações que os pais biológicos, esses filhos quando maiores forem, também ficam obrigados a prestar ajuda aos pais cultivados através da multiparentalidade.

Como é de conhecimento, todo assunto principalmente quando encontra-se em status de adequação e enxerimento traz consigo dúvidas e conflito, por exemplo condo há conflito entre a paternidade socioafetiva e o pretendido interesse em imputar responsabilidade ao genitor biológico falecido, não poderá haver sucessão hereditária entre filho de pai socioafetivo e seu genitor biológico no direito de família ou de sucessões. Mas no direito de obrigações é possível resolver-se a pretensão

patrimonial. Possivelmente poderá ser atribuído um crédito decorrente do dano causado pelo inadimplemento dos deveres gerais de paternidade, como a educação, assistência moral, sustento, convivência familiar, além dos demais direitos fundamentais previstos no art. 227 da Constituição Federal, por parte do genitor biológico falecido, cuja reparação pode ser fixada pelo juiz em valor equivalente ao de uma quota hereditária se herdeiro fosse. Será necessário ajuizar ação de reparação de dano moral e material, habilitando-se no inventário como credor do espólio, com requerimento de reserva de bens equivalentes para garantia da ação.

Em relação aos fins previdenciários, tanto os pais como os filhos são considerados beneficiários uns dos outros. O filho é considerado dependente do segurado e assim será beneficiário de ambos os pais, conforme determina a Lei 8.213/91, seção II- dos dependentes, em seu artigo 16, inciso I:

Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do segurado:

I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave;’’ (Código Civil, 2002)

De fato, os direitos sucessórios para a multipantalidade mostram-se com os entendimentos muito igualitários em relação ao parentesco natural/biológico. Por exemplo, se por algum motivo os pais não conseguirem pagar pensão alimentícia ao filho, poderão ser chamados os avos socioafetivos. Se a pessoa morre e só deixa um tio socioafetivo vivo, será dele o direito sucessório; assim como se deixar vivo apenas um irmão socioafetivo, e esse for menor, os direitos sucessório serão incumbidos a ele.

Hoje, o status filho e o que basta para a igualdade de tratamento, pouco importando se fruto ou não do casamento de seus pais, e independentemente do estado civil dos progenitores. (CAHALI, 2012, p. 176.)

Portanto, quanto à sucessão dos ascendentes da família multiparental, com o objetivo de observar a igualdade em grau como requisito suficiente para que os ascendentes, independente da linha ou da espécie de parentesco, recebam a herança em partes iguais. A diversidade de gênero deixou de ser requisito para o

reconhecimento das famílias e, portanto, nenhuma norma de direito sucessório, com conteúdo de divisão da herança a partir do gênero envolvido, deve ser aplicada para realizar a partilha da herança entre os herdeiros ascendentes, muito menos quando a aplicação de tal critério implica determinar frações diferentes, quando todos que estão no mesmo grau devem receber a mesma quota.

3 VISÃO JURISPRUDENCIAL

No ano de 2012 no estado de São Paulo, surgiu o primeiro caso de dupla maternidade. Os gêmeos foram frutos da inseminação artificial in vitro, advindo de uma relação de duas pessoas do mesmo sexo, sendo as crianças registradas no nome da mãe que as gerou. Os óvulos fecundados possuíam material genético de uma das mães, que pretendia ter seu nome reconhecido. Sendo assim, o juiz deferiu o pedido. Assim, sucessivamente, a 15ª Vara da Família do Estado do Rio de Janeiro, em 2014, julgou procedente o pedido de multimaternidade a três irmãos, onde após o falecimento da mãe biológica, passaram a serem cuidados pela madrasta, já quando adultos ingressaram com o pedido, e obtiveram êxito. Ainda no ano de 2014, no estado da Bahia foi reconhecido o direito de registro de três mulheres, a mãe biológica e duas mães adotivas. No ano de 2015, a justiça do Ceará, reconheceu o pedido de mulparentalidade através da adoção. No Rio Grande Do Sul: em 15 de setembro de 2014, no munícipio de Santa Maria, autorizou-se a dupla maternidade e a paternidade no registro, casal homossexual e um terceiro, tudo foi pensado pelos três e a concepção ocorreu de forma natural. Também no Rio Grande do Sul, o Tribunal julgou procedente o pedido do registro de um casal homoafetivo, o procedimento foi por meio de reprodução assistida heteróloga, com a utilização de gameta de doador anônimo.

Multipaternidade, o primeiro caso também aconteceu no ano 2012 em Ariquemes/RO, onde o pais registrar possuía conhecimento de não ser o pai biológico, mas como vivia em união estável com a mãe da criança, registrou-lhe em seu nome, o relacionamento acabou rompendo-se. Desta forma, a mãe entrou, como representante da menor, com pedido para alteração do registro. ‘Como não houve erro, dolo ou coação para o registro, a juíza entendeu tratar-se de um caso de adoção

à brasileira.’’ (Página 174), a criança após confirmação de sua filiação biológica através do DNA, passou a ter em sua certidão dois pais, o biológico e o sociafetivo, já que possuía um bom relacionamento com sua família socioafetiva do até então padrasto, e o registro da mãe biológica. Em 2014, na comarca de Rio Branco, no Acre, aconteceu o caso semelhante a este, o qual também foi dado provimento a inclusão do pai biológico, sem exclusão do socioafetivo. No Rio Grande do Sul: A 3ª Vara Cível de Santana do Livramento, também julgou nesta linha de pensamento em relação a mulpaternidade.’’ Em maio de 2009, o TJ/RS (Apelação n. 70029363918) entendeu que não há prevalência entre a paternidade biológica ou a socioafetiva e que é um direito do filho buscar sua identidade biológica.’’ (2017,pg. 175).

O entendimento do STJ visa o princípio do melhor interesse do menor, devendo ainda afirmarmos que o mesmo ainda não possui um posicionamento concreto. O STF: ‘’ A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem genética, com todas as suas consequências patrimoniais e extrapatrimoniais.’’ (STF, RE 898.060, Rel. Ministro Luiz Fux)

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