• Nenhum resultado encontrado

6.4 Os efeitos das variáveis explicativas sobre o mercado de trabalho

6.4.1 Efeitos de variações na razão salário mínimo real/rendimento real médio

Todas as variáveis da primeira linha do Quadro (5) estão em logaritmo, de modo que a interpretação dos parâmetros encontrados pode ser expressa na forma de variação percentual direta. Assim, um aumento de 1% na razão salário mínimo real/rendimento médio real faz com que a taxa de inatividade caia em 0,0641%, com uma defasagem de quatro meses, e em 0,0387%, considerando cinco meses de atraso. Isso significa dizer que aumentos na razão salário mínimo real/rendimento médio real diminuem o percentual de pessoas não economicamente ativas. Diante de uma remuneração mais elevada pelo fator trabalho no mercado, algumas pessoas que antes não se motivavam a abrir mão de suas horas de lazer para trabalhar ao salário anterior agora se sentem atraídas em deixar a inatividade, ou a PNEA, e passam a figurar na parcela da população economicamente ativa, a PEA.

No entanto, aumentos na razão salário mínimo real/rendimento médio real no curto prazo podem gerar também aumentos no percentual de pessoas não economicamente ativas. O aumento da remuneração do fator trabalho gera alguns desligamentos e algumas dessas pessoas podem aproveitar para fazer cursos de aperfeiçoamento; outras podem simplesmente optar por não procurar um novo emprego, aproveitando-se dos rendimentos de suas rescisões e do seguro desemprego, por exemplo.

Dessa forma, estimar, no curto prazo, qual desses efeitos se sobressai diante desse aumento na razão salário mínimo real/rendimento médio real é fundamental para que se possa confirmar essas quedas da taxa de inatividade.

Para resolver essa questão, e as demais que virão, é que se recorreu àquelas equações secundárias, cujos resultados completos se encontram no Apêndice (B). Para cada alteração em qualquer variável explicativa do modelo têm-se efeitos positivos e negativos no curto prazo sobre as variáveis do mercado de trabalho.

106 Dessa forma, até um determinado número de defasagens, pode-se determinar uma média positiva, uma negativa e um efeito dominante sobre essas variações, como colocado nas tabelas do referido apêndice.

Por exemplo, os resultados mostram que, no curto prazo, com um aumento de 1% na razão salário mínimo real/rendimento médio real, o número de inativos aumenta em média em 0,1414%, mas o diminui em média em 0,1913%, de modo que o efeito resultante é uma queda de 0,0499% (Tabela (B.12)). É daí que advêm as quedas na taxa de inatividade do Quadro (5) para variações no , pois, nesse caso, o efeito médio negativo foi superior em magnitude ao seu efeito positivo. Toda a Tabela (12) foi construída com base nas informações das últimas linhas de todas as tabelas de resultados do Apêndice (B).

Essa queda na taxa de inativos não significa automaticamente um aumento no número de empregos. Esses ingressantes na PEA podem ser empregados no setor formal, informal, ou simplesmente contribuírem para o aumento da taxa de desemprego, pois agora, esses agentes ofertam mão de obra, mas não se pode antecipar que eles encontraram qualquer uma das duas formas de trabalho.

Esses agentes que deixam a PNEA, motivados por esse aumento da razão salário mínimo real/rendimento médio real, causam um aumento na taxa de

atividade em 0,0487% para cada 1% a mais no salário real com defasagem de

quatro meses, e de 0,0303%, em cinco meses (Quadro (5)). Esses aumentos na taxa de atividade se justificam pelo aumento da população economicamente ativa, que agora é maior.

No entanto, a PEA é dada pela soma do emprego total com o desemprego total. Dizer que o aumento de 1% na razão salário mínimo real/rendimento médio real causa um aumento na taxa de atividade gera, novamente, uma questão secundária, mas sumariamente importante: esse aumento é causado por um aumento do emprego total e do desemprego, por um aumento do emprego total maior do que uma eventual queda do desemprego ou por um aumento do desemprego maior do que uma queda do emprego total?

Novamente, no curto prazo, os agentes reagem de duas formas com relação aos aumentos da razão salário mínimo real/rendimento médio real: esses aumentos fomentam o consumo e melhoram o ambiente de negócios de modo que o nível de emprego total aumenta, e por outro lado, ele torna a remuneração do fator trabalho

107 mais cara, o que gera uma menor demanda por mão de obra, alguns desligamentos e, consequentemente, um aumento no desemprego.

Para resolver essa questão novamente se recorre aos resultados das regressões secundárias que estão no Apêndice (B). Agora, as variáveis dependentes são o emprego total e o desemprego total (ambos em pessoas). Os resultados mostram que no curto prazo o aumento de 1% na razão salário mínimo real/rendimento médio real aumenta o emprego total em média 0,2552%, mas o diminui em média 0,3270%, de modo que o efeito resultante é uma queda de 0,0718% (últimas linhas da Tabela (B.7) no Apêndice (B)).

Com relação ao desemprego total, esse mesmo aumento na razão salário mínimo real/rendimento médio real gera reduções de curto prazo na média de 1,0430%, ao passo que o aumenta em 1,2252%, criando um resultado geral de aumento em 0,1822% (Tabela (B.10)).

Essa redução do emprego total (-0,0718%) em uma magnitude menor do que o aumento que esse salário mais elevado causa no desemprego (0,1822%) faz com que a PEA aumente, mas por responsabilidade do aumento do número de desempregados, e não por um aumento do emprego total. Disso vem o aumento na taxa de atividade.

O aumento da população economicamente ativa face esse aumento da razão salário mínimo real/rendimento médio real é de 0,0374%, com uma defasagem de quatro meses. Dado que o desemprego aumenta mais do que isso (0,1822%), daí advém o aumento na taxa de desemprego de 0,2969% do Quadro (5). Conclui-se que, no curto prazo, aumentos da razão salário mínimo real/rendimento médio real têm gerado mais desemprego do que emprego. Conclusão semelhante justifica o aumento de 0,0864% no grau de informalidade (Quadro (5)), pois o emprego informal aumenta (0,0332%) concomitantemente à queda do emprego total, dado que grau de informalidade é a razão entre empregados sem carteira e o emprego total.

A Figura (2) a seguir sintetiza e ilustra esses efeitos do aumento do salário mínimo real, mantidas constantes as variáveis taxa real de juros e PIB, que serão analisadas nas próximas seções.

108 Figura 2 – Os efeitos de um aumento do no mercado de trabalho

Fonte: elaborado pelo autor.

Nessa figura, N é a força de trabalho, que é dada pelos agentes que exercem uma atividade remunerada, cujo valor absoluto é dado pelo intervalo que vai da origem [0,0] do gráfico até o ponto 1 sob a curva de demanda por trabalho , considerando o nível salarial inicial dado em . Na figura esse intervalo é o

emprego total (1). O desemprego (1) é dado pela distância entre a quantidade de

mão de obra ofertada e a quantidade demanda ao nível salarial inicial, ou, dito de outra forma, ele é dado pelo excesso de oferta de mão de obra, que esse salário causa no mercado. A soma do emprego total com o desemprego é a População Economicamente Ativa, ou força de trabalho.

A análise descritiva do começo desse capítulo mostrou que a razão entre o salário mínimo real e o rendimento médio real aumentou no intervalo de tempo considerado na pesquisa. Por isso, tome-se um aumento nessa variável de para na Figura (2).

Considerando as mesmas curvas de oferta e demanda por mão de obra, e , respectivamente, tem-se agora um emprego total e um desemprego dados pelos

109 intervalos de número 2. Ambos os deslocamentos ocorrem sobre as duas curvas, o desemprego aumenta (e consequentemente o emprego total diminui) por dois fatores: primeiro porque os produtores, dado um custo salarial mais elevado, se dispõe a demandar menos mão de obra; segundo, porque as famílias se dispõem a ofertar mais dessa mão de obra, na intenção de receber esse salário maior e mais atraente.

No entanto, como visto, esse aumento do salário mínimo real ainda motiva alguns agentes a deixarem a parcela não economicamente ativa dessa economia e eles passam a ofertar a sua mão de obra no mercado. Isso provoca um deslocamento da curva de oferta para a direita, de para . Esse deslocamento, agora não mais sobre a curva, e sim um deslocamento da curva, aumenta ainda mais o vale entre os demandantes e os ofertantes de mão de obra, e o desemprego passa a ser representado pelo intervalo número 3.

No curto prazo, uma parcela desses novos ofertantes de mão de obra, diante da dificuldade de conseguir encontrar um trabalho, simplesmente desiste de ofertá-lo (desistem de procurar e voltam a figurar na PNEA), ou seja, alguns agentes são menos “persistentes” que outros, enquanto uma parte continua a procurar trabalho e permanece na PEA. Esse “ajuste” é dado pelo retrocesso da curva de oferta de trabalho para a esquerda, de para , e o desemprego se estabiliza no intervalo 3.

Comparando esse último momento com o inicial, tem-se uma redução do emprego total, porém um aumento do desemprego mais do que proporcional àquela queda. Isso legitima o aumento da PEA, cuja responsabilidade maior é do aumento do desemprego.

Ao comparar esses resultados com os de estudos anteriores, antes é importante observar que aqueles consideraram apenas as variações no salário mínimo real, e não na razão entre ele e o rendimento real médio. De qualquer forma, para pesquisas que consideram os efeitos no mercado de trabalho diante do aumento do custo da mão de obra, os resultados são convergentes.

Ao se observar as magnitudes dos parâmetros associados ao emprego informal e formal, nota-se que a razão tem um impacto maior sobre o primeiro segmento do que sobre aquele coberto pela legislação. Neri (1997) e Foguel, Ramos e Carneiro (2001) também utilizaram os dados da PME, o primeiro

110 pesquisador avaliou o período entre maio de 1980 a maio de 1995, já o segundo trabalho usou dados de janeiro de 1982 a novembro de 1999 e em ambas as pesquisas os resultados também mostraram maior efeito do SM sobre o setor informal do que sobre o formal.

Foguel (1997), Lemos (2001) e Carneiro (2004) concluíram que aumentos do salário mínimo causam aumentos no número de desempregados. Neri, Gonzaga e Camargo (2001); Foguel, Ramos e Carneiro (2001) e Carneiro (2004) constatam que esses mesmos aumentos provocam aumento do emprego informal e, por fim, Souza Júnior e Targino (2005) concluem que eles provocam ingresso de mão de obra no mercado de trabalho, ou seja, aumentam a População Economicamente Ativa.

A pesquisa de Camargo (2004) com dados de 1982 a 2002 também encontrou uma relação negativa entre o salário mínimo e o emprego no setor formal e positiva com relação ao setor informal no curto prazo. Dessa forma esse autor concluiu que “that minimum wages in Brazil might be too high above the market equilibrium” (CAMARGO, 2004, p. 303).