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CAPÍTULO 3 METODOLOGIA E ANÁLISE DE DADOS

3.2 Análise de dados levantados na pesquisa de campo

3.2.5 Efetivação do PPP frente às demandas do cotidiano escolar

Uma vez construído a vivência do PPP é imprescindível para a comunidade escolar e local pois ele será o parâmetro do que a escola pretende alcançar enquanto coletivo. Para isso, analisaremos a seguinte questão do roteiro: “que linhas de ação, atividades, subprojetos etc. compõe o PPP da escola? Que sujeitos são responsáveis por elas? Qual é a previsão e fonte de recursos para a sua implementação? Como e por quem foram definidas?” A escolha das ações e projetos integrantes dos PPPs fica a cargo da própria equipe gestora. Não existe pretensão coletiva na definição dos tipos de projetos que seriam proveitosos para comunidade escolar e local. Curiosamente as quatro equipes gestoras esclarecem que as ações dos Projetos dependem do nível de parceria com outras instâncias da comunidade local, normalmente relacionado a um Projeto Pedagógico externo. A E.M Pão Doce ainda evidencia um aspecto que se mostrou presente também nas outras unidades.

Aí, aqui tem a divisão. Como eu te falei, a gente trabalha por bimestre os temas. A gente sempre procura fazer uma culminância. [...] Agora novembro...a responsabilidade é outubro e novembro. Responsabilidade e transformação. Então, em cima disso, a gente vai fazendo...vai tentando desenvolver as atividades e vai fazendo sempre uma culminância. (Equipe gestora da E.M Pão Doce)

O risco de apoiar a elaboração e diagnóstico do Projeto em torno de um tema é recair na conduta da culminância. Em outras palavras, praticar as parcerias vira obrigatoriedade mediante a pressão de demonstrar resultados a cada bimestre ou no final do ano para os responsáveis dos alunos e das parcerias. Caso o contrário, a escola corre o risco de "perder" uma parte do desenvolvimento do seu trabalho pedagógico.

A equipe gestora da E.M Cajuzinho ainda apresenta alguma coerência com a proposta musical defendida pelo Ginásio Temático. De acordo com Suellen e Anita, todos os alunos passam por aula de teclado, canto, piano, percussão e sopro (flauta doce). Além da realização de apresentações, também há saraus com o grupo de Língua Portuguesa dentro da escola e orquestra juvenil, mas não são fixos. Projetos fixos da própria unidade são a comemoração do Halloween, Feira de Ciências e três dias de atividades dedicados ao feriado da Consciência Negra. Fora isso, há parceria com SESC, Programa Saúde nas Escolas (PSE) para fazer realizar palestras e a parceria com o curso de Biologia da UFRJ. O PSE é uma parceria da SME-Rio com a Secretaria Municipal de Saúde e a Defesa Civil. O propósito do programa é contribuir para a formação integral dos alunos através de ações voltadas para a saúde.31 O Programa Mais

Educação também está presente na parte de reforço escolar, oferecendo dança, Badminton e tênis de mesa.

A E.M Cocada é outra unidade integrante do mesmo programa. Realiza parceria com uma ONG para oferecer aula de música e um voluntário dá aula de dança para os alunos. Para apoiar as ações previstas no Projeto, a E.M Trufa conta com a participação do Programa Interdisciplinar de Apoio às Escolas (Proinape) através de oficinas oferecidas aos responsáveis e PSEnovamente por palestras.

As falas das quatro equipes gestoras apontam para uma tendência em valorizar os campos da saúde, atividades complementares aos alunos e eventuais projetos voltados aos responsáveis. No entanto, dentro de tudo que foi exposto até o momento, a estratégia de projetos externos adotada pelas quatro equipes gestoras beira a quase aleatoriedade do tipo “aceitamos sua proposta porque não temos apoio de outro lugar”.

Quando vamos comparar os quatros PPPs, em relação à efetivação dos mesmos, os Projetos da E.M Cajuzinho e E.M Cocada estão organizados em listas e mais listas de objetivos para estabelecer ações mas não caracterizam plano de ação com metas a curto, médio ou longo prazo. Já o PPP da E.M Pão Doce descreve estratégias de ação:

Serão definidas por cada professor levando-se em consideração o grau de complexidade de cada aluno, série e/ou turma além da interdisciplinaridade e de acordo com este Projeto, sugerindo atividades de produção de texto, concursos, pesquisa de opinião e/ou conhecimentos, campanhas, paródias, acrósticos, músicas e dança, poesias, competições esportivas, jornal mural, correio, aulas-passeio, livros extraclasse, palestras para alunos e/ou responsáveis, comemorações internas e aberta à Comunidade, exposições de trabalhos, jogos didáticos, atividades em artes plásticas,

31 “As equipes orientam alunos e responsáveis sobre noções básicas de higiene, além de encaminhar para a rede

pública de saúde os casos que forem necessários, e também identificar alunos com necessidade de atenção médica especial. O programa conta com Técnicos de Educação e Saúde e Unidades Móveis com Médico, Enfermeiro,

Dentista, Psicólogo e Auxiliar de Saúde Bucal.” Disponível em:

teatros e dramatizações sob a orientação de professora da Sala de Leitura.

A efetivação do PPP não é de responsabilidade exclusiva de cada docente, mas sim co- responsabilidade. Nesse sentido, não há previsão de ação unitária que envolva pais, alunos, funcionários, professores e comunidade local. Todos os Projetos contradizem o alerta da existência de uma Programação com cronograma e prazos como caminho para operacionalizar o tipo de escola, cidadão e sociedade que desejam construir, intervindo nos problemas e necessidades identificados pelo diagnóstico assim defendido por Padilha (2003), Vasconcellos (2000) e Gandin (1999). De acordo com Fernández (2018, p. 10), a preocupação com prazos é vista não para com o PPP mas “[...] quando o faz, o prazo se recorta o projeto anual ou a alguns projetos didáticos específicos, que são/deveriam ser subprodutos do projeto”.

Entretanto, precisamos considerar as demandas do cotidiano escolar, já assinalado no 2º capítulo. A equipe gestora da E.M Cajuzinho ressalta o lado financeiro para praticar tudo aquilo que desejam. A falta de material e demora no repasse de verbas faz com que retirem recursos do própria conta para o trabalho ter andamento na unidade. Já Lúcia da E.M Pão Doce questiona a carga horária disponível para planejamento na rede pública municipal do Rio de Janeiro. Segundo Lúcia entre priorizar o PPP e dar conta do calendário de provas, a segunda opção sempre vigora dentro da escola. Dessa forma, as falhas apresentadas dos PPPs são compreensíveis pois são resultados de inúmeros fatores que não priorizam o planejamento institucional, mas não diminui a responsabilidade da equipe gestora visto que os integrantes estavam cientes de suas incumbências ao assumirem um cargo público.