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3. A TUTELA ANTECIPADA NO DIREITO BRASILEIRO 20.

3.4 A efetivação da tutela antecipada

No §3º do art. 273, CPC, encontra-se regulada a efetivação da tutela antecipada, antes incluído no CPC pela Lei 8.952/1994, tal dispositivo tratava-se da chamada execução da tutela antecipada, remetendo ainda aos incisos II e III do art. 588, CPC, contudo, pelas severas criticas por parte da doutrina e a falta de tecnicismo da redação utilizada pela norma de 1994, tal dispositivo sofreu nova mudança com a Lei 10.444/2002, permanecendo como hoje conhecemos, e vinculando ainda o cumprimento da decisão provisória às regras contidas nos arts. 588, 461, §4º e §5º e 461-A.

Vale observar que o citado art. 588, CPC, encontra-se revogado expressamente pelo art. 9º da Lei n. 11.232/2005. Ocorre que a mesma norma praticamente repetiu o dispositivo revogado no art. 475- O37, incluso pela nova legislação, portanto, devendo aquele ser

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Art. 475-O. A execução provisória da sentença far-se-á, no que couber, do mesmo modo que a definitiva, observadas as seguintes normas:

I – corre por iniciativa, conta e responsabilidade do exeqüente, que se obriga, se a sentença for reformada, a

reparar os danos que o executado haja sofrido;

II – fica sem efeito, sobrevindo acórdão que modifique ou anule a sentença objeto da execução, restituindo-se as

partes ao estado anterior e liquidados eventuais prejuízos nos mesmos autos, por arbitramento;

III – o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem alienação de propriedade ou dos

quais possa resultar grave dano ao executado dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos.

§ 1º No caso do inciso II do deste artigo, se a sentença provisória for modificada ou anulada apenas em parte, somente nesta ficará sem efeito a execução.

§ 2º A caução a que se refere o inciso III do caput deste artigo poderá ser dispensada:

I – quando, nos casos de crédito de natureza alimentar ou decorrente de ato ilícito, até o limite de sessenta vezes

o valor do salário-mínimo, o exeqüente demonstrar situação de necessidade;

II - nos casos de execução provisória em que penda agravo perante o Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça (art. 544), salvo quando da dispensa possa manifestamente resultar risco de grave dano, de difícil ou incerta reparação

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observado quando da efetivação da medida antecipatória, uma vez que haja compatibilidade com a natureza desta.

Em sendo aplicáveis boa parte das normas referentes à tutela especifica, vale lembrar que já foram apontadas, em item anterior (As tutelas especificas) as considerações relativas ao tema, especialmente no que tange à efetivação da decisão provisória independente de processo autônomo (por meio das tutelas especificas), à prestação de caução para fins de efetivação da tutela provisória (como forma de garantia à parte advesa pelos prejuízos suportados com a concessão do pleito antecipatório), à fixação de multas pelo magistrado como forma de coerção no atendimento das determinações judiciais etc.

Contudo, resta atentar ao fato de que o dispositivo em analise determina que se observem as normas das tutelas especificas e da execução provisória, no que couber e conforme a natureza da decisão. Para fins de efetivação da tutela antecipada depende saber a natureza do provimento jurisdicional, por conta disso, serão observadas as regras ou do art. 475-O, ou as do art. 461, de forma que em antecipação de tutela para fins de pagamento de terminada quantia em dinheiro deve ser observado o rito do art. 475-O, tendo em vista que as regras do art. 461, em grande maioria dos casos, não são adequadas para o pagamento de valores determinado pela parte devedora.

Acerca da dificuldade no cumprimento da decisão antecipatória de pagamento de quantia leciona o Min. Teori Albino Zavascki:

É possível, com base nos princípios da antecipação das formas e da finalidade, o seguinte critério definidor do procedimento para a execução da medida antecipatória para pagamento de quantia: será cumprida imediatamente, na própria ação de conhecimento, a medida antecipatória deferida com fundamento no inciso I, do art. 273, CPC, exedindo-se as ordens e mandados que se fizerem necessários; porem, em se tratando de antecipação deferida com base no inciso II ou no §6º ou, quando concedida com fundamento no inciso I, for incompatível ou frustrada a efetivação da medida antecipatória por simples mandado, própria ação de conhecimento, caberá ao demandante promover ação autônoma de execução provisória, com

§ 3º Ao requerer a execução provisória, o exequente instruirá a petição com cópias autenticadas das seguintes peças do processo, podendo o advogado declarar a autenticidade, sob sua responsabilidade pessoal:

I – sentença ou acórdão exeqüendo;

II – certidão de interposição do recurso não dotado de efeito suspensivo; III – procurações outorgadas pelas partes;

IV – decisão de habilitação, se for o caso;

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fundamento no art. 588 do Código de Processo Civil, antecedida, se for o caso, por ação de liquidação de sentença.38

Ainda acerca da tutela antecipada quanto ao pagamento de quantia, traz nos maior entendimento Luiz Guilherme Marinoni:

O art. 273 do Código de Processo Civil não define a forma da execução da tutela antecipatória de soma. Contudo, como a execução da tutela antecipatória de some é execução antecipada de credito, a execução de tal tipo de tutela antecipatória não deverá fugir, em principio, dos parâmetros do processo de execução.

[...]

A „execução‟ sob pena de multa somente tem sentido em relação ao devedor que possui patrimônio suficiente para responder ao crédito.39

Aceita-se ainda a possibilidade, mesmo que mínima, de êxito na fixação de multa para o cumprimento da obrigação de pagar, porem nem sempre esse instrumento de pressão do devedor tratará resultados efetivos, o que demandará a utilização do rito da execução provisória, ora previsto no art. 475-O, CPC.

Em situação distinta, de provimento antecipado para fins de cumprimento de uma obrigação, as regras do art. 461 se mostram suficientes e aptas a que o demandado cumpra o mandamento judicial conforme detalhado anteriormente.

Faze-se necessário, para a implementação pratica da decisão provisória, a averiguação da natureza da medida a ser efetivada, para que assim se possa recorrer aos instrumentos legais hábeis, proporcionando resultados céleres ao jurisdicionado, evitando, acima de tudo, expedientes inúteis à demanda. Ainda quanto ao tema da efetivação do provimento antecipado, cumpra lembrar que a parte beneficiada pela antecipação de tutela responderá objetivamente pelos eventuais danos suportados pela parte adversa, ex vi do art. 475-O, inciso I, CPC.

Por se tratar de responsabilidade objetiva, não se perquirirá uma eventual culpabilidade do causador do dano, mas apenas se buscará a existência e mensuração do prejuízo suportado

38 ZAVASCKI, Teori Albino. . Antecipação da tutela. 4.ed. rev. e ampl.São Paulo: Saraiva, 2005. pg.99. 39 MARINONI, Luiz Guilherme. Antecipação de tutela. 11ed. rev.e atual.. São Paulo: Editora Revista dos

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pela parte contra a qual foi deferida a tutela antecipada. Não custa ressaltar que todo provimento antecipado demanda riscos, do magistrado e também da parte postulante da medida, que fica sujeita a ter de reparar os danos que eventualmente cause em decorrência da efetivação da tutela antecipada.

Vale frisar que somente se estará garantindo o acesso à justiça, quando autor e réu gozarem de instrumentos que possibilitem a efetividade da tutela jurisdicional, pois de nada adiantaria que apenas uma parte fosse beneficiaria de tal direito, porquanto tal desequilíbrio macularia o principio de natureza processual, ou seja, o principio da isonomia entre as partes.

4. A IRREVERSIBILIDADE DOS EFEITOS DA TUTELA

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