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3 CAPÍTULO II

3.1 EFICIÊNCIA DA ARMADILHA AJAR ISCADA

ADULTOS DA MARIPOSA-ORIENTAL EM

POMARES DE MACIEIRA COM E SEM O EMPREGO DA TÉCNICA DA INTERRUPÇÃO DO ACASALAMENTO.

3.1.1 Resumo

O monitoramento das populações de adultos de Grapholita molesta é componente importante para o manejo integrado dessa praga. Armadilhas contendo feromônio sexual sintético são a principal ferramenta utilizada para omonitoramento da mariposa-oriental nos pomares de macieira tanto em áreas que utilizam o controle convencional, quanto naquelas em que se faz o controle com feromônios sexuais. No entanto, essa forma de monitoramento, em pomares que utilizam a interrupção do acasalamento (TIA), fica mascarada, uma vez que os compostos de controle e monitoramento são similares, e essas armadilhas destinam-se a captura somente de machos, não permitindo quantificar as capturas de fêmeas nos pomares. O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência de monitoramento da armadilha Ajar iscada com uma solução de Açúcar Mascavo + Acetato de Terpenila em comparação com a armadilha padrão (Delta iscada com feromônio sexual) em pomares de macieira com e sem a técnica da interrupção do acasalamento. Os experimentos foram conduzidos em São Joaquim (SC) em quatro pomares

de macieira, dois com TIA e dois sem. A armadilha Ajar iscada com Açúcar Mascavo + Acetato de Terpenila foi comparada com a armadilha Delta padrão, com cinco repetições em cada pomar. O delineamento utilizado foi o de blocos ao acaso, onde uma fileira de plantas foi considerada um bloco. A armadilha Ajar demonstrou ser eficiente na captura de fêmeas nos pomares com TIA e pode ser utilizada para o monitoramento nesses locais. Palavras-chave: mariposa-oriental, acetato de terpenila, açúcar mascavo, armadilha Ajar.

3.1.2 Abstract

Monitoring of populations of adults of Grapholita molesta is an important component for integrated pest management. Traps with synthetic sex pheromone are the main tool used to monitor the oriental fruit moth in apple orchards in both areas using the conventional control, and in those in which it does control with sex pheromones. However, this form of monitoring in orchards using mating disruption (MD) is masked, since the compounds of controlling and monitoring are similar, and these traps are intended to capture of males only, not allowing quantifying catches of females in the orchards. The objective of this study was to evaluate the efficiency of monitoring Ajar trap baited with a brown sugar solution + Terpinyl acetate compared to the standard trap (Delta baited with pheromone) in apple orchards with and without mating disruption technique . The experiments were conducted in São Joaquim (SC) in four apple orchards, two with MD and two without. The Ajar trap baited with brown sugar + terpinyl acetate was

compared to the standard Delta trap, with five repetitions in each orchard. The design was a randomized blocks, where a row of plants was considered a block. The Ajar trap can be efficient to capture females in the orchards with MD and can be used to monitor these sites.

Keywords: Oriental fruit moth, terpinyl acetate, brown sugar, Ajar trap.

3.1.3 Introdução

Diferentes espécies de lagartas podem provocar danos econômicos na cultura da macieira (FONSECA, 2006) merecendo destaque a Grapholita molesta (Lepidoptera: Tortricidae), popularmente conhecida como mariposa-oriental ou grafolita (REIS FILHO; NORA; MELZER, 1988; ARIOLI et al., 2003; KOVALESKI; RIBEIRO, 2003; ARIOLI, 2007; PASTORI et al., 2012; BISOGNIN et al., 2012).

O monitoramento das populações de adultos de G. molesta é um componente importante para o manejo integrado dessa praga. Nas décadas de 1950 e 1960, principalmente nos EUA e na Europa, os focos de infestação e a densidade populacional de pragas eram estimados por meio de armadilhas contendo fêmeas virgens. No Brasil, esta metodologia foi utilizada na fruticultura de clima temperado para o monitoramento da mariposa-oriental e da lagarta-enroladeira Bonagota salubricola (Meyrick) (Lepidoptera:Tortricidae (KOVALESKI, 1992; KOVALESKI, 2005) em macieira e de da traça-dos-cachos Cryptoblabes gnidiella (Millière) (Lepidoptera: Pyralidae) (RINGENBERG, 2004).

Durante os anos de 1930 a 1960 um atrativo alimentar composto pela mistura de acetato de terpenila

e açúcar mascavo foi a principal ferramenta para o monitoramento de adultos de mariposa-oriental nos Estados Unidos (FROST, 1926; YETTER & STEINER 1931; CHISHOLM et al. 1946; ROTHSCHILD et al., 1984).

Após a descoberta e posterior identificação dos componentes do feromônio sexual emitido pela fêmea de G. molesta para o acasalamento (PHILLIPS, 1973) houve uma mudança, com a substituição e utilização generalizada de feromônios para monitorar os machos adultos de G. molesta nos pomares (KIRSCH, 1988). Nesse contexto, praticamente foram abandonados o emprego de fêmeas virgens e atrativos alimentares para o monitoramento de pragas nos pomares.

De acordo com Wall (1990), armadilhas de monitoramento iscadas com feromônio sexual sintético são utilizadas com três finalidades: (a) para detectar a presença de insetos; (b) para conhecer a flutuação populacional e (c) para definir ou não a necessidade da aplicação de medidas de controle. De uma forma geral, as armadilhas de feromônio sexual promovem capturas seletivas, são de baixo custo e capazes de detectar as espécies-praga, mesmo quando incidem em baixas populações.

Armadilhas contendo feromônio são a principal ferramenta utilizada para o monitoramento da mariposa-oriental em áreas que utilizam o controle convencional com inseticidas sintéticos. A mesma metodologia é empregada nos pomares onde ocorre o uso de feromônios sexuais isoladamente ou associado a inseticidas com o objetivo de controle da praga (KOVALESKI; RIBEIRO, 2003; MONTEIRO; SOUZA; BELLI, 2008; PASTORI et al., 2008; ARIOLI et al, 2014). Nos dois últimos casos, a eficácia da técnica e determinada pela ausência de capturas nas armadilhas

iscadas com feromônio sexual. Isso porque, em presença de grande concentração de feromônio (feita pela instalação de emissores nos pomares) as armadilhas (fontes de liberação que imitam o comportamento as fêmeas) ficam imperceptíveis pelos machos (PASTORI et al., 2008). Consequentemente, acredita-se que esses machos não encontram as fontes naturais, neste caso as fêmeas e, dessa forma, não ocorrem acasalamentos no pomar.

No entanto, o monitoramento de lepidópteros com armadilhas de feromônio sexual produz informações indiretas e pouco precisas, uma vez que geralmente se destina à captura apenas de machos adultos, raramente de fêmeas, que são as que realizam posturas e não permite identificar o real efeito da interrupção do acasalamento (TIA) na redução dos acasalamentos uma vez que não permitem quantificar as capturas de fêmeas nos pomares.

Armadilhas contendo atrativos alimentícios, apesar de não serem específicas para G. molesta, podem identificar a população real de adultos nos pomares de frutíferas de clima temperado (YETTER; STEINER, 1932; DUSTAN, 1964; IL’ICHEV et al., 2004; KOVANCI; WALGENBACH, 2005; KOVANCI, 2007; CAMPOS; GARCIA, 2008; STRAPASSON, 2012). Além disso, podem, por meio de amostragem de fêmeas, fornecer dados sobre o estado de acasalamento onde a técnica da interrupção do acasalamento é utilizada.

Estudos realizados por Cichon et al. (2012) e Knight et al. (2012) observaram que a mistura de acetato de terpenila com açúcar mascavo quando adicionada em uma armadilha delta modificada (Ajar), é eficiente no monitoramento de adultos machos e fêmeas, de G. molesta. No Brasil, não existem informações quanto a

possibilidade de emprego dessa ferramenta para o monitoramento de G. molesta em áreas de TIA.

Esse trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar a eficiência de monitoramento da armadilha Ajar iscada com uma solução de Açúcar Mascavo + Acetato de Terpenila em comparação com a armadilha padrão (Delta iscada com feromônio sexual) em pomares de macieira com e sem a técnica da interrupção do acasalamento.

3.1.4 Material e Métodos

O trabalho foi conduzido em pomares de macieira localizados em São Joaquim, SC entre 13 de março a 22 de abril de 2014. Quatro pomares comerciais de

macieira, foram selecionados cada um com

aproximadamente 4 hectares contendo os cultivares ‘Gala’ (66%) e ‘Fuji’ (33%) com aproximadamente sete anos de idade, implantado no espaçamento 2,5 x 6,0 (plantas e linhas) com altura de plantas entre 3,5 e 4,0 m, Desses pomares, dois utilizavam somente inseticidas para o controle de G. molesta sendo denominados Mario (28º 23’ 08.75”S; 49º 56’ 23.58” O) e Vinícius (28º 17’ 04.61”S; 49º 55’ 09.67” O). Os outros dois, denominados de Paulo 2 (28º 10’ 30”S; 50º 00’ 32” O) e Alfeu (28º 11’ 30.73”S; 49º 57’ 50.65” O) utilizavam a técnica da interrupção do acasalamento (TIA) (Splat Grafo® na dose de 1 kg/ha) associada ao uso de inseticidas. No pomar Paulo 2 a aplicação do feromônio foi realizada no mês de dezembro e no pomar Alfeu em janeiro.

Descrição da armadilha e atrativo - a Armadilha Ajar foi construída a partir de uma armadilha modelo

Delta Trap (10,0 cm de altura x 19,5 cm de largura x 28,4 cm de comprimento e com área de fundo adesivo correspondente a 385,3 cm2) de coloração branca. A área de fundo foi recortado ao centro em formato de círculo com 9 cm de diâmetro. Sobre este foi inserido um piso adesivo também recortado ao centro com o mesmo diâmetro. Neste orifício, foi acoplado um copo plástico com capacidade de 700 ml para a deposição do atrativo líquido para permitir a liberação de atraentes para a abertura principal da armadilha. Para evitar a queda e consequentemente o contato direto dos insetos com o atrativo, o copo foi fechado com tecido tipo voil de coloração branca (20 cm de comprimento x 15 cm de largura).

Como modelo de comparação foi utilizada a ferramenta padrão de monitoramento da mariposa-oriental constituída pelo sistema composto por armadilha modelo Delta Trap (10,0 cm de altura x 19,5 cm de largura x 28,4 cm de comprimento e com área de fundo adesivo correspondente a 385,3 cm2) de coloração branca, com piso colante iscada com septo de borracha

contendo feromônio sexual sintético ISCAlure

GRAFOLITA® (Isca tecnologias Ltda, Ijuí, RS).

As armadilhas foram distribuídas aleatoriamente em cada pomar seguindo o delineamento experimental de blocos ao acaso, com 05 repetições. Cada fila de macieiras foi considerada um bloco. As armadilhas foram distanciadas 20 m umas das outras e fixadas em um ramo da planta a aproximadamente 1,60 m de altura. Para a distribuição das armadilhas na área foi determinado duas fileiras de plantas como bordadura.

Eficiência das armadilhas - O experimento foi avaliado mediante a coleta dos insetos capturados semanalmente, de 13 de março a 22 de abril, em cada

armadilha, sendo a troca do atrativo alimentar realizada semanalmente. Os septos de borracha não foram substituídos ao longo do experimento, pois não ultrapassaram a data de troca estabelecida pelo fabricante. Todos os adultos de G. molesta capturados foram separados por sexo (macho e fêmea) e as fêmeas foram dissecadas para a avaliação de cópula, sendo considerada copulada a fêmea que apresentasse ao

menos um espermatóforo na bolsa copuladora

(DUSTAN, 1964).

Os dados obtidos nos experimentos foram analisados quanto à normalidade, transformados em raiz quadrada de (x + 0,05) e submetidos à análise de variância (ANOVA). As médias foram comparadas pelo teste de Tukey (p ≤ 0,05) utilizando o programa estatístico R.

3.1.5 Resultados

Considerando as capturas obtidas nas armadilhas Delta Trap e Ajar, verificou-se que houve grandes variações no número de insetos presentes em função do

pomar em que foi realizado o experimento,

provavelmente associado ao tamanho da população nas áreas ou do manejo adotado pelos fruticultores (Figura 4).

Figura 4 - Número médio de adultos de Grapholita molesta capturados por dois conjuntos de armadilha+atrativo em pomares de macieira com (Alfeu e Paulo) e sem a TIA (Mario e Vinícius) no período de 13 de março a 22 de abril de 2014, em São Joaquim, SC.

*Médias seguidas pelas mesmas letras em cada pomar, não diferem estatisticamente entre si pelo Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

Fonte: Produção da própria autora, 2015.

Nos pomares submetidos à TIA, como no pomar Alfeu, a armadilha Ajar capturou maior número total de adultos de G. molesta quando comparada com a armadilha Delta iscada com feromônio sexual. Essa diferença é registrada principalmente pela maior captura de fêmeas verificada na armadilha Ajar. Quando se analisam os machos capturados, ambas as armadilhas obtiveram resultados semelhantes não diferindo entre si. Já no pomar Paulo, não ocorreu diferença significativa entre no número total de capturas entre as armadilhas

Ajar e Delta, o que pode ter acontecido pela menor população na área Paulo em relação a área Alfeu. A armadilha Ajar capturou um menor número de machos em comparação a armadilha Delta padrão. Em relação ao número de fêmeas, a armadilha Ajar destacou-se por capturar mais fêmeas quando comparada com a armadilha de feromônio que, por ser seletiva, não apresentou capturas deste sexo.

Nos pomares que não utilizam a TIA, diferenças significativas entre as armadilhas também foram encontradas (Figura 4). No pomar Mario a armadilha delta iscada com feromônio capturou mais adultos de G. molesta, diferindo da armadilha Ajar. No pomar Vinícius, que também adotou o manejo convencional, observa-se que a armadilha Ajar foi significativamente superior à armadilha delta na captura total de adultos, obtendo também uma maior captura de machos.

Com as capturas de fêmeas obtidas nas armadilhas Ajar, tanto nos pomares com TIA quanto nos sem TIA, foi possível observar o estado de acasalamento das fêmeas (Figura 5). A taxa de acasalamento mostra-se inferior nos pomares que utilizam feromônio para interrupção de acasalamento. No pomar Alfeu que utilizou a TIA, a população de G. molesta é superior aos demais pomares avaliados e ainda assim a taxa de acasalamento (0,34) é inferior aos pomares sem TIA.

Figura 5 - Quadro com o número médio de adultos de Grapholita molesta capturados por armadilha em pomares de macieira com e sem TIA durante o período de 13 de março a 22 de abril de 2014 em São Joaquim, Santa Catarina.

Fonte: Produção da própria autora, 2015.

3.1.6 Discussão

Observa-se grande variação da população de G. molesta nos pomares estudados, em virtude da sua localização e do manejo adotado pelos fruticultores, pois não se interferiu no manejo de pragas dos locais.

Corroborando com os resultados encontrados por Cichon et al. (2012), a armadilha Ajar pode ser utilizada para o monitoramento populacional de G. molesta em pomares submetidos à técnica da interrupção do acasalamento. Isso porque, em associação com ATAM, permite acompanhar a flutuação populacional de fêmeas nos pomares. Já a armadilha Delta iscada com feromônio não consegue atrair e capturar fêmeas G. molesta com eficiência nos locais com TIA e os

produtores não podem efetivamente acompanhar a flutuação populacional de fêmeas.

O número baixo de fêmeas capturadas nas armadilhas de ATAM nos pomares sem TIA também foi encontrado por Kovanci & Walgenbach (2005).

Apesar de capturar um número inferior de fêmeas nos pomares sem TIA, a armadilha Ajar iscada com acetato de terpenila, a maioria das fêmeas capturadas estava acasalada, comprovando a eficiência do atrativo em capturar fêmeas acasaladas, fato também registrado em outros trabalhos (DUSTAN 1964, ROTHSCHILD ET AL. 1984, RICE; KIRSCH 1990, ATANASSOV, 2002).

Nos pomares sem TIA, mesmo tendo capturas elevadas na armadilha Ajar, dominou a presença de machos em relação às fêmeas (Figura 5). Esse fato pode ser explicado pela procura dos machos pelas fêmeas que se encontram no pomar submetidos a TIA, evitando a procura por alimento (ROTHSCHILD et al., 1984).

As armadilhas com feromônio tiveram capturas elevadas de machos nas parcelas sem confusão sexual, em concordância com os estudos de Cardé e Minks (1995) e Yang et al. (2004).

A armadilha Ajar pode ser utilizada para o monitoramento de G. molesta nos pomares que utilizam a técnica da interrupção do acasalamento, pois pode fornecer a informação da flutuação populacional das fêmeas, seu estado de acasalamento e ser utilizada como parâmetro para a avaliação da eficiência da técnica, bem como para a aplicação de inseticidas.

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