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CAPÍTULO VII: CONSIDERAÇÕES FINAIS

2.1. A fachada de um edifício

2.1.3. Eficiência energética

O consumo de energia, com principal relevo para as emissões de dióxido de carbono (CO2) e de outros gases com efeito de estufa (que contribuem para o aquecimento global), é actualmente uma das maiores preocupações mundiais no que diz respeito às actividades humanas. As estratégias e políticas nacionais e da Comissão Europeia visam cumprir, à escala local, as metas estabelecidas no âmbito do Protocolo de Quioto e de Lisboa, fixadas na Carta de Aalborg (European Sustainable Cities & Towns Campaign - the Aalborg Charter [71]). O novo Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE [62]), aplicado aos edifícios de habitação e de serviços em Portugal, transpõe parcialmente a Directiva nº 2002/91/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, relativa ao desempenho energético dos edifícios. Este regulamento veio estabelecer novas exigências para o comportamento térmico dos edifícios, responsáveis por uma percentagem cada vez maior dos gastos energéticos mundiais.

Na Matriz Energética da cidade de Lisboa [21], apresentada no ano de 2005 pela Agência Municipal de Energia e Ambiente de Lisboa, refere-se que 46% do consumo de energia primária no Concelho de Lisboa diz respeito aos edifícios. Este facto deve-se ao grande consumo de electricidade, principalmente nos edifícios de serviços, que são responsáveis por 65% do consumo do total do parque edificado. Como a energia eléctrica tem por base uma produção deslocalizada em

vários tipos de centrais de transformação espalhadas pelo território, apenas a análise do consumo de energia primária, em detrimento da energia final (onde os transportes se assumem claramente como os mais utilizadores), permite perceber o peso específico dos edifícios nos impactos ambientais e económicos.

Na matriz energética de Lisboa refere-se ainda que, em edifícios de habitação, o aquecimento do ambiente interior ocupa a terceira posição nos gastos totais de energia (17%), apenas ultrapassado pelos gastos em aquecimento de água sanitária (24%) e em frio doméstico (18%). Estes valores sublinham a importância do comportamento térmico dos edifícios, nomeadamente das fachadas, principais responsáveis pelo comportamento térmico das construções, atendendo ao facto que a habitação plurifamiliar (construção em altura) ocupa um lugar de relevo nos consumos de energia do parque edificado (e que a superfície útil de fachadas é muito maior que a da cobertura nesta tipologia de habitação).

Muito embora as intervenções ao nível da redução no aquecimento ambiente dos edifícios tenham menor impacto, a curto prazo, que as intervenções relativas a outros tipos de utilizações, as estratégias para a redução do consumo energético deverão contemplar, com diferentes ponderações, todo o tipo de intervenções possíveis. Adivinha-se num futuro próximo o aumento do número de programas de carácter nacional e internacional para a redução dos consumos energéticos e do impacto ambiental dos edifícios, com vista à sustentabilidade global do planeta, mas também das economias nacionais, cada vez mais dependentes da racionalização dos consumos (energéticos e não só) e optimização dos processos produtivos. O novo regime de comércio de licenças de emissão de gases com efeito de estufa foi criado pela União Europeia com o intuito de reduzir as emissões através de um sistema de trocas comerciais de licenças entre estados membros, destacando a importância dos investimentos nacionais em projectos que procurem reduzir o impacto ambiental das suas actividades.

A título de exemplo, no Reino Unido foi desenvolvido o programa “Zero Carbon Britain“ que tem por objectivo reduzir quase a zero as emissões de CO2 na utilização dos edifícios até 2027 [97]. Este projecto incide sobretudo sobre os gastos energéticos em fase de utilização (aquecimento ambiente, aquecimento de água sanitária, etc.), mas procura também abordar questões relativas à utilização de materiais e sistemas de construção com menor impacto ambiental (tanto em reabilitação de edifícios, de modo a melhorar o seu desempenho, como na construção de edifícios novos).

A eficiência energética mede-se pela capacidade de produzir algo, ou obter determinado resultado, consumindo o mínimo de energia possível. A eficiência energética de uma construção, numa perspectiva abrangente, será produto da relação entre todos os gastos energéticos necessários à sua construção, utilização, manutenção e demolição/reciclagem, e o seu desempenho final (benefícios/ganhos). A eficiência energética de uma construção dependerá também, portanto, do

desempenho “normal” ou regular de todas as suas diferentes partes ou componentes (fachadas, coberturas, lajes de piso, etc.).

Embora se deva analisar de uma forma global o desempenho de uma construção, conforme

prevê por exemplo o novo RCCTE [62], existem parâmetros de avaliação que poderão ser

individualizados, relativos ao comportamento de um determinado elemento ou sistema. Desta forma, o desempenho de uma fachada de um edifício poderá ser avaliado segundo vários parâmetros, entre os quais o isolamento térmico dos elementos que a constituem (zona opaca corrente, pontos singulares, etc.), a capacidade de retenção de calor dos materiais (inércia térmica), o factor solar e as perdas de calor através de vãos envidraçados, ou por exemplo a taxa de renovação do ar interior proporcionada pelas caixilharias ou por sistemas de ventilação.

As fórmulas de cálculo do comportamento térmico dos edifícios previstas no RCCTE [62] mostram essa interacção entre diversos tipos de factores. Em relação aos elementos opacos das paredes, são utilizados os valores dos coeficientes de transmissão térmica “U” superficiais e lineares das paredes exteriores, e ainda a classe de inércia térmica, que também entra em linha de conta com outros elementos de construção como pisos e paredes interiores. Em relação aos elementos envidraçados de uma fachada, são utilizados valores relativos aos ganhos solares durante a estação de aquecimento (Inverno), e valores relativos às cargas devidas à entrada da radiação solar na estação de arrefecimento (Verão). Os cálculos entram ainda em linha de conta com a taxa de renovação do ar interior dos edifícios, estipulando para esse efeito valores mínimos que influem directamente nas necessidades de aquecimento e arrefecimento dos edifícios.