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PARTE I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NO SECTOR DOMÉSTICO

4.4 S ER EFICIENTE : O QUE IMPLICA E ATÉ ONDE O CONSUMIDOR ESTÁ DISPOSTO A IR

A intervenção dos consumidores na promoção do consumo mais sustentável poderá ser feita nas suas compras nomeadamente através das suas escolhas, podendo optar por consumos responsáveis (Moura & Cunha, 2010).

Na realidade, uma utilização mais racional da energia leva, na grande maioria das situações, a uma redução da fatura energética. Por outro lado, existem diversos estudos que demonstram que os investimentos normalmente efetuados têm tempos de retorno curtos, sendo investimentos com uma boa taxa de rendibilidade. Seria uma decisão economicamente racional a execução destes investimentos.

Os resultados do estudo “energyprofiler” indicam que a motivação económica (86,7%) é a principal razão para poupar energia, seguida da razão ambiental (56,8%). Apenas uma percentagem residual (0,1%) dos inquiridos considera não ser necessário poupar energia.

Na tabela 13 apresenta-se um resumo e caracterização dos perfis encontrados no estudo

“energyprofiler” bem como, as designações escolhidas para cada perfil com base nas suas

características psicossociais.

Tabela 13 - Descrição e caraterização dos perfis de consumidores domésticos, com base em

fatores

RECETIVOS À EFECIÊNCIA ENERGETICA

Pessoas com uma opinião favorável face à conservação de energia e que se sentem muito responsáveis no uso desta; no entanto, não traduzem essa sensibilidade em comportamentos, apresentando poucos comportamentos ecológicos em geral e pouco conhecimento sobre medidas de conservação de energia.

ORIENTADOS PARA A AÇÃO

Pessoas com uma opinião muito favorável face à conservação de energia e que sentem responsabilidade pela ação a esse nível; têm poucos conhecimentos sobre medidas de conservação de energia mas referem realizar muitas vezes comportamentos ecológicos em geral; em relação aos

recetivos à eficiência energética, apesar de menos responsáveis, estão mais

predispostas para agir, visto terem mais comportamentos ecológicos.

DIFUSORES DE RESPONSABILIDADE

Pessoas com uma opinião muito favorável face à conservação de energia mas que se sentem pouco responsáveis face ao uso desta; têm um conhecimento médio-alto sobre medidas de conservação de energia e em geral realizam comportamentos ecológicos algumas vezes; são pessoas informadas e predispostas a agir mas provavelmente consideram que as medidas de conservação de energia devem vir de “fora”, deste modo passando a sua responsabilidade a este nível para aspetos que não se relacionem diretamente

com elas (e.g. “medidas devem ser implementadas por outras pessoas”; “devem fazer-se mais mudanças nas infraestruturas, equipamentos, etc. do que nos comportamentos).

ENERGETICAMENTE RESPONSÁVEIS

Perfil semelhante aos dos difusores de responsabilidade, sendo pessoas com uma opinião favorável face à conservação de energia, possuem um conhecimento médio-alto sobre medidas de conservação desta e realizam comportamentos ecológicos algumas vezes; diferenciam-se do perfil anterior por se sentirem mais responsáveis no uso de energia; como tal, é provável que considerem que as medidas de conservação de energia devem vir de “dentro”, atribuindo mais responsabilidade a si próprios do que a aspetos externos.

ENERGETICAMENTE RESPONSAVEIS

Pessoas com uma opinião muito favorável face à conservação de energia, que se sentem muito responsáveis face ao uso desta; consideram ter muito conhecimento sobre medidas de conservação de energia e em geral realizam muitas vezes comportamentos ecológicos.

Fonte: Estudo energyprofiler, Adene (2009)

O desempenho energético é pouco visível na altura de aquisição de um equipamento, ou mesmo de um edifício. Pensando no consumidor doméstico, não parece ser ainda fator determinante de escolha de um eletrodoméstico a sua eficiência energética, sendo a escolha essencialmente efetuada tendo em consideração outras características (IEA. 2001). É vulgar que o preço de compra do equipamento seja significativamente mais baixo do que o seu preço de utilização, razão acrescida para que o consumo energético se torne um fator de escolha.

Na escolha de um eletrodoméstico é difícil encontrar dois modelos em que a única diferença seja a eficiência energética, o que dificulta a comparação. No entanto, parece poder concluir-se que, na generalidade dos casos, a escolha por um modelo de classe A, quando comparado com um de classe B, ainda representa um acréscimo de preço considerável (Adene, 2009).

Se considerarmos que a principal “preocupação” de quem compra um eletrodoméstico, não é só a sua utilidade e eficiência mas também e principalmente o facto de ter de pagar “à cabeça” um montante mais elevado no ato da compra, a escolha pelo modelo de classe A não parece muito interessante. Esta conclusão segundo Adene (2009) é ampliada quando um consumidor está a comprar diversos eletrodomésticos, situação vulgar quando se equipa uma habitação.

Numa sociedade mais imediatista, em que tudo muda a um ritmo elevado, há alguma tendência a adotar visões de curto prazo. Muitas vezes as informações disponíveis para o consumidor

No setor doméstico está presente um entrave financeiro, que costuma resumir-se às questões dos prazos de reembolso ou tempos de retorno dos investimentos. Na procura, os tempos de retorno exigidos são muito curtos quando comparados com os exigidos pela oferta (Comissão Europeia 2000). A isto não é alheio a capacidade de encontrar melhores formas de financiamento por parte da oferta.

Adene (2009) refere o seguinte exemplo de “desalinhamento”, um inquilino de uma casa tenta convencer o senhorio a mudar a caixilharia mas, quem paga a fatura energética é o próprio inquilino.

De acordo com Godinho e Boucinha (1998), as despesas das famílias em energia elétrica na maioria dos países da UE variaram, em 1988, entre cerca de 1,5 e 3%, apresentando Portugal dos valores mais elevados.

O setor dos edifícios talvez seja um dos melhores exemplos, onde o utilizador poucas vezes coincide com o projetista. O projetista tende a escolher soluções mais vulgares e nem sempre mais as mais eficientes. A amenidade do clima nacional não é um incentivo à escolha de soluções energeticamente mais eficientes. Em locais onde o clima é mais rigoroso, tal como no Norte da Europa, a questão do isolamento energético ganha maior importância. Na verdade, trata-se de uma situação semelhante à de outros setores, onde o peso da fatura energética não é muito significativo (Adene 2009).

Também é por vezes apontado como entrave às medidas de utilização racional de energia, nomeadamente a utilização de equipamentos mais eficientes, a necessidade de pessoal técnico mais qualificado e do aumento de custos de manutenção (IEA, 2001).

As barreiras à adoção de medidas de eficiência energética detetadas incluem a falta de informação, o receio de avaria dos eletrodomésticos, a desvalorização dos pequenos contributos de cada gesto e a convicção de que só com grande investimento e obras de fundo as diferenças serão relevantes. A falta de informação leva, em especial, a um grande desconhecimento sobre as soluções inovadoras existentes no mercado (Schmidt 2011).

Os grandes entraves identificados pelos consumidores, segundo Schmidt (2011), no uso de energias renováveis são os elevados custos de instalação dos equipamentos, a redução dos incentivos fiscais à sua aquisição, o longo período de amortização do investimento e os constrangimentos práticos nos prédios e condomínios. Existe ainda uma confusão nos consumidores portugueses entre a energia solar térmica e a fotovoltaica, que é cinco vezes mais cara, o que leva a equívocos em relação aos preços e a queixas relativamente aos elevados custos de instalação destes equipamentos”, Em todo o caso, o estudo de Schmidt (2011) do ICS

conclui que é muito promissor o interesse pela microgeração solar associada à autossuficiência e à poupança”.

O estudo Marketing de Eficiência Energética Energy‐ Efficiency measures to Portuguese consumers desenvolvido pela Adene (2010) considera que é importante perceber como os consumidores fazem escolhas a fim de aumentar a utilização de equipamentos EE. A comercialização dos produtos pode ser mais focada e, eventualmente, frutífera para as empresas se considerarem que os clientes tendem a ser "maximizadores de valor", dentro de suas próprias restrições de custo, conhecimento, renda, mobilidade etc.

Adene (2009) concluiu que o consumidor Português considera que o produto EE é "caro", e considera importante investigar “Valor percebido cliente” ou seja, a diferença entre os benefícios e os custos.

Assim, as empresas podem aumentar o valor dos equipamentos EE aumentando um ou mais benefícios (económicos, funcionais ou emocionais) ou reduzindo o tempo, energia ou custo monetário. É importante referir que os benefícios de um produto não são quantificáveis na mente dos consumidores ao contrário dos seus custos

Os investigadores acreditam que os consumidores compram os produtos pela marca que representam e pela relação da perceção dos seus compradores, do seu próprio autoconceito ou personalidade. Por outras palavras, os consumidores vão comprar marcas de equipamentos de EE quando são levados a sentir parecenças ou semelhanças de uma pessoa eco-friendly (Adene, 2009).

O comportamento do consumidor é afetado por vários fatores sociais, como grupos (filiação, referência), família, papéis e status. Considerando as variáveis tradicionais de segmentação, e dada a disparidade de rendimento em Portugal, fatores "psicográficos" (estilo de vida, atitude) seriam a opção mais adequada, onde o nosso segmento-alvo pode ser "bem-educado, em uma família de alto rendimento e é ambientalmente progressivo Adene, 2009)

Por exemplo, Edison Electric (EUA) descobriram a partir de uma pesquisa de mercado que o segmento de clientes que estariam mais dispostos a realizar atividades de eficiência energética foi segmento dos 35-64 anos de idade, as mulheres com filhos e casas de luxo.

Fonte: (ADENE, 2009)

Segundo a Adene (2009), a barreira comportamental para a implementação de projetos de eficiência energética resulta de uma falta de conhecimento da parte do público sobre os benefícios de eficiência energética. O segundo obstáculo comportamental vem da perceção de que as questões de eficiência energética podem ser abordadas somente após outras questões socioeconómicas mais urgentes.

Adene (2009) refere que esta abordagem decorre do equívoco de que a eficiência energética é uma medida de luxo. A ironia é que as medidas de eficiência energética podem contribuir significativamente para aliviar algumas pressões socioecónomicas.

O terceiro obstáculo surge do fato de que 80% das moradias são de propriedade privada em Portugal e os proprietários / moradores dos apartamentos muitas vezes preferem passar a responsabilidade de manutenção de sua propriedade e encontrar soluções para problemas de eficiência energética no estado. No caso dos arrendatários tentam passar essa responsabilidade para os senhorios.

Os consumidores portugueses estão atualmente conscientes e são compreensivos para o uso de equipamentos de eficiência energética e os benefícios que estes podem representar na sua conta de eletricidade.