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Estando este trabalho inserido no objetivo global de criação de uma base de dados estocásticos, que sirva uma abordagem probabilística dos problemas de reabilitação de edifícios, torna-se crucial definir e organizar o tipo de dados necessários na análise.

Existem vários fatores que influenciam o desempenho higrotérmico, energético ou de custos, do ponto de vista da reabilitação de edifícios. A escolha da informação a ser introduzida num estudo pressupõe um vasto conhecimento em física das construções e do problema em si, de modo a conseguir uma análise o mais próxima possível da realidade. Cada fator pode ser importante a diferentes escalas (definidas em 2.4) e conforme o critério de desempenho que se pretenda realçar.

Por exemplo, ao nível do material, procura-se que se adeque às solicitações higrotérmicas, que seja durável, eficiente do ponto de vista energético e que contribua para o conforto. Assim, quando se efetua uma análise, escolhendo certo material, os dados a introduzir estarão relacionados com o seu comportamento higrotérmico, tais como porosidade, resistência à difusão de vapor de água, propensão para o desenvolvimento de fungos, etc.; condições que afetem a sua durabilidade, como condições a que o material estará exposto, por exemplo, se for um material da fachada, condições climáticas; a condutibilidade térmica do material estará relacionada com a sua eficiência energética, inserido numa determinada envolvente e em determinado clima; além disto se o material estiver exposto, o comportamento do utilizador pode contribuir para o seu desempenho, assim como o desempenho do material contribui para o conforto do utilizador. Isto é uma breve descrição dos fatores a ter em conta se o propósito for realizar uma simulação numérica de desempenho ao nível do material.

Note-se que a relação entre os intervenientes numa análise nem sempre é fácil de discernir. A consideração de todos os fenómenos físicos envolvidos no desempenho energético ou higrotérmico de um edifício tornam, por si só, a análise complexa. Se a isso se acrescentar a relação entre os intervenientes (por exemplo, utilizador-edifício-utilizador) e a natureza estocástica dos dados, a complexidade da análise aumenta.

Posto isto, pensa-se que será útil organizar os dados por famílias, de forma a incluir todos os dados importantes e necessários na análise.

As famílias de dados são Custos, Condições Fronteira, Propriedades do Edifício, Comportamento

do Utilizador, Mão-de-obra e Sistemas Mecânicos. Estes são dados que já são incluídos na

simulação higrotérmica/energética de edifícios, mas de uma forma determinística. O comportamento do utilizador e a mão-de-obra, normalmente, ainda não são contabilizados na prática corrente, julgando-se ser importante o estudo da sua influência na análise. Na Fig. 7 estão representados alguns fatores com importância para o comportamento higrotérmico de um edifício.

De seguida faz-se uma listagem dos dados de entrada por famílias, descrevendo-as de forma sucinta:

Custos. Engloba custos relativos à solução de reabilitação em análise, que são investimento

inicial e custos com manutenção e preço da energia.

Condições Fronteira. São condições não intrínsecas ao edifício, mas que influenciam o seu

desempenho. Estas são o clima exterior e as condições interiores:

o Condições exteriores: temperatura, velocidade e direção do vento, radiação solar, humidade relativa, precipitação, etc.;

Propriedades do edifício.

o Propriedades da envolvente. Parâmetros que caracterizam a envolvente do edifício, como: orientação, altura, inercia térmica, estanquidade ao ar, características dos elementos, área das janelas, etc..

o Propriedades do componente. Parâmetros que caraterizam o componente como a espessura e o tipo de material de cada camada.

o Propriedades dos materiais. Todas as propriedades que interferem no comportamento higrotérmico de cada material. Massa volúmica, saturação capilar, resistência térmica, absorção de água, emissividade, densidade aparente, porosidade, calor específico, condutibilidade térmica, permeabilidade ao vapor de água, curva higroscópica, entalpia.

Comportamento do utilizador. As ações do utilizador também são passíveis de afetar o

comportamento do edifício, uma vez que o edifício existe para o utilizador. Esta família corresponde ao tema de desenvolvimento dos capítulos seguintes.

Mão-de-obra. Dados relacionados com a qualificação da mão-de-obra, a tecnologia utilizada

e as tolerâncias aceites na construção.

Sistemas Mecânicos. Sistemas de arrefecimento, aquecimento ou ventilação.

Fig. 7 – Fatores que influenciam o desempenho do edifício, adaptado de Johansson et al. (2010).

Mais uma vez, cada família não interfere separadamente no comportamento do edifício. Existe um relacionamento estreito entre todas as famílias e delas com o edifício. Todas estas interações são de difícil caracterização. Por isso, pensa-se que a base de dados deve ser pensada de forma a entrar com cada fator em separado, tendo em vista o desempenho final do objeto de análise. Por exemplo, o clima exterior influenciará o comportamento do utilizador no que respeita à abertura de janelas (tendo em vista a ventilação de um compartimento, por exemplo), isto interfere com a temperatura interior e com

os fluxos de ar; estas variações nas condições interiores podem voltar a interferir com o comportamento do utilizador e assim sucessivamente.

Pode acontecer que ao efetuar uma análise não estejam presentes todos os parâmetros, nem todas as famílias mencionadas.

Deste modo, para efetuar uma análise, cada dado de entrada é introduzido separadamente, tendo em conta a sua natureza estocástica, e o método de análise probabilístico compõe todos os parâmetros num cenário que se irá traduzir no produto final de desempenho do objeto de estudo. Este resultado é comparado com o nível desejável de desempenho, verificando a fiabilidade da solução em estudo.