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r egime de trabalhO e víncUlO cOntratUal

ÍNDICE DE FIGURAS

5.3. r egime de trabalhO e víncUlO cOntratUal

dOsimigrantesempregadOs

Uma das principais análises que urge ser feita no que toca à in- serção laboral dos imigrantes, é a da qualidade do emprego. Os níveis de emprego e desemprego de autóctones e imigrantes, permitem-nos avaliar, em certa medida, o grau de vulnerabili- dade dos estrangeiros nos mercados de trabalho dos países de receção. Porém, a esta reflexão devem ser somadas leituras mais finas que permitam verificar algumas potenciais disparidades entre os grupos. Tomamos como dimensões para a interpretação da qualidade do emprego dos imigrantes, o seu regime de traba- lho (permanente, ocasional e sazonal) e os vínculos contratuais (contrato sem termo, com termo, recibos verdes, sem contrato), explorando e compreendendo as diferenciações tendo em conta variáveis como o sexo, a longevidade do projeto migratório, o ní- vel de escolaridade, a região de residência e a nacionalidade. Para além destes aspetos, e tendo por base algumas das dimensões e respetivos indicadores utilizados pela Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa nos seus relatórios piloto dedica- dos a analisar as situações da qualidade do emprego, poder-se-á avançar, no quadro de outras investigações, para reflexões que contemplem aspetos como benefícios no emprego, desenvol- vimento de competências e formação ou relações de trabalho e motivações. Note-se que neste domínio dos aspetos complemen- tares à análise da situação dos imigrantes no mercado de traba- lho, é importante realçar estudos recentes como a investigação de João Peixoto, Carolina Marçal e Nancy Tolentino (2011) sobre a relação dos imigrantes com a segurança social, ou a investigação de Oliveira e Pires (2010) relativa aos riscos de sinistralidade labo- ral dos imigrantes em Portugal.

Retomando a análise dos resultados do questionário no que toca ao regime de trabalho, a maioria dos imigrantes está ativo com profissão de forma permanente/regular (89,8%). No entanto, uma parte importante daqueles encontra-se em regime de trabalho ocasional (8,3%) e, com menos relevo, em regime sazonal (1,9%). Note-se que as mulheres estão mais representadas na categoria

5.3. R

EGIME

DE

TRAB

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TU

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DOS

IMIGRANTES

EMPREG

ADOS

daqueles que têm trabalho permanente enquanto os homens estão mais em situações de trabalho ocasional (8,7% face a 7,7%), o que se poderá explicar pela precária inserção laboral dos imigrantes do sexo masculino na construção civil, muitos recrutados numa base diária em pontos estratégicos das cidades. Não existem diferenças assinaláveis entre os sexos no número de imigrantes em regime sazonal.

Sobre outro ponto de vista, os dados obtidos sugerem que os estrangeiros chegados mais recentemente, designadamente depois de 2004, mas sobretudo depois de 2008, são aqueles que estão numa situação mais precária, a avaliar pela sua maior presença no regime de trabalho ocasional e sazonal (Tabela 5.9). É possível afirmar que existe uma relação entre o regime de trabalho e a longevidade do projeto migratório, uma vez que os dados indicam que os mais antigos estão mais protegidos, ao passo que os mais recentes são mais vul- neráveis à instabilidade no emprego. Ainda assim, alguns dos imigrantes que chegaram a Portugal há mais tempo, por exemplo, os que migraram antes de 1974, também apresentam situações que requerem uma atenção especial das políticas públicas de fomento ao empre- go e condições de trabalho.

Tabela 5.9 – Regime de trabalho dos respondentes e seus familiares co-residentes , por ano de chegada a Portugal (%)

Ano de chegada a Portugal Regime de trabalho

Permanente Ocasional Sazonal

Antes de 1974 91,9 7,2 0,9 1974-1979 95,1 4,0 0,8 1980-1991 91,6 7,9 0,5 1992-1997 92,7 6,4 0,9 1998-2003 89,3 8,3 2,5 2004-2008 88,6 8,9 2,4 Depois de 2008 84,6 12,9 2,5

Fonte: CLAII/ACIDI (2009/2010) – Questionário de caraterização dos estrangeiros não comunitários em Portugal. N= 6.956 (não inclui não-respostas).

Colocando a tónica da análise sobre as variações intercomunitárias, no que toca ao regime de trabalho, constata-se que, segundo as suas próprias declarações, posicionados nos ex- tremos do eixo permanente, ocasional e sazonal temos a comunidade chinesa (tem 98,9% dos seus trabalhadores com trabalho permanente), enquanto a marroquina é aquela que

apresenta valores mais vulneráveis nesta matéria, tendo 25% dos trabalhadores em regime ocasional e 10,7% em regime sazonal (Figura 5.2). Os indianos, senegaleses, moçambicanos e russos, parecem requerer especial atenção das políticas públicas no sentido da diminui- ção da sua vulnerabilidade e instabilidade no emprego. Por contraste, as comunidades da Geórgia54, Venezuela e Brasil apresentam uma boa performance neste aspeto, declarando a

grande maioria dos trabalhadores inquiridos ter um regime de trabalho permanente, estan- do, portanto, sobre-representados nesta categoria.

Muito embora a maioria dos estrangeiros e nacionais tenha emprego a tempo inteiro, refira- -se que os estrangeiros têm o dobro da probabilidade de ter empregos a tempo parcial do que os nacionais (10% e 5,7% respetivamente)55. Uma vez que não existem diferenças nos

homens entre os nacionais e os estrangeiros, a maior propensão de os estrangeiros terem empregos a tempo parcial, deve-se à elevada concentração de mulheres estrangeiras neste regime (19,1%) (Tabela 5.10).

Figura 5.2 – Regime de trabalho dos respondentes e seus familiares co-residentes, por nacionalidade (%)

Fonte: CLAII/ACIDI (2009/2010) – Questionário de caraterização dos estrangeiros não comunitários em Portugal.

54

Apenas na análise deste aspeto específico, devido a um interesse particular no caso de marroquinos, senegaleses e cidadãos da Geórgia, se detalhou a análise para estes grupos de nacionalidades.

55

MTSS/DGEEP, Quadros de Pessoal, 2009. 0% 20% 40% 60% 80% 100% ChinaGeórgi a V ene zuela Brasi l Cabo V erde Ucrân ia Ango la S.T.Pr íncipe Paquis tão Guiné -Bissa u Moldá via Rússi a Moçam

biqueSenega l

Índia Marro

cos

Tabela 5.10 – Emprego a tempo inteiro e parcial dos respondentes e seus familiares co- residentes, por nacionalidade e sexo, em 2009 (%)

Tempo inteiro Tempo parcial

Nacionalidade Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total

Estrangeiros 97 80,9 90 3 19,1 10

Nacionais 96,9 91,1 94,3 3,1 8,9 5,7

Fonte: MTSS/DGEEP, Quadros de Pessoal, 2009.

De facto, para cada homem imigrante com trabalho a tempo parcial, existem cinco mulhe- res estrangeiras na mesma situação. Estas também têm duas vezes mais propensão para terem um emprego parcial do que as mulheres portuguesas. Note-se, por último, que as mulheres nacionais estão também mais representadas no trabalho a tempo parcial do que os homens imigrantes, pelo que se pode concluir que a distribuição na equação entre tra- balho a tempo inteiro e parcial mais do que ser influenciada pela nacionalidade é marcada pelo sexo do trabalhador.

Centrando-nos somente nos trabalhadores por conta de outrem no que toca à sua situação em termos de vínculo contratual, é possível constatar que a maioria dos imigrantes tem um contrato com termo (47,9%) (Figura 5.3). Uma parte bastante considerável dos inquiridos, tem um contrato sem termo (40,8%), indiciando uma elevada integração e estabilidade la- boral. Contudo, aproximadamente 9% dos imigrantes está a trabalhar de forma informal, sem contrato de trabalho56. Por último, a expressão de trabalhadores a prestar serviço a

recibos verdes é diminuta (1,7%)57.

56

Note-se, por seu turno, que o número de não respostas à pergunta sobre o tipo de vínculo contratual é elevado (N=314), o que deixa supor um número bem mais elevado de trabalhadores não registados.

57

Na comparação destes dados com os portugueses, com base no Inquérito ao Emprego do INE, de 2010, é notória a enorme fragilidade dos imigrantes no vínculo contratual. Enquanto no grupo dos imigrantes apenas 36,7% tem um contrato sem termo, a proporção sobe para 77% entre os trabalhadores em Portugal. Da mesma forma, apenas 4% dos trabalhadores a nível nacional tem outra situação contratual que não a de contrato com ou sem termo, enquanto no grupo dos imigrantes há 18% de trabalhadores nesta situação.

Figura 5.3 – Vínculo contratual dos respondentes e seus familiares co-residentes empregados, por sexo (%)

Fonte: CLAII/ACIDI (2009/2010) – Questionário de caraterização dos estrangeiros não comunitários em Portugal.

Ao desagregarmos os dados por sexo no grupo dos imigrantes, a interpretação da realidade parece complexificar-se. Se, por um lado, as mulheres estão em maior número numa si- tuação de contrato sem termo (41,7% comparando com 40% dos homens), sugerindo uma ligeira maior proteção e segurança laboral, por outro, são também estas que mais trabalham sem contrato (9,8% face a 7,7% dos homens nesta situação). Assumimos como sinónimo de proteção laboral a existência de contrato laboral (com ou sem termo), pelo que verificamos que os homens estão numa situação ligeiramente mais positiva no que toca ao vínculo con- tratual, em que 89,5% têm contrato celebrado, enquanto o número desce para os 87,7% no caso das mulheres.

Exploramos a influência do nível de escolaridade sobre o tipo de vínculo contratual dos imigrantes, partindo da hipótese de que aqueles com níveis de instrução mais elevados estão numa posição mais protegida no mercado de trabalho (estando pouco permeáveis a trabalhar sem contratos formais). Os dados sugerem que os trabalhadores sem contrato laboral são precisamente os que apresentam menor escolaridade. De resto, são muito pou- cos (4,9%) os trabalhadores imigrantes altamente qualificados que trabalham sem contrato laboral (Tabela 5.11). O mesmo ocorre no caso das outras situações, que possivelmente in- dicam menos proteção e segurança laboral. Por outro lado, há mais indivíduos com elevada escolaridade com contratos de trabalho sem termo e na situação de recibos verdes, designa- damente por uma parte destes trabalhadores serem profissionais liberais.

1,5 9,8 0,9 1,8 7,7 1,0 40,8 1,7 8,7 1,0 46,0 41,7 40,0 49,5 47,9

Contrato sem termo Contrato com termo Recibos verdes Trabalho sem contrato

Outra situação Mulheres Homens Total

Tabela 5.11 – Vínculo contratual dos respondentes e seus familiares co-residentes empregados, por nível de escolaridade (%)

Nível de escolaridade

Vínculo contratual Contrato sem

termo com termoContrato Recibos verdes Trabalho sem contrato situaçãoOutra Total

Baixa escolaridade 41,1 45 1,5 11,5 0,9 100

Média escolaridade 38,2 52,1 1,7 6,9 1,1 100

Elevada escolaridade 46,3 46 2,2 4,9 0,7 100

Fonte: CLAII/ACIDI (2009/2010) – Questionário de caraterização dos estrangeiros não comunitários em Portugal. N= 6.252 (não inclui não-respostas).

Paralelamente, os dados sugerem existir uma relação entre o tipo de vínculo contratual e a longevidade da estadia em Portugal, em que à medida que aumenta o número de anos de residência, há uma maior tendência para se estar numa situação contratual mais protegida, isto é, com contrato sem termo. Como a Tabela 5.12 indica, os imigrantes que chegaram antes de 2003, estão sobre-representados na categoria dos contratos sem termo. Não obstante a longevidade do seu projeto migratório, há também sobre-representação dos imigrantes que chegaram entre 1974 e 1991 na situação de trabalho sem contrato. Ainda assim, os imigrantes recém-chegados (com entrada em Portugal depois de 2004, mas sobretudo, depois de 2008) são aqueles que apresentam uma maior proporção de trabalhadores sem contrato formal.

Tabela 5.12 – Vínculo contratual dos respondentes e seus familiares co-residentes empregados, por ano de chegada a Portugal (%)

Ano de chegada a Portugal

Vínculo contratual Contrato sem

termo Contrato com termo Recibos verdes Trabalho sem contrato situaçãoOutra Total

Antes de 1974 66,7 25,3 1,1 6,9 0,0 100,0 1974-1979 66,5 23,3 0,5 9,8 0,0 100,0 1980-1991 51,8 36,4 0,9 9,9 1,1 100,0 1992-1997 47,7 38,9 2,3 8,6 2,5 100,0 1998-2003 42,8 47,6 1,8 6,5 1,3 100,0 2004-2008 28,3 59,1 1,8 10,3 0,5 100,0 Depois de 2008 25,8 56,8 1,9 15,5 0,0 100,0

Fonte: CLAII/ACIDI (2009/2010) – Questionário de caraterização dos estrangeiros não comunitários em Portugal. N= 5.707 (não inclui não-respostas).

Quando olhamos para as diferenças nos vínculos contratuais de acordo com a região de residência dos imigrantes trabalhadores por conta de outrem (Tabela 5.13), verificamos que no Norte a maioria dos inquiridos (71,1%) está a trabalhar com um contrato sem termo, superando largamente a média nacional (40,8%), sendo de resto a região onde este valor é mais elevado. O Alentejo, apesar de se pautar também por uma sobre-representação de tra- balhadores imigrantes com contrato sem termo, apresenta, por outro lado, uma proporção de trabalhadores a recibos verdes acima da média. Os imigrantes que residem no Centro, destacam-se por terem um peso substancial de indivíduos noutras situações. No Algarve e Área Metropolitana de Lisboa Norte, os imigrantes têm, sobretudo, contratos com termo, não se diferenciando muito dos padrões nacionais. Diferentemente, a Área Metropolitana de Lisboa Sul carateriza-se por uma forte sobre-representação de trabalhadores sem con- trato laboral e, também, de alguns trabalhadores a recibos verdes. Ainda assim, é nos Açores que os imigrantes estão numa situação laboral mais vulnerável, em que 7,2% está a recibos verdes e 15,7% está sem contrato de trabalho, ou seja, encaixando-se principalmente em se- tores da economia informal onde, mais facilmente, se apresentam situações de precarieda- de, exploração e abuso dos direitos laborais e humanos. Por seu turno, a Madeira é a região do país que se destaca com uma maior proporção de imigrantes possuindo contrato com termo. Adicionalmente, é nesta região que se regista menor número de casos de trabalhado- res sem contrato ou a recibos verdes (a seguir à AML Norte), pelo que podemos concluir ser esta a área do país em que os imigrantes têm situações de trabalho mais protegidas.

Tabela 5.13 – Vínculo contratual dos respondentes e seus familiares co-residentes empregados, por região de residência (%)

Vínculo contratual Região de residência

Norte Centro AMLN AMLS Alentejo Algarve Madeira Açores Contrato sem termo 71,1 37,8 42,3 39,3 46,4 30,6 31,2 25,3 Contrato com termo 22,8 47,0 50,1 43,7 42,0 63,5 65,7 51,8

Recibos verdes 0,8 2,5 0,5 1,9 3,3 1,3 0,7 7,2

Trabalho sem contrato 5,0 6,6 7,1 14,1 8,3 4,6 2,1 15,7

Outra situação 0,3 6,0 0,1 1,1 0,0 0,0 0,2 0,0

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Fonte: CLAII/ACIDI (2009/2010) – Questionário de caraterização dos estrangeiros não comunitários em Portugal.

Sob outra perspetiva, e procurando, agora, descortinar algumas diferenças nos vínculos contratuais dos trabalhadores por conta de outrem nas diferentes comunidades de imi- grantes, é possível constatar uma grande heterogeneidade de situações e enormes variações intercomunitárias (Tabela 5.14). O caso mais ambivalente/dicotómico é o da comunidade chinesa (à semelhança do que ocorre com a moçambicana), em que mais de metade dos trabalhadores declara ter um contrato sem termo (54,8%), por um lado, mas, por outro, tem mais de um quarto dos trabalhadores sem contrato laboral. Os russos e os brasileiros, para além dos chineses e moçambicanos, são aqueles em que o número de trabalhadores sem contrato laboral é mais elevado (14,2% e 11,4% respetivamente). Note-se que em situação de recibos verdes, temos sobretudo os santomenses, os guineenses, os russos e os brasilei- ros. Tomando o registo de trabalhadores com contratos (sem e com termo) como sinónimo de proteção laboral, as comunidades da Moldávia e Ucrânia são as que se apresentam em melhor situação (com 93,3% e 92% de indivíduos nesta situação, respetivamente), seguidas pelos indianos. Por contraste, os chineses são os que estão, à luz do mesmo critério, menos protegidos, com um número muito menor de indivíduos com contrato laboral, comparati- vamente com os restantes grupos.

Tabela 5.14 – Vínculo contratual dos respondentes e seus familiares co-residentes empregados, por nacionalidade (%)

País de nacionalidade

Vínculo contratual Contrato sem

termo Contrato com termo Recibos verdes Trabalho sem contrato situaçãoOutra Total

China 54,8 14,3 0,0 31,0 0,0 100,0 Índia 34,0 58,0 0,0 8,0 0,0 100,0 Moldávia 28,9 64,4 0,0 6,2 0,5 100,0 Rússia 37,3 44,0 3,0 14,2 1,5 100,0 Ucrânia 41,1 51,7 1,3 5,7 0,1 100,0 Cabo Verde 35,8 51,4 1,2 10,2 1,4 100,0 Angola 27,9 57,0 0,9 11,1 3,1 100,0 Guiné-Bissau 40,1 47,2 3,2 8,2 1,3 100,0 Moçambique 55,6 30,6 0,0 13,9 0,0 100,0 S. Tomé e Príncipe 28,1 56,8 3,6 9,4 2,2 100,0 Brasil 33,4 51,9 2,7 11,4 0,7 100,0

Fonte: CLAII/ACIDI (2009/2010) – Questionário de caraterização dos estrangeiros não comunitários em Portugal. N= 4.245 (não inclui não-respostas).