• Nenhum resultado encontrado

3 A INCLUSÃO E ESCOLARIZAÇÃO DOS ESTUDANTES SURDOS E

3.3 Análise dos dados e das entrevistas

3.3.2 Eixo 2: A abordagem dos professores com os alunos surdos e deficientes auditivos

começou a ser muito discutida nos últimos anos por pesquisadores da área, profissionais e pela própria comunidade surda, que busca a efetivação dos seus direitos conquistados. Felipe (2002) salienta que as Línguas de sinais são as formas naturais de comunicação dos surdos. Elas não são simplesmente mímicas ou gestos soltos, utilizados pelo surdo para facilitar a comunicação. São línguas com estruturas gramaticais próprias, pois possuem níveis linguísticos, fonológico, morfológico, sintático e semântico.

Com base nas entrevistas realizadas com os professores, pode-se perceber que ainda há uma concepção oralista, observada na fala de uma das professoras, pois mesmo a aluna sendo usuária da Libras a professora afirmou que a metodologia que utiliza para trabalhar com alunos surdos e D.A é:

Falar devagar, estar sempre voltada para a aluna e procurar estar na mesma altura que ela (PROFESSORA D3)

Quadros (1997) discorre que a Libras é uma língua que deve ser respeitada e não desconsiderada no contexto escolar. Muitos educadores ainda tem uma visão oralista da alfabetização, na qual a criança surda tem que aprender por meio da aquisição da Língua Portuguesa e desconsiderar a Libras, que é a língua natural do surdo. Esta visão está totalmente equivocada, pois a criança surda inicialmente deve ser alfabetizado em sua L1, que é a Libras, para depois ser alfabetizado em Língua Portuguesa, que é sua L2.

Skliar (2015) aponta que a falta de compreensão e de produção dos significados da língua oral pelos estudantes surdos e deficientes auditivos acaba por gerar um analfabetismo massivo, poucos surdos conseguem ingressar no Ensino Superior e muitos não conseguem se qualificar para ingressar no mercado de trabalho. Durante as observações feita na sala da aluna Ana, em vários momentos, principalmente quando a intérprete não estava acompanhando, a estudante olhava ao seu redor mas pouco compreendia o que a professora e seus colegas estavam falando, distraía-se com objetos e tentava chamar a atenção de outros colegas. A professora relatou que ela ainda não estava alfabetizada, mas que seu rendimento escolar estava melhorando.

Lima (2009) salienta que ainda há um grande distanciamento nas práticas pedagógicas para escolarizar alunos surdos e ouvintes. Ainda há professores que não adéquam o currículo para ensinar Língua Portuguesa e outras disciplinas aos alunos surdos e D.A. Em uma escola inclusiva, no entanto, é fundamental que todos os profissionais que fazem parte da escolarização desses alunos saibam claramente que os alunos surdos não aprendem da mesma forma que os estudantes ouvintes. A inclusão não consiste em somente colocar o aluno PAEE nas classes comuns, mas fornecer ferramentas para que esses alunos sejam escolarizados de forma que suas especificidades sejam atendidas.

Conforme a professora de Matemática do aluno Lucas, no que se refere ao seu desempenho na disciplina, considera-se que ele apresenta um desenvolvimento satisfatório.

Na área de exatas ele não apresenta muita dificuldade de aprendizagem, consegue acompanhar normalmente ao ritmo da sala, com a ajuda do intérprete (PROFESSORA D3).

A professora D1, de Língua Portuguesa, afirma que a principal dificuldade de Lucas é a interpretação e acredita que essa dificuldade de ler e interpretar advém dos anos anteriores. Porém, a dificuldade em ler e interpretar dos estudantes surdos e D.A é explicada primeiramente pela Língua Portuguesa ser uma segunda língua para esses alunos, apresentando uma estrutura gramatical diferente da Libras, uma vez que em Libras os verbos são usados no infinitivo e não são utilizados os conectores textuais.

Segundo Lima (2010) os professores de crianças surdas precisam conhecer e buscar informações para transformar certas concepções enraizadas na escolarização dos sujeitos surdos, assumindo, assim, uma postura mais reflexiva e reconhecendo a importância das experiências visuais na escolarização e no letramento desses estudantes. A escola inclusiva precisa que os professores estejam conscientes das diferenças linguísticas e dos direitos de todos os alunos PAEE. Os professores precisam realizar um trabalho pautado na valorização das diferenças e na inserção desse aluno no contexto social.

Conforme as observações feitas na sala da aluna Ana, ficou evidente que a professora regente não utiliza uma metodologia ou desenvolve atividades que contemplem sua aluna com D.A, como acontece com os outros alunos da classe. Em suas aulas, a professora utiliza muitos debates orais e questionários escritos, desconsiderando que o D.A aprende por meio dos estímulos visuais. Em alguns momentos em que a professora realizou a leitura dos textos, percebemos que a intérprete não fez a tradução para a Libras, pois, segundo ela, Ana deve aprender a fazer a leitura labial, “senão poderá ficar preguiçosa no futuro” (INTÉRPRETE DE ANA27).

Felipe (1997) discorre que o ensino de Língua Portuguesa para alunos surdos e D.A, nas escolas comuns não está levando em consideração a questão da surdez. Essas crianças fazem o mesmo tipo de atividades das crianças ouvintes e, embora muitas crianças surdas ainda estejam em fase de aquisição da Língua Portuguesa, os professores exigem o conhecimento prévio desta língua.

Outro aspecto amplamente relatado nas entrevistas foi o despreparo de alguns professores no que se refere à inclusão. A Diretora B3 citou que alguns professores, mesmo

27 A intérprete da aluna Ana não participou das entrevistas, fez alguns relatos durante as observações. Quando

foram realizadas as entrevistas, a intérprete não estava mais trabalhando na escola, pois estava de licença médica. A fala citada consta, portanto, das anotações de nosso diário de campo.

sabendo das práticas inclusivas, às vezes não conseguem preparar aulas que contemplem as necessidades educacionais de todos os alunos. A Coordenadora A3 relatou que apesar dos cursos de formação continuada voltados à diversidade, um número reduzido de professores aplicam práticas educativas inclusivas, o que dificulta a implantação da inclusão nas escolas.

Lima et al (2004) define que uma escola inclusiva deve adaptar a proposta pedagógica da escola e contar com professores capacitados e especializados para atender os alunos com surdez e D.A. Quanto à formação de professores, deve ser feita em ambientes acadêmicos e instituições especializadas, a fim de que sejam oferecidas soluções fundamentadas, teoricamente e socialmente contextualizadas, métodos e técnicas que contemplem códigos e linguagens apropriadas a situações específicas de aprendizagem: no caso da surdez, a Libras. Quando questionada sobre as disciplinas que estudou na graduação e sobre a realização de cursos de formação continuada sobre deficiência, as respostas da professora regente de Ana demonstraram que a mesma não teve acesso a uma formação que contemplasse as questões relacionadas à educação inclusiva.