Elaboração de glossário temático e do Quadro de sentidos ideológicos

De posse dos significantes e respectivos significados, procedemos para a elaboração do Glossário temático, que serve de suporte para a definição do Quadro de sentidos ideológicos. Uma primeira observação por nós feita demonstrou a existência de uma divisão temática inicial, já nas falas dos deputados, entre três grandes áreas: Economia, Estado e Social. Apropriamo-nos desta divisão, estabelecemos alguns limites que possibilitassem a separação entre elas na organização dos significantes ideológicos. Ficou estipulado, assim, que seriam alocados na primeira área (Economia) os significantes referentes a assuntos macro e microeconômicos. Na segunda (Estado), os temas relacionados com a administração pública e com a política internacional. E, na área Social, por fim, assuntos diversos não abrangidos pelas duas primeiras áreas, mais específicas, cujo teor remetesse à atuação do Estado em prol da proteção (ou não) da população em variados segmentos, tais como educação, previdência, relações de trabalho, relações agrárias, etc.

É preciso salientar que ainda que o exercício tenha sido um esforço para demarcar fronteiras entre as três áreas, elas seguidamente são atravessadas por temáticas que não podem ser consideradas em uma delas exclusivamente. Um exemplo disto é o significante desemprego, cuja significação traz sentidos atinentes tanto à área social, como a necessidade de proteção do seguro-desemprego para garantir o bem-estar da população, quanto à área econômica, na qual o debate sobre o incentivo fiscal à empresas como forma de combate ao desemprego surge de modo proeminente.

Outro ponto a ser ressaltado é o fato de este Glossário e também o Quadro não serem ferramentas de análise estanques, o que foi fundamental para realização da investigação. Como partimos de um universo de significantes muito vasto, a análise de uma determinada temática poderia ser prejudicada pela ausência de abordagem mais aprofundada sobre determinada temática. Esta dificuldade despontou em nossa primeira tentativa de classificação das políticas. Por possuírem uma linguagem muito mais operacional e direcionada, as proposições que buscamos

classificar nem sempre estavam suficientemente contempladas pelo Glossário. A saída que encontramos para tanto foi buscar, nos Projetos de Lei e Medidas Provisórias que compõem objeto de estudo de três componentes do grupo (que escrevem ou que já escreveram suas dissertações de mestrado, caso deste trabalho), os principais assuntos presentes nos documentos. Em seguida, subdividimos os assuntos de maior recorrência, incorporando-os como subcategorias nas três grandes áreas com as quais trabalhamos – Economia, Estado e Social – conforme consta abaixo:

Quadro 3 - Significantes incorporados a partir dos PLs e MPs

ÁREA SIGNIFICANTES INCORPORADOS

Economia Desenvolvimento Econômico Desenvolvimento Regional Desenvolvimento Sustentável Incentivo Fiscal Tributação (Impostos) Estado Política Externa Privatizações

Reformas (trabalhista e previdenciária)

Social

Segurança Cidadania

Direitos das Minorias (indígenas) Direitos das Minorias (LGBT) Direitos das Minorias (mulheres) Direitos das Minorias (relações raciais)

Dívida Social (Inclusão social) Educação

Infância e Juventude

Financiamento de Campanhas Eleitorais Meio Ambiente

Relações Agrárias Relações de Trabalho

Fonte: Quadro elaborado pelo Grupo de Pesquisa ―Ideologia e análise de discurso (IdAD).

Identificados os significantes específicos sob os quais seria necessário aprofundarmos nossas buscas, repetimos, novamente, as buscas nos pronunciamentos, agora utilizando-os como palavras detonadoras. O processo anteriormente descrito foi também repetido e os sentidos ideológicos encontrados incorporados ao Glossário. Ao fim, como nosso Glossário resultou em uma ferramenta pouco objetiva para classificação, dado o grande volume de informações nele constante, avançamos na elaboração do Quadro de sentidos, que consiste em uma versão resumida do Glossário, no qual agrupamos os sentidos em quatro grupos ideológicos distintos: Esquerda Conservadora, Esquerda Liberal, Direita Liberal e Direita Conservadora. Esta gradação deve-se, mais uma vez, a interpretação de que os posicionamentos ideológicos não podem ser tomados de forma homogênea, o que se aplica também às variações internas nos posicionamentos ideológicos.

Apesar disso, ao elaborarmos o Quadro de sentidos ideológicos, deparamo-nos com dilemas quanto aos limites desta gradação, percebendo que muitas vezes a distinção entre os posicionamentos de um mesmo lado da escala ideológica são mais sutis do que se poderia supor inicialmente. Ademais, muitos dos sentidos ideológicos para dados assuntos simplesmente não aparecem nas falas dos parlamentares, sobretudo no que toca os sentidos da direita. O preenchimento desta lacuna do Quadro está em vias de solução no âmbito do IdAD. Ainda assim, para os

contornos do presente trabalho, a gradação entre as duas esquerdas e as duas direitas não será considerada. Utilizaremos os significantes de ambas as esquerdas e de ambas as direitas como uma cada.

Um último ponto a esclarecermos antes de passarmos à segunda fase de nossa análise é a ausência do centro em nossa proposta. A não incorporação deste “lugar ideológico” em nosso quadro deve-se muito mais a uma necessidade de aprofundamento das nossas análises do que à desconsideração do papel que o mesmo exerce no campo político. Em nosso entendimento, o centro poderia ser considerado, no contexto brasileiro, como o status quo. Assim sendo, o estabelecimento de sentidos ideológicos que o definam torna-se bastante delicado e requer maior clareza de nossa parte, o que, todavia, não inviabiliza nossa pesquisa.

Feitas estas ponderações, entramos, finalmente, na segunda fase da investigação, correspondente ao segundo nível ideológico, que é a da a análise dos projetos de lei apresentados por deputados do PSDB durante a 52ª Legislatura.

3.5 Procedimentos de coleta e análise dos Projetos de Lei do PSDB na 52ª