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1. INTRODUÇÃO

2.3. ELABORAÇÃO DE INVENTÁRIOS DE CICLO DE VIDA

A fase de inventário do ciclo de vida - ICV contempla tanto a coleta de dados quanto a modelagem do sistema a ser analisado, conforme instituído no escopo e objetivo do trabalho. Os resultados obtidos do ICV permitem verificar as definições estabelecidas no escopo inicial, as quais muitas vezes precisam de adequações, e estes resultados são utilizados na fase subsequente de AICV (IBICT, 2014).

Sendo assim, o ICV é o estágio da ACV em que os dados são coletados e compilados, com a finalidade de quantificar as entradas e saídas relevantes do sistema como um todo. Estas entradas e saídas correspondem ao consumo de matéria-prima, água e energia, aos produtos e a emissão de resíduos sólidos, líquidos e gasosos. Os principais objetivos do inventário são: estabelecer uma ampla base de informações das entradas e saídas do sistema para futuras análises; identificar pontos dentro do ciclo de vida como um todo, ou dentro de um dado processo, onde as melhores oportunidades de redução na demanda de recursos e na geração de emissões podem ser alcançadas; comparar as entradas e saídas do sistema com produtos alternativos; ajudar a guiar o desenvolvimento de novos produtos através da redução de demanda de recursos e geração de emissões;

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ajudar a identificar necessidades para análise de impacto no ciclo de vida; e promover informações necessárias para conduzir a análise de melhorias (IBICT, 2009).

De acordo com a norma NBR ISO 14044 (ABNT, 2009b) as fases do ICV compreendem: a preparação para coleta de dados; coleta de dados; validação dos dados; correlação dos dados aos processos elementares; correlação dos dados à unidade funcional ou declarada; agregação de dados e refinamento da fronteira do sistema. Já no manual do ILCD (IBICT, 2014), a elaboração do ICV é subdividida de forma mais detalhada, devendo abordar as seguintes etapas: identificação dos processos exigidos para o sistema; planejamento da coleta dos dados; coleta de dados de primeiro plano5 e dados de inventário

de processos unitários para esses processos; desenvolvimento de dados genéricos; obtenção dados de segundo plano6 complementares como conjuntos de dados sobre

processos unitários ou resultados de ICV junto a fornecedores de dados; obtenção a média dos dados de ICV em todos os processos ou produtos; modelagem do sistema conectando e escalonando os conjuntos de dados corretamente (correlação à unidade funcional ou declarada); e cálculo dos resultados de ICV.

O planejamento da coleta de dados também é um processo iterativo, assim como a ACV, e deve ser realizado de forma que esclareça considerações fundamentalmente diferentes como: o sistema de primeiro plano (dados específicos, médios ou genéricos), dados de segundo plano, necessidade de dados multianuais médios ou de dados genéricos; as fontes de dados primários e secundários e esforços para manter o enfoque adequado (IBICT, 2014).

O manual ILCD (IBICT, 2014) também recomenda evitar o uso de processos unitários tipo “caixa preta” pois estes processos podem gerar dificuldades para a revisão. Para todos os processos identificados devem ser coletados dados de inventário. Um conjunto efetivo de dados de inventário coletados in-loco normalmente só é necessário para o sistema de primeiro plano, desde que todos os dados do sistema de segundo plano possam ser adquiridos em bancos de dados de segundo plano disponíveis – no entanto, isso pode variar conforme a significância ambiental dos fluxos do sistema de produto.

5 Sistema de primeiro plano (foreground system) é definido, de acordo com o IBICT (2014), como

“como aquele que abarca os processos do sistema que são específicos a ele. Isso significa que os dados sobre a tecnologia específica, o fornecedor, etc., são os mais adequados. ”

6 Sistema de segundo plano (background system), de acordo com o IBICT (2014) “consiste nos

processos em que, devido ao efeito de nivelamento dos fornecedores pela média, pode-se presumir que um mercado homogêneo tomado pela média (ou dados genéricos equivalentes) represente de maneira adequada o respectivo processo”.

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No manual ILCD, há vários tópicos com a descrição dos procedimentos que devem ser realizados e evitados. Dentre os tópicos abordados pelo manual, destacam-se alguns procedimentos, como:

 Após as coletas das informações, é importante utilizar outras fontes de dados para verificá-las, como: receitas e formulações; listas de peças; patentes; relatórios de testes e especificações de processos e produtos; limites legais; dados de processos semelhantes; entre outros;

 Recomenda-se que o inventário seja sempre expresso em relação a “1 unidade” da função do processo/sistema (por exemplo, 1 kg de “fio de cobre XY padrão; 0,1 mm”), usando as propriedades de fluxo e unidades de referência;

 Recomenda-se que a base para os dados tenha pelo menos 1 ano de coleta: para dados medidos de processos operados, dados para pelo menos um ano inteiro devem ser usados como base para a derivação de dados médios representativos. Um número suficiente de amostras deve ser elaborado e a incerteza considerada ao se relatar sua precisão;

 Além da verificação de validade dos dados coletados, que é obrigatória diante a norma, recomenda-se verificar se todos os fluxos relevantes foram considerados, se os volumes dos fluxos são proporcionais, se o método possui consistência, elaborar um breve relatório de controle de qualidade, entre outros.

Em muitos estudos, não estão disponíveis dados diretamente mensurados para os fluxos elementares, sendo este um dos desafios enfrentados pelos profissionais da área de ACV. A utilização de dados específicos pode ser considerada mais vantajosa em relação a dados genéricos, quando o conjunto de dados específicos representa uma tecnologia específica aplicada em um determinado local. Ao mesmo tempo que, de acordo com o guia do ILDC, dados específicos da tecnologia, genéricos ou médios provenientes de terceiros devem ser usados caso sejam mais exatos, ou seja, completos, do que os dados primários ou secundários específicos da tecnologia provenientes dos fornecedores/atores a jusante (IBICT, 2014). Dados médios, por sua vez, podem representar uma combinação de processos, por exemplo, diferentes tecnologias ou um grupo de produtos. Portanto, geralmente, o objetivo deve ser o de procurar dados específicos disponíveis ou medi-los, e somente partir para abordagens genéricas se a aquisição de dados específicos não for

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possível ou viável. Normalmente, em estudos de ACV, se utilizam tanto dados especificamente medidos quanto dados genéricos, para representar processos ou sistemas específicos ou médios (IBICT, 2014).

Para a modelagem do sistema de produto, é fundamental a elaboração correta dos inventários, de modo que nenhum fluxo (de entrada ou saída) relevante seja deixado sem modelagem/desconectado. Além disso, devem-se definir valores necessários de parâmetros em todos os conjuntos de dados de processos parametrizados usados, se houver. Também é recomendado pré-verificar se o conjunto de dados ou sistema estão sendo devidamente modelados e satisfazem os requisitos de qualidade estabelecidos na fase de definição do escopo; e se as lacunas em termos de dados estão sendo preenchidas com conjuntos de dados metodologicamente consistentes (IBICT, 2014).

Outro ponto importante na elaboração do inventário é a alocação7. A alocação deve

ser aplicada de forma consistente em todo o sistema de produto e, na medida do possível, devem-se usar os mesmos critérios de alocação para as diferentes cofunções8 de qualquer

processo específico e em todos os processos semelhantes dentro da fronteira do sistema. A soma dos inventários alocados a todos os coprodutos deve ser igual ao inventário do sistema antes da alocação e, por fim, devem ser realizados os cálculos dos resultados de inventário (IBICT, 2014).

Diante das recomendações apresentadas, amparadas em normas e manuais internacionais, percebem-se a complexidade e grande quantidade de informações necessárias para construir um ICV com a qualidade recomendada. De acordo com Dos Reis et al. (2007), os inventários necessitam de uma estrutura sólida embasada nas normas e formatos internacionais, e os mesmos devem ser construídos e ter as características específicas da realidade que pretendem retratar, como por exemplo, do Brasil. Os mesmos autores afirmam que iniciativas como a certificação dos produtos, baseadas em ACV, ainda carecem do apoio de inventários confiáveis, os quais devem conter informações de caráter científico, técnico e com a devida credibilidade.

Nos países desenvolvidos, como da Europa, Japão e EUA, já existem bancos de dados de inventários de ciclo de vida que são aplicáveis a realidade dessas regiões (IBICT,

7Alocação é definida pela norma NBR ISO 14044 (2009b) como “repartição dos fluxos de entrada ou

saída de um processo ou sistema de produto entre o sistema de produto em estudo e outro(s) sistema(s) de produto”.

8 Cofunção é definida pelo IBICT (2014) como “qualquer um entre duas ou mais funções realizadas

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2009). No Brasil, conforme mencionado anteriormente, existe o SICV, mas este banco de dados nacional ainda se encontra em fase de inicial de construção.

2.4. MÉTODOS E INDICADORES DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO DO CICLO DE