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2. MATERIAL E MÉTODOS

2.4. Elaboração do etograma

Para a análise do comportamento dos animais e elaboração dos respectivos etogramas, foram efectuadas filmagens no final da primeira semana e no final das duas últimas semanas do período de restrição (semanas 3 e 4). As filmagens foram todas efectuadas no dia em que o grupo A24 estava em restrição, de forma a possibilitar a avaliação do efeito dos diferentes níveis de restrição no comportamento dos animais.

Cada jaula foi filmada durante 15 segundos, repetida em três períodos ao longo do dia: de manhã (às 9:30h antes da disponibilidade do alimento) e período de maior actividade dos coelhos, ao meio dia (altura em que os 3 grupos não estavam em restrição) ao final da tarde, às 19:30h. Estes tempos de observação foram escolhidos de modo a possibilitar a avaliação do comportamento dos animais ao longo do dia.

As imagens foram gravadas com uma câmara vídeo (Sony Handycam 2006i) e foram posteriormente transformadas em formato digital e analisadas no computador. Todas as gravações foram realizadas de forma sequencial, sendo as jaulas as unidades de observação. O número de ocorrências dos diferentes comportamentos de cada coelho foi determinado durante 15 segundos, por cada período de filmagem. Foi determinado assim para cada jaula o número de ocorrências de cada comportamento observado

21 durante o tempo de observação, sendo posteriormente, calculadas as médias de ocorrência por jaula dos comportamentos classificados como normais, sociais ou anormais, tendo em atenção o número de coelhos presentes aquando da observação. Na pesagem semanal dos animais, foram observadas as orelhas e a face, com o objectivo de determinar a existência de sinais de agressividade entre eles (arranhões ou feridas). Cada coelho que apresentou algum dos sinais acima descritos, foi registado como uma ocorrência e posteriormente foi calculada a percentagem de agressividade observada.

Na análise do etograma, os comportamentos observados em cada jaula foram divididos em 3 grupos, como sugere Lidfors (1997): N - comportamento normal; S – comportamento social e A – comportamento anormal. Estes comportamentos encontram-se descritos na Tabela 5 e foram adaptados da bibliografia consultada (Dominges, 2006; Lidfors, 1997; Gunn e Morton, 1995; Hansen e Berthensen, 2000) com base na simplificação da Tabela 2 anteriormente apresentada. Estes comportamentos foram escolhidos por parecerem os de mais simples observação e fácil identificação na prática. Alguns destes comportamentos podem ser observados nas Figuras 1 a 3.

2.5. Análise Estatística

Na análise estatística dos dados foi realizada uma análise de variância (GLM) sendo o tratamento (disponibilidade de alimento ou água) o factor de variação (tratados separadamente). Na comparação múltipla de médias foi realizado o teste de Tukey. O tratamento dos dados foi realizado utilizando o programa JMP 5.01.

No tratamento dos dados e apresentação dos resultados, os dados das primeiras 4 semanas forma agrupados (período de restrição), foi também analisada separadamente a última semana (semana 5 da engorda em que todos os animais tinham água e alimento

22 Tabela 5 - Etograma considerado dos diversos comportamentos observados

Comportamento Definição

Normal Andar Actividade locomotora normal;

Alimentar Comer / Beber (Figura 1);

Sentado Recolher dos membros anteriores para baixo do corpo;

Levantado Ambas as patas anteriores são elevadas do chão.

Dormir Estar deitado ou sentado com ambos os olhos fechados;

Deitado em estado de alerta

Deitado para baixo com os olhos abertos e respondendo ao meio ambiente, permanecendo inactivo;

Social Lavar/Limpar Lamber o pêlo.

Farejar/Cheirar

O coelho fareja o ambiente (isto é paredes, chão, grade, bebedouro, comedouro, parte superior da jaula) ou fareja o ar com o seu nariz através grades da jaula (Figura 1).

Cheirar outro coelho

Coelho cheira outro coelho;

Coçar As patas traseiras são usadas para coçar o corpo, pescoço, orelhas e focinho (olhos,

nariz, etc.

Espreguiçar (S5) O coelho que estende as suas patas anteriores para a frente com a cabeça tombada

para trás.

Anormal

Roer / mastigar objectos

Roer / morder / puxar / mastigar comedouros, bebedouros, grelha do chão, grades da jaula, etc;

Movimento rápido Correr depressa à volta da jaula ou do parque; Salto Circundar muito rápido ou saltar à volta da jaula;

Procurar alimento

Tentativa de se alimentar ou beber água sem que o alimento ou água estejam disponíveis. O coelho fareja o ambiente (isto é paredes, chão, grade, bebedouro, comedouro, parte superior da jaula) ou fareja o ar com o seu nariz através grades da jaula, parecendo que está á procura de algo. Há movimento á volta da jaula (Figura 2).

Tentativa de se alimentar ou beber água

O coelho tenta alimentar-se ou beber água mas não consegue chegar ao comedouro/bebedouro pois este está ocupado por outros coelhos (Figura 3);

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Figura 1 - Comportamentos normais e socias: alimentar e cheirar (Foto do Autor)

Figura 2 - Comportamento anormal: procurar alimento (Foto do Autor)

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Por razões logísticas e de falta de espaço, a realização das duas experiências (séries), restrição de alimento ou restrição de água, foi intervalada de algumas semanas. Apesar das condições ambientais serem semelhantes e a estirpe dos animais ser a mesma, verificou-se pela análise estatística dos animais sujeitos ao tratamento controlo, que foi igual nas duas experiências, que os resultados diferiam, nomeadamente em algumas das performances de crescimento mensuradas. Aferiu-se também, pela análise conjunta de todos os resultados, a ocorrência de numerosas interacções significativas entre os tratamentos alimento e água, o que tornaria difícil a interpretação conjunta dos resultados obtidos e a sua discussão e análise. Por estes motivos, os resultados dos efeitos da restrição de alimento ou da água serão apresentados e discutidos em capítulos separados.

3.1. Restrição de Alimento

3.1.1. Performances zootécnicas

Peso vivo e ganho de peso

A evolução do peso vivo (PV) e ganho de peso dos coelhos ao longo do ensaio pode ser observado na Figura 4 e Tabela 6.

Ao desmame, o PV foi semelhante (P = 0,265) em todos os tratamentos, sendo assim um grupo homogéneo. Ao longo do período de engorda, logo após uma semana de ensaio, os PV dos grupos C e D10 foram semelhantes entre si, mas significativamente superiores (P < 0,0001) aos pesos dos grupos D5 e D24, não havendo também diferenças estatisticamente significativas entre estes. Esta tendência manteve-se ao longo de todo o ensaio, excepto na segunda semana, na qual, o grupo D24 apresentou um PV significativamente inferior aos restantes e diferente do grupo D5. Mesmo após uma semana de alimentação ad libitum, observamos que as diferenças nos PV finais para os coelhos dos diferentes se mantiveram da mesma forma que foi referida anteriormente, ou seja os grupos C e D10 mais pesados e superiores aos dos grupos D5 e D24.

Os pesos finais alcançados pelos coelhos controlo e do grupo D10 (próximo de 2,4kg), foram semelhantes aos obtidos em trabalhos realizados anteriormente, em

25 condições semelhantes (Pinheiro et al., 2009). Quando comparado com o grupo C, o peso final dos grupos D5 e D24 foram significativamente menores (P < 0,0001), em 10,8% e 7,6%, respectivamente, o que representa um decréscimo próximo das 250g entre os grupos que mais se afastaram, D24 e D5 (Figura 4).

Figura 4 - Evolução do peso vivo de coelhos submetidos a diferentes níveis de restrição alimentar

Valores na mesma linha com letras diferentes diferem significativamente (P<0,05). NS – Não significativo

Nestes resultados parece que os efeitos da restrição foram menos marcados do que os encontrados por Yakabu et al., (2007), em que num ensaio com acessos ao alimento de 8h/dia e em dias alternados, obtiveram pesos 6,7 e 13,0% menores, respectivamente, quando comparados ao grupo alimentado ad libitum. Por outro lado, Matics et al., (2008), efectuaram uma restrição gradual entre 9 e 24h (9h, 10h, 12h, 14h e 24h respectivamente em cada semana de engorda) de acesso ao alimento por dia e obtiveram um peso final do grupo restrito 2,2% (P = 0,056) menor que o do grupo ad

libitum. Estes resultados já se assemelham mais aos encontrados por nós relativamente

ao grupo D10, mas a restrição alimentar feita por estes autores foi também menos agressiva do que a que nós provocamos.

a a a b b b b a a a b a b c a b a b a b 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 Desmame S1 S2 S3 S4 S5 Peso Vi vo (g) Tempo (semanas) C D5 D10 D24 NS

26 O efeito da restrição alimentar no ganho médio diário (GMD) foi significativo (P < 0,05) em todos os período considerados no estudo da restrição de alimento. No três períodos estudados, não se verificaram diferenças significativas do grupo D10 relativamente ao grupo C. No período de restrição, média das primeiras 4 semanas de engorda, os ganhos de peso dos grupos D5 e D24, foram 28% e 33% menores que os do grupo C, verificando-se assim que a disponibilização de alimento em dias alternados foi a mais severa. Na semana 5, o GMD do grupo D24 foi significativamente maior que o dos outros grupos sendo 75,0% maior relativamente ao grupo C e um pouco menos para os outros grupos (22,8% e 33,2% para D5 e D10, respectivamente), o que mostrou algum crescimento compensatório para este grupo. Também para a totalidade do, período de engorda, se verificou que as restrições de 19h/dia e em dias alternados resultaram num GMD significativamente menor (P < 0,0001) relativamente ao grupo C e D10, sendo 20% e 16% menor, relativamente ao grupo controlo, para os grupos D5 e D24, respectivamente (Tabela 6).

Tabela 6 - Peso vivo e ganho médio diário de peso dos coelhos submetidos a diferentes níveis de restrição alimentar

Tratamento SEM1 P2 C D5 D10 D24 Peso Vivo (g) Desmame 988 1018 1012 1032 8,06 0,265 S4 2171 a 1867 b 2156 a 1827 b 18,70 <0,0001 Final 2392 a 2133 b 2483 a 2209 b 22,51 <0,0001

Ganho Médio Diário (g)

Restrição 43,5 a 31,4 b 43,2 a 29,3 b 0,65 <0,0001

S5 31,6 b 38,8 b 42,1 b 55,3 a 2,23 0,002

Total 41,3 a 32,9 b 43,1 a 34,6 b 0,63 <0,0001

Valores na mesma linha com letras diferentes diferem significativamente (P<0,005). 1 - SEM: “Standard error of mean”; erro padrão da média; 2 – Valor de P

Num estudo anterior (Yakabu et al., 2007) realizado com um número significativamente menor de animais (n=24), verificou-se que o acesso ao alimento dia sim – dia não, reduziu em 26,5% o GMD dos coelhos, enquanto o acesso ao alimento 8h/dia reduziu em 19% o peso dos animais. As maiores diferenças encontradas por estes autores podem ser justificadas pela estirpe de animais ou pela duração do ensaio, pois

27 trabalharam com coelhos de menor crescimento, o que levou a uma duração do ensaio superior.

Diferindo do que aconteceu no nosso ensaio com o grupo de animais com apenas 10h/dia de acesso ao alimento (D10), Jerome et al., (1998) encontraram uma diminuição de 11,6% no GMD em coelhos com acesso ao alimento 12h/dia. É de salientar que no ensaio realizado por estes autores, os animais estavam alojados em grupos de seis por jaula, o que pode ser uma justificação para a diferença encontrada relativamente ao presente ensaio, pois o tempo de acesso ao alimento para cada animal foi reduzido o que pode ter provocado na prática uma restrição mais severa.

O crescimento compensatório da última semana do ensaio, quando os animais que antes estavam restringidos passaram a ter livre acesso ao alimento, não foi suficiente para os que os animais dos grupos D5 e D24 atingissem o peso dos do grupo controlo, embora se tenham aproximado mais do grupo C (Tabela 6). Este crescimento compensatório foi maior no grupo D24 do que no grupo D5, pois no final da semana 4 o diferencial para o grupo controlo era cerca de 14% , nos dois grupos e, para o grupo D5, quase 8%.

Ingestão de alimento

Os resultados do efeito da restrição alimentar sobre a ingestão de alimento estão apresentados na Tabela 7.

Durante o período de restrição alimentar, a ingestão média diária (IMD) foi significativamente maior (P < 0,001) nos grupos C e D10 em relação ao grupos D5 e D24 que não diferiram entre si. A redução da ingestão no grupo D10 foi de apenas 7% em relação ao grupo C. Podemos verificar que uma restrição a 10h/dia de acesso ao alimento resultou num nível de ingestão de 93% do ad libitum. Todavia, os tratamentos de 5h/dia de acesso ao alimento e acesso ao alimento dias alternados, resultaram em restrições mais severas, de 67% e 72%, respectivamente, em relação ao grupo controlo.

Quando os animais tiveram acesso livre ao alimento, na semana 5, observamos que em todos os grupos houve um acréscimo na ingestão de alimento, em relação ao grupo controlo. No grupo D10, o acréscimo na ingestão foi de 14%, no grupo D5 de 17% e no grupo D24, próximo dos 30%. O grupo D10 não diferiu significativamente dos restantes, sendo a IMD dos grupos D5 e D25 significativamente maiores quando comparadas á IMD controlo, nesta semana. No período total do ensaio, verificou-se que

28 o efeito da restrição de alimento na IMD é altamente significativa (P < 0,001), embora não se tenham verificado diferenças estatísticas entre o grupo C e o grupo D10 (95%), sendo o consumo de alimento do grupo D5 (73%) estatisticamente menor relativamente ao grupo D24 (81%). Quando analisamos o período total do ensaio, os valores de ingestão dos grupos restringidos aproximaram-se mais dos valores do grupo controlo, devido á ingestão compensatória verificada na última semana. Todavia, o grupo D5 foi aquele em que a restrição de alimento foi mais marcada (Tabela 7).

Tabela 7 - Ingestão média de alimento dos coelhos submetidos a diferentes níveis de restrição alimentar Tratamento SEM1 P2 C D5 D10 D24 IMD (g/d) Restrição 128,3 a 85,6 b 119,9 a 92,3 b 3,75 <0,0001 S5 139,2 b 163,0 a 159,1 ab 180,1 a 4,37 0,006 Total 135,8 a 98,6 c 129,1 a 110,2 b 2,76 <0,0001 IMD (% de C) Restrição 100 67% 93% 72% - - S5 100 117% 114% 129% - - Total 100 73% 95% 81% - -

Valores na mesma linha com letras diferentes diferem significativamente (P<0,005). 1 - SEM: “Standard error of mean”; erro padrão da média; 2 – Valor de P

À semelhança do que ocorreu no grupo D24, uma IMD total de 80% foi encontrada por Jerome et al., (1998), numa restrição a 12h/dia de acesso ao alimento. Uma ingestão de 95% do ad libitum, foi também observada por Matics et al., (2008), mas em tempos de acesso ao alimento entre 9 e 24h/dia (9h, 10h, 12h, 14h e 24h respectivamente em cada semana de engorda). No entanto, estes autores referiram uma diferença significativa entre o grupo com restrição e o grupo ad libitum (P < 0,0001), o que não aconteceu no presente ensaio com os grupos D10 e C. Esta diferença pode ser explicada pelo maior número de animais utilizado em cada tratamento (102 animais no grupo ad libitum e 112 no grupo com restrição vs. 45 animais por tratamento no presente ensaio), e pelo tipo de restrição aplicada, que no nosso trabalho foi constante em todas as semanas e no trabalho de Matics et al., foi variável semanalmente.

Por outro lado, num estudo anterior (Yakabu et al., 2007), verificou-se que o acesso ao alimento dia sim – dia não, se traduz numa IMD total de 73% do ad libitum,

29 do ad libitum, inferior ao do presente estudo em que neste mesmo tratamento a IMD em percentagem do grupo Controlo foi de 81%. Um período experimental mais longo (5 semanas de restrição e 1 semana de ad libitum) no ensaio realizado por estes últimos autores pode justificar as discrepâncias encontradas.

Eficiência alimentar

O efeito do nível da restrição alimentar na EA dos coelhos é apresentada na Tabela 8. Durante o período de restrição alimentar, foi o grupo D5 (0,40) que apresentou a melhor EA, seguindo-se o grupo D10 (0,37), e com piores EA os grupos C (0,34) e D24 (0,30), entre os grupos que apresentaram a melhor e a pior EA neste período (D5 e C ou D24) a melhoria da eficiência foi de 15%. Durante o período de alimentação ad libitum (Semana 5), foram os grupos D10 e D24 que melhor fizeram a conversão do alimento (melhoria de 42% em relação ao controlo), o grupo C foi o que apresentou pior conversão alimentar, não diferindo o grupo D5 dos restantes tratamentos. No período total do ensaio, verificou-se que as restrições a 5 e 10h de acesso por dia, melhoraram significativamente a EA, seguindo-se a restrição de dia sim – dia não (Tabela 8).

Tabela 8 – Eficiência alimentar de coelhos submetidos a diferentes níveis de restrição de alimento Tratamento SEM1 P2 C D5 D10 D24 Restrição 0,34 c 0,40 a 0,37 b 0,34 c 0,006 <0,0001 Semana 5 0,21 b 0,24 ab 0,30 a 0,30 a 0,014 0,024 Total 0,31 c 0,37 a 0,36 a 0,33 b 0,005 <0,0001

Valores na mesma linha com letras diferentes diferem significativamente (P<0,005). 1 - SEM: “Standard error of mean”; erro padrão da média; 2 – Valor de P

Vários estudos efectuados com diferentes metodologias de restrição alimentar têm verificado que a restrição melhora significativamente a taxa de conversão alimentar (Bergaoui et al., 2008; Gidenne e Feugier, 2009; Jerome et al., 1998; Matics et al., 2008; Tudela e Lebas, 2006). De acordo com Gidenne e Feugier (2009), a passagem do digesta é menor em animais submetidos a restrição alimentar. Assim quanto menor for a

30 ingestão de alimento, melhor será o aproveitamento deste, logo a quantidade de alimento que o animal tem que ingerir para aumentar 1Kg no PV, será menor, o que se traduz numa melhoria da EA.

Os nossos resultados corroboram os encontrados na bibliografia, apesar de no grupo D24 a melhoria na eficiência alimentar parecer menos nítida. Parece que permitir o acesso dos animais ao alimento dia sim – dia não, não melhora a EA aos mesmos níveis que restrições mais severas, o que pode traduzir uma restrição excessiva ou uma falta de adaptação dos animais ao tratamento durante todo o período de restrição.

Estado sanitário

Os dados relativos ao estado sanitário dos animais que correspondem a problemas digestivos inespecíficos ou relacionados com enteropatia mucóide, entre outros, são apresentados na Tabela 9.

No presente ensaio a taxa de mortalidade total foi de 7,2%, sem diferenças significativas entre os diferentes tratamentos. A taxa de morbilidade foi de 13,9%. Dos coelhos que apresentaram sinais de morbilidade 16,0% morreram.

Estes resultados são similares aos encontrados por Bergaoui et al. (2008) com restrições a 70% e 85% do nível de ad libitum e por Jerome et al., (1998) com 12h diárias de restrição alimentar, que referiram uma taxa de mortalidade total de 2,8% e 5,7%, respectivamente, mas sem nenhum efeito da restrição alimentar no estado sanitários dos animais. No entanto, não corroboram os encontrados por Gidenne et al., (2003), que referiram um efeito significativamente positivo da restrição alimentar sobre a mortalidade, morbilidade e consequentemente índice de risco sanitário, quando o alimento distribuído foi no mínimo 20% menor que o nível do ad libitum. Da mesma forma, Bovera et al., (2008) encontrou uma redução de 7,28% na mortalidade do grupo com restrição alimentar. No nosso estudo, embora as taxas de morbilidade e mortalidade e o índice de risco sanitário sejam menores nos grupos em que foi efectuada a restrição alimentar, não foram verificadas diferenças significativas (P < 0,005) do efeito da restrição sobre estes parâmetros.

31 Tabela 9 - Estado sanitário dos coelhos submetidos a diferentes níveis de restrição alimentar Tratamento SEM1 P2 C D5 D10 D24 Morbilidade (%) Restrição 0,16 0,02 0,07 0,07 0,032 0,5362 S5 0,11 0,09 0,04 0,07 0,020 0,6891 Total 0,27 0,11 0,11 0,13 0,037 0,4071 Mortalidade (%) Restrição 0,07 0,00 0,00 0,00 0,009 * S5 0,00 0,02 0,11 0,09 0,020 * Total 0,07 0,02 0,11 0,09 0,021 0,5151 Risco Sanitário (%) Restrição 0,22 0,02 0,07 0,07 0,038 0,2628 S5 0,11 0,11 0,15 0,16 0,026 0,8818 Total 0,34 0,13 0,22 0,22 0,049 0,5636

Valores na mesma linha com letras diferentes diferem significativamente (P<0,005). 1 - SEM: “Standard error of mean”; erro padrão da média; 2 – Valor de P; * - não foi calculado devido à reduzida dimensão da amostra

3.1.2. Comportamento Etograma

O efeito da restrição alimentar sobre comportamento dos animais, medido através de um etograma anteriormente discutido é apresentado na Tabela11. Como foi explicado no capítulo de material e métodos, as filmagens com duração de cerca de 1 minuto por jaula, foram efectuadas 1 vez por semana e para termos uma amostra representativa dos comportamentos expressos pelos animais, foram repetidas 3 vezes por dia em diferentes períodos. Na apresentação dos resultados, expomos separados os resultados da primeira semana, por se tratar da semana de adaptação, dos das semanas 3 e 4 semanas, períodos em que se verificou não haver interacção significativa. Os resultados das semanas 2 e 5 do ensaio não se apresentam por considerarmos, para a primeira por se tratar de uma semana de transição e para a segunda porque todos os animais tinham alimentação ad libitum e os tratamentos não foram aplicados.

32 Na primeira semana do ensaio, a ocorrência de comportamentos normais foi significativamente maior no grupo com alimentação ad libitum (0,70), em relação aos grupos D10 (0,46) e D5 (0,33), que foi o que apresentou menores ocorrências dos tipos de comportamentos em estudo. No grupo D24 (0,56) as ocorrências normais sofreram um menor decréscimo na ordem dos 20 % para o grupo controlo, mas o efeito não foi estatisticamente diferente. Apesar das diferenças não serem significativas, verificamos que os comportamentos sociais foram maiores nos grupos C e D10 menores no grupo D5, tendo o grupo D24 um valor intermédio entre estes. Os comportamentos anormais tiveram uma maior incidência no grupo D5 (0,50) e D24 (0,41) em relação ao grupo C, que apresentou uma percentagem significativamente mais baixa de comportamentos anormais (0,02; 25 vezes menos). O grupo D10 apresentou um valor intermédio que não diferiu dos restantes tratamentos.

No conjunto das semanas 3 e 4 observamos um padrão de comportamentos semelhantes aos da semana 1, excepto para os comportamentos sociais que mostraram diferenças significativas. Para este tipo de comportamentos verificamos que para os animais dos grupos sujeitos a uma restrição durante parte do período diurno (D5 e D10), houve uma diminuição em relação aos restantes grupos, mas que se mostrou significativa apenas em relação ao grupo D24. Constatamos que neste período de medição (semanas 3 e 4) o grupo controlo apresentou uma maior ocorrência de comportamentos normais e menor de comportamentos anormais, em relação aos restantes grupos. A maior diferença também se verificou no comportamento anormal, entre o grupo C e grupo D5 que a percentagem de ocorrências aumentou cerca de 40 vezes (Tabela 10).

À semelhança do que aconteceu no presente ensaio, um estudo recente realizado na engorda de frangos reprodutores, concluiu que uma restrição alimentar teve fortes efeitos sobre o comportamento animal, nomeadamente nos comportamentos, esgravatar a cama, e bicar a jaula, sendo o grupo com restrição, o que apresentou maior ocorrência destes comportamentos, relativamente ao ad libitum (Larivière et al., 2009).

Tanto na semana 1 como nas semanas 3 e 4, os comportamentos normais mais observados foram o de alimentar, os sociais foram farejar e os anormais foram procurar alimento. De acordo com D’Eath et al. (2009), os animais sob restrição mostram sinais de excitação aquando a distribuição de alimento, comendo rapidamente. Este facto

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