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A elaboração de um formulário específico para se assumir uma persona linguística em

Capítulo 4 – Aplicação da síntese de autoria a imageboards em PB

4.1. A elaboração de um formulário específico para se assumir uma persona linguística em

persona linguística em imageboards

A partir dos dados do corpus de publicações provenientes de diferentes fios (threads) e categorias (boards), foi possível extrair aspectos e características específicos e inerentes a este tipo de fórum anônimo, os quais requerem um outro modelo de formulário, alternativo ao Linguistic Persona Pro-forma proposto por MacLeod & Grant (2017, p. 159), para que seja possível colaborar de forma mais efetiva para uma melhor performance linguística em investigações infiltradas. Isto se dá, por um lado, porque o gênero textual fio de discussão e o seu contexto de interação são diferentes dos chat logs utilizados durante o programa de treinamento Pilgrim, apresentando uma sincronia de publicações, um processamento de leitura e até mesmo uma efemeridade do material linguístico diferentes, dada a velocidade com que as publicações são excluídas, a colectividade da sua produção, a sua maior abertura para a hipertextualidade por meio de

hyperlinks e a maior propensão à edição do material inicialmente postado por parte dos

usuários.

Por outro lado, embora os chats utilizados pelos autores também sejam anônimos, os mecanismos de manutenção do anonimato no caso dos imageboards, pautados numa confluência de práticas alimentada e partilhada pelos membros para a integração de uma

comunidade, apontam para outros tipos de marcadores linguísticos, específicos por apresentarem um conjunto de neologismos e refletirem regras implícitas ou explícitas de comportamento e hierarquias de pertença, específicas se compararmos com as interações de 1 usuário para 1 usuário (1x1) nos casos de aliciamento (grooming) analisados por MacLeod & Grant (2017). Neste sentido, a elaboração de um novo Formulário da Persona Linguística justifica-se para os imageboards, indo de encontro às premissas de outros trabalhos da Análise do Discurso Mediado por Computador (CMDA) como o de Androutsopoulos (2007), Herring (2004, 2013) e outros, que destacam a importância de se analisar os diferentes espaços de rede sem agrupá-los num irreal grupo unitário, dando atenção às suas características próprias. Dada esta consideração, buscaremos a partir das características encontradas no Capítulo 3 encaixar as demandas das quatro categorias de recursos e restrições neste novo formulário, a começar por aquelas encontradas relativamente ao histórico sociolinguístico.

Em primeiro lugar, ao analisarmos o histórico sociolinguístico dos participantes, apontamos na secção 3.1.1 que as formas de tratamento encontradas no corpus colaboram para a preservação do anonimato dos usuários do imageboard, já que não buscam como recursos formas nominalizadas tipicamente regionais no Brasil, tais como "mano" ou "mermão", além de evitarem o uso de pronomes como “tu” ou outras formas pronominalizadas para além de “você”. Em substituição, os participantes optam por utilizar outras formas como "anon" ou "anão", ou ainda “OP” para os iniciadores das publicações, mostrando uma restrição no que diz respeito às escolhas linguísticas para a assunção de autoria forense, uma vez que o polícia infiltrado recorreria apenas aos empréstimos e neologismos pré-estabelecidos pelo grupo, não realizando assim outras formas provenientes de estereótipos diageracionais ou diatópicos. Para além destes, tal como vimos na secção 3.1.2, a manutenção do anonimato também se dá nas abreviações, que são evitadas, dando lugar ao uso predominante do PB normativo aliado ao uso de neologismos para a substituição principalmente dos nomes.

Com isto em mente, para a criação de um “formulário da persona linguística” nos moldes do que foi apresentado por MacLeod & Grant (2017, p. 159), seria necessário dedicar um espaço tanto às formas de tratamento quanto à hierarquia dos participantes no fórum, levando em consideração que o Linguistic Persona Pro-forma dos autores, embora

já apresente um quadro para as abreviações relevantes, não apresenta o detalhamento requerido pelo imageboard.

Em relação às características físicas, vimos por exemplo na secção 3.2.2 que o entendimento da representação dos atores sociais, especialmente para o grupo de pertença, é importante por posicionar o participante num local de fala específico da comunidade de prática (CoP), o qual refletirá em suas possíveis características pessoais, especialmente no que diz respeito ao quão integrado o indivíduo se vê face aos padrões da sociedade, seja no âmbito da aparência, seja em seus comportamentos sociais. Neste sentido, sabendo que o novo formulário apresentaria uma hieraquia detalhada do grupo de pertença, um espaço para os valores associados a este atores sociais da interação serviria como ponto de partida e até mesmo como forma de memorização mais facilitada aos investigadores infiltrados.

Já no que diz respeito ao contexto da interação, vimos na secção 3.3 que este tipo de fórum anônimo difere de outros espaços da rede, por não recorrer ao uso de hashtags. A polifonia e a hipertextualidade se dão a partir dos caracteres ">>" e ">", sendo o último ainda utilizado em outros contextos, como a sumarização e explicitação de frases interrogativas. Neste âmbito, uma proposta de representação no formulário poderia se materializar por meio de um quadro específico a caracteres especiais, nos quais suas principais funções fossem explicitadas. Para além disto, seria também necessário ter um espaço dedicado às suas combinações, já que por exemplo ">>" precede numerais, diferentemente de ">". Aspectos desta especificidade poderão estar presentes numa versão mais detalhada do formulário, a depender da necessidade da investigação e do tempo de treinamento disponível para os infiltrados.

Finalmente, no que tange a formação e a integração da comunidade de prática (CoP) dos channers, exploramos nas secções 3.4.1 e 3.4.2 as diferentes manifestações de Code-

switching, as quais são refletidas também em processos de Alterização (Othering) nos

quais as minorias sociais são o principal alvo de ataque, antagonizadas em discursos de ódio. Atentando-se ao facto de que estes discursos de ódio e as ideologias de grupo pautadas em antagonismos são materializados de forma sistemática, explicitada na referenciação do out-group, faz-se importante ter um espaço do formulário dedicado aos potenciais antagonistas, tendo em vista que já demos a devida atenção ao grupo de

pertença anteriormente nas outras secções. Neste espaço, específico a Alterização (Othering), estariam os grupos de ataque e os valores comumente associados a eles. Embora este tipo de espaço fosse suficiente para abarcar as condições de contraste entre grupo, ainda assim não seria uma secção específica ao Code-switching em si, que teria de ser alocada a um espaço mais detalhado, com as sufixações e outras anglicizações descritas em pormenores, o que estaria presente numa versão mais completada do formulário.