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4. O Método dos Elementos de Contorno

4.3. Elemento curvo

4.3.1. Apresentação

A discretização da superfície através do método dos elementos de contorno é na verdade uma aproximação de sua geometria por meio de funções matemáticas onde apenas alguns pontos possuem coordenadas cartesianas conhecidas. A partir destes pontos

valores nodais. Esse é o princípio básico da discretização via método dos elementos de contorno.

A escolha do tipo de função aproximadora que será utilizada na técnica de aproximação numérica pode ter grande influência na qualidade dos resultados obtidos, a depender do tipo de problema que se está analisando.

Na grande maioria dos trabalhos encontrados na literatura, tanto nacional quanto internacional, utilizam-se elementos com aproximação linear ou até mesmo constante. Isso se deve, em parte, pela facilidade no manuseio das equações integrais para implementação computacional destes elementos. É possível resolver suas integrais de maneira analítica, o que evita a necessidade de maiores tratamentos matemáticos. Diversos autores já publicaram trabalhos de qualidade em que são utilizados elementos com geometria linear ou quadrática para a discretização do contorno utilizando funções constantes, lineares e de ordem superior.

Porém, elementos com aproximação quadrática, cúbica ou de maior ordem são preferíveis para descrever, por exemplo, geometrias curvas e problemas que envolvem funções de alta ordem. O uso de elementos de maior ordem costuma ser evitado pelas dificuldades em se desenvolver as equações integrais analíticas para que se obtenha a solução do problema. No entanto, a implementação computacional para elementos de alta ordem se torna mais fácil de ser elaborada com o uso dos polinômios de Lagrange e de métodos de integração numérica, como o método de Gauss por meio do uso de elemento isoparamétrico.

Este procedimento foi apresentado em CODA (2000) e aplicado em problemas da mecânica da fratura em KZAM (2009).

Assim, pode ser elaborada uma rotina para a generalização da função aproximadora permitindo o uso de elementos curvos e com aproximações de ordem qualquer para variáveis.

O uso de elementos lineares ou constantes exige uma maior discretização das superfícies curvilíneas para que se possa aproximá-las corretamente, como se fossem formadas por diversos trechos lineares. Além disso, se for necessário melhorar a qualidade da resposta, isso somente poderá ser feito também com o refinamento da malha. Em ambas as situações esse procedimento aumenta a malha discretizada, diminuindo o tamanho dos elementos e conseqüentemente tornando o sistema algébrico maior por incluir mais incógnitas. Esta técnica é conhecida como refinamento h.

O aumento do grau do polinômio de aproximação constitui a chamada técnica de refinamento p, e pode ou não apresentar melhores resultados do que o refinamento h. Isso dependerá da natureza do problema analisado.

A escolha de qual ordem de aproximação deverá ser utilizada caberá então ao usuário do código aqui desenvolvido. Apresenta-se apenas as diferenças em se utilizar elementos retos convencionais e elementos curvos.

A figura 4.7 a seguir ilustra claramente a situação de melhor descrição de uma geometria curva. No trecho em destaque com a consideração de apenas três nós o elemento quadrático terá um melhor desempenho do que o uso de dois elementos retos.

Figura 4.7 – Discretização do contorno utilizando (a) 2 elementos retos e (b) 1 elemento curvo

Para a situação (a) da figura a solução seria adotar mais pontos no contorno, e conseqüentemente mais elementos retos.

O uso de elementos curvos, no entanto é dificultado pelas integrais singulares a serem avaliadas. O tratamento da singularidade nos elementos curvos neste trabalho é feito como apresentado no item 4.2.5 e detalhado em KZAM (2009).

No caso da determinação das funções de forma de um elemento curvo generalizado, ou seja, com qualquer número de nós, a adoção das funções polinomiais de Lagrange é aqui escolhida.

4.3.2. Polinômios de Lagrange

Em análise numérica, os polinômios de Lagrange são polinômios de interpolação que podem ser aplicados na determinação das funções de forma do elemento curvo.

Para um elemento j de ordem 1 existem n funções de forma, cada uma relativa a determinado nó do elemento, cuja aproximação é dada pelos valores assumidos pelas funções em cada nó. Assim, cada função de forma  terá valor unitário em k e nulo nos demais nós

polinômio de grau 1. As funções de forma podem ser de qualquer tipo, desde que respeitem estas condições.

Podemos escrever todas as k funções de forma de um elemento com ordem qualquer através dos polinômios de Lagrange, dado pelo produtório que segue (BREBBIA &

FERRANTE, 1978):

1

n i

k i k k i

i

  

 

  

   (4.46)

As coordenadas ξ assumem valores entre -1 e +1 no espaço adimensional. Basta então definir a ordem desejada para a aproximação de geometria e de variáveis e calcular as coordenadas adimensionais de cada nó, através da mudança do sistema de coordenadas geométrico para o sistema adimensional. Com os valores de ξk, é possível determinar em seguida todas as funções de forma do elemento.

A título de exemplificação da aplicação dos polinômios de Lagrange, serão a seguir apresentados de forma gráfica as funções de forma para os elementos com aproximação linear, quadrática, cúbica e de quarta ordem, respectivamente.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.8 – Funções de forma para elementos com aproximação (a) linear, (b) quadrática, (c) cúbica e (d) de quarta ordem

0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2

-1 -0.5 0 0.5 1

ø1 ø2

-0.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2

-1 -0.5 0 0.5 1

ø1 ø2 ø3

-0.4 -0.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2

-1 -0.5 0 0.5 1

ø1 ø2 ø3 ø4

-0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4

-1 -0.5 0 0.5 1

ø1 ø2 ø3 ø4 ø5

Com as funções de forma definidas, pode-se calcular qualquer ponto sobre o elemento desde que conhecida sua coordenada ξ.

Figura 4.9 – Elemento curvo com coordenadas adimensionais

Assim, para cada elemento j podem ser aproximados, por exemplo, quaisquer valores de coordenada xi (i sendo o índice da direção) sendo conhecidos somente os valores de coordenada Xik de todos os k nós do elemento e os valores das funções de forma do mesmo naquele ponto ξ. Escreve-se, portanto

    ik

i k

x  X (4.47)

Após esse procedimento, é possível realizar a integração numérica dos elementos através da quadratura de Gauss, por exemplo. Logo, torna-se simples a implementação de elementos de contorno curvos, com qualquer número de nós.

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