• Nenhum resultado encontrado

A crítica de Bakhtin, - já anteriormente apresentada - sobre os esquemas comunicacionais que utilizam a terminologia de emissor receptor caracterizando a comunicação no sentido de um comunicante ativo(emissor) e um passivo(receptor) está alinhada com a idéia de pluralidade de vozes, onde todos são sujeitos ativos. Todavia a base de partida(e não de continuidade) para melhor entendimento do dialogismo ajusta-se à referência convencional da comunicação.

Figura 2. Esquema padrão de comunicação

a) Emissor ou destinador é o que emite a mensagem: pode ser um indivíduo ou um grupo(firma, organismo de difusão, entre outros). Na videoconferência, o professor é quem mais aparece como emissor. b) Receptor ou destinatário é o que recebe a mensagem. Pode ser um

indivíduo, um grupo, ou mesmo um animal ou uma máquina(computador). O aluno é quem mais recebe mensagens na videoconferência. Em todos estes casos, a comunicação só se realiza efetivamente se a recepção da mensagem tiver uma incidência observável sobre o comportamento do receptor(o que não significa necessariamente que a mensagem tenha sido compreendida; é preciso distinguir cuidadosamente recepção de compreensão).

c) Mensagem é o objeto da comunicação. É constituída pelo conteúdo das informações transmitidas, que passam da codificação de impulsos elétricos/luminosos para objeto sígnico humano.

d) Canal de comunicação é por onde trafegam as mensagens. É um meio técnico que assegura o encaminhamento da mensagem, e determina a sua classificação. É importante lembrar que a transmissão bem sucedida de uma mensagem requer não só um canal físico, mas também um contato psicológico. Um professor com

Emissor Receptor

Referente

Código Canal de comunicação

voz e postura trabalhado frente à câmera e microfone pode não passar a sua mensagem de forma adequada, se não oferecer estímulos à atenção do aluno.

e) Código é um conjunto de convenções comunicativas, ou seja, um conjunto de signos e regras de combinação destes signos. O destinador lança mão dele para elaborar sua mensagem(esta é a operação de codificação)se, seu repertório for comum ao emissor. A língua(idioma) é o exemplo de código.

f) Referente é o que constituí o contexto, pela situação e pelos objetos reais aos quais a mensagem remete. Emissor e receptor codificam a mensagem com base em seu próprio quadro de referência ideológica. Este quadro pode ser situacional, textual, ou os dois ao mesmo tempo. No primeiro caso, diz respeito à situação do emissor e do receptor, e as circunstâncias de transmissão da mensagem. No segundo caso, o contexto é lingüístico.

Um exemplo de comunicação com os seus elementos seria o seguinte: a aula de videoconferência é dada a uma turma de alunos de pós-graduação em Psicologia do Desenvolvimento. Num dado momento, o professor apresenta uma tarefa aos alunos. Coloca na câmera de documentos uma folha e pede aos alunos que a vejam .: “Escrevam quatro frases sobre o que vocês estão vendo no monitor. Trata-se da hierarquia de necessidades da Pirâmide de Maslow.

Figura 3. Hierarquia das necessidades de Maslow(pirâmide)

A mensagem mostra uma situação virtual-real, onde o professor de um local pede aos alunos em outro local, que num dado tempo façam uma atividade, através de algumas palavras que aparecem na tela de um monitor. Como o aluno percebe as palavras?

De forma objetiva e resumida os alunos na etapa primeira(comunicação do professor):

a) recebem a mensagem/fala do emissor/professor ;

b) codificam a significação através dos significantes acústicos(em Saussure) ou recebem a interpretação dos interpretantes, interpretam estes por outros interpretantes e reconhecem a representação dos objetos(em Peirce);

c) chegam ao primeiro significado.

Na etapa segunda(visual/textual) os alunos: a) visualizam a mensagem no monitor;

b) codificam a significação dos significantes textuais e visuais(em Saussure) e/ou interpretam os interpretantes através do texto, símbolos, ícones, índices e suas representações com o objeto(em Peirce);

O emissor final da atividade(que é o próprio Maslow) não refere a situação quando elaborou o texto, nem a do receptor(quem viesse a ler). Os elementos da mensagem remetem a um campo semântico fazendo com que o

auto- estima estima amor e pertinência segurança necessidades fisiológicas

receptor trabalhe de forma sintagmática cada uma das necessidades apresentadas.21

O exemplo apresentado abrange um contexto amplo de comunicação. Veja-se a palavra pirâmide falada pelo professor. Sem nenhuma referência à sua interpretação inicial é puramente léxica. Mas o professor diz “pirâmide de Maslow”, isto é, ele faz uma atribuição, alguma coisa de alguém. Se fosse a pirâmide de João, pouca informação haveria(a menos que o receptor conhecesse algum João que tivesse alguma pirâmide), tanto quanto se fosse a calça de Maslow.

Sendo os estudantes alunos de pós-graduação em Psicologia, é certo que em algum momento de sua formação, leram ou estudaram Maslow, e portanto a referência “pirâmide de Maslow” ativa a interpretação sígnica das palavras, que facilita a significação(para a etapa final). Isto pode abranger um estudo amplo dos elementos da comunicação”.22

2.3 Conclusão

Como dado conclusivo deste capítulo fica a idéia de que a comunicação eficaz se faz através da produção de um conjunto estruturado de expressões e da organização de uma base de significados. O complemento é a dinâmica do jogo sígnico, resultado do estudo dialógico, onde o sujeito emissor troca de posição com o sujeito receptor. Isto implica na idéia de que todo e qualquer ato comunicativo precisa dispor de alguma coisa do emissor que chame a atenção

21

Para BARTHES(1971, p. 66) a frase falada é o próprio sintagma, ou seja, apresenta-se sob uma forma “encadeada”. Existem sintagmas icônicos que são sinais(de trânsito, por exemplo). A fala do professor, mais o ícone da pirâmide no exemplo acima, forma um sintagma(falado, textualizado, icônico).

22

A pirâmide neste caso não é denotadora de si mesma, mas denotadora de outra forma(Maslow, afunilamento, e necessidades inferiores/superiores entre outros)

do receptor, a ponto de levá-lo a desenvolver o processo mental comunicacional.

3 VIDEOCONFERÊNCIA