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ELEMENTOS DA PAISAGEM E ARQUITETURA

3 O LEGADO DOS IMIGRANTES ITALIANOS

3.3 ELEMENTOS DA PAISAGEM E ARQUITETURA

Trentinos, com relação à paisagem e arquitetura, principalmente a rural, com base numa pesquisa publicada em 1998 por Cierre Edizioni, encomendada pelo Gruppo Mezzacorona, de Mezzacorona (TN), Itália, elaborada por Alberto Cecchetto8. São 431 páginas com muitas ilustrações, que mereceriam ir muito além, nesta pesquisa, pela profundidade e seriedade com que Alberto Cecchetto tratou o assunto.

Podemos sintetizar o que Alberto Cecchetto transmite em seu livro Progetti di Luogi (Locais de projetos) dizendo que no Trentino coexistem

8 Alberto Cecchetto nasceu em Veneza, onde formou-se em arquitetura. De 1976 a 1980

foi professor em ILAUD (Internacional Laboratory of Architecture and Urban Design). A partir de 1977 elaborou estudos e projetos de requalificação urbana e arquitetônica para Rovereto, Pergine e Ala, entre outras, no Trentino. Com as suas intervenções ambientalmente conscientes, a morfologia urbana e as relações profundas entre os edifícios e lugares, é premiado em vários modelos de competições. Em 1989 recebeu o Prêmio Andrea Palladio Arquitetura Internacional para a nova Cantina Universitária de Trento; em 1996 foi convidado para a Exposição VI Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza, para o projeto da nova Cantina Mezzacorona.

paisagens diversas, em lugares de curta distância umas das outras. Basta mover-se poucos quilômetros, às vezes apenas algumas centenas de metros, para ver mudança radical de formas e cores, vegetação e materiais. O ritmo da mudança aparece frequentemente acelerado quando comparado, por exemplo, com a passagem lenta e monótona da planície, em Vêneto.

Um território que não é muito extenso, formado por geografia diversa e arquiteturas que se sobrepõem e se misturam, multiplicando-se e mudando radicalmente a diversidade e, portanto, a identidade. Cecchetto fez uma leitura do lugar como se fosse um laboratório onde não se perdoa uma pesquisa desatenta, mas requer atenção profunda, sendo capaz de ler os detalhes e o todo, o especifico e o geral, capaz de compreender a complexidade dos vínculos e relações que se desenvolvem no interior das suas fronteiras, mas que muitas vezes vai além delas. No Trentino, o pêndulo da história territorial oscila continuamente entre introversão e extroversão, incluindo a preservação da identidade e desenvolvimento de sua natureza dinâmica como um lugar de trânsito e de cruzamento, zíper e filtro, onde se sobrepõem culturas e faz fronteira com Mitteleuropa 9 e mistura-se com as influências da planície veneziana. Da documentação do Trentino, para fazer claras e legíveis essas identidades, nasceu o livro Progetti di luoghi, configurado como um plano, um programa de trabalho à procura de regras e princípios de composição dos lugares. Um texto onde se lê a paisagem e a arquitetura escritos por um designer para reafirmar uma cultura de projeto mais amplo e fértil, capaz de se mover oscilando entre o passado e o futuro, capaz de processar a sua própria leitura da Carta da estratégia de território, utilizando fontes, documentação e interpretações de outras disciplinas, incluindo Geografia, Antropologia, Sociologia e Geomorfologia. Cecchetto dividiu o livro em três grandes partes, subdividido em oito capítulos:

Primeira parte: Arquitetura dos lugares: Mensuração de lugares, imagens dos lugares, códigos da paisagem e analogias.

Segunda parte: Arquitetura e seus recursos: Orografia, hidrografia, clima e recursos materiais.

Terceira parte: Arquitetura da complexidade, modelos e tipologias. Cecchetto (1998, p. 40) apresenta a arquitetura urbana como um produto da arquitetura rural. Diz que na interpretação que hoje fazemos

9 Termo alemão que se refere à Europa Central que, embora descreva essa localização

da arquitetura urbana deve ser levado em conta que os centro urbanos surgiram a partir de pequenos centros.

Então, interpretar a tipologia e modelos é voltar ao passado e verificar que o antigo “influenciou a formação de pequenos e grandes centros (...) e, em qualquer caso, devemos considerar o produto urbanístico popular e camponês na íntegra, e não menos aos urbanos”.

Assim, não é por acaso que com referência aos de tipos de edifícios, na terceira parte, vamos misturar exemplos e considerações de edifícios, artefatos urbanos e blocos com edifícios e agregações rurais. Isso facilitou talvez pelo caso Trentino, onde urbana e rural parecem mover-se em harmonia por muitos períodos da história do seu território (Cecchetto, 1998, p. 41).

A arquitetura rural é a primeira e imediata vitória do homem que retira seu sustento da terra. Esta vitória passa a ser uma necessidade, mas saturada com evoluções artísticas. Se a abelha faz sua célula sempre igual, devemos reconhecer que a abelha usa o mesmo material para construir e viver apenas em determinadas condições climáticas. O homem não. Este tem de apresentar seus instintos para as possibilidades oferecidas pelo ambiente (idem, p. 42).

Paisagem e arquitetura rural, assim, foram a base da tela que é o resultado de uma presunção de fundo: descobrir os princípios e regras de composição pode reconectar fios quebrados de diferentes relações entre a arquitetura com o ambiente, o sitio e contexto (idem).

Em 1978 a Província Autônoma de Trento baixou lei para elaborar um plano para dar maior atenção aos centros históricos: assim, foram classificados os tipos e classes de edifícios para intervenções (restauro, reforma, demolição, etc.).

A lei exigiu agrupar os edifícios em categorias, de acordo com suas características tipológicas, e fixar para cada um deles a intervenção mais compatível.

Com essa lei Leonardo Benevolo, então cônsul da Província, codifica não só o tipo de edifício como uma unidade de leitura do tecido

morfológico mais antigo, mas ele vê na investigação tipológica um instrumento de verificação e legitimidade do tipo de intervenção possível, admissível e, portanto, financiável.

Figura 20 - Plantas de edificações de centros históricos de Trento

Figura 21 - Variedade de edificações em Val di Fiemme

Fonte: Cecchetto (1998, p. 284)

Figura 22 - Esquema tipológico funcional da arquitetura rural trentina

Figura 23 - Edificações rurais

Fonte: Cecchetto (1998, p. 286-287)

Entre tantos centros históricos temos estes como exemplos analisados por Cecchetto: Trento, Riva del Garda, Arco e Borgo Valsugana. São edifícios semelhantes, muitas vezes idênticos, neles aparecem inserções em diferentes categorias de tipo, muitas vezes difíceis de fazer uma comparação. Porém, podemos sim fazer comparação com edifícios dos descendentes desses italianos que imigraram para o Vale do Itajaí. Aqui eles construíram de forma mais dispersa levando em conta que tinham muito mais espaço livre, além do clima diverso de suas origens, não tinham necessidade de fazer com que tudo acontecesse numa mesma edificação. Assim, construiu-se a casa onde abrigava dormitórios e sala, separadamente o ambiente de cozinha e refeições, além de outras edificações que abrigavam as ferramentas, os animais e produtos da terra.

Figura 24 - Mapa do Trentino

Fonte: Cecchetto (1998, p. 292-293)

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