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Elementos relativos à realização da entrevista

Data 11 e 12 de outubro de 2011

Local Gabinete de coordenação do grupo de cordas

Duração Duração – 2x 45 minutos, duração real - 35:03 + 37: 44

Observações/Sinopse Sendo que a docente entrevistada é de nacionalidade checa, verificou-

se dificuldade na compreensão de algumas questões. Apesar das incorreções na construção de frases e falta de vocabulário, respeitou- se as especificidades orais e transpôs-se da melhor forma possível para a versão escrita.

Procurou-se dar explicações mais detalhadas das questões, mas ainda assim, nem sempre foram bem compreendidas. Constatou-se que alguns assuntos tinham sido pouco refletidos, pois não foi apresentada resposta ou uma resposta breve, pouco desenvolvida.

E - Porque veio parar ao ensino?

P (1) – Eu comecei a dar aulas desde que terminei o curso, aliás dei aulas enquanto estudava. Comecei a fazer coisas que achava muito interessantes e quis passar para outras pessoas, alunos e aqueles que queriam aprender o instrumento. Sempre toda a vida dei aulas e gostei.

E - Que formação acha relevante para o ensino de instrumento?

P (1) – Bem, a pessoa devia ser bem informada e ter boa formação superior. Acho que também contam as experiências que se captam nos vários sítios. Deve-se sempre estar atento e curioso a coisas novas porque tudo tem evolução. A experiência académica e a experiência de vida são ambas importantes. Claro, deve- se ser bom profissional, é um bom avanço, mas a experiencia de vida também é importante porque nada funciona só dos livros ou coisas só feitas numa sala. Então, é sempre necessário olhar à volta, comparar, considerar e interagir com as outras pessoas.

E - A formação de que fala é mais a nível de instrumentista ou de pedagogo?

P (1) - As duas coisas. Alguém que tem problemas de tocar não pode dar bem aulas. Sabemos que há pessoas que pegam no instrumento e quase não sabem como tocam mas tocam bem. Mas são poucas. Se

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sequência das coisas… Eu sempre digo: quem não sabe andar não pode correr, quem não sabe correr não pode ir aos Jogos Olímpicos. Então, primeiro precisa-se aprender a andar, como os bebés.

E - Que tipo de compromisso tem com o contexto mais amplo da aprendizagem do aluno na escola? O que conheces do contexto de aprendizagem do aluno na escola?

P (1) – Bem… claro que tenho que saber o que tem nas outras disciplinas. Mas… [pausa longa] … Às vezes, quando faço perguntas, descubro que não sabem algumas coisas e questiono o que fazem noutra disciplina para saber como agir. Sobretudo sobre as disciplinas de Formação Musical, Solfejo e História da Música, porque são as que têm maior proximidade com o instrumento.

E - De que modo se sente quando leciona (emoções e desejos que motivam e moderam o seu trabalho)?

P (1) – Sempre me senti bastante bem e sempre tentei que os meus alunos aprendessem muito. O meu desejo sempre foi que (sobretudo com os alunos mais velhos) saíssem desta escola bem equipados e tocassem melhor do que eu. A gente ganha energia quando o aluno trabalha e faz o que a gente manda…. Bem, não consigo ficar sentada sem corrigir, e assim. Porque às vezes estou cansada e penso em deixar mais o aluno tocar, mas não consigo. Já me aconteceu muitas vezes no início da aula, dizer para o aluno tocar e só me viro para mesa (ou assim) e ele fica à espera que eu me volte. Isto porque estão habituados a que eu sempre lhes dê atenção.

E - Como consideras o estilo de relação com o aluno?

P (1) – Sempre tive bastantes boas relações com os alunos. Quero que aprendam muito e isso motiva-me muito quando correspondem.

E - Queres falar do que sentes quando dás as aulas?

P (1) – O ensino é cansativo mas quando o aluno responde bem, ganho energia com isso. Quando a coisa é recíproca, quando o aluno está contente, estuda e faz coisas que devia fazer e compreende. Às vezes, no início, vêm de outro tipo de aprendizagem (das academias) mas aqui na escola, precisam de coisas mais profundas profissionalmente e por isso, demoram 2, 3 anos até perceberem bem o que é preciso fazer. Aconteceu-me muitas vezes que até ao 9º ano, fizeram mas porque eu pedia, e só no 10º, 11º, começavam a perceber mesmo, mais profundamente e assim deram grandes saltos. A minha regra é: não desistir naquilo em que acredito. Porque já tenho bastantes experiências que funcionaram e por isso tenho certezas.

E - No ensino de instrumento considera relevante o trabalho em equipa (entre docentes, funcionários, pais, alunos)?

P (1) – Sim, isso também tem, claro, as suas importâncias porque isso é… [pausa]… Funcionários também têm grande… [risos]… contributo, quando as coisas funcionam bem. Claro que entre docentes deve haver alguma base de entendimento. Os funcionários são uma coisa mais técnica. Mas acho que quando as coisas funcionam (daqui vem a palavra funcionário, de organizar) que isso também tem influência no ensino. Os pais também se não veem e não percebem bem o que os filhos fazem, não é muito bom. Entre os alunos há uma concorrência saudável que é benéfica quando não se sentem inferiores, quando isso os puxa para cima.

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professor dê motivações… Mas mais importante é que o aluno acredite no professor. Eu motivo conforme as situações. Se vejo que o aluno não sabe muitas coisas mando pesquisar, também tenho que lhe mostra como coisas devem ser tocadas. Mas depende do aluno e das situações. O mais frequente é pôr o aluno a pensar e eu sentir que o aluno está a fazer as coisas bem, da forma correta. Tenho que insistir nisso, porque sei que funciona. Quando o aluno atinge mesmo o ponto: “ Ah! A professora tinha razão: assim funciona!” Só paro quando vejo que aluno reconhece, já percebeu. Acho que é muito importante não desistir e continuar, mesmo que demore um ou dois anos.

E - O que influencia o progresso dos jovens instrumentistas?

P (1) – Já falei nisso, não é? atingir coisas que são propostas pelo professor. Também a tal concorrência ou competição. Quando o aluno percebe que atingiu o objetivo e vê que as coisas funcionam. O que influencia não é o tempo mas é se abrem os horizontes. Por exemplo na técnica, quando depois de fazerem alguns exercícios conseguem aplicar e ter resultados com sucesso. Coisas que não sabiam e descobrem que as coisas estão mais fáceis. Por exemplo, técnica da mão esquerda fica mais leve e depois conseguem tocar tudo o que está na peça. A técnica, acho que tem grande importância e que depois faz libertar a musicalidade.

E - O que influencia muito o progresso é o desenvolvimento da técnica?

P (1) – Mmm, não é só, mas a técnica deve estar sempre na frente das outras coisas. Se não sei tocar escalas em três oitavas, não posso tocar concerto de Tchaikovsky. Como já falamos, tudo segue numa sequência. Em suma, embora seja complexo definir o que mais influencia, acho que primeiro é preciso que o aluno acredite no professor, depois é a técnica e depois a competição.

E - Considera de forma sistemática a planificação e a avaliação?

P (1) – Sim, claro. [Pausa] mas durante as aulas ou no início do módulo? Cada um tem de pensar nisso, isso é normal. Não faço isso todas as aulas, mas digo sempre aquilo que penso ao aluno. Não dou todas as aulas notas ao aluno mas informo de como foi avaliado a sua performance. Durante e no final como correu a aula com intuito de provocar ação no aluno. Por exemplo, digo: “Percebi que não estudaste para a aula.”

E - Acha relevante integrar o ensino individual de instrumento no resto do currículo, nos diversos contextos de aprendizagem? De que forma?

P (1) – Acho que sim. Por exemplo, nós falamos muitas vezes, não só na área de violino mas noutras áreas: cerca de 98% das pessoas precisa de trabalhar para tocar bem. Por isso preciso falar de postura, de corpo, de como as pessoas são: há pessoas que são muito rígidas e não conseguem pegar no instrumento. Falo nesses casos de relaxamento, e muitos alunos disseram-me que o que lhes ensinei os ajudou nas outras disciplinas. Aprender a estar relaxado, postura, yoga por exemplo. Lembro-me da aluna X que foi sempre muito rígida, tive muitas conversas com ela e parece que agora, depois de ter terminado a Artave o ano passado, lutou e tentou muito e já conseguiu mudar um pouco a sua mentalidade rígida física e mentalmente. Porque o físico faz com que se altero o psíquico. Depois claro que quando tocam uma musica os ajudo a perceber melhor a História da Música: as épocas.

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Ele vê tudo aprende tudo, é o treinador do filho, mas nunca tocou um instrumento. Até já percebe o que é preciso fazer e manda o filho fazer, é uma grande ajuda. Pelo menos ver se os meninos estudam aqui ao fim de semana. Também perceber a importância de algumas coisas.

E - Quando ensina os alunos aprendem? Aprendem todos do mesmo modo? O que faz com que aprendam mais?

P (1) – Aprende quem quer, tem de haver vontade e, novamente, a confiança no professor. Aprendem não todos do mesmo modo, alguém está mais atento, alguém deixa as coisas andar, não tem capacidade e tem de se escolher o tipo de estratégia, modo de explicação. A gente sempre tenta que eles aprendam mais, Procuro rever se o problema está na minha parte, se eu explico número suficiente de vezes. Por exemplo, às vezes tenho de dar dois ou três exemplos para encontrar palavras que funcionam com o aluno. Não posso dizer sempre as mesmas palavras porque todos ouvem de diferente forma. Por exemplo para relaxar, uso expressões como lenço de seda ou esfregona. Até ter certeza que o aluno começou a fazer como deve ser e eu reconheço que já funciona.

E - Considera o género do aluno no ensino one to one de instrumento?

P (1) – [Algum silêncio, expressões de quem não entendeu a questão, pausa longa] Nunca pensei muito nisso. Tento dar o melhor. É provável que os rapazes que com a professora sejam um pouco mais fechados e precisam que…mmm…não outro tipo, mas tem de se chegar a ele. Mas já tive raparigas fechadas e rapazes abertos. Há de tudo. Cada um tem a sua personalidade e nós temos de chegar a cada um. Acho que não posso tirar nenhuma conclusão.

E - Como considera o estilo de aprendizagem da maior parte dos seus alunos (frustrado, complacente, sério; extrovertido; dececionado, apologético)? Qual o que considera mais fácil de lidar?

P (1) – Hoje tenho uma rapariga… são todos diferentes. Frustrados, acho que não tenho. Sérios, tenho alguns eu até tenho quer dizer, olha ficas sério por foras, mas o músico tem de ter muitas emoções, caras, tens de saber o que exprime esta peça. Se é alegria , não podes tocar esta peça sério. Extrovertida tenho agora esta pequenina. Dececionados, às vezes quando não conseguem coisas mas tento levá-los para resolver as coisas, apologético não, frustrado tento não ter. quando vejo tento ajudar.

[a campainha da escola soou; entrevista interrompida por um dia] [no mesmo local, como o combinado, a entrevista foi reiniciada]

E - O que pensa acerca do ensino de instrumento em grupo?

P (1) – Para os nossos fins, aqui na nossa escola profissional, não acho muito boa ideia porque o aluno precisa muito cuidado e acho que não há condições de fazer esse trabalho em grupo. Em geral, para ser um bom instrumentista, o ensino em grupo não é muito favorável porque o professor não tem tempo para corrigir tudo, a todos os alunos, o trabalho requer ver tantos pormenores que não dá. O tempo para nos dedicarmos ao aluno não é suficiente. Claro que, por exemplo, os mais velhos explicam aos mais pequenos quando sei que o aluno já sabe o que faz, mas é só vigiar, explicar e o pequeno aceita mais facilmente do colega porque percebe que se o colega diz é porque resulta com ele. Então aí funciona. Em geral, em grupo não acho bem para a nossa escola.

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