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56 Em A History of Arquitetural Conservation, J Jukilehto apresenta uma nova perspetiva

No documento De Volta ao Oceano (páginas 72-75)

relacionada com a autenticidade, onde as noções de mudança e continuidade são apresentadas. O autor afirma que uma obra autêntica é diretamente relacionada com a contribuição artística, inovadora e criativa que oferece. A integridade, segundo o autor, nestes casos, afirma-se como as qualidades e características presentes e valorizadas num ambiente, (Jokilehto, 1986) estando diretamente relacionada com a autenticidade.

Procurando a preservação do Forte de São João Batista é necessário reconhecer o seu valor enquanto património, mas também o valor da região e do local onde se insere. Tendo património de origens diversas, desde arquitetónico (o próprio forte em si), arqueológico (mamoas) e natural (Parque Natural do Rio Cávado), compreende-se que todo este património se observa como um conjunto que é necessário recuperar e manter, para que esta relação continue e possa valorizar todo o conjunto arquitetónico e as suas características. Todos estes elementos são representações físicas da época em que foram construídos e representam diversos contextos sociais, económicos, culturais e urbanos.

A criação de estratégias para a conservação do conjunto e identidade do lugar é essencial para que se possa evitar uma maior degradação e controlar questões urbanísticas, como a expansão construtiva, que pode alterar, drasticamente, a envolvente e ameaçar o estado de conservação do monumento. Com todos estes fatores em consideração, é possível tecer reflexões sobre a preservação, recorrendo a um projeto capaz de manter a integridade do conjunto e encontrar uma nova utilização e função para auxiliar, não só na preservação do monumento, mas também para a sua inserção na malha urbana de modo mais cuidado, evitando futuros abandonos ou perdas de características do monumento.

No projeto desenvolvido é importante ter em consideração a distinção entre o novo e o antigo de modo a evidenciar e apresentar a nova proposta de modo assumido e direto. Os novos materiais terão em consideração os materiais preexistentes e a envolvente como conjunto, para que a materialidade possa ainda destacar todas as marcas temporais existentes no monumento e conjunto.

O forte de São João Batista está totalmente exposto a um processo de degradação contínuo, sendo imperativa a sua conservação. É uma situação precária que confere, a cada dia, perda de identidade patrimonial e paisagística. São danos acumulados ao longo dos anos e constata- se que estas marcas estão cada vez mais visíveis, conduzindo a riscos de ruína.

Para a intervenção projetual ter como finalidade a preservação do conjunto patrimonial, são necessárias ações, que iniciam, desde a conservação até a execução do projeto. Ações que garantem um novo funcionamento, uso e reinserção na malha urbana. Deste modo, é relevante a análise efetuada aos planos e cartas de modo a propor estratégias para o Forte tendo como critérios a autenticidade, integridade e a homogeneidade.

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 Autenticidade

A autenticidade é bastante referenciada em inúmeras cartas e documentos internacionais sobre a preservação do património, contudo, existem diversas vertentes de reflexões sobre o tema. A autenticidade e a conservação estão intrinsecamente conectadas pois para que seja possível salvaguardar as características do património é necessário proceder à conservação ao longo do tempo. A conservação assegura, que os elementos autênticos estéticos e históricos permanecem no património, fazendo com que o edificado mantenha a sua autenticidade, salvaguardado o seu contributo histórico para gerações futuras.

O documento de Nara apresenta que o papel da conservação é a salvaguarda do património histórico, analisando Correia, esta refere que a autenticidade não pode ser reduzida apenas aos aspetos formais e técnicos, mas deve ser incluída noutras perspetivas de compreensão dos fatores culturais e coletivos das sociedades. (Correia, 2016, p. 83) Conforme o património, a forma e a evolução do monumento ao longo do tempo, marcam fortes características. Estes impactos colidem nas tradições, técnicas, localização, enquadramento e memória das populações e locais onde estão inseridos. Com a autenticidade é apresentada uma fisionomia importante, muitas vezes esquecida, de que um monumento é muito mais do que os aspetos arquitetónicos, relembrando sempre o lado repleto de memórias e experiências, conforme a Declaração do Québec apresenta a preservação do “Spritu Loci”.

Segundo Correia, a autenticidade de um monumento não pode ser analisada unicamente pela sua materialidade. A presença do lugar é marcada pelo Homem, que se relaciona espacialmente com o monumento e o lugar onde este se encontra, o Homem relaciona-se com o conjunto patrimonial produzindo lembranças e sensações que se projetam na autenticidade na população local.

 Integridade

Relativamente à integridade, esta afirma-se no património quando observamos um conjunto com todas as suas características. O conjunto é composto pelo património e pela sua envolvente e atributos. Segundo Correia, a integridade está relacionada com o local ou conjunto quando este é uno e indivisível. A autora afirma, segundo a Carta de Veneza, que a materialidade e os elementos que constituem o monumento só podem ser retirados se se comprovar que é o único meio de garantir a preservação do património. (Correia, 2016, pp. 83,84)

Observando outro ponto de vista, segundo Cóias, as intervenções de conservação no património arquitetónico conduzem sempre a conturbações da harmonia em que este se encontrava, levando à perca de integridade e autenticidade. Assim o autor afirma que qualquer intervenção deve ser eficaz e mínima, de modo a atingir os objetivos, para que o monumento possa manter se fiel à sua existência. (Cóias, 2006)

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 Homogeneidade

Esta estratégia relaciona-se com a uniformidade e identidade, como um elemento singular a homogeneidade é a parte completa em todos os sentidos, contudo cada parte pode explicar o geral, visto que em conjunto transmitem uma identidade e unidade.

Correia refere que a intervenção no património deve ter em consideração as potencialidades existentes no lugar, para que não desapareçam partes da unidade, tendo como questão essencial os aspetos históricos e estéticos. A autora exprime que o monumento, como unidade, não pode ser o elemento transformador dos locais como uma marcação temporal, isto é, não se deve utilizar esta unidade de modo a converter todo um lugar numa única marca temporal.

Para que a conservação no Forte seja possível, deve-se ter como objetivo, uma proposta adequada às carências existentes no monumento. É necessário que as estratégias descritas anteriormente sejam capazes de ter em consideração a função, história e utilização do objeto de modo a que o resultado a propor possa ser o mais adequado.

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No documento De Volta ao Oceano (páginas 72-75)

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