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Em nível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul apresenta o seguinte julgado:

1. Número: 70012294120 Inteiro Teor: doc html Tipo de Processo: Apelação Cível

Relator: Maria Berenice Dias

Ementa: ECA. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA. DESCUMPRIMENTO DE DEVERES DECORRENTES DA GUARDA. Evidenciado que a detentora da guarda infligia maus-tratos aos irmãos e os forçava a trabalhar, verifica-se o descumprimento dos deveres decorrentes da guarda, a configurar a infração administrativa prevista no art. 249 do ECA. Negado provimento. ( SEGREDO DE JUSTIÇA) (Apelação Cível Nº 70012294120, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Maria Berenice Dias, Julgado em 09/11/2005)

Assunto: MENOR. DEVERES INERENTES AO PÁTRIO PODER OU DECORRENTE DE TUTELA OU GUARDA. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA. CONFIGURAÇÃO. MAUS TRATOS. EXPLORAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL. MULTA. APLICAÇÃO. (BRASIL, 2005).

Trata-se de apelação cível interposta por o.t.b, inconformada com a procedência da ação em que lhe move o ministério público que a condenou a pagar multa bem como concedeu a tutela de A.K.F. e M.E.G.

Alega a apelante que inexistem provas acerca das agressões referidas na inicial, sustenta avaliações psicológicas e sociais favoráveis a seu favor, e insurge-se contra a multa.

Provou-se nos autos que O. infligia constantes agressões à seus irmão, obrigando-os a trabalhar, descumprindo com seus deveres decorrentes da guarda. Pelo relatório apresentado pelo conselho tutelar, os menores afirmavam que a irmã os obrigava a vender pasteis na rua, até nos sábados e domingos, e caso não vendessem todos os pasteis ela lhes dava uma surra, inclusive, os menores teriam mostrado as marcas das agressões sofridas. No mesmo relatório as crianças admitem terem mentido em juízo, pois a irmã fez ameaças antes de sair de casa, inclusive de mandá-los pra FEBEM.

Fundamentado no artigo 249 do Estatuto da Criança e do Adolescente, os desembargadores decidiram por unanimidade em negar provimento.

2. Número: 70003836939 Inteiro Teor: doc html Tipo de Processo: Apelação Cível

Relator: Marilene Bonzanini Bernardi

Ementa: ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL ADMINISTRATIVO. DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO DE SUSTENTO E EDUCAÇÃO. EXPLORAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL. MENORES QUE VENDEM BALAS EM SINALEIRAS E LOCAIS DISTANTES. INFRAÇÕES REPETITIVAS. Em que pese tenham os demandados assumido compromisso, várias vezes, de interromper a conduta da exploração infantil dos menores, exigindo e os postando em locais distantes, vendendo balas em sinaleiras, reincidiram na infração, motivo pelo qual não há como serem liberados da imposição de penalidade. A falta de recursos financeiro dos infratores é problema de execução, não podendo relevar a reiterada e insistente falta, sob pena de se ter consagrada a impunidade de forma antecipada. Apelação provida. (RIO GRANDE DO SUL, 2002).

Trata-se de recurso de apelação interposto pelo Ministério Público em desfavor de P.V.C. e E.R.V.G, contra sentença que julgou improcedente a representação.

Alega o Ministério Público que reinteradas vezes as filhas dos apelados tem sido encontradas nas ruas vendendo balas para complementar a renda familiar, por ordem dos réus, que os agrediam caso não trouxessem o valor combinado.

A família é numerosa e todos dependem do auxílio doença do varão sendo pelo menos sete crianças, portanto é uma família de extrema necessidade, caso pelo qual, não justifica a aplicação de multa, como é a penalidade prevista.

CONCLUSÃO

O trabalho infantil é um tema bastante complexo, e só me dei conta disso quando tive que limitar meu trabalho dentro de um contexto do trabalho infantil. É bastante motivador, porque quanto mais se pesquisa, mais se aprofunda nesse mundo de todo o tipo de exploração de crianças em idade que mal se pode imaginar que possam estar trabalhando, e consequentemente aflora uma vontade de lutar pelo fim da exploração infantil e pelo respeito a seus direitos. No entanto, a falta de conhecimento das situações em que é permitido ou proibido o trabalho infantil nos faz cair em armadilhas e desacertos que podem comprometer o crescimento e desenvolvimento saudável de nossas crianças e futuras gerações da nação como um todo. Esse tipo de armadilha é muito comum de ser presenciado nos dias de hoje, quando as pessoas comentam: “eu sofri quando era pequena no trabalho, não quero que meus filhos sofram também” e assim se abstêm, se omitem da responsabilidade de preparar os filhos para o mercado de trabalho na idade correta conforme previsto constitucionalmente como direito da criança e adolescente.

Outro comentário ardiloso é: “trabalhei desde criança e não morri, o trabalho dignifica as pessoas e estas não se tornam vagabundos”. Além de prejudicar o desenvolvimento físico e mental das crianças, ainda justifica a exploração como meio de combater a criminalidade e a marginalidade, criando preconceito em relação aos que não trabalham.

As formas de trabalho infantil dentro da legalidade devem ser defendidas por toda a sociedade, mas nunca se pode deixar de ser vigilante, a conscientização dos pais e responsáveis deve ser constante para que busquem sempre e com primazia os direitos e garantias de suas crianças. Que coloquem acima de tudo o bem-estar, a educação, a saúde e o lazer de seus filhos. Que eles tenham o direito a ser criança.

Por sua vez, as formas de trabalho infantil proibidas por leis, devem ser erradicadas e severamente punidas. Para isso é necessário o envolvimento de toda a sociedade, que juntamente com os órgãos do governo e entidades privadas possam combater essa prática criminosa, mesmo que pareça tão insignificante diante do tamanho do problema que assola o mundo todo. Mas como se pode mensurar o valor do sorriso de uma criança sofrida, judiada pelo jugo do trabalho diante da liberdade de ser criança outra vez? O valor esta no prazer de quem teve coragem de fazer sua parte na busca por um mundo melhor.

Não basta deixar tudo a cargo do governo, é preciso que haja denúncias, que as pessoas, parentes, amigos, vizinhos, igrejas, escolas, associações de bairros, sindicatos, enfim, cabem a cada um de nós cidadãos desse mundo sair em defesa das crianças. Enquanto se compartilha do discurso demagogo de que isso é responsabilidade do governo, tem criança sendo explorada, chorando, passando fome, frio, sede, se machucando, se mutilando nos campos de trabalhos, morrendo na guerra do tráfico, seja no combate ou na dependência química induzida pelos traficantes à fim de aliciar as crianças no mundo do crime e das drogas.

Infelizmente, concluo que é impossível, no contexto atual a erradicação da exploração do trabalho infantil, pois a mesma tem origem no atroz sistema capitalista. A luta das Nações Unidas, da Comissão dos Direitos Humanos, bem como das políticas de governos pela erradicação da pobreza e miséria extrema, igualdade social e paz mundial não passa de uma utopia. É um investimento de esforços em uma guerra perdida, porque o sistema capitalista é pautado nos extremos, ou seja, capitalismo e igualdade social são totalmente opostos, são polaridades que se afastam, onde há um não pode existir o outro. No entanto, saber disso não é motivo para cruzar os braços, pelo contrário, a luta continua, porque acima de tudo somos seres humanos e quando se trata de uma criança, o sangue ferve diante das injustiças, pois são sujeitos de direitos, dignas de proteção e respeito. Que outra razão há para nossa existência nesse mundo senão o cuidado e proteção de nossos filhos, tão indefesos, tão vulneráveis à dor e ao medo?

A infância é uma fase da vida pautada na fragilidade, na dependência, na curiosidade, e não é à toa que a legislação, definiu que os direitos das crianças e adolescentes devem ser protegidos com prioridade absoluta, confirmado posteriormente pelo ECA. Isto significa dizer que o princípio da prioridade absoluta estabelece que as crianças e adolescentes devam ser

protegidos em primeiro lugar em qualquer situação e, sendo esse um direito fundamental, e esta sujeita à tutela jurisdicional, mesmo porque a vida adulta nada mais é do que o reflexo da infância.

REFERÊNCIAS

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