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2 PRODUÇÕES CIENTÍFICAS JÁ REALIZADAS SOBRE A ORGANIZAÇÃO DO

3.1 MÉTODO E CATEGORIAS DE ANÁLISE

3.1.4 Emancipação Humana

91 educação transformadora, que permita que todos que estiverem envolvidos nesse contexto educacional trabalhem coletivamente a fim de possibilitar uma educação emancipatória.

Uma vez que o trabalho e a educação inferem nas exigências da vida do homem em sociedade, o saber escolar e o cotidiano nos espaços fora da instituição de ensino explicitam o processo de formação do homem em relação ao conhecimento historicamente adquirido e o trabalho a ser produzido na sociedade capitalista.

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que do seu sucesso ou não, depende o crescimento ou perecimento da civilização. Por isso ela revê seus meios e fins, para recicla-los às novas circunstâncias.

Cabe então discutir como a educação no contexto capitalista pode contribuir na formação do homem que compreenda a necessidade de superação das desigualdades sociais; todavia salienta-se que a educação além de possibilitar a formação do homem em seu desenvolvimento pleno precisa também formar para o mercado de trabalho. Porém, essa formação para o mercado de trabalho não precisa estar relacionada a formar para a mão de obra para o “mercado de trabalho”, mas formar o homem para que tenha condições de lutar por seus direitos e deveres enquanto homem, independente da classe econômica que pertence.

Sendo assim, é preciso que haja compreensão das relações de poder que perpassam o campo educacional, para que seja possível, então, como explica Ferreira (2006a, p. 236) [...] “um “pensar” e um “fazer a educação” de forma séria, dedicada e compromissada, mesmo com todos os equívocos que conhecemos [...]”, portanto, é definir e assumir como e qual o objetivo da formação que acontece na escola. Ainda, segundo Ferreira (2006a, p. 237):

Um novo conteúdo, portanto, se impõe, hoje, [...] novas relações se estabelecem e novos compromissos desafiam os profissionais da educação a uma outra prática não mais voltada só para a qualidade do trabalho pedagógico e suas rigorosas formas de realização, mas também e, sobremaneira, compromissada com a construção de um novo conhecimento – o conhecimento emancipação -, com as políticas públicas e a administração da educação no âmbito mais geral.

Partindo do exposto, é preciso superar o conhecimento senso comum para se aproximar de um conhecimento mais crítico acerca da realidade. Nesse sentido, se a escola é responsável pela transmissão, assimilação e produção do conhecimento historicamente adquirido, faz-se necessário, coletivamente, pensar e refletir sobre e na prática a partir dos processos educativos relacionados ao currículo, planejamento e avaliação.

Esse trabalho educativo configura-se na perspectiva de formar homens conscientes da realidade que estão inseridos, em que possam agir na tentativa da superação das contradições e representações de uma sociedade democrática desigual. Desta forma, quando se pensa na reorganização do trabalho pedagógico considera-se pensar na formação de homens mais humanizados. Desafio difícil, mas

93 que precisa ultrapassar os espaços escolares e atingir a sociedade. A luz dessa apreensão sobre a organização do trabalho pedagógico, Ferreira (2006a, p. 251) afirma que:

[...] como responsável pela qualidade do processo de humanização do homem através da educação, nesse contexto hodierno firma outros compromissos que ultrapassam as especificidades do espaço escolar, sem dele descurar. Afirma-se nele, enquanto espaço de fazer o mundo mais humano através do trabalho pedagógico de qualidade, garantindo conteúdos emancipatórios trabalhados com toda profundidade em toda sua complexidade e contraditoriedade, mas compromete-se com a administração da educação que concretiza as direções traçadas pelas políticas educacionais e ainda com as políticas públicas que as orientam.

Esse compromisso se traduz em um acompanhamento e estudo de todas as relações que se estabelecem entre as tomadas de decisões, as determinações sociais e políticas que as gestam e as possíveis consequências. É ainda um compromisso de subsidiar a administração da educação como um todo, enquanto “prática de apoio à prática educativa”, envolvendo-a na participação direta da construção coletiva da emancipação humana.

Assim, trabalhar como profissional da educação é um compromisso social, político, econômico, cultural e humano que se dá a partir das necessidades educacionais e da conjuntura que envolve esse contexto. Nesse sentido, a educação pode ser compreendida numa perspectiva de emancipação humana35. Ou seja, a educação é um compromisso com a formação de um homem livre individualmente e coletivamente, autônomo, crítico, reflexivo, solidário, consciente das suas ações.

E ao considerar que a educação brasileira está num contexto democrático, essa formação permite o diálogo, o respeito, a tomada de decisões coletiva e individual. Portanto, a educação emancipatória é uma possiblidade de garantir ao homem o exercício pleno para e pela cidadania.

Neste âmbito, estudos, reflexões e discussões críticas acerca da educação emancipatória precisam ocorrer na formação dos profissionais da educação. Isso implica na compreensão de que o trabalho educativo é um movimento contínuo da práxis, que percorre os tempos e espaços. É por meio do homem e das relações que os homens estabelecem entre si que essa formação humana pode ser vislumbrada na sociedade. Nessa ótica, a educação se dá para o homem, e não com o homem.

35 [...] Marx e os marxistas tendem a ver a liberdade em termos da eliminação dos obstáculos à emancipação humana, isto é, ao múltiplo desenvolvimento das possibilidades humanas e à criação de uma forma de associação digna da condição humana (BOTTOMORE, 2001, p. 123-124).

94 No que concerne esse pensamento de repensar ações educativas, é importante salientar o que Ferreira (2008, p. 78) diz:

Acredito que ação alguma possa criar uma sociedade realmente humana a menos que seja inspirada e dirigida por valores perenes, pela filosofia entendida como um estudo crítico do homem e do mundo em que vivemos, uma comunidade social realmente humana.

O que se verifica, então, é que a discussão sobre a educação emancipatória abrange o conceito de homem e da sua existência, bem como a compreensão das condições de transformação da realidade que dispõe e impõe a formação do homem.

Portanto, para que melhorias aconteçam na educação e na formação do homem mais humano, é preciso entender que a formação continuada do profissional da educação necessita acontecer de forma indissociável ao processo educativo do estudante, ou seja, é um movimento contínuo de apreensão da realidade.

Nesse sentido, a emancipação humana no contexto escolar implica conhecer o trabalho que se realiza nesse espaço em sua totalidade, para que de forma livre, consciente, crítica e coletiva, os profissionais da educação proporcionem ações educativas que permitam a inclusão de todos os estudantes que vivenciam situações desiguais na sociedade contemporânea.

A proposição de transformar a sociedade por meio de uma educação emancipatória vislumbra uma amplitude no modo de agir dos homens. É uma possibilidade real de transformação, a qual se revela na perspectiva de tornar o ser humano mais humanizado diante das desigualdades sociais presentes. Trata-se de dizer, então, que a emancipação humana só acontece na perspectiva da formação do homem omnilateral.