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CAPÍTULO 2: METODOLOGIA

2.6 Embasamento para análise

Nesta seção, apresento o referencial teórico relativo à análise dos dados coletados durante a pesquisa, o qual está centrado no plano geral do texto, conteúdo temático, principais escolhas lexicais (Bronckart, 1999) e nas relações interpessoais (Kebrat-Orecchioni, 2006).

2.6.1 Conteúdo temático

Bronckart (1999, p.94), ao teorizar sobre a interação comunicativa, destaca que ela se inscreve em um quadro de uma formação social, que implica “o mundo social” (normas, valores, regras), e o “mundo subjetivo” (imagem que o agente dá de si ao agir), sendo o sentido desses alunos sobre sua imagem ao agir, o foco deste trabalho. Ao descrever esse contexto sociosubjetivo em que as interações ocorrem, o autor define como emissor a pessoa que produz um texto, seja ele oral ou escrito, sendo que sua posição social lhe dá o estatuto de enunciador, isto é, o papel social que o emissor desempenha na interação em curso. Todo texto produzido é destinado a uma ou várias pessoas, sendo essas, portanto, compreendidas como receptores. Especificamente quando a produção é oral, o receptor geralmente situa-se no mesmo espaço-tempo do emissor e, assim, pode responder-lhe diretamente; podendo, nesse caso, ser também chamado de co-produtor ou de interlocutor. No que se refere ao enunciador de um texto, Bronckart (1999, p.95) destaca haver outra acepção do mesmo termo (cf. Ducrot, 1984), que provém de uma análise das propriedades do texto efetivamente produzido, e que se relaciona com as diferentes vozes que nele são postas em cena. (Quem “fala” no texto? Quem é o responsável pelo que é expresso?) Em um texto, pode parecer “que o autor se exprime em seu próprio nome”, isto é, a partir da posição sociosubjetiva assumida

pode ocorrer também que um texto mobilize outras vozes, às quais é atribuída a responsabilidade do que é expresso. Essas vozes podem corresponder a outras pessoas. Essas vozes podem corresponder a outras pessoas ou entidade sociais, como pais, professores, amigos, a escola, a ciência. Ao citar sobre essa multiplicidade possível de vozes, Bronckart destaca, que a noção de enunciador designa, na verdade, um construto teórico, uma instância puramente formal, a partir da qual são atribuídas as vozes que se expressam em um texto.

Segundo Bronckart, (1999, p.120) o conteúdo temático de um texto “pode ser definido como um conjunto de informações que nele são explicitamente apresentadas” (1999, p.97). É constituído genericamente de informações “físicas”, “sociais”, “subjetivas”, organizadas em um texto em função das unidades declarativas. Conforme Bronckart (1999), o conteúdo temático é necessário para a compreensão inicial dos temas do discurso.

O levantamento de temas das interações revela os sentidos que a pessoa que enuncia tem sobre a situação de comunicação em que ela se encontra. No caso desta pesquisa, a análise do conteúdo temático das entrevistas com os alunos me possibilitou investigar os sentidos desses alunos sobre si próprios como aprendizes e sobre as razões de suas ações em sala de aula. Também, o levantamento das escolhas lexicais e dêiticos (verbos, substantivos, adjetivos e pronomes pessoais) clarificou os sentidos construídos por esses alunos, foco desta pesquisa.

2.6.2 Relações interpessoais

Kebrat-Orecchioni (2006), ao falar de interações, destaca que elas se realizam por meios verbais e não-verbais. Caracteriza como meios verbais aqueles expressos por meio da linguagem verbal, e meios não-verbais aqueles transmitidos pelo canal visual, isto é, atitudes, posturas, jogos de olhares, mímica e o riso. Para a autora, os elementos que acompanham as unidades lingüísticas e são transmitidos pelo canal auditivo são tidos como elementos paraverbais: entonação, pausa, particularidades de pronúncia, características da voz.

Uma vez que esses elementos paraverbais e não-verbais intervêm no diálogo dos interactantes, o estudo desses torna-se extremamente relevante para a compreensão da interação verbal e do estado afetivo dos participantes, pois eles não só ratificam o discurso, como também o contradiz. Desempenham um papel importante nos mecanismos que permitem “tomar, manter ou dar a palavra”, Kebrat-Orecchioni (2006, p.41), sendo também indicadores muito freqüentes do estado afetivo dos participantes: pausas, olhares, mímicas e, sobretudo, a

voz são indicadores da expressão das emoções e de característica da relação interpessoal, segundo Kebrat-Orecchioni (2006). Conforme a autora, a mímica-gestual tem para o emissor uma função de facilitação cognitiva, ou seja, ela o auxilia a efetuar as operações de codificação. Além disso, os gestos são um ótimo exemplo para revelar o nível da relação e sendo também indicadores dos laços afetivos que unem os membros de um grupo. Segundo Kebrat-Orecchioni, a postura, (2006), a orientação do corpo, o caráter mais ou menos relaxado das atitudes, a duração e intensidade dos contatos oculares; alguns gestos, como sorrir, piscar o olho são, geralmente, marcas reveladoras de uma relação íntima.

Para levantar os sentidos dos alunos sobre si próprios como aprendizes, e sobre as razões de suas ações em sala de aula, enfocarei o conteúdo temático, escolhas lexicais (verbos, substantivos, adjetivos e pronomes pessoais), e as relações interpessoais nas entrevistas (Kerbrat-Orecchioni, 2006), com foco nos elementos verbais e não-verbais.

No tocante às relações interpessoais, Kerbrat-Orecchioni (2006) as descreve tendo como base o funcionamento das interações verbais, ou seja, das relações que se constroem pelo viés da troca verbal entre os actantes, sendo essas interações sustentadas por regras que propiciam sua coerência interna. Ao falar das interações verbais, focaliza o tipo de “distância”, horizontal e vertical, que se instaura entre os interactantes durante a interação. Caracterizou como relação horizontal aquela em que os interactantes, por meio de numerosos e diversos meios verbais e não-verbais, exprimem a distância que desejam estabelecer com o parceiro da interação. Já a relação vertical, essencialmente dissimétrica, aquela em que os parceiros em presença não são sempre iguais na interação: um dentre eles pode se encontrar numa “alta” posição de “dominante”, enquanto o outro está localizado numa “baixa” posição de “dominado”, ou seja uma relação hierarquizada. No entanto, essa diferença de lugares sociais ocupados pelos interactantes depende do que fazem e do que se passa ao longo da interação. Nesse sentido, destaca-se que a interação é um processo dinâmico, no qual nada é determinado de uma vez por todas.

No contexto desta pesquisa, as relações interpessoais nas entrevistas, com foco nos elementos verbais e não-verbais serviram de indicadores do estado afetivo dos alunos participantes.

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