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PARA SE REFERIR A JULGADOS ANTERIORES

6. EMENTAS COMO REFLEXO DO ACÓRDÃO?

Carolina Cutrupi Ferreira Marina Jacob Lopes Natalia Langenegger

Trata-se a ementa de resumo ou indexação dos principais argumen- tos e do resultado de um acórdão. O art. 563 do CPC prevê que “todo acórdão conterá ementa”. Entretanto, não há no CPC ou em outra lei previsão de requisitos para que esta seja elaborada.

São os regimentos internos de cada tribunal que dão certas indi- cações sobre a competência para elaborar ementas. O art. 96, § 4º, do Regimento Interno do STF, por exemplo, prevê que “a Secreta- ria das Sessões encaminhará os autos ao Relator sorteado ou ao Relator para o acórdão, para elaboração deste e da ementa, no prazo de dez dias”. Assim, no STF, o relator é responsável pelo conteúdo da ementa, o qual é redigido após o julgamento final.

A ementa é o primeiro contato com o teor do julgado. Muitos advogados e pesquisadores procuram nesta parte do acórdão as informações relevantes sobre o conteúdo da decisão. Por exemplo, a ementa é usada, muitas vezes, para saber qual é o entendimento do STF em determinado assunto, se vale a pena aprofundar o estu- do do julgado ou se ele deve ser citado em uma eventual petição judicial. Importa relembrar que quando um acórdão é procurado em ferramentas de pesquisa, em geral, é na ementa que constam as pala- vras-chaves inseridas no campo de busca.39

Ressalta-se ainda a função unificadora das ementas nas ações com mais de um voto. As ementas representam a decisão colegiada e devem ser claras e diretas, sendo as fontes primárias de informação, tanto para a imprensa quanto para o público leigo, na divulgação do que foi julgado.

No livro Elaboração de ementas jurisprudenciais (GUIMARÃES 2004), publicado pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho de Justiça Federal, o autor apresenta alguns parâmetros metodoló- gicos para a elaboração de ementas. Como metodologia de redação da ementa, o autor entende que:

A ementa, como resumo que é, deve ser fruto de um processo de análise visando à condensação do documento, processo em que se selecionam seus aspectos mais importantes, procurando-se recuperar os silogismos básicos desenvolvidos. Dessa forma, deve ser um novo documento, com começo, meio e fim e não uma mera transcrição de trecho de voto, por mais elucidativo que possa parecer. [...] Pergunte-se: (a) ao relatório (do acórdão ou do voto): (i) que situação ocorreu? (ii) que direito se discute?; (b) ao dispositivo: que se decidiu quanto à aplicabilidade do direito ao fato? (c) à fundamentação do voto: quais as razões para se adotar aquele determinado entendimento? (GUIMARÃES 2004, p. 94)

Além dessas propostas metodológicas de redação, pode ser ques- tionada a necessidade de uma ementa ser exaustiva, ou seja, se há ou não necessidade de que mesmo argumentos vencidos sejam citados. Ainda que não existam critérios legais a serem seguidos, é espera- do que, no mínimo, as ementas sejam coerentes com o discutido no acórdão como um todo.

Para tentar compreender como é redigida a ementa dos acórdãos, perguntou-se ao STF “quais critérios são utilizados para a constru- ção da ementa, se algum manual ou técnica é adotada ou se varia de ministro para ministro”. A Secretaria-Geral da Presidência do STF respondeu que: “em atenção à sua mensagem, informamos que os cri- térios e a técnica são definidos pelos próprios ministros”.40

Diante disso, conclui-se que não há diretrizes predefinidas para a elaboração de ementas, nem mesmo internas, informais ou extraga- binetes. Cada relator pode inserir na ementa os elementos que achar mais relevante, desde argumentos, citação de precedentes ou argu- mentos vencidos.

Deste modo, a pesquisa procurou verificar se há correlação da ementa com o teor do acórdão, ou seja, se as discussões travadas no âmbito do RE foram incorporadas à ementa ou se nela consta ape- nas a visão do relator.

6.1. DIAGNÓSTICO DAS EMENTAS ENCONTRADAS

Na maior parte dos recursos extraordinários estudados nesta pes- quisa foram encontradas ementas coerentes com as discussões nos

O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA ALÉM DAS AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE

acórdãos. No entanto, os argumentos do voto do relator (ou relator para o acórdão) são, em geral, os que dão base para a redação da ementa. Os argumentos dos demais ministros, por vezes, não costu- mam ser incorporados à ementa, ainda que em concordância com os demais.

No RE 511.961, por exemplo, que versa sobre a impossibilidade jurídica de se exigir diploma universitário específico para o exercí- cio da profissão de jornalista, a ementa reflete apenas o voto do Ministro Relator Gilmar Mendes. Inclusive, há nela algumas ques- tões que não foram consideradas por nenhum outro ministro, como a vedação à criação de conselhos profissionais e a violação da norma em face do Pacto de San José da Costa Rica. Ainda, apenas o Minis- tro utilizou a noção de “reserva legal qualificada” e mesmo assim ela está na ementa.

Como é o relator quem faz a ementa, argumentos contidos em seu voto são mais recorrentemente usados. Algumas questões tratadas por outros ministros da maioria ou vencidos não constam da ementa, que costuma seguir, portanto, as linhas argumentativas do voto do rela- tor, não refletindo de maneira fiel o julgado, isto é, a ementa não representa seu resumo.

Não foram encontrados padrões de escrita nas ementas pesqui- sadas. Por vezes, a ementa reflete apenas a transcrição da parte dispositiva da sentença, informando qual seria a conclusão do acór- dão. Com apenas a enunciação do julgamento, sem explicitação dos argumentos utilizados para fundamentar a decisão, a ementa repro- duz meramente o enunciado que resume a decisão. Como exemplo, cita-se a ementa do RE 552.598-8:

Citação por edital. Inventário. Art. 999, § 1º, do Código de Processo Civil. 1. A citação por edital prevista no art. 999, § 1º, do Código de Processo Civil, não agride nenhum dispositivo da Constituição Federal.