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2.2.4 Discussão

2.2.4.3 Emissão de folhas novas e crescimento

A emissão de folhas novas e o crescimento em altura revelaram alguns padrões que demonstram que estas duas variáveis devem estar fortemente relacionadas, uma vez que a maior emissão de folhas novas muitas vezes coincidiu com maior crescimento em altura.

O período de avaliação em que houve maior emissão de folhas novas foi registrado em T2

(segunda medição), cerca de três meses após o transplante. As maiores taxas de crescimento foram registradas na última medição (T3), indicando que estes valores podem ser conseqüentes da

emissão de folhas novas do período anterior.

Muitas das famílias e espécies que se destacam por elevada emissão de folhas novas também foram destaque no crescimento em altura, como foi o caso de Piptocarpha notata (Asteraceae), Guapira opposita (Nyctaginaceae), Heteropterys nitida (Malpighiaceae) e Myrsine

spp. (Myrsinaceae).

Quando consideradas as diferentes classes de altura, de maneira geral os indivíduos das menores classes foram os que mais cresceram e os que mais prontamente emitiram folhas novas (logo nas primeiras medições), indicando que suportam melhor o processo do transplante. Essas informações corroboram com a maior taxa de sobrevivência discutida no tópico anterior e sustenta a hipótese de que esses indivíduos possuem maior capacidade de restabelecimento pós- transplante, provavelmente devido à fase ontogenética na qual se encontram. Em geral, indivíduos de menores tamanhos possuem área foliar menor do que aqueles de tamanhos maiores, o que implica em menores taxas de evapotranspiração e conseqüentemente em menor demanda de água e menor complexidade da estrutura radicular. Essas condições colocam os indivíduos de maior tamanho em uma situação de maior exigência pós-transplante e, portanto, os tornam mais sensíveis aos procedimentos desta técnica, resultando no menor desempenho dos mesmos (sobrevivência e crescimento).

Apesar do desempenho dos indivíduos de menores tamanhos, pode-se perceber que na última medição os sobreviventes das maiores classes de altura emitiram folhas novas tanto quanto as menores, indicando que estes indivíduos devem possuir restabelecimento mais lento devido ao estado de latência em que permanecem após o transplante (VIANI; RODRIGUES, 2007).

Quando considerados os diferentes grupos sucessionais, as pioneiras e secundárias iniciais (pioneiras sensu lato) apresentaram maiores taxas de crescimento, acompanhadas também de

maior emissão de folhas novas. Esse desempenho pode estar relacionado a um conjunto de características fisiológicas e estruturais que permitem que essas espécies tenham maior capacidade de aclimatação (STRAUSS-DEBENEDETTI; BAZZAZ, 1996) e maiores taxas de crescimento (KOBE et al., 1995; WALTERS; REICH, 1996), e serão tratadas com maior profundidade no capítulo 2.

É importante lembrar que avaliações a respeito do desenvolvimento das mudas usualmente incluem outras medidas como, por exemplo, o diâmetro do caule, relação área foliar/caule, biomassa radicular, etc. Além destas, outras características qualitativas que definem mudas sadias e de qualidade também são avaliadas (GONÇALVES et al., 2000; YAMAZOE; VILAS BÔAS, 2003; CRESTANA, 2004), embora estas sejam aplicadas às mudas produzidas em viveiros a partir de sementes, sobretudo aquelas de interesse comercial.

As mudas de espécies nativas obtidas diretamente da regeneração natural dificilmente atenderão aos critérios convencionais de qualidade, uma vez que se desenvolvem sob condições reais de disponibilidade de recursos (água, luz, nutrientes) e pressão seletiva (competição, herbivoria etc.); no entanto, os produtos desses efeitos devem ser considerados sob os seus aspectos positivos, que incluem a obtenção de mudas naturalmente selecionadas e aptas às condições locais (MOTTL et al., 2006).

2.2.4.4 Custos

Um aspecto a ser discutido em relação à estimativa de custos e rendimento da técnica de transplante de mudas da regeneração natural é o planejamento da coleta de tais informações. É preciso definir de antemão quais dados serão coletados e para que fins, caso contrário as informações se tornam pouco precisas e relevantes.

No caso deste estudo, uma dificuldade que refletiu a falta de melhor planejamento foi, por exemplo, a distinção entre horas-homem utilizadas para coletar as mudas e para montar as parcelas. O tempo gasto com essas atividades foi contabilizado de forma contínua, impossibilitando um cálculo mais preciso do rendimento de coleta por pessoa.

Em comparação a trabalhos semelhantes, o rendimento de coleta neste estudo (0,61 indivíduos.homem-1.minuto-1) foi menor do que o registrado por Bechara (2006), que estudou o

rendimento de coleta em áreas de Floresta Estacional Semidecidual (1indivíduo.homem-1.minuto-

1) e cerrado (0,67 indivíduo.homem-1.minuto-1).

A Companhia Cimento Ribeirão Grande (CCRG - Ribeirão Grande-SP), em função das suas atividades de mineração, realizou coletas de plântulas e plantas jovens em áreas florestais a

serem suprimidas, visando a produção de mudas com elevada diversidade (Paulo Gobbo4 –

comunicação pessoal). O rendimento de coleta foi elevado (2,5 indivíduos.homem-1.minuto-1), e pode ser reflexo do sistema de trabalho estabelecido com a empresa prestadora dos serviços, no qual se priorizou o rendimento em troca de remuneração imediata, estimulando os trabalhadores a finalizar o serviço o mais rápido possível. Esse rendimento, no entanto, não foi avaliado quanto à sobrevivência das mudas, que podem ter sofrido danos maiores e conseqüentemente apresentado menor sobrevivência.

Dessa forma, pode-se concluir que as influências de fatores variados resultam em diferentes rendimentos de coleta, indicando que fatores como o investimento no treinamento da mão-de-obra, condições de acesso às áreas de onde serão retirados os transplantes e outros devem interferir diretamente sobre as porcentagens finais de sobrevivência, ressaltando a necessidade de futuros estudos para avaliar esses aspectos.

O rendimento de coleta pode variar ainda em função dos propósitos do transplante; o caráter experimental deste trabalho e o do realizado por Bechara (2006) implicam em menor rendimento porque devem se preocupar com critérios de inclusão de indivíduos e de amostragem, exigindo maior rigor no estabelecimento das parcelas e coleta dos regenerantes.

Em relação ao custo estimado por muda, o valor a ser considerado deve se basear naquele que inclui o custo relativo às mudas que morreram, já que o valor investido nas mesmas deve ser recuperado. Portanto, o custo de produção a ser utilizado na estimativa de preço das mudas é de R$ 0,95 (cerca de US$ 0.49), valor sobre o qual adicionamos 100% imaginando que este deve ser o adicional padrão, resultando num preço final de aproximadamente R$ 1,90 (cerca de US$ 1.00) por muda. No Estado de São Paulo, o preço médio de mudas de espécies nativas em saquinhos plásticos varia de R$ 1,00 a R$ 2,00 (FLORESTAR ESTATÍSTICO, 2005). Embora os valores encontrados por este estudo estejam de acordo com os encontrados no mercado, vale reforçar que algumas etapas não foram aqui contabilizadas e que, portanto, esse valor pode estar subestimado. Ainda assim, baseado nessas informações, podemos prever que o custo de uma muda

transplantada da regeneração natural não deve ser muito superior ao preço médio de uma muda disponível em viveiro.

A previsão proporcionada por este estudo é de que o transplante de mudas exige a utilização de saquinhos de polietileno, uma vez que as raízes das plantas coletadas geralmente estão desenvolvidas a tal ponto que não é possível a repicagem para tubetes, a não ser que se faça um poda de raiz, o que dependendo das proporções não é desejável. Além de volumosas e extensas, muitas vezes as raízes dos indivíduos coletados são tortuosas, dificultando ainda mais a utilização de tubetes nesta técnica. Uma alternativa seria conciliar a utilização de saquinhos e de tubetes, fazendo o transplante dos indivíduos menores para os tubetes (sempre que possível) e dos maiores para os saquinhos.

Muitos autores destacam as vantagens e desvantagens da utilização de saquinhos plásticos

versus tubetes, sendo que de maneira geral a segunda opção é a mais vantajosa em longo prazo

(YAMAZOE; VILAS BÔAS, 2003; CRESTANA, 2004), exigindo menores quantidades de substrato e de espaço, além de facilitar o transporte. Por esses motivos, boa parte da produção atual de mudas nativas é realizada em tubetes, que apesar da maior demanda de investimento inicial, proporcionam mudas com preços mais competitivos, oscilando entre R$ 0,35 e R$ 0,65 (FLORESTAR ESTATÍSTICO, 2005).

Frente a essa realidade, o transplante de mudas da regeneração natural pode não ser a opção economicamente mais viável, mas ainda deve ser considerada devido às vantagens ecológicas que pode oferecer, com destaque para a diversidade de espécies e formas de vida que os viveiros convencionais não conseguem produzir. Além disso, a aplicação desta metodologia em escalas maiores pode aperfeiçoar a técnica e conseqüentemente reduzir os custos relativos à sua execução. Oportunidades para que isso aconteça de fato podem ser viabilizadas aproveitando as situações de passivo ambiental a grandes empresas e outros grandes empreendimentos promovidos pelo próprio Estado. Através da obrigatoriedade legal, o desmatamento de áreas florestais deveria ser compensado com medidas que evitem o desperdício de material vegetal de relevante valor ecológico, como é o caso da técnica de transplante.

Como mencionado anteriormente, algumas etapas do transplante de plântulas e plantas jovens podem ser refinadas e contribuir para sua maior eficiência. Uma das etapas que merece atenção é o procedimento de coleta, que deve ser cuidadoso e pode apresentar resultados melhores se houver treinamento da mão-de-obra. A qualidade das instalações do viveiro em que

as mudas serão acondicionadas também deve influenciar de forma positiva a sobrevivência das mudas. Da mesma forma, os tratos culturais convencionais, incluindo adubação periódica, podem favorecer a taxa geral de sobrevivência.

Alguns “custos-chave” devem ser responsáveis por boa parte do orçamento referente ao transplante de mudas, podendo listar a mão-de-obra, o substrato, o transporte e a infra-estrutura do viveiro. Em diferentes situações, as despesas relacionadas a esses itens podem definir a viabilidade dessa técnica, e por isso devem ser planejadas de forma a otimizar os recursos já disponíveis. Em um exemplo simples, a montagem do viveiro ou local de acondicionamento das mudas deve ficar o mais próximo possível do local de onde foram retiradas ou para onde serão futuramente transferidas, evitando ao máximo o deslocamento das mudas e os custos relativos ao transporte das mesmas. O investimento em substrato e infra-estrutura (viveiro) dependerá das intenções e condições do executor, ficando a critério do mesmo o grau de investimento a ser aplicado nesses itens. O custo de mão-de-obra é muito relativo e depende da região em que se insere o projeto; para o local desse estudo (Registro-SP) o valor mínimo cobrado pelos trabalhadores foi de R$ 20,00 a diária, valor menor do que o esperado para outras regiões do Estado.

Quando comparado a outras técnicas de restauração, especialmente aos plantios de mudas

convencionais, podemos garantir que a variação dos custos será referente apenas ao preço da

muda, sendo que todos os demais procedimentos serão idênticos ou muito próximo aos convencionais. Ainda assim, eventuais questionamentos em relação ao custo-benefício dessa técnica podem ser argumentados assumindo a perspectiva de que o valor da biodiversidade é difícil de ser estimado e que por isso deve prevalecer a “abordagem da precaução”, favorecendo a conservação da diversidade de espécies ainda que o seu papel na manutenção dos ecossistemas não esteja esclarecido (LYONS et al., 2005).

Devido a pouca preocupação conservacionista de muitos executores de projetos de restauração, as vantagens potenciais associadas à técnica de transplante de mudas podem parecer irrelevantes e desnecessárias, especialmente para pequenas proprietários. Sendo assim, a aplicabilidade da dessa técnica deve ser uma opção mais provável para empreendedores que contam com orçamento específico para as questões ambientais e que praticam ações de restauração como forma de compensar os prejuízos que suas atividades exercem ao meio ambiente, especialmente em casos de desmatamento de florestas nativas.

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