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CAPÍTULO III – Experimento

3.4. Resultados e discussão

3.4.10. Emissões de metano entérico

Não foram observadas diferenças (P>0,05) entre a produção de metano por dia (g/dia) ou nas relações de metano produzido por consumo (g/kg) de matéria seca (MS), matéria seca digestível (MSD), fibra insolúvel em detergente neutro (FDN), fibra insolúvel em detergente neutro digestível (FDND), fibra insolúvel em detergente ácido (FDA) e fibra insolúvel em detergente ácido digestível (FDAD) entre as silagens de capim Andropogon gayanus realizadas em três idades de corte (56, 84 e 112 dias de rebrote) (Tabela 14). Pode-se observar uma tendência (P<0,10) de aumento da produção de metano por MSD, FDND e FDAD com aumento da idade de corte do capim. Foram encontradas correlações positivas entre a produção de metano (g/dia) e os consumos (g/dia) de MS (r CH4 x CMS = 0,79; P<0,001) e MS digestível (r CH4 x CMSD = 0,73; P<0,001), MO (r CH4 x CMO = 0,79; P<0,001) e MO digestível (r CH4 x CMOD = 0,75; P<0,001). Apesar da maior produção de metano (g/dia) ser normalmente correlacionada à maior digestão da fibra, pois esta leva ao aumento da relação acetato/propionato comparado com a digestão de carboidratos não fibrosos, as correlações entre a produção de metano (g/dia) e os consumos de FDN (r CH4 x CFDN = 0,80; P<0,001) e FDN digestível (r CH4 x CFDND = 0,73; P<0,01) foram muito próximas às encontradas para os consumos de MS e MO digestíveis.

Avaliando a produção de CH4 em forrageiras tropicais, Machado (2010) trabalhando com silagens de sorgo, Velasco (2011) com capim Brachiaria decumbens, Faria Jr. (2012) com silagens de Tifton-85 e Teixeira (2013) com capim-elefante encontraram valores médios de 14,5, 16,4, 16,9 e 16,19 g/kg de MS consumida respectivamente, valores estes que foram

superiores a média encontrada neste trabalho (11,6 g/kg de MS consumida). Esta menor produção é difícil de ser explicada, mas parece estar relacionada à menor fermentação ruminal devido ao elevado teor de fibra (FDN e FDA) e o baixo teor de PB das silagens avaliadas no presente trabalho. A correlação positiva encontrada entre o consumo de PB (g/dia) e produção de metano (g/dia) sustetam esta hipótese (r CPB x CH4 = 0,74; P<0,001). O menor tamanho de partícula da dieta e uma maior taxa de passagem pelo rúmen são outros fatores que também podem contribuir para a redução da matéria organica fermentada no rumen e, consequentemente, para a redução da produção de CH4.

Tabela 14. Efeito da ensilagem do capim Andropogon gayanus colhido aos 56, 84 e 112 dias de rebrote sobre a emissão de metano por ovinos.

Item Idade de corte (dias) EPM Regressão linear§ R2 P

56 84 112 CH4 (g/dia) 15,9 11,7 15,2 3,66 - - 0,90 CH4 (g/kg de MS) 11,5 10,7 12,5 2,25 - - 0,75 CH4 (g/kg de MSD) 22,3 24,7 32,9 4,82 y = 10,664 + 0,190x 90,78 0,10 CH4 (g/kg de FDN) 15,4 14,4 16,8 3,02 - - 0,72 CH4 (g/kg de FDND) 26,0 27,6 38,4 5,32 y = 12,099 + 0,221x 84,75 0,09 CH4 (g/kg de FDA) 25,5 25,2 29,4 5,21 - - 0,58 CH4 (g/kg de FDAD) 42,7 49,5 67,1 9,41 y = 16,480 + 0,436x 93,91 0,07 EPM = erro padrão da média; R2 = coeficiente de determinação; P = nível de significância (probabilidade de efeito linear); §y = parâmetro avaliado, x = idade de corte (em dias); MS = matéria seca; MSD = matéria seca

digestível; FDN = fibra insolúvel em detergente neutro; FDND = fibra insolúvel em detergente neutro digestível; FDA = fibra insolúvel em detergente ácido; FDAD = fibra insolúvel em detergente ácido digestível. A produção de metano (g/kg de MS ou g/kg MS digestível) em alguns trabalhos parece aumentar com o aumento da maturidade da forragem (McAllister et al., 1996; Navarro-Villa et al., 2011; Purcell et al., 2011). Robertson e Waghorn (2002) e Pinares-Patiño et al. (2007) também observaram maior produção de metano em vacas leiteiras com o avanço da maturidade da forragem (em % de EB ingerida). A menor emissão relativa de metano em forrageiras mais jovens normalmente é explicada pelos maiores teores de PB, carboidratos solúveis e do ácido linoleico e menores teores de carboidratos fibrosos (FDN e FDA). Desta forma, a fermentação de plantas mais jovens levaria a maior produção de propionato e, consequentemente, menor produção de CH4. A melhoria da qualidade das forragens algumas vezes também pode aumentar o consumo voluntario dos animais e reduzir o tempo de retenção no rúmen, reduzindo a produção de metano (Eckard et al., 2010). Entretanto, este efeito nem sempre é observado (Pinares-Patiño et al. 2003), pois o aumento da maturidade pode não causar mudanças drásticas na composição da planta a ponto de alterar a produção

de AGV’s, e assim, a produção de CH4. No presente trabalho os resultados de produção de metano (Tabela 13) foram coerentes com a composição química das silagens as quais apresentaram teor de FDN e FDA muito próximos como pode ser observado na Tabela 3. Entretanto, vale ressaltar que os teores de FDN mesmo na silagem obtida com a planta mais nova (56 dias), foram elevados (>74% da MS), indicando que, talvez, a planta já estivesse madura nesta idade. Mesmo assim, de acordo com O’Mara et al. (2008) a melhora da qualidade nutricional das forragens pode reduzir as emissões de CH4 por kg de leite ou carne devido a melhoria na produtividade animal. Trabalhos determinando a produção de metano com silagens produzidas com a planta mais jovem, com uma maior variação na composição química (maior variação no teor de FDN), e avaliando a produção animal são importantes para elucidar esta questão.

Em uma compilação de dados de vários trabalhos com câmaras respirométricas Blaxter e Clapperton (1965) encontraram aumento linear da produção de CH4 (% da EB consumida) com o aumento da digestibilidade aparente da energia bruta por ruminantes ao nível de mantença. Este resultado não foi observado neste trabalho. Não houve correlação entre a produção de CH4 (% da EB consumida) e a digestibilidade aparente da energia bruta (r CH4 x DAEB = 0,16; P=0,57). Johnson e Johnson (1995) em uma compilação de dados de 118 tratamentos também não encontraram correlação alguma entre estas variáveis. Estes resultados demonstram que as formulas amplamente utilizadas desenvolvidas por Blaxter e Clapperton (1965) para estimar as emissões de CH4 a partir da digestibilidade aparente da energia bruta da dieta, parecem não ser adequadas a silagens de forrageiras tropicais. Moe e Tyrrell (1979) também propuseram uma equação para estimativa das emissões de metano baseada em características da dieta como o consumo de resíduos solúveis, hemiceluloses e celulose, entretanto esta equação foi gerada a partir mensurações feitas com vacas de leite de alta produção recebendo dietas de alta qualidade. Desta forma, também não se enquadram a este experimento, no qual os animais foram mantidos ao nível de mantença recebendo volumoso de baixa qualidade.

De acordo com o IPCC (2006) a perda de energia na forma de metano em ovinos adultos alimentados em nível de mantença é 6,5% ± 1,0% da EB ingerida. Valor este bem acima da média encontrada neste trabalho (3,4% de EB ingerida). Desta forma destaca-se novamente que, as estimativas das emissões de metano pela pecuária brasileira podem estar sendo superestimadas. De acordo com Archimède et al. (2011) existe uma escassez de dados sobre

a produção de metano por ruminantes alimentados com forrageiras tropicais. Desta forma é importante gerar dados nacionais confiáveis a partir de dietas e animais que reflitam a realidade brasileira para que possam ser utilizados no desenvolvimento de equações mais precisas e em estimativas futuras das emissões dos GEE.