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CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.4 As competências emocionais e o bem-estar

1.4.1 Emoções: a importância das emoções no bem-estar

As emoções têm sido alvo de estudo e interesse humano e científico há mais de um século, em diferentes áreas do saber. Na psicologia vários são os modelos sobre as emoções e o desenvolvimento emocional, sendo comum a praticamente todas as teorias atuais, o reconhecimento da função adaptativa das emoções no desenvolvimento e funcionamento psicológico humano. No entanto, nem sempre a sua definição é clara ou consensual, variando consoante a ênfase dado pelas diferentes teorias às suas funções específicas e componentes (Fridja, 2004).

A primeira definição, surge em 1884, com William James: “a minha teoria é que as mudanças corporais derivam diretamente da perceção de factos que provocam ativação, e que o que sentimos decorrente dessas mudanças é a emoção” (Plutchik, 2003). No entanto também Drawin (1872) considerou que a origem das emoções é de natureza primitiva. Reconheceu a componente expressiva das emoções, atribuindo às emoções funções de comunicação social e regulação das experiências emocionais, “ as emoções não se encontram completamente sob o controlo do indivíduo porque, embora ajudem à comunicação entre os indivíduos, indicam a sua origem animal e infantil” (Darwin, 1872).

Já as investigações de Damásio (1996) e LeDoux (1998) tiveram importante papel na busca e na sedimentação de conhecimento neurológico acerca das emoções e sua origem. Damásio (1996), em particular, descreve a correlação existente entre razão e emoção. Este autor sinaliza as emoções e os sentimentos, como aspetos centrais da regulação biológica humana, e a sua função de ligação entre os processos racionais e não racionais. Damásio (1995), postula ainda que existem emoções primárias e secundárias. As emoções primárias envolveriam disposições inatas para responder a certas classes de estímulo, controladas pelo sistema límbico como a felicidade, tristeza, raiva ou medo. As emoções secundárias seriam aprendidas e dependentes da cultura e dos processos sociais de construção de significados, como o orgulho, a vergonha, a indignação ou a culpa/remorso (Johnson-Laird & Oatley, 2004).

Izard (1993, cit in Frijda, 2000) também se debruçou sobre o estudo das emoções e refere que as emoções são definidas como respostas a acontecimentos, destacando-se por sublinhar o caráter inato das emoções, as suas funções motivacionais básicas (Izard & Ackerman, 2004; Izard, 2002) e a relação próxima entre emoções e personalidade (Abe & Izard, 1999).

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Falar de emoção e desenvolvimento emocional conduz-nos, quase inevitavelmente, a falar de um conceito muito próximo, ou, segundo alguns, mesmo intrínseco à própria emoção: a regulação emocional (Hoeskma, Oosterlaan & Shipper, 2004). O termo regulação emocional começa a ser utilizado por volta dos anos 80 (Gross, 1999) e descrever os mecanismos psicológicos que presidem à mudança das reações emocionais e aos processos que possibilitam regular a intensidade, para mais ou menos, da experiência emocional (Kopp, 1989). Garber, Braafladt e Zeman (1991) descrevem, numa ótica cognitivista e baseados nas teorias de processamento da informação, uma série de competências implicadas num processo de regulação emocional eficaz, nomeadamente o reconhecimento da ativação de uma emoção e da necessidade de a regular.

O termo emoção, ainda segundo Goleman (2009), refere-se a um sentimento e aos pensamentos dos estados biológicos, dos estados psicológicos e ao tipo de tendências para a ação que o caraterizam. É com este autor que o conceito de inteligência emocional começou a ser debatido, e define-o como a capacidade de a pessoa se motivar a si mesma e registar às frustrações; de controlar os impulsos e adiar a recompensa; regular o seu próprio estado de espírito e impedir que o desânimo subjugue a faculdade de pensar; de sentir empatia e de ter esperança (Goleman, 1995). Destacamos, pois, Goleman (1995), que, com base nos trabalhos de Sternberg e Salovey, indica que existem cinco domínios principais ou aptidões da inteligência emocional: autoconhecimento; administração das emoções; empatia, auto motivação e capacidade de relacionamento pleno. Estas competências serão mais aprofundadas no capítulo que se segue. Para Goleman (2009), a forma com que a pessoa administra as suas emoções e as emoções alheias é mais importante do que qualquer outro componente mental do indivíduo para obter sucesso. Ao enfatizar os dois modos de conhecimento diferentes, o racional e o emocional, diz que uma “mente racional”, é o modo de compreensão, capaz de ponderar e refletir. No entanto, a “mente emocional”, é um sistema de conhecimento impulsivo. Para reforçar o envolvimento desta dinâmica e também para demonstrar que o ser humano não é, exclusivamente, produto dos aspetos lógicos, Goleman (1995), Märtin e Boeck (2004) advogam que somente 20% do sucesso pessoal e profissional depende da cognição ou razão. O restante, aproximadamente 80%, é atribuído a outros fatores, entre eles a emoção.

Apesar do modelo do Goleman ser o mais popular, a verdade, é que o estudo da inteligência emocional iniciou-se antes dos trabalhos deste autor. O conceito, é definido, pela primeira vez, por Salovey e Mayer (1990) que sugeriram que havia uma forma de inteligência social, distinta da inteligência geral, que ainda não tinha sido identificada, uma vez que esta se

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situaria na interseção da cognição e da emoção. Esta nova capacidade designa-se por inteligência emocional e segundo os autores é uma habilidade cognitiva que envolve a capacidade de reconhecer as emoções e utilizar tal conhecimento para solucionar problemas, por raciocínio emocional ajustado (Mayer, Caruso & Salovey, 2000). Mayer e Salovey (1997, cit in Cobêro, Primi & Monalisa, 2006) referem ainda que a inteligência emocional não é o oposto da inteligência, mas sim a interseção entre ela e a emoção. Estes autores consideram ser inadequado conceber a emoção sem inteligência, ou esta sem aquela, trazendo o conceito de uma visão integrada da razão e emoção (Cobêro, Primi & Monalisa, 2006).

Também Bar-On e Parker (2002) defendem que a inteligência emocional pode ser entendida como tudo aquilo que não é quociente de inteligência (QI), abolindo as possíveis relações entre razão e emoção.

Atualmente, este é considerado por alguns autores como um dos constructos mais interessantes da Psicologia (Santos & Faria, 2005). O conceito de inteligência emocional combina a emoção com a inteligência e aceita o facto de que a emoção pode fazer com que o pensamento se torne mais inteligente e que se possa pensar de forma inteligente acerca das emoções (Mayer & Salovey, 1997). Neste sentido, a competência/inteligência emocional está associada a diferentes contextos do desenvolvimento das pessoas, tais como: família, escola e trabalho, sendo que esta possibilita a melhoria das competências sociais e favorece o comportamento adaptativo e eficaz (Santos & Faria, 2005), bem como o bem-estar psicológico. A importância das competências emocionais no desenvolvimento humano será seguidamente apresentada.