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2 ANÁLISE DAS NORMAS INCIDENTES SOBRE OS SERVIÇOS

2.3 Os emolumentos cartorários

Emolumentos são a remuneração fixada por lei que notários e registradores têm o direito de exigir das partes que demandem a prestação de seus serviços.80 A Lei Federal

n.o 10.169/2000, regulamentando o art. 236, § 2.o, da CF,81 estabelece as normas gerais para

fixação de emolumentos relativos aos serviços cartorários extrajudiciais. No art. 1.o, caput e parágrafo único, a referida legislação determina que cabe aos Estados e ao Distrito Federal a fixação!do!valor!dos!emolumentos,!que!“deverá!corresponder!ao!efetivo!custo!e!à!adequada!e! suficiente remuneração dos serviços prestados”.

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (“STF”) entende que os emolumentos são tributos, qualificando-se especificamente como taxas remuneratórias de serviço público.82

Em vista do princípio da legalidade tributária,83 os valores dos emolumentos são fixados por

leis nos Estados e no Distrito Federal.

80 LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros públicos: teoria e prática. Salvador: Juspdivm, 2018. p.98.

81 Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e de registro.

82 A exemplo, cite-se: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 1378-MC. Relator(a): Min. Celso de Mello. Julgamento: 30/11/1995. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Publicação: DJ!30/05/1997.!(“A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou orientação no sentido de que as custas judiciais e os emolumentos concernentes aos serviços notariais e registrais possuem natureza tributária, qualificando-se como taxas remuneratórias de serviços públicos, sujeitando-se, em consequência, quer no que concerne à sua instituição e majoração, quer no que se refere à sua exigibilidade, ao regime jurídico-constitucional pertinente a essa especial modalidade de tributo vinculado, notadamente aos princípios fundamentais que proclamam, dentre outras, as garantias essenciais (a) da reserva de competência impositiva, (b) da legalidade, (c) da isonomia e (d)!da!anterioridade”); BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 1444-7. Relator(a): Min. Sidney Sanches. Julgamento: 12/02/2003. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Publicação: DJ 11/04/2003.

Notários e registradores devem cobrar por seus serviços exatamente as quantias constantes das tabelas de emolumentos e não podem conceder isenções ou descontos. Nesse sentido, o Provimento n.o 45/2015 do!CNJ!determina!ser!“vedada!a!prática de cobrança parcial ou de não cobrança de emolumentos”.!Na!mesma!linha,!a!Consolidação Normativa da Corregedoria Geral da Justiça do Estado do Rio de Janeiro Parte Extrajudicial impõe que os tabeliães de nota ficam!“terminantemente proibidos de estabelecer!qualquer!abatimento/desconto”!sobre!o!valor dos emolumentos fixados. Já o Provimento n.o 58/89, da Corregedoria Geral de Justiça do Estado de!São!Paulo,!estabelece!que!a!competição!entre!Tabeliães!de!Notas!deve!ser!“livre de expedientes próprios de uma economia de mercado, como, por exemplo, a redução!de!emolumentos”.

Há casos, todavia, em que a própria lei estabelece a isenção de emolumentos em hipóteses específicas. Assim ocorre, por exemplo, com o registro civil de nascimento e o assentamento de óbito, além da primeira certidão respectiva. Da mesma forma, aqueles que são reconhecidamente pobres são isentos de pagar emolumentos pelas demais certidões extraídas pelos cartórios de registro civil.84

Mas nem todo valor pago aos cartórios é classificado como emolumento de notários e registradores. Em cada Estado da Federação e no Distrito Federal há regras próprias que impõem acréscimos de valores com o objetivo de repasse a diferentes órgãos. Tais quantias destinadas a repasses, é importante observar, não se confundem com os emolumentos destinados aos titulares de cartórios, mesmo que o usuário dos serviços não consiga enxergar diferenciação. Tome-se como exemplo os valores referentes aos serviços de reconhecimento de firma por autenticidade, conforme tabela obtida junto ao 15.o Ofício de Notas do Rio de Janeiro em 16 de setembro de 2019:

Tabela 1. Valores de reconhecimento de firma por autenticidade no Estado do Rio de Janeiro Valor (R$) EMOLUMENTO 5,77 20% FETJ – Lei n.o 3.217 de 27/05/99 1,15 5% FUNDPERJ – Lei n.o 111/2006 0,28 5% FUNPERJ – Lei n.o 111/2006 0,28 4% FUNARPEN – Lei n.o 6.281/2012 0,23 2% PMCMV – Atos Gratuitos 0,11 TOTAL 7,82 ISS 0,31 TOTAL GERAL 8,13

Fonte: 15.o Ofício de Notas do Rio de Janeiro

Nesse caso, o valor do emolumento destinado ao tabelião (R$ 5,77) corresponde a 70,97% do total (R$ 8,13) pago pelo tomador de um serviço de reconhecimento de firma por autenticidade. De fato, como consta da Portaria n.o 2.358/2018, da Corregedoria Geral de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, o valor dos emolumentos para reconhecimento de firma por autenticidade é de R$ 5,77. Ou seja, os demais valores pagos pelo usuário dos serviços notariais e de registro não são subtraídos dos emolumentos recebidos pelos titulares dos cartórios. Ao contrário, são a eles acrescidos.

No exemplo acima, os valores dos acréscimos são destinados a fundos especiais do Tribunal de Justiça (FETJ), da Defensoria Pública (FUNDPERJ) e da Procuradoria Geral do Estado (FUNPERJ), além do Fundo de Apoio aos Registradores Civis das Pessoas Naturais do Estado do Rio de Janeiro (FUNARPEN). Ainda, existe um acréscimo de 2% destinado à remuneração dos atos extrajudiciais gratuitos, incluindo aqueles praticados no âmbito do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV). Por fim, como se verifica, também é repassado ao usuário o custo do imposto sobre serviços (ISS).

Veja-se agora o custo do mesmo serviço de reconhecimento de firma por autenticidade, em documentos com ou sem valor econômico, nos tabelionatos de notas do Estado de São Paulo, conforme tabela divulgada pelo Colégio Notarial do Brasil:85

Tabela 2. Custo de serviço de reconhecimento de firma por autenticidade no Estado de São Paulo Custo (R$)

Tabelião Estado Sec. Faz. Município Min.

Público Reg. Civil Trib. Just. Sta. Casa Total

9,49 2,72 1,86 0,20 0,46 0,51 0,66 0,10 16,00

Fonte: Colégio Notarial do Brasil

Nesse exemplo, o valor destinado à remuneração do tabelião (R$ 9,49) corresponde a 59,31% do total pago pelo tomador do serviço (R$ 16,00). Em São Paulo, tal como no Rio de Janeiro, também há repasses para o Tribunal de Justiça e o Ministério Público. Além disso, como se pode ver, são beneficiados outros órgãos e entidades como o Estado, o Município, a Secretaria de Fazenda, o Registro Civil e a Santa Casa.

85 COLÉGIO NOTARIAL DO BRASIL- SEÇÃO SÃO PAULO (CNBSP). Tabelas de custas e emolumentos. Disponível em: <http://www.cnbsp.org.br/?pG=X190YWJlbGFzX2Vtb2x1bWVudG9z>. Acesso em: 17 set. 2019.

Outra característica dos emolumentos que merece destaque é a sua progressividade, o que decorre de previsão do artigo 2.o, III, b, da Lei n.o 10.169/2000. Para alguns atos, os emolumentos passam a ser mais caros na medida em que aumenta o valor econômico declarado. Veja-se, como exemplo, a tabela de emolumentos para os serviços de registro de imóveis no Estado do Rio de Janeiro:86

Tabela 3. Tabela de emolumentos para os serviços de registro de imóveis no Estado do Rio de Janeiro Atos R$ Atos gratuitos e

PMCMV 2%

Total (R$)

1- Registros em Geral

Sem valor declarado 135,53 2,71 138,24

Até R$ 15.000,00 194,87 3,89 198,76 A partir R$ 15.000,01 até R$ 30.000,00 321,99 6,43 328,42 A partir de R$ 30.000,01 até R$ 45.000,00 449,14 8,98 458,12 A partir de R$ 45.000,01 até R$ 60.000,00 550,83 11,01 561,84 A partir de R$ 60.000,01 até R$ 80.000,00 976,29 19,52 995,81 A partir de R$ 80.000,01 até R$ 100.000,00 1.152,58 23,05 1.175,63 A partir de R$ 100.000,01 até R$200.000,00 1.559,36 31,18 1.590,54 A partir de R$ 200.000,01 até R$400.000,00 1.678,05 33,56 1.711,61 Fonte: Corregedoria Geral de Justiça do Estado do Rio de Janeiro

A progressividade dos emolumentos se observa também em outros serviços notariais e de registro que têm por objeto atos com valor econômico declarado. Ocorre que, como visto, o parágrafo único do artigo 1.o da Lei Federal n.o 10.169/2000 determina que a fixação dos emolumentos!deve!corresponder!“ao!efetivo!custo!e!à!adequada!e!suficiente!remuneração!dos serviços!prestados”.!Ora,!não!se!vislumbra relação entre o custo incorrido na lavratura de um registro ou escritura e o valor econômico declarado no documento em questão. Não parece que o tabelião ou registrador terá mais despesas operacionais quando o valor econômico do ato for maior. A rigor, o trabalho de notários e registradores não sofre alteração significativa por conta do valor declarado no documento que está sendo registrado ou lavrado.

Desse modo, a progressividade dos emolumentos, ainda que respaldada na Lei n.o 10.169/2000 pode ser criticada. Afinal, em última análise, ela beneficia os titulares de cartório em detrimento dos tomadores dos serviços notariais e de registro sem que se observe alguma relação que justifique, de forma econômica e racional, o aumento de valores dos emolumentos pagos pelos cidadãos.

86 Disponível em: <http://cgj.tjrj.jus.br/documents/1017893/1415195/custas-extrajudiciais-2019.pdf>. Acesso em: 16 set. 2019.