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Estabelecida a compreensão de determinados preditores de empreendedorismo no nível individual, faz-se mister atentar-se aos conceitos relativos ao tema. Na literatura, é recorrente o uso de diversas nomenclaturas como perfil, personalidade e atitude para designar as características pessoais dos empreendedores de maneira genérica. No entanto, ao verificar de forma preliminar os diferentes construtos é possível apreender que, apesar da nomenclatura similar, existem diferenças significativas nos pressupostos teóricos que os fundamentam. Como exemplo, notam-se para o termo perfil empreendedor acepções voltadas para atitudes (Arribas et al., 2012; Choe et al., 2013; Lope Pihie & Bagheri, 2011), comportamentos (Schröder & Schmitt-Rodermund, 2006), aspectos de personalidade (Mathieu & St-Jean, 2013; Obschonka, Schmitt-Rodermund, et al., 2013; Obschonka, Silbereisen & Schmitt-Rodermund, 2012), dentre outros elementos que dificultam a compreensão do marco teórico que os autores se baseiam na literatura.

Tendo isso em vista, é fundamental estabelecer com clareza algumas concepções para diferenciar, entre termos semelhantes, proposições teóricas com diferentes significados. Buscando alcançar esse objetivo, optou-se por retomar o modelo da teoria da ação racional

(TAR), o qual trata com razoável clareza a distinção entre os conceitos de atitude, intenção, comportamento e traços estáveis. Esse modelo foi inicialmente proposto por Fishbein (1963) tendo sido expandido em estudos posteriores, por meio da contribuição de diversos autores, com notável contribuição de Ajzen (Moutinho & Roazzi, 2010). Em linhas gerais, o modelo da teoria da ação racional compreende os indivíduos como tomadores racionais de decisão, os quais processam as informações advindas do contexto para avaliar as consequências de seus comportamentos e arbitrarem entre a expressão ou supressão da resposta comportamental. Para esclarecer como o processo de intenção comportamental ocorre, a teoria busca apreender algumas influências, sendo relevante ressaltar a contribuição das atitudes no nível pessoal, das normas subjetivas no que tange ao aspecto social e das variáveis externas, tais como a personalidade e outras variáveis demográficas que, conjuntamente, impactam na intenção comportamental (Fishbein & Ajzen, 1974).

De forma genérica, as intenções são definidas como disposições ou crenças para realizar um comportamento passível de controle pelo sujeito. Esssas crenças, apesar de não coincidirem completamente com o comportamento observável, apresentam maior relação com a ação do sujeito do que outros fatores como as atitudes ou os traços estáveis, por exemplo (Sheeran, 2002). Dessa forma, enquanto as intenções comportamentais referem-se à disposição ou crenças relacionadas à execução de algum comportamento, o qual é definido como a manifestação concreta e, portando, observável dessa intenção, podendo ser especificado em termos de objeto alvo, contexto e tempo de expressão (Ajzen & Fishbein, 1974).

Explanadas as diferenças entre intenções e comportamentos, volta-se para a compreensão das atitudes, as quais são descritas como o posicionamento favorável ou contrário do indivíduo em relação ao objeto ou atributo em análise (Moutinho & Roazzi, 2010). No geral, a formação das atitudes acontece por meio da construção de crenças que, ao serem associadas à favorabilidade ou desfavorabilidade em relação aos objetos sociais, adquirem a definição de

atitude, tal como proposta pela TAR. Diferencia-se atitudes de intenções comportamentais, apesar de ambas abrangerem aspectos cognitivos, pelo fato da intenção ter como objeto exclusivo as crenças relacionadas à disposição de um comportamento volitivo, enquanto as atitudes podem abranger objetos mais genéricos e que fogem do controle consciente do sujeito (Lindzey, Gilbert, & Fiske, 1998).

Como variável externa do modelo TAR, a personalidade é compreendida por meio de efeito indireto nas atitudes e intenções. Nessa condição, pode influenciar o comportamento em determinado momento, mas não apresentar constantemente essa influência, por conta dos fatores mediadores da relação entre variáveis externas e comportamento (Moutinho & Roazzi, 2010). Numa acepção conceituai, atitudes e intenções são diferenciadas de comportamentos, pois tendem a ser mais voláteis, enquanto a personalidade geralmente é compreendida como traço estável, passível de maturação e fixação com o desenvolvimento do ciclo vital do sujeito (Matthews, Deary & Whiteman, 2009).

Dessa forma, compreendendo-se a diferença entre atitudes, intenções, comportamentos e personalidade, toma-se possível definir um marco para organizar as compreensões a serem estabelecidas nesta investigação. Entre esses conceitos, a intenção comportamental parece mais direcionada e, apesar de não abranger características pessoais de forma genérica, tal como busca-se apreender no presente estudo, pode ser útil para discriminar a posteriori a diferença entre os conceitos e construtos mensurados. Assim, com vistas a ter um recurso para avaliar a validade discriminante dos construtos investigados, buscaram-se medidas de intenção comportamental relacionadas ao empreendedorismo. Entre as medidas encontradas, a proposta de Linán e Chen (2009) demonstrou-se a mais robusta do ponto de vista teórico e empírico, uma vez que as autoras operacionalizaram itens para atitudes, normas subjetivas, percepção de controle comportamental e intenção comportamental, conseguindo discriminar adequadamente entre esses fatores com elevados índices de validade e confiabilidade para o modelo.

Por fim, ressalta-se que, pela presente investigação não ter como interesse a exploração da intenção comportamental, tal como preconizado no modelo TAR, somente serão empregados no estudo os itens da escala de Linán e Chen (2009) relativos ao fator intenção empreendedora. Essa escolha justifica-se mediante inspeção da escala de Linán e Chen (2009), uma vez que os demais fatores da escala de intenção empreendedora não se voltam especificamente para o contexto de interesse do presente estudo, a saber, estudantes universitários e o contexto acadêmico, tratando atitude como fator geral, ao invés de decompô-la em subfatores que podem otimizar a explicação das especificidades do construto, tal como no estudo de Athayde (2009). Assim, com vistas a ampliar a compreensão das variáveis que explicam o empreendedorismo no nível individual, enfatizando-se as características pessoais dos empreendedores, foi realizada uma revisão sistemática de literatura, a qual é descrita no tópico seguinte.

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