• Nenhum resultado encontrado

4. ESTUDO EMPÍRICO: QUAL A REALIDADE DOS ENFERMEIROS EMPREENDEDORES DO

4.4. Análise e discussão dos resultados

4.4.1. Perceções de Empreendedor/Empreendedorismo

4.4.1.1 Perspetiva económica e individual

4.4.1.1.2 Empreendedorismo por necessidade e empreendedorismo por oportunidade

Assim, numa outra categoria surge o conceito de empreender por necessidade que é explícito pelo excerto transcrito da entrevista realizada ao Enfermeiro empreendedor mais jovem que participou no estudo (26 anos), para o qual a atividade empreendedora foi “imposta”, uma vez que não encontrou outra forma de subsistência. O empreendedorismo, para este entrevistado, surgiu como uma necessidade que lhe permitiu contornar a situação de desemprego.

(…) isto foi-me empurrado, não é? Isto ia fechar, houve essa possibilidade de, de eu ficar com isto, que sou eu e mais dois...mais dois sócios e pronto...e, e foi-nos empurrado porque é assim, se a porta fechasse íamos todos para a rua e assim estamos naquela perspetiva, de como a casa já estava montada, etc., etc., pronto, aventuramo-nos (…) não tinha mais nada. (…)//(…)“Pensei sempre que o meu objetivo era um hospital (…). (Entrevista 10).

Esta referência enfatiza a ideia de que o empreendedorismo por necessidade parece ser uma realidade emergente no seio dos jovens licenciados que não encontram, uma oportunidade no mercado de trabalho e veem na atividade empreendedora uma forma de imersão no mundo profissional. Tal corrobora os dados teóricos que afirmam que o empreendedorismo por necessidade envolve pessoas que começaram um negócio pela falta de outras alternativas de emprego, onde a decisão de enveredar por esta área é entendida como a melhor possível (Hechavarria & Reynolds, 2009). A situação de desemprego surge, assim, como um fator motivador que obriga um indivíduo a tomar decisões na procura de uma forma de subsistência (Delmar & Davidsson, 2000), apresentando-se como um fator positivo na decisão de empreender.

Numa posição oposta surge, também, a noção de empreender por oportunidade. Para alguns dos Enfermeiros entrevistados a decisão de ter um negócio por conta própria foi quase uma “exigência” do mercado, na medida, em que perceberam uma oportunidade e implementaram um projeto como resposta a essa mesma necessidade (oportunidade).

A oportunidade foi por causa dos utentes mesmo...eles é que me obrigaram praticamente eu abrir porque eles iam a minha casa...na minha casa não era esse sitio ideal para eu os receber e dar uma injeção, fazer um tratamento, ver uma gravida, não tinha. (Entrevista 12);

Pág. 69

(…) comecei a ouvir comentários do tipo: “ah o Sr. Enfermeiro é tão bom enfermeiro porque é que não vai a casa, porque é que não sei quê”…casa, casa, casa, casa, casa. E então, eu tinha um outro meu amigo que também era enfermeiro do trabalho, curiosamente, e um dia fomos tomar um café, por acaso, a falar de tudo menos disto e ah porque é que a gente não idealiza aí uma empresa. Foi algo que foi muito bem pensado, estivemos mais de meio ano a amadurecer a ideia (…). (Entrevista 13);

O hospital que fazia tudo, o hospital fazia tudo mas que não dava resposta...muitas vezes não dava resposta. Mesmo até a nível de, de tratamentos a sinistrados as companhias de seguros, não conseguia dar a resposta que as companhias pretendiam e mesmo em relação à população, em relação à população (…). (Entrevista 16);

Ah, é assim a oportunidade surgiu um pouco casualmente, após ter adquirido a formação em preparação para o parto, somos especialistas há alguns aninhos largos…não tinha essa formação, embora sempre tivesse o bichinho da formação, foi sempre uma área que eu gostei imenso e na altura, a convite de uma colega de serviço (…). (Entrevista 6).

Estas abordagens aproximam-se mais do conceito de empreender por oportunidade, na medida em que este tipo de empreendedorismo refere-se a todos aqueles que optaram por iniciar o seu próprio negócio aproveitando uma oportunidade empreendedora que foi percebida no mercado. O empreendedorismo por oportunidade representa a natureza voluntária da decisão de enveredar por esta área (Hechavarria & Reynolds, 2009).

Por outro lado, verifica-se uma certa aproximação com aquilo que defendem alguns autores, mais economicistas, que admitem que o empreendedorismo está intimamente relacionado com a identificação e exploração de oportunidades económicas pelo que a sua abordagem deve incluir o tipo de oportunidades, os processos de descoberta, a avaliação e exploração dessas oportunidades (Shane & Venkataraman, 2000, p. 218).

Ainda nesta linha de pensamento, para outros empreendedores que participaram no estudo, esta oportunidade surgiu de um desejo pessoal associado a uma insatisfação pelo trabalho que realizavam, pelo que encararam o empreendedorismo como um meio para implementarem as suas ideias e levarem a cabo os seus objetivos. Um dos empreendedores referiu insatisfação com as condições de trabalho a que estava sujeito, sentindo-se explorado pela entidade empregadora, o que o impulsionou a tomar “as rédeas da sua vida”.

Pág. 70

Surgiu lá está, de uma vontade própria de (…) eu acho que dentro de mim sempre existiu um empreendedor (…) não consigo ser explorado, como a maior parte de quem nos dá emprego nos explora, tenho um bocado de dificuldade com isso, eu acho, eu acredito muito na liberdade e na nossa vontade e então surgiu um bocadinho (…). (Entrevista 1);

Surgiu pela necessidade, porque a mim, na altura quando nasceu, quando surgiu, foi porque eu queria ajudar as mães no processo de amamentação e queria ter algo que me permitisse receber as mães, conversar com elas, ajudá-las (…) eu queria criar qualquer coisa nesse sentido. O sonho começou por aí, portanto, no fundo para mim isto foi um bocadinho um sonho. (Entrevista 17);

(…) agora eu de facto tinha um espirito empreendedor e portanto, desde sempre tive com…tinha como objetivo que só seria capaz de fazer mais alguma coisa na profissão se saísse para fora do âmbito do público. (Entrevista 9).

Ainda que minoritária surge também uma perspetiva que entende o empreendedorismo aliado a uma visão coletiva que se aproxima mais da perspetiva cultural.