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4. A AUTOSSUSTENTABILIDADE E A GERAÇÃO DE RENDA NA ECONOMIA

4.5. Resultados da pesquisa e análise dos fatores que influem na autossustentabilidade e a

4.5.2. Empreendimentos com Sucesso em Autossustentabilidade

O Perfil Extremo 3 (Urbanos e Informais) apresenta o maior percentual empreendimentos na categoria ‘Sucesso Autossustentabilidade’. Dos 206 empreendimentos pertencentes a esse perfil, 40,3% foram classificados como autossustentáveis. Porém, se considerarmos que os empreendimentos classificados no perfil ‘Sucesso Pleno’ também são autossustentáveis, o Perfil Extremo 4 novamente se destaca entre todos, apresentando um percentual de 75,8% dos EESs na categoria ‘Sucesso Pleno’, resultante da soma entre os seus percentuais de EESs com ‘Sucesso Pleno’ (51,7%) e de EESs com ‘Sucesso em Autossustentabilidade’ (24,1%). Deve-se destacar, no entanto, que, seguindo esta mesma lógica de soma de percentuais, os resultados do grupo “Sucesso Autossustentabilidade” flutuam nos Perfis Extremos 2, 3 e 4 (inclusive no total global) na casa dos 40%, revelando uma realidade não tão “amarga” quando comparada aos resultados do grupo “Sucesso Pleno”, mas ainda assim problemática. O Perfil Extremo 1 (Motivados pelo Desemprego e Sem Apoio) é o modelo que se mostra mais fragilizado, registrando um percentual de EESs na categoria ‘Sucesso Autossustentabilidade’ de apenas 16,5% (ou 20% se somado aos 3,5% de sucesso pleno). Aqui, cabe fazermos uma análise mais detalhada deste perfil (Extremo 1), procurando entender a razão de tão fraca performance, que se repetirá inclusive nas demonstrações dos grupos: Sucesso Pleno, Geração de Renda e Insucesso Pleno.

O fato dos trabalhadores deste perfil terem adentrado no empreendedorismo associativo constrangidos pelas altas taxas de desemprego presentes na década de 1980 e 1990 pode explicar o baixo índice de autossustentabilidade apresentado, pois a condição de “estar desempregado” sugere ausência de capital acumulado suficiente para se arcar com as despesas de custeio e com os investimentos necessários ao bom desempenho econômico de qualquer tipo de negócio. Nota-se que os recursos utilizados para iniciar a atividade econômica foram,

em sua grande maioria, provenientes dos próprios sócios, o que corrobora a hipótese de baixa capitalização das organizações solidárias deste perfil.

Tudo indica que a não realização de investimentos no negócio nos últimos 12 meses anteriores à data da entrevista, por parte significativa dos EESs do Perfil Extremo 1, seja decorrente do seu baixo dinamismo econômico e das dificuldades frequentemente enfrentadas pelas organizações de economia solidária na obtenção de crédito e financiamentos. Como assinalado com argúcia por Rosângela Barbosa:

A possibilidade de fomentar a atitude empreendedora entre os trabalhadores desempregados ou inseridos em atividades econômicas de subsistência choca-se com a ausência de capital acumulado e de oportunidades de acesso ao sistema financeiro. No conjunto as iniciativas de economia solidária são testemunhas dessa indisposição elitista do sistema financeiro com trabalhadores sem garantias. (BARBOSA, 2007, p. 161).

Outra característica apresentada pelos EESs ‘Motivados pelo Desemprego e Sem Apoio’ relaciona-se à ausência de recebimento de qualquer tipo de assessoria, apoio ou capacitação por parte de ONGs, OSCIPs, igrejas, associações, conselhos, órgãos governamentais e instituições pertencentes ao Sistema “S”, como SEBRAE, SESCOOP, e etc. Essa falta de capacitação e assessoria possui forte correlação com os baixos índices de autossustentabilidade e geração de renda (Tabela 2), pois o escasso conhecimento técnico e gerencial, assim como em torno de questões relativas ao mercado, por parte dos integrantes das organizações solidárias, reduz as suas chances de inserção no mercado competitivo. (LIMA, 2004). Cabe ainda destacar que a baixa participação dos integrantes dos EESs do Perfil Extremo 1, no Fórum Mineiro de Economia Popular Solidária (FMEPS) pode ter contribuído para esse quadro de total escassez de formação técnica e gerencial, uma vez que a participação nessa instância de articulação ampliaria as possibilidades dos seus trabalhadores receberem capacitação, apoio e assessoria por parte dos órgãos públicos e entidades de apoio, assessoria e fomento que compõem o FMEPS.

No que se refere à forma de comercialização dos EESs do perfil ‘Motivados pelo Desemprego e Sem Apoio’ nota-se que a mesma é bastante restrita quando comparada com a dos EESs do Perfil Extremo 4. Este dado se torna relevante quando verificamos que estes dois perfis atuam em ramos de atividade semelhantes (prestação de serviços diversos). Enquanto que os empreendimentos do Perfil Extremo 1 praticam a venda direta ao consumidor final, não extrapolando o âmbito do comércio comunitário ou municipal, os EESs do Perfil Extremo

4 ultrapassam a órbita destes mercados, atingindo também o microrregional, direcionando-se preferencialmente a revendedores atacadistas.

Enfim, o fato dos EESs do Perfil Extremo 1 comercializarem prioritariamente em feiras revela um dos principais gargalos da economia solidária, que é a insuficiência de espaços permanentes de comercialização financiados pelo poder público para a grande maioria dos EESs. Como já mencionado, a maior parte dos trabalhadores que ingressam na economia solidária encontra-se descapitalizada, o que dificulta a aquisição tanto dos espaços de produção quanto daqueles destinados à comercialização dos serviços e produtos.

Quanto à comercialização em feiras, é importante salientar que o Ministério do Trabalho e Emprego vem, desde a instituição da Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), repassando recursos do Programa Nacional de Feiras para auxiliar os Fóruns Estaduais a promoverem seus eventos. Entretanto, até 2009, o volume de recursos repassados foi suficiente para custear apenas feiras anuais em cada unidade da Federação e algumas feiras regionais. Embora esses espaços representem uma ótima oportunidade de divulgação da proposta do comércio justo e solidário, de troca de conhecimentos e de articulação entre os empreendimentos, de acordo com os relatórios de avaliação de feiras da SRTE-MG, os resultados de venda não se mostraram satisfatórios. Diante desse contexto, torna-se essencial a implementação de políticas públicas que priorizem a criação de espaços permanentes de comercialização (lojas, entrepostos, armazéns e mercados) financiados e estruturados pelo poder público, com o fim de contribuir para a autossustentabilidade dos EESs.