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4.4. A Logística Reversa das Empresas de Compostagem em Uberlândia/MG

4.4.4. Empresa D

Nessa empresa, em especial, foram realizadas duas entrevistas semiestruturadas. A primeira entrevista (Anexo V) terá os resultados apresentados abaixo e a segunda (Anexo VI) será apresentada no próximo capítulo, pois contém informações necessárias para a elaboração da proposta de logística reversa. A escolha dessa empresa se deu pelo fato de a mesma ser a única que também utiliza resíduos biodegradáveis de restaurante no processo de compostagem.

A empresa está localizada no Triângulo Mineiro, com unidades em Uberlândia, Santa Juliana e Indianópolis, estrategicamente posicionada em uma das regiões mais desenvolvidas do interior do Brasil, com vocação para o agronegócio, indústria e logística. Em operação desde 2002, iniciou suas atividades focada na produção de fertilizantes orgânicos e organominerais. Conta ainda com dois pátios de compostagem. O primeiro, no município de Indianópolis e o segundo, em Uberlândia. A duas unidades em conjunto possuem a capacidade de produção de 25 mil toneladas de fertilizantes por ano.

Em 2003, consolidou-se a visão estratégica da empresa pautada na prestação de serviços em gerenciamento de resíduos industriais e soluções ambientais sustentáveis. Para transformar resíduos orgânicos industriais em insumos para fertilizantes de alta tecnologia e homologados pelo Ministério da Agricultura, a empresa D desenvolve processos que garantem esterilização, desodorização, nitrificação e solubilização do produto. Para tanto,

possui uma equipe multidisciplinar formada por pessoal capacitado e habilitado, composta por técnicos e engenheiros ambientais, agrônomos, geógrafos e especialistas em logística.

A unidade de Uberlândia foi aberta exclusivamente para receber os resíduos orgânicos provenientes de uma indústria multinacional em específico. Elas possuem um contrato de prestação de serviços, sendo que a área pertence a indústria que a contratou e caso o contrato seja encerrado tudo que está dentro do local, como equipamentos, infraestrutura, também são de propriedade deste empreendimento. A empresa D recebe mensalmente por toneladas de resíduos que chegam ao pátio de compostagem, que seriam cerca de 35 toneladas por dia. Por isso, todos os caminhões que entram na área são pesados primeiramente. Todo o lucro com a venda dos fertilizantes fica com a empresa D.

As etapas da compostagem aqui são as mesmas descritas para as empresas acima, as matérias primas são provenientes de milho, soja e sorgo, que fazem parte do processo produtivo do empreendimento que contratou os serviços da empresa D. Além disso, os resíduos biodegradáveis gerados no restaurante da indústria também são levados ao pátio de compostagem e são inseridos no processo de produção do fertilizante. A diferença do processo dessa empresa é que eles não utilizam o biocatalizador para acelerar o processo, que dura então de 90 a 120 dias. Na entrevista foi mencionado que a maioria dos resíduos orgânicos usados é de origem vegetal, que possuem o odor bem menos acentuado do que os de origem animal, não havendo necessidade em utilizar o biocatalisador, mesmo que esse acelere o processo.

A coleta e o transporte são realizados por funcionários e caminhões da indústria contratantediariamente e as análises laboratoriais são feitas por terceiros, o que gera um custo bem alto. O processo produtivo funciona de segunda-feira a sexta-feira e, caso cheguem resíduos no período noturno existe um funcionário para recebê-los.

Quando questionados sobre um possível interesse em receber os resíduos de restaurantes para incorporar ao processo de compostagem, foi dito: “Nessa área que utilizo hoje não posso pegar resíduos que não sejam do meu contratante, pois temos um contrato de exclusividade. Mas se a Prefeitura Municipal resolvesse abrir uma licitação para um contrato de no mínimo 20 anos, com certeza teríamos muito interesse em participar do processo. Temos grandes chances de conseguir, pois nosso preço é ótimo e já trabalhamos com resíduos de restaurantes, o que nos dá certa experiência e vantagem no assunto. O contrato longo é devido ao fato da instalação do processo ser muito onerosa, então precisamos de um bom retorno para compensar os gastos no início do processo. É claro que a prefeitura ficaria responsável por transportar os resíduos até a área de compostagem, mas nós poderíamos escolher e comprar a área, fazer o processo de licenciamento ambiental, contratar mão de obra e eu tenho certeza que seria um enorme sucesso a longo prazo, colocando a prefeitura como referência no gerenciamento de resíduos e na questão da logística reversa”.

É válido ressaltar um comentário feito pelo responsável durante a entrevista, no qual ele revelou que está sendo realizado um teste para compostar a massa verde de Uberlândia, que seriam os resíduos de podas e cortes de árvores. Se os testes derem certo, muito provavelmente essa empresa já terá um contrato de prestação de serviços com a prefeitura.Na figura 26 pode ser visualizado o pátio de compostagem da empersa D.

Figura 26: Pátio de compostagem da Empresa D.

Fonte: ARANTES, C. A., 2013.

De um modo geral, todas as empresas que desempenham a logística reversa de resíduos biodegradáveis através da compostagem seguem as mesmas etapas para desenvolver o processo. A figura 27 representa o processo de compostagem seguido por todas as empresas.

Figura 27: Etapas seguidas pelas empresas que praticam a logística reversa de resíduos biodegradáveis através

da compostagem.

Organização: ARANTES, C. A., 2013.

Com as informações apresentadas neste capítulo fica evidente que a cidade de Uberlândia não possui um sistema de manejo exclusivo para os resíduos biodegradáveis, apesar de eles representarem a maioria dos resíduos gerados. Os dados obtidos durante a pesquisa de campo demonstraram que os restaurantes são fontes geradoras consideráveis destes resíduos e podem ser utilizados para iniciar uma proposta de logística reversa em curto prazo, pensando-se em estendê-la mais tarde às outras fontes geradoras. Por fim, é importante destacar o interesse das empresas que já realizam a compostagem em participarem da

implantação dessa proposta, desde que haja a participação da Prefeitura Municipal. Com isso, o próximo capítulo traz essa proposta de logística reversa, descrevendo a responsabilidade de cada sujeito e os passos a serem seguidos para que ela seja implantada de forma funcional para os resíduos orgânicos dos restaurantes.

CAPÍTULO 5

Proposta de Logística Reversa para os Resíduos Biodegradáveis produzidos pelos Restaurantes de Uberlândia

No decorrer deste trabalho foram apresentados vários motivos para que os resíduos biodegradáveis sejam desviados do aterro sanitário de Uberlândia, os quais estão focados na sustentabilidade ambiental, social e econômica, como:

• Redução dos espaços utilizados;

• Aumento da vida útil do aterro sanitário; • Menores gastos para aterrar os resíduos; • Redução dos impactos ambientais; • Geração de renda e emprego;

• Ampliação do compromisso da sociedade com o meio ambiente; • Economia dos recursos naturais.

Todos estes fatores proporcionariam benefícios à gestão municipal da cidade, que passaria a ser mais sustentável e poderia se tornar referência no Brasil com um modelo de gestão de resíduos adequado e que atendesse, de forma mais especifica, as legislações ambientais. Como menciona Magalhães (2010) criar soluções para as políticas públicas sobre a gestão de resíduos é um desafio frente à necessidade urgente de buscar alternativas para as áreas ocupadas com a disposição final e a geração continuada de resíduos e os impactos no ambiente.

Durante as pesquisas de campo e análises realizadas, constatou-se que os resíduos biodegradáveis gerados nos restaurantes de Uberlândia são suficientes para iniciar uma proposta de logística reversa, mesmo que seja como um projeto piloto, pois é válido ressaltar que este projeto pode se estender, a prazo, aos demais geradores destes resíduos: residências, condomínios, hospitais, escolas, entre outros e dessa forma, a proposta seria bastante eficiente

e surtiria efeitos de proporções significativamente maiores. É importante que uma proposta de logística reversa seja minuciosamente desenvolvida, com todos os pontos planejados e discutidos e que haja uma responsabilidade compartilhada para que a mesma seja eficiente.

Segundo Santos (2007), as tecnologias de tratamento de resíduos: incineração, digestão anaeróbica, separação pós-coleta ou compostagem, visam desviar os resíduos dos aterros, seguindo uma tendência mundial, a fim de prolongar a sua vida útil. Misturar os resíduos na fonte e depois compactá-los durante o transporte via coleta tradicional, para depois separá-los, apresenta para o momento atual, apenas um modelo de gestão esgotado que não prioriza o desvio do aterro, um contrassenso técnico e administrativo. A compostagem dos resíduos orgânicos permite finalizar o ciclo da matéria orgânica mostrando-se como uma solução ambientalmente correta e traz consigo imensas vantagens, em relação ao modelo atual de aterramento dos resíduos.

Ainda de acordo com o mesmo autor, o princípio de gestão criando a logística reversa dos resíduos biodegradáveis formula uma filosofia de gestão moderna que passa pela separação, na fonte geradora, dos resíduos na forma diferenciada. Isso significa que os resíduos orgânicos devem ser selecionados nos restaurantes, sendo este o maior desafio para que a proposta funcione.