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5. DISCUSSÃO, CONCLUSÕES, E SUGESTÕES PARA FUTURA

5.1. Síntese dos principais resultados

5.1.1. Empresas

A revisão dos estudos realizados em Portugal e no estrangeiro, em particular na UE, EUA e Reino Unido, orientou-nos para a pesquisa desenvolvida neste trabalho. O envio dos questionários a 560 empresas disponíveis para os receber, numa amostra de 600 empresas portuguesas, permitiu a obtenção de 108 respostas válidas, representando uma taxa de resposta de 18%. Tendo em conta a dimensão do questionário e a condição do mestrando de quadro bancário, podemos considerar o número de respostas satisfatório, quando comparado com inquéritos realizados nos últimos anos a amostras de empresas, nomeadamente as constantes das edições da revista Exame.

O desenho da realidade que os resultados procuram evidenciar, deve ser interpretado à luz do corpo do questionário. Ao serem solicitados dados no que concerne à situação de negócio e às preocupações na apresentação das propostas de financiamento junto das instituições de crédito, com as vantagens de que cada inquirido tenha respondido de modo específico em relação à sua empresa, tal resulta numa representação da realidade extrapolável para os diferentes sectores.

Trata-se, na sua maioria de grupos empresariais (maioria das grandes empresas e parte das PME).

Em relação à gestão e organização, os resultados sugerem que, tanto nas PME como nas GE, a figura do sócio ou accionista é relevante. A gestão é por este condicionada, não obstante se verificar a presença de quadros superiores integrados em áreas chave (os quais justificam existência de uma adequada qualidade de gestão), mas reportando sempre o controlo à administração/gerência.

159 No tocante à situação de mercado, a evidência permite tirar várias conclusões:

Mercado e procura

 Um mau sintoma inerente às exportações, apenas mitigado pelo facto do sector industrial ser aquele que revela melhor desempenho;

 A preocupação na visita a feiras internacionais está patente no sector da indústria e, em termos secundários, no do comércio;

 Constata-se que apenas uma percentagem reduzida de empresas implementaram medidas tendentes à retoma do volume de negócios, pelo que poderemos equacionar que na maioria das entidades não ocorreu uma redução neste indicador;

 Na conquista de novos mercados, as empresas têm em conta aspectos inerentes ao risco, o que é factor relevante, evitando deste modo a realização de investimentos sem a adequada ponderação. Neste âmbito, são realizadas análises de sensibilidade, de rendibilidade, verificando o impacto na situação financeira. Não são também descurados os factores concentração de clientes e segurança dos créditos;

 No critério segmentação de clientes e, em termos ideais, esta deveria ser acentuada. Os resultados parecem indicar que a concentração de clientes não é excessiva (49% dos casos), o que é um sintoma positivo (e.g., empresas excessivamente ligadas ao cliente Estado ou a grandes empresas nacionais e multinacionais, relativamente às quais, pese embora o risco de default possa ser reduzido, existe o risco de substituição e de perda de poder negocial). Dentro do critério referido em 4.2.2.2., em relação ao peso dos melhores clientes no volume de negócios, os valores apresentados (cerca de 51,4% para as PME e de 47,9% para as GE) não são desprezíveis, revelando que se deverá actuar no sentido de alargar a base de bons clientes, reduzindo a quota relativa de cada um. É também na indústria que os níveis de concentração são mais acentuados.

Produto/serviço e concorrência

 Da análise dos resultados constatamos que é efectuada uma gestão comercial adequada, centrada no desenvolvimento de produtos, na existência de designers, analisando a matriz de produtos (e.g., analisando o ciclo de vida) e de mercados;

160  Destacamos o facto dos produtos/serviços respeitarem os padrões de qualidade internacionais, não existindo uma exposição relevante à concorrência externa o que, aliado ao ponto anterior e à flexibilidade do processo produtivo, indicia a existência de “espaço” para o desenvolvimento de novos negócios;

Numa óptica de apresentação de propostas de financiamento (e.g., concessão de crédito propriamente dita), infere-se dos resultados o seguinte:

Informação económico-financeira

 Este aspecto destaca-se positivamente pelo cumprimento dos requisitos perante os bancos, donde estamos em crer que os respondentes, pela sua dimensão, são entidades com um adequado grau de organização.

Gestão corrente com o banco

 Os resultados, consistentes, parecem confirmar a preocupação existente, por parte das empresas, no cumprimento das variáveis explicativas (entre 76% e 92%) de um relacionamento adequado com o banqueiro (vd. rating - 2.5.4.8. e 4.2.3.2.);

 As garantias atribuídas (vd. 2.5.4.5. alínea e), 2.5.4.8. alínea b), e 4.2.3.2.) são, na sua maioria, de índole contratual (55,6%) e estas verificadas maioritariamente a nível das GE. Trata-se de uma situação de excepção e só possível, como já referido, em empresas com uma reconhecida boa situação financeira, adequada capacidade de libertação de fundos (cash-flow) e situação de mercado. Nestes casos, os bancos prescindem de garantias reais e/ou pessoais, podendo-se inferir da utilização de convénios. Estes permitem, por exemplo, assegurar que o desempenho do negócio, reflectido nas demonstrações financeiras, possa responder perante as peças contratuais, assegurando-se deste modo a monitorização dos créditos;

 Não obstante a maioria das empresas afirmar ter considerado o parâmetro risco na gestão, constata-se que a utilização de produtos derivados para a protecção cambial e da taxa de juros não é generalizada.

Análise da capacidade do negócio e estratégia de produtos e mercados

 Pelos resultados, e não fazendo referência à área de pessoal como órgão fulcral de uma organização, as cinco áreas centrais de actividade (vd. 4.2.3.3.) são o centro da análise da capacidade do negócio;

161  Poderemos inferir pelos resultados que as empresas, divulgam ao seu banqueiro a estratégia do negócio, referente a produtos e mercados, avaliando as respectivas forças, fraquezas e ameaças do meio envolvente (e.g., caso o sector esteja em declínio, demonstrando a razão porque não é afectada). É ainda verificada a contribuição dos produtos/serviços para os resultados, sendo corrigidos os objectivos de negócio face à evolução do mercado (e.g., depreendendo-se daqui da existência de planeamento) e revelada a alocação de recursos para as melhorias a introduzir.

Critérios de avaliação dos bancos

 Os resultados sugerem que as GE privilegiam, mais que as PME, os critérios de apreciação dos bancos, que contemplam a informação sobre as várias áreas da organização;

 O facto do cash-flow gerado ser alocado, segundo a maioria dos inquiridos, ao negócio das empresas, parece justificar também o tipo de garantias prestadas (vd. 4.2.3.2. e 4.2.3.5.). Estes revelam ainda ao banqueiro que o nível dos meios libertos líquidos (cash-flow líquido) é adequado ao reembolso do crédito – aspecto fundamental na decisão creditícia. As GE parecem privilegiar mais estes aspectos do que as PME;

 Destacamos ainda o facto de as organizações justificarem, perante o banqueiro, as evoluções negativas, nos principais indicadores económico- financeiros;

 Em relação ao controlo interno, aspecto relevante em termos de visibilidade organizacional da empresa perante o banco, poderemos considerar que existe, segundo a maioria das empresas, uma definição de funções acompanhada de delegação de poderes. O controlo interno é extensivo à gestão de stocks na perspectiva da satisfação do cliente. Estas afirmações são consubstanciadas na existência de sistemas de informação (e.g., internet e/ou intranet).

Vários autores sustentam que as melhores empresas (e.g. com adequada situação económica e financeira) terão acesso a crédito em condições vantajosas, atendendo a factores qualitativos que as distinguem de outras. De acordo com o nosso estudo, teremos de considerar que a maioria dos respondentes, mesmo empresas de menor dimensão (PME), possuem, face à situação aparente de negócio, a qualidade necessária e suficiente para um normal relacionamento creditício que lhes permita manter um

162 adequado poder negocial perante o seu banco. No entanto, aspectos como a internacionalização, a introdução de produtos associados à gestão de risco (e.g. derivados e seguros de crédito), a contínua alocação exclusiva dos fundos próprios ao negócio, a atribuição acrescida de garantias reais bem como a intervenção acrescida de sociedades de garantia mútua (SGM), como forma de mitigação do risco, redução de pricing, e, indirectamente, de redução da alocação de capital dos bancos, são aspectos a ter em conta.

De destacar que, com Basileia II, os bancos, face à expectativa de obtenção de reduções de capital, privilegiarão os melhores riscos, bem como a qualidade das empresas. Esta consideração passará, como já vimos, pelo cumprimento dos critérios patentes nos questionários enviados às mesmas. As respostas a estes questionários, baseadas na informação abrangente neles contida, permitem a compreensão da pergunta de partida relativa à percepção do impacto do Acordo de Basileia no financiamento das empresas, face ao grau de qualidade percebido em relação a estas. Como vimos, em termos de informação agregada, nem todos os inquiridos cumprem a totalidade dos requisitos redigidos nos questionários. Daí que, e como refere Hartl (2002), é importante tomar desde já medidas para que a situação inerente à estrutura económico-financeira e políticas das empresas correspondam às futuras exigências dos bancos derivadas de Basileia II.

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