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PARTE II – COMPONENTE EMPÍRICA

CAPÍTULO 3 – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

3.1 Definição das Categorias Analíticas

3.2.3 Encaminhamento / Entrada das Crianças na FBP

A forma, o processo e o caminho trilhado por famílias e crianças surdas até esta resposta educativa, a FBP, não é de somenos importância no nosso estudo, pois destas questões dependem muitas vezes o atendimento e a intervenção o mais atempada possível, de forma a diminuir, e sempre que possível colmatar, as dificuldades encontradas.

Nesta categoria, Encaminhamento / Entrada das Crianças na FBP, elencaram-se duas subcategorias, Processo, Dificuldades e Constrangimentos.

Na subcategoria Processo as entrevistadas afirmaram que são vários os procedimentos através dos quais os pais, diretamente ou não, procuram esta valência. De uma forma geral as crianças são encaminhadas por profissionais da área da educação ou da saúde, como diz a entrevistada A:

“…o encaminhamento maior continua a ser pelas ELIS e pelo Hospital de Santo António, e depois em segunda instância pelas escolas, ou cuidadores ou psicólogos, ou alguém que trabalha nas escolas, e as famílias”, mas em alguns

casos vêm como diz a entrevistada B: “…pelo passo a palavra de alguém (…)

de outras famílias, ou que já estiveram cá, ou que conhecem, e que fazem esse encaminhamento”, “…e de conhecidos, de alunos surdos e dos pais, que falam uns com os outros…” acrescenta a entrevistada C.

116 Como referido anteriormente as famílias chegam à instituição, maioritariamente, encaminhadas pelas ELIs e através de protocolos realizados com hospitais, havendo redes de contacto já estabelecidas que facilitam, na maioria dos casos, o processo. A entrevistada B esclarece:

“…todos os casos vêm encaminhados, vêm (...) pelas ELIs do Porto e grande Porto, (…) vêm encaminhadas de hospitais, principalmente do St. António, porque é o serviço com que nós temos articulado mais. Também temos os que vêm de Coimbra, quando fazem o implante coclear, quando terminam o processo de reabilitação…”.

A entrevistada A cita outra instituição de saúde, com a qual também encetaram contacto mais recentemente, perspetivando a dinamização e alargamento da rede de protocolos, e refere: “Conseguimos neste final do

segundo período (…) um contacto com o São João, e veio uma equipa cá conhecer o nosso espaço e a nossa resposta, e trocamos contactos e ficou aberta esta possibilidade de protocolo…”. A rede amplia-se e os serviços têm

maior abrangência com contactos mais diretos, como diz a entrevistada C [as crianças chegam]: “…através de médicos, pediatras, alguns que já têm

conhecimento da nossa escola de referência, entram em contacto e fazem o encaminhamento aqui para a escola”.

O encaminhamento direto através de profissionais da área médica, como explica a entrevistada A: “…são casos muito raros (…). Tivemos dois casos

que foram os próprios médicos que escreveram no relatório que achavam que o menino devia vir para cá, especificaram mesmo esta escola, mas é raro”, e

explica o motivo: “A maior parte dos médicos ou já estão sinalizados nas ELIs

ou eles sinalizam para as ELIs, daí das ELIs é que vêm para aqui”.

Nas questões mais burocráticas a etapa a seguir é a referenciação da criança, que pode passar pela secretaria, ou chegar diretamente aos membros da equipa, podendo coincidir com o momento do acolhimento, através do contacto próximo que têm com os elementos das equipas externas. A entrevistada A diz:

“… isto acaba por ser um contacto muito direto, porque são as ELIs com quem nós já trabalhamos, há algum tempo, ou a assistente

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social ou terapeuta da fala, pega no nosso telefone e às vezes no nosso telefone pessoal, ou no nosso e-mail, (…) é um contacto muito direto…”,

despoletando as etapas subsequentes até ao momento da intervenção.

Os pais quando chegam diretamente, normalmente, já é para referenciarem a criança. Quando o contacto é através da ELI, a entrevistada A diz: “A ELI diz que existe esta resposta e referencia-nos o caso, (…) os bebés

chegam-nos com uma referenciação na mão (…) a solicitar uma avaliação”.

Todo este caminho, que deve ser célere, é explicado pela entrevistada B: “…é

sempre feita uma referenciação, que é o formulário geral do agrupamento, a referenciação para a Educação Especial, (…) há uma equipa que (…) atribui as referenciações a cada uma das equipas profissionais…”. Após a avaliação pela

equipa multidisciplinar da Educação Especial, o processo é remetido para a equipa de profissionais especializada, responsável pela área da surdez, como sublinha a entrevistada B: “…tendo em conta a idade, somos nós que

avaliamos, (…) depois damos o nosso parecer sobre a necessidade de estarem ou não na frequência bilingue precoce, e caso seja positivo tem logo início a intervenção”. Portanto, como também refere a entrevistada A [só após

a referenciação]: “…é que se parte para a avaliação e depois para a decisão se

é ou não, se fica ou não connosco e depois começamos a intervenção”.

Crianças com outros comprometimentos, além da surdez, a equipa pondera a necessidade de intervenção de equipas especializadas noutras áreas, a este respeito a entrevistada B esclarece:“…quando temos crianças

que além da surdez têm outras questões (…), temos que avaliar até que ponto aquela criança precisa mais da resposta da área da surdez, ou precisa da resposta de uma equipa especializada noutras áreas do desenvolvimento”. A

entrevistada C também assinala esta questão quando diz:

“…também ajudamos com o objetivo de procurar unidades que atendam da melhor forma (…) essas crianças, ajudar os pais para um outro encaminhamento melhor, com a melhor resposta para a criança, não podemos deixar (…) passar o tempo ou desistir da criança. Devemos apoiar e encaminhar da melhor forma possível”.

118 São mencionadas algumas dificuldades e constrangimentos neste processo, o diagnóstico tardio da surdez, o acesso aos exames, o processo burocrático para solicitar cópias dos mesmos, e a necessidade do exame de perda auditiva para justificar a avaliação pela equipa especializada, como sublinha a entrevistada B:

“…às vezes a dificuldade é os pais não terem o exame, (…), diagnósticos, e às vezes o que demora é irem novamente ao médico para pedirem uma cópia do exame. (…) porque o que nós precisamos é de alguma declaração em que a criança tem uma perda auditiva, para justificar a avaliação pela nossa equipa”.

A entrevistada C alerta para o facto de nem sempre a família ter as orientações necessárias e atempadas, com consequências graves principalmente para a criança, e refere: “Os médicos muitas vezes não sabem

para onde encaminhar os pais para darem o seguimento no apoio. (…) a maior parte não tem conhecimento da escola de referência, coloca num infantário normal na zona de residência”.

3.2.4 Acolhimento da Família e Processo de Avaliação da

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