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ENCONTRO DE MULHERES NO CLIMATÉRIO: ASPECTOS E IMPRESSÕES

Um grupo de mulheres no climatério também poderia ser o título deste escrito que abordará o perfil socioeconômico e de saúde dessas mulheres, bem como algumas impressões anotadas no diário de campo. No entanto, pode-se dizer que se tratou de um encontro quase que de amigas, já que a maioria delas se conheciam ou tinham laços de amizade. Todas ficaram bem à vontade umas com as outras, e não sentiram-se envergonhadas com a auxiliar de pesquisa, cuja presença foi imprescindível para o êxito das oficinas, desde a ajuda com a organização da sala, nas anotações das falas, e a presença discreta e ao mesmo tempo atuante durante os encontros.

O tema da pesquisa não causou tanta estranheza quanto à construção da boneca de pano. Pode-se dizer que foi uma estranheza passageira, até visualizarem os modelos de bonecas de pano e perceberem que esse processo seria possível. As mulheres foram convidadas a escolherem um codinome para usar no crachá durante os encontros. Algumas deram nomes de flores, personagens de novela, dentre outras referências. Foram elas: Maria Marta, Clara, Jasmim, Nani, Nena, Cristal, Milena e Cristina. As participantes de fato incorporaram esses nomes e quando se referiam umas as outras, os mencionavam. As bonecas também receberam o nome de flores, de sentimentos ou de algum familiar. Salienta-se que das oito participantes, seis vieram em todos os três encontros, uma veio no primeiro encontro e em função de um novo trabalho não pôde mais comparecer, e outra veio no segundo encontro, e no terceiro recebeu parentes de muito longe e não pôde se fazer presente. Essas ausências não comprometerem a profundidade das discussões, inclusive as participantes que

vieram em um único dia, ou dois encontros, contribuíram de forma efetiva para a compreensão do objeto de estudo. As mulheres ajudavam-se na construção da boneca, davam sugestões umas para as outras para superarem alguma dificuldade. Milena e Maria Marta por vezes se mostraram em tal estado de concentração que foi preciso convidá-las para darem sua opinião sobre as questões, já Nena era a mais falante, e em nenhum momento foi preciso estimulá-la a falar, pois prontamente dava a sua opinião. No entanto, foi necessário, delicadamente, convidar outras mulheres a se expressarem também quando Nena seguidamente tomava a palavra.

A oficina foi um lugar de encontro, de partilha de saberes, de negociação de entradas e saídas, de horários. Nessa direção a confraternização do final de cada encontro foi preparada com cuidado, atentando também para as que tinham restrição ao açúcar e ao excesso de sal. Foram preparados sucos, água, água aromatizada, barra de cereais diet, barra de doce de banana diet, salgados, torradinhas com patê de atum, etc. Esse foi um momento em que as mulheres puderam encontrar amigas ou criar novas amizades e combinar troca de muda de flores. A maioria das mulheres vinham da área rural, algumas de carona, outras de ônibus. Duas delas ficavam cerca de uma hora esperando a oficina começar em função do ônibus que chegava cedo. Porém, tudo foi acordado entre todas.

Com relação ao perfil socioeconômico das mulheres, a média de idade era em torno dos 51 anos, sendo que a mais jovem tinha 45 e a mais velha 62. Das oito mulheres seis tinham o ensino fundamental completo, uma o ensino médio completo e outra com ensino superior incompleto. Quatro delas eram casadas, duas viúvas, uma em relacionamento estável e uma divorciada. A religião predominante foi a católica, com sete, e uma evangélica. Esse fato demonstra que a religião católica mostra-se de forma predominante na Serra Gaúcha, tendo em vista sua colonização que se deu basicamente por descendentes de imigrantes italianos, os quais têma religiosidade inserida no cotidiano de forma muito presente. Quanto à ocupação/profissão, uma tinha trabalho eventual remunerado, uma com auxílio previdenciário, uma era pensionista, duas do lar e três exerciam trabalho fixo remunerado. Das oito mulheres, três residiam com o companheiro e filho(a)(s), duas apenas com o companheiro, uma com filho(a)(s), uma morava sozinha e a outra com filho(a)(s) e neto(a)(s). As participantes não mencionaram experiência negativa acerca da “síndrome do ninho vazio” (SNV), visto que ainda tinham a presença do(a)s(as) filhos(as) e outras pessoas para a convivência. Na pesquisa de Sartori e Zimermann (2009), é salientado que as mulheres que passam pela SNV tendem a ter mais problemas físicos, emocionais e financeiros, fatores esses

que contribuem para a reduzida vida social, já que a solidão pode ser atenuada pela presença de filhos, netos ou amigos.

Quanto ao número de filhos das participantes, a média era de três filhos por mulher. A respeito do rendimento domiciliar médio era de R$2.173,75 reais ou por volta de três salários mínimos, que se mostra acima do valor referido ao estado do Rio Grande do Sul, que foi de R$1.318,00, o segundo estado brasileiro com maior renda domiciliar (IBGE, 2014).

A respeito das questões de saúde vinculadas ao climatério, cinco mulheres tinham a menstruação irregular, duas estavam na menopausa e uma tinha a menstruação regular, embora referisse algumas queixas como fogachos. As mulheres que tinham a menstruação irregular indiciavam queixas devido ao fato de ser algo inesperado, dificilmente sabiam quando iriam menstruar, além de abundantes perdas menstruais, o que provocava desconforto para elas. A participante que tem menstruação regular engravidou no climatério. Revelou que acreditava que teria sua fertilidade afetada pela idade em que se encontrava, depois dos 40 anos. A respeito da idade da última menstruação, para as que estavam na menopausa, ocorreu em média aos 52 anos. De acordo com Fonseca et al. (2010), a média nacional da ocorrência da menopausa compreende os 48 anos de idade, e a média em países desenvolvidos em torno dos 51 anos, próxima à média das participantes deste estudo. Acrescenta-se que autores destacam que não há relação entre a menarca e a idade da menopausa, e não há relação entre a idade familiar da menopausa ou o uso de anticoncepcionais orais (ROCHA; ROCHA, 2010). As principais queixas secundárias relatadas pelas mulheres foram a irritabilidade; o ressecamento vaginal, que contribui para a dispareunia; a cefaleia; a sudorese excessiva; a mastalgia e, embora algumas não referissem queixas durante a entrevista, durante o grupo relataram a presença dos fogachos, destacados pela maioria das mulheres, sete delas.

Quanto à realização do exame preventivo de câncer de colo de útero, cinco mulheres haviam realizado o preventivo há cerca de um ano, duas há mais de dois anos, uma há cerca de seis meses, sendo que apenas uma mulher apresentou alguma alteração, uma infecção vaginal que foi tratada, segundo relato da participante. As mulheres deste estudo estão realizando o controle de câncer cérvico-uterino conforme o preconizado pelo Ministério da Saúde que indica que, após dois exames anuais sem alterações, o mesmo deve ser repetido a cada três anos, pois se percebeu que a maioria das mulheres o faz anualmente. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA, 2014), o risco para o desenvolvimento de câncer de colo de útero começa a partir de 30 anos, aumentando rapidamente até atingir o pico etário entre 50 e 60 anos. Esse câncer foi responsável pelo óbito de 265 mil mulheres em 2012,

sendo que 87% desses óbitos ocorreram em países em desenvolvimento, como o Brasil. Logo, deve-se lançar uma atenção especial acerca desse exame, assim como o exame das mamas no climatério.

Em relação ao câncer de mama, esse é o tipo de câncer que mais acomete as mulheres em todo o mundo, tanto em países em desenvolvimento quanto em países desenvolvidos. Embora as mulheres não tenham sido questionadas na entrevista sobre o exame de mamografia ou autoexame das mamas, durante os encontros elas referiram „cuidar das mamas‟, por meio de exames de rotina. Para o INCA (2014), a idade é um dos mais importantes fatores de risco, já que as taxas de incidência aumentam significativamente até os 50 anos, e cerca de quatro, em cada cinco casos, ocorrem após os 50 anos. Com relação às doenças sexualmente transmissíveis, nenhum caso foi relatado pelas participantes.

Sobre os problemas de saúde relatados e o uso de medicações, os principais tratamentos que as mulheres faziam eram voltados para o controle da diabete mellitus (DM), hipertensão arterial sistêmica (HAS), dislipidemias como o colesterol e triglicerídeos alterados, tendinite, reumatismo, problemas cardíacos e a depressão. Cabe ressaltar que quatro (50%) participantes têm dois ou mais problemas de saúde.

De acordo com relatos das participantes, e em consonância com o Caderno de Atenção Básica do Ministério da Saúde „Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica‟(2014), pôde-se evidenciar que algumas mulheres apresentam uma condição crônica simples, com fatores biopsicológicos de baixo ou de médio risco, como a DM e HAS dentro da meta estabelecida, sem complicações. Por outro lado, outras possuem fatores de risco ligados aos comportamentos e estilos de vida na ausência de doença cardiovascular, como o tabagismo, excesso de peso e o sedentarismo. De acordo com o Ministério da Saúde, a constatação de baixo risco recomenda ações de apoio ao autocuidado e cuidado compartilhado entre os diferentes profissionais da equipe de saúde, e para os indivíduos que necessitam rever seus hábitos de vida, a principal ação de saúde está relacionada às atividades de educação em Saúde direcionadas à abordagem dos fatores de risco (BRASIL, 2014).

Entre outros problemas de saúde destacados, a depressão também se sobressaiu entre os mais citados pelas participantes. Três mulheres realizam tratamento para a depressão e quatro já trataram. Dentre os transtornos do humor, a depressão constitui um grupo de condições clínicas caracterizadas pela perda do senso de controle de seus humores e afetos, além de ser uma experiência de grande sofrimento (MACHADO; OLIVEIRA; DELGADO, 2013). No estudo desses autores, o maior número de casos de depressão foi o de mulheres,

especialmente aquelas em fase de climatério. Colaboram Souza et al. (2012) ao reiterar que as condições relacionadas ao sexo têm implicações no surgimento da doença, pois as mulheres têm maior possibilidade de desenvolver uma depressão do que os homens, tanto em função de causas hormonais quanto culturais.

Entre os procedimentos cirúrgicos realizados coube destaque para as cesáreas e apendicectomias, seguido de colecistectomia, perineoplastia, havendo duas (25%) participantes com nenhum histórico cirúrgico. Quanto ao número de partos foram 21 partos e quatro cesáreas. Quanto às medicações utilizadas pelas mulheres, foram descritos pelo nome do princípio ativo como: metformina, sinvastatina, ácido acetilsalicílico, omeprazol, hidroclotiazida, gliclazida, ibuprofeno, enalapril, propranolol, topiramato, captopril, sulfato de hidroxicloroquina, bromidrato de citalopram e anticoncepcional oral. Ressalta-se que nenhum medicamento para reposição hormonal foi citado, além disso, a metade das participantes faz uso de três ou mais medicações.

Das mulheres que referiram praticar alguma atividade física, quatro realizam alguma prática física como caminhadas ao ar livre, caminhada na esteira, bicicleta ergométrica, as demais não fizeram menção a esse tipo de prática. A respeito das atividades/grupos na Estratégia de Saúde da Família, apenas uma refere participar do grupo para diabéticos, três já participaram em outros momentos e quatro nunca participaram. Quando questionadas a respeito das atividades de lazer, de distração, sete referiram realizar atividades como fazer passeio com os filhos, tomar chimarrão na vizinha, ou com amiga, fazer artesanato como crochê, tricô, pescar, trabalhar na horta e cuidar do jardim.

A seguir serão apresentadas as algumas compreensões sobre a fase que vivem, de modo que essas primeiras discussões conduzem ao compartilhamento dos saberes e cuidados acerca do climatério, indiciados pelas participantes.